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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Regedor

Lameira antiga, Forninhos
Os cidadãos forninhenses nascidos após 1970 desconhecem, em geral, a figura do Regedor, a sua função e a importância que teve, principalmente, nas nossas aldeias, no tempo da "outra Senhora". Pois bem, o Regedor era a autoridade administrativa duma freguesia, cujo cargo foi extinto com a introdução da Constituição da República Portuguesa de 1976.
Como nos anos a que estamos a reportar-nos, não era possível que houvesse a nível da freguesia qualquer autoridade policial, nem mesmo em alguns concelhos, as juntas de freguesia, tomando em consideração determinados factores indigitavam um cidadão que, posteriormente o Administrador do Concelho nomeava. 
O Sr. Regedor via-se obrigado a gerir conflitos entre outros cidadãos, quando havia uma discussão em que houvesse pancada, as quais eram frequentes em festas, e muitas vezes actuava determinando a detenção das pessoas em causa até chegar a Guarda; num falecimento, era chamado para comprovar o óbito; quando havia uma transgressão, caso do "acordo do estrume" que pode ver AQUI o regedor tinha de levantar autos de transgressão e em caso de incêndios, convocar a população para a extinção dos ditos; no tempo da II Guerra, não havia comida com fartura, por isso tinha de ser racionada, mesmo que alguém tivesse muito dinheiro, não podia comprar o que quisesse. A cada família era atribuído um número de senhas, que era distribuídas pelo regedor. De um modo ou de outro...a crise sempre existiu.

senhas de racionamento
Uma outra função do regedor, no tempo da II Guerra, era o controlo da produção agrícola. Os proprietários deviam comunicar anualmente ao Regedor a quantidade das suas colheitas, principalmente cereais, vinho e azeite, sendo penalizados quem o não fizesse; etc...etc...
O Regedor de freguesia era uma figura respeitada ao serviço do Estado, porém não recebia ordenado pelo seu trabalho, que por vezes lhe ocupava o tempo todo, tal como os autarcas locais, ao contrário de hoje, que se representa uma freguesia, com fins lucrativos e benesses que esta democracia lhes serve de bandeja!

Nota final:
A Freguesia de Forninhos teve alguns regedores, os últimos conhecidos foram: Toninho do AníbalEduardo CraveiroJosé Matela e ainda devem existir os Alvarás ou Despachos de Nomeação e de Exoneração, só que dá ideia que preferem que estas coisas fiquem escondidas das pessoas que até gostam de as apreciar.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Figos Lampos

Embora sendo um ano de pouca colheita, aqui e além, pelo S. João a figueira brinda-nos com a primeira camada dos seus frutos - os figos lampos - que são maiores que os da segunda colheita da figueira que ocorre por altura das vindimas. Acho que até é costume, em Forninhos, dizer-se que os do S. João são "figos de três ao prato", quer dizer que são enormes e três enchem um prato. Também há outras figueiras que dão os "bêbaros", mas nunca mais ouvi o termo, mas também não sou fã de figos...

Figueira Lampa
Parecem não maduros hoje, mas nós sabemos que se calhar amanhã já lá passa algum "lampareiro" e colhe a novidade...e por falar em novidades da época, embora não haja muitas, é também tempo de cerejas e elas aí estão para estimular o pecado da gula, pois quando são boas, começando a comê-las é difícil parar...estas são de graça, portanto, bom proveito!

Cerejeira
Por fim, gostaria de partilhar convosco um poema de Bernardete Costa, que me lembra a minha adolescência em Forninhos:

"Abraçando a madrugada
colho as cerejas
no sorriso da árvore;
à noite conto estrelas
que me prometem um pedaço de céu.

Como uma raínha
coroada de estrelas
e brincos de cereja feita princesa
de novo sou uma menina
reinventando sonhos à janela."

in "Cerejas aos Molhos" 

domingo, 23 de junho de 2013

Ninhos

Quando olhamos uma árvore vemos o que sabemos que lá está: ramos, folhas e frutos, mas há mais...


se estivermos atentos podemos ver ninhos que por lá se fazem


e melros, pequenos que esperam no sossego do seu ninho a refeição que a "mamã" pássara há-de trazer.


Houve tempos que o gatorio se entretinha em descobrir os ninhos ou...
 caçá-los ao custilo,


mas hoje deixamos estas fotos, com a mensagem de que é bom ver e observar sem intervir, nem danificar, e de que a Natureza está aí para nos surpreender. Saiba-mo-La respeitar!

Fotos: David.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Já chegou o Verão!

