Já que Maio é o mês dos burros, será interessante dar a conhecer um dos acessórios do burro, a cangalha. A cangalha era uma espécie de albarda de madeira que era assente no lombo do animal, quer dizer, sobre o dorso assentava uma albarda e as cangalhas assentavam sobre a albarda. Serviam para transportar o estrume (fertilizante orgânico) para as sementeiras, quando os caminhos eram estreitos e não havia os tractores que hoje há!
Acrescento ainda que as cangalhas eram feitas por um carpinteiro, hoje uma das profissões já extinta em Forninhos.
burro