Neste clima de confinamento, em que o nosso cérebro anseia por um depois, a fim de poder saborear de novo o gosto pela liberdade, revi-me profundamente num texto do Mestre Aquilino de Ribeiro.
"E eis que, divagando, pareceu-me ver cintilar em frente de mim.
O que quer que era tremeluzia e apagava-se, temeluzia-se e apagava-se como um fiapo de penugem branca boiando ao sopro do vento.
Sim, de quando em quando, sempre que depois de fechar os olhos os abria para varrer da retina a visão obsessa, reaparecia o ludibriante alvor.
E não me dominei: pus o Gasco no chão e fui direito, rastejando, ao sinal prodigioso.
Graças, minha boa Senhora da Lapa, era um fio de luz, delgado como retrós, que se filtrava entre a linha da abóboda e o cume do entulho!
Como podia ser não a haver eu encontrado antes?!
Sem me domorar grandes segundos a reflectir no enigma, para cuja decifração muito devia ter contribuído o Sol, alumiando daquele lado no seu discurso para o meio-dia, tratámos de nos safar dali.
Havia encontrado o meu símbolo.
Aquele luzinha, assim flébil e celestial, ficou-me com efeito de emblema na vida.
Nas horas de maior negrume, quando era para desesperar de todo, surgia-me imprevistamente no báratro dos meus cuidados.
Pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho.
Filha da própria ralé, providência de infelizes e aflitos,nunca por nunca deixou de raiar.
Creio que ela existe igualmente para todos os humanos, e não deve ser outro o fanal que os guiou através das convulsões físicas e sociais do mundo.
A questão para o indivídio é ter olhos que a descubram".
- AQUILINO RIBEIRO, Uma Luz ao Longe, romance de 1948.
Gostei do trecho desse texto! Sigamos em frente! bjs,chica
ResponderEliminarLer Aquilino sabe-me sempre bem.
EliminarAgora é tudo mais apoiado pelos livros de psicologia, mas nem sempre são os mais eficazes.
Bjs, tudo de bom.
Uma luz de esperança. que esperamos não se apague , antes vá crescendo como crescem os dias no Verão.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Elvira acho que aquele adjetivo "bruxuleante" diz-nos isso mesmo. É um luz pequenina, mas intensa, que não se extingue.
EliminarAbraço.
Saúde!
Neste tempo nefasto, todos devemos ter presente a chama com que Aquilino nos desafia: "Pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho".
ResponderEliminarNeste texto tão a propósito, vamos acreditar e bem receber a Luz da Esperança.
"Uma luz ao longe" é um romance de 1948 e se manteve a claridade até hoje vamos acreditar.
EliminarEsta obra termina "luz ao longe, salve!"
Boa noite de saúde, querida amiga!
ResponderEliminarUma luz sempre vai existir para nos tirar da falta de esperança e ela vem se firmando cada dia mais, nós cremos que a veremos de forma plena muito em breve.
Lindo texto!
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Este é um daqueles textos que nos deve acompanhar desde que o lemos a primeira vez.
EliminarBj
Um texto onde a chama convida à oração e o texto é magnífico!!!
ResponderEliminarBj
Não será dos melhores de Aquilino, mas que aquela luzinha irradia, irradia.
EliminarBj
Olá! Um texto profundíssimo. Gostei imensamente, principalmente, os dois últimos parágrafos conclusivos. Concordo mesmo, “ter olhosque a descubram.”
ResponderEliminarUm abraço apertado online... Rsss...
Também gosto muito dessa conclusão. Mas até o título do livro é profundo, sugere-nos a esperança de que no fundo alguma coisa se vai passar, algo bom que depois vai acontecer...
EliminarAbraço.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarUm texto muito lindo. Não conhecia esse livro de Aquilino, que deve ser uma pérola.
Que os nossos olhos consigam sempre enxergar essa luz, porque ela é nossa guia, nossa fortaleza e nossa esperança.
Um beijinho e fiquem bem, com saúde.
Ailime
Boa tarde Ailime,
EliminarEsta pequena luz bruxuleante, brilha incerta, mas brilha no meio de nós.
É um livro que remete para a realidade, porque há sempre garotos que querem seguir a vida eclesiastica, mas quando chegam à adolescência "faz-se luz" e desistem daquilo que antes queriam ser. Foi o que aconteceu com a personagem principal da história, um garoto serrano que foi para o colégio da Lapa, em Sernancelhe.
Mas eu escolhi este trecho porque aquela luzinha, sugere-nos a esperança...
Beijnho. Resguarde-se...