Hoje saudamos o Verão



Os noticiários dizem que em Portugal o verão 2013 começou oficialmente às 05:04 do dia 21 de Junho (Solstício de Verão)... não sei...não...os dias são grandes e há mais luz, mas hoje está nublado o tempo e o sol este ano tem andado arredado de nós, pelo que não fará mal aos leitores ouvir os Fúria do Açúcar. O vídeo é cortesia do youtube, claro está!
Passem uma óptima estação!!!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Altar, N. S. dos Verdes (continuação...)

Já que temos estado a falar de imagens de santos roubadas e do altar de N. Senhora dos Verdes, ao longo dos tempos, o Henrique Lopes enviou-me outras fotografias, a quem agradeço tê-las tirado, guardado e agora enviado e, assim, dá este belo contributo:


Nesta fotografia encontra-se: N. Senhora dos Verdes, São Matias e S. .......? Se alguém possuir alguma informação extra sobre o "Santo Mistério" agradecemos.


Também aqui vai a imagem de N. S. dos Verdes que foi roubada no ano de 1998:


Que as autoridades policiais prossigam com as investigações e apurem quem poderá ter roubado esta e outras peças de arte sacra.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lenda da moura encantada

A nossa serra é protagonista de histórias, lendas, mitos, contos, narrativas, mistérios... já aqui contei a lenda da "cadeira do Rei" e a lenda em que os cristãos que habitavam em Forninhos expulsaram os mouros para ocupar as suas terras... mas, hoje, esta peça, é sobre uma moura encantada, que vive escondida na Serra de S. Pedro, o berço da nossa identidade enquanto povo.


Em toda a parte, há lendas de mouras encantadas e em Forninhos também se arranjou uma história que fala duma moura encantada que vive escondida entre enormes penedias e uma só vez em cada ano - na manhã de S. João, antes do nascer do sol - aparece numa fonte/ou nascente e estende as suas finas roupas e espalha o seu ouro, que só entregará a quem naquela noite a apanhar...mas nunca se deixou sequer ver, pois ao pressentir a aproximação de alguém, magicamente se recolhe até ao ano seguinte; e, por isso, lá entre as enormes penedias, continua encantada, linda, a guardar, pelos séculos dos séculos, grande tesouro.
Por seu turno o Pe. Luís Ferreira de Lemos, conta que em Penaverde, há no sítio da Portela, um penhasco que tem longínqua semelhança com uma cabeça humana emergindo dos ombros é o "penedo da moira". Foi ela que o para lá trouxe à cabeça, numa rodilha de ovos e nele se meteu com os seus tesouros de ouro e prata. E todos os anos na manhã de S. João, antes de nascer o sol, põe cá fora as suas riquezas, apoderando-se delas o primeiro que lhas vir. Partir o penedo? - É perigoso: rebentaria uma explosão que arrasava meio mundo... 
São lendas que ainda hoje se ouve contar pela voz dos mais velhos e toda a gente diz que há em todas as regiões histórias sobre as mouras encantadas e tesouros escondidos. Então fica aqui um desafio: quem souber alguma, por favor, sirva-se e deixe-nos aqui em comentário esse contributo. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Altar, N.S. dos Verdes, ao longo dos tempos

Num recente post escrevi sobre o roubo das imagens dos Santos da nossa Paróquia. Volto a este tema, por não me sair da cabeça. O lugar reconhecem de certeza, mas vamos ver, uma imagem que muitos de nós não se lembrarão de ver, do altar mor da nossa Capela, mais propriamente o lugar da Senhora dos Verdes:


Se repararem bem, verão que ao lado da imagem da Senhora dos Verdes e de Santa Rita estão outras imagens. Ao lado da Senhora, segundo o maior números de testemunhos, é o S. Matias. 
Estão a interrogar-se: - Mas se um é o S. Matias, então que imagem está ali ao lado de Santa Rita?
Digam-me lá, não parece o S. Pedro Apóstolo?


E, por onde andam hoje essas imagens?
A pequena imagem da Senhora dos Verdes, bem como a imagem de Santa Rita, sabemos, foram roubadas do seu santuário no ano de 1998. Foi depois, em 2011, encontrada a Santa Rita.
...Mas quero fazer notar que entre 1982/1985 foram levadas a cabo, pelo Instituto José de Figueiredo, obras para limpeza e conservação da talha dourada e pintura. Presumo eu que a 1.ª fotografia é de 1982 e a 2.ª foto será 1985 ou 1986 e nada me impede de pensar que as pequenas imagens "desapareceram" aquando das ditas obras.

Fotografia actual do altar de N.S. dos Verdes, Forninhos

Mas o que também vem, aqui, à liça, é o nome daquele outro santo. Eu nunca ouvi falar deste, nem do roubo.
Alguém tem uma vaga ideia?

(Publicação alterada a 26-06-2022, após consulta do arrolamento dos bens culturais situados na freguesia de Forninhos)

A Capela de Nossa Senhora dos Verdes, em 1911, era composta por três altares denominados: 1) Altar da Senhora dos Verdes, com imagem da mesma Senhora 2) Altar de Santa Rita, com a imagem da Santa 3) Altar de São Matias, com imagem do mesmo Santo.
O Santo que vemos ao lado de Santa Rita será São Paulo Apóstolo que "naquele tempo"  ficava na Igreja Matriz, no altar de Nossa Senhora do Rosário?

As fotos foram cedidas, por: Ricardo Guerra - primeira; João Albuquerque - segunda; Albino Cardoso - terceira. Bem-hajam.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os Santos Populares

Primeiro Santo António
Depois São João
Depois vem São Pedro
Para a Reinação.

Esta época é altura dos Santos Populares. Como se sabe, são três, Santo António 13 de Junho, São João a 24 e São Pedro a 29. Em Forninhos o único que não era festejado era o Santo António, mas não sei bem porquê...
Na noite do dia 23, véspera do dia de São João, os rapazes juntavam-se para dar a volta à povoação e já de madrugada, sorrateiramente, subiam às janelas e varandas/sacadas e surripiavam os vasos mais lindos de manjericos, sardinheiras, cravos e outras flores que encontrassem, que  levavam e colocavam à volta de cruzeiros, alminhas e fontes.


Esses vasos normalmente tinham sido semeados ou plantados com todo o carinho pelas raparigas, para enfeitar as suas casas. E, tradicionalmente eram elas que iam buscá-los para os recolocar onde tinham sido retirados. Chegavam a ir aos vários cruzeiros à procura dos seus vasos. 
Era também na noite de São João que os rapazes e raparigas faziam as fogueiras com rosmaninho, salpor e um pouco de São João (planta do caril selvagem), especialmente cortados e guardados com antecipação, para nesse dia saltarem a fogueira de S. João. Assim, ao saltarem a fogueira, que exalava um perfume muito agradável, cantarolavam: "São João vai, São João vem, minha mãe por casar me tem", "São João vai, São João vinha, minha mãe por casar me tinha", "São João fôr, São João vier, minha mãe por casar me tiver, hei-de a dar a quem me quiser". E elas esperançosas, entre saltos e ditos, se iam divertindo, numa brincadeira sã e alegre. Bons tempos, como dizem os (nossos) antigos. Para que o cenário se completasse também se cantava:

São João para ver as moças
Fez uma fonte de prata.
As moças não vão à fonte
São João todo se mata.

Esta época era também altura dos rapazes esperarem as raparigas na fonte. À noitinha, depois do regresso do trabalho do campo, as raparigas, cada uma com seu cântaro, iam à fonte para abastecerem a casa com a água necessária. Era nestes encontros que começava uma boa parte dos namoricos entre os rapazes e as raparigas da terra. 
Será por isso que o São João, por ser considerado um santo casamenteiro, era tão popular em Forninhos? 
Fica a pergunta no ar...


Pelo São Pedro havia que arranjar novamente molhos de rosmaninhos e salpor para a fogueira e também um pinheiro alto. 
O pinheiro era estendido no chão para ser enfeitado com maçanetas e fitas de farrapos.


Os rapazes, faziam um buraco no chão, erguiam-no e prendiam-no ao chão. Preparava-se a fogueira ao lado e depois era aguardar pela noite. Mas a festa de São Pedro não era só popular ou profana, era também religiosa. De manhã havia missa em honra do Santo!
Chegada a hora acendia-se a fogueira e começava a festa. O entusiasmo era geral, saltava-se a fogueira sem parar e terminava-se com o fogo ao pinheiro, coisa bonita de se ver.


A nossa gente, quando motivada, é capaz de grandes feitos. O grande problema é que gente nova nas nossas terras cada vez vai havendo menos!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A presença dos Ciganos em Forninhos

A presença dos Ciganos em Forninhos, não estes que vendem nas feiras, mas aqueles que deambulavam de terra em terra e assentavam arraiais na nossa aldeia ...que nos visitavam com muita frequência, fazem já parte do passado. A sua chegada era um misto de medos e ansiedades, pela "fama" que tinham de ser isto ou aquilo, imagem negativa que irá perdurar até aos nosso dias. Nunca o senti, até por ser um povo pelo qual nutro especial carinho e na minha meninice, invejava a liberdade da garotada, que não necessitava de ir à escola, pareciam já ter nascido ensinados.
Em vez de etnia ou raça cigana, prefiro chamar-lhes o povo cigano, espalhado pelo mundo, orgulhoso das suas tradições e costumes enraizados e preservados. São altivos e ao mesmo tempo ladinos, como rezavam as palavras do seu baptismo "eu te baptizo com a água deste ribeiro, para que tenhas o olho fino e o pé ligeiro".
Das suas passagens por Forninhos, muitas histórias haverá para contar, desde a venda de colchas à procura de animais mortos recentemente e já enterrados, que não tinham pejo em cozinhar e comer. Parecia saberem o segredo da ressurreição!
Aquelas fogueiras grandes em que à noite, homens vestidos de preto, mulheres tendo no regaço daquelas grandes saias, os pirralhos, contavam estórias e cantavam aquelas melodias pungentes.
Vou contar uma pequena estória da nossa aldeia, pois por vezes até nos esquecemos de que atrás de cada pessoa há uma vivência digna de ser contada.
As filhas da tia Maria da Lameira, Rosa e Augusta, estavam sentadas no pátio de casa, quando são abordadas por uma cigana para lhes ler a sina. Na galhofa, anuíram, e a cigana começa a "ler" a palma da mão à Augusta: "vais casar e ter muitos filhos, trabalho e riqueza e uma felicidade infinita". Desataram as duas irmãs às gargalhadas e diz a Augusta "sai-me da frente estafermo e vai pregar para outra freguesia, já sou casada vai para três anos com o meu homem".
Magia do povo cigano, que na sua afirmação de liberdade e independência diz que a sua Nação é onde tem os pés! Talvez por isso e pelos encantos desta terra, uma mãe cigana que deu à luz em Forninhos tenha dado à sua filha o nome de Maria Forninhos!


Nota: Escolhi uma imagem na qual a família se transportava na carroça e carregava tudo e todos (pessoas e pertences) em http://armandoisaac.blogspot.pt

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Os Cortejos

As Vindimas, era o motivo montado no tractor

Recordar é Viver!
E, hoje recordo a participação de Forninhos num Cortejo Etnográfico em Aguiar da Beira, em que as pessoas encenavam a faina das ditas vindimas, vindimando nas videiras ali "plantadas" e pisando os cachos para obter o produto final, o vinho. O público, como sempre, está atento ao desenrolar da acção.
Cortejos deste tipo, o de divulgar os usos e costumes desta região, bem como as actividades agrícolas, tinham sido realizados na década de 50 do século passado, para apoiar o Hospital da Misericórdia e até hoje ficaram na memória de muita gente. Era uma época, contaram-me, que caso as populações não realizassem estes "Cortejos de Oferendas" (não aconteceram só no concelho de Aguiar da Beira), não tinham direito a cuidados de saúde (e mesmo assim...). Pelo que, não posso deixar de informar os meus leitores de que antigamente (no tempo do Estado Novo) não havia assistência para todos. Só houve assistência para todos aquando da implementação do Serviço Nacional de Saúde, já depois do 25 de Abril de 1974.
Nesse Cortejo, a população local de Forninhos, executou ao vivo o fabrico do queijo da serra e apresentaram uma canção que ficou na memória, tanto que as pessoas que embora não sendo da nossa terra a recordavam. O seu refrão rezava assim:

O meu distrito é a Guarda
O meu concelho é a Aguiar
A minha terra é Forninhos
A minha pátria é Portugaaaal

I
Por estradas e caminhos
Andando, andando sem descansar
Levamos nossas ofertas
Para o nosso Hospital

Refr.

II
Forninhos não esqueceu
O Cortejo, o Cortejo à Aguiar da Beira
E por isso apresenta, e por isso apresenta
O modelo de queijeira

Refr.

III
Junto às nossas ofertas
Trazemos da nossa terra
Dinheiro em bandeirinhas
Nos cestos queijos da Serra

Refr.

E a população de Dornelas com o trabalho da vareja/azeitona cantava assim:

Vamos todas à vareja
Vamos todas raparigas
Os rapazes a varejar
E as raparigas a apanhar

Outra situação criativa que me agrada especialmente é a da Cortiçada: 

O linho da Cortiçada
É um linho muito fino
Para o nosso Hospital
Todo ele é pouquinho 

Refr.

Ora toma-tomá-lá
Façam bem aos pobrezinhos
Ora toma-tomá-lá
Que Jesus lhes pagará.

Seria bom que as músicas e letras dessas marchas não se perdessem e gostaria que no Centro de Dia de Forninhos alguém lesse estas coisas à geração mais velha - fica a ideia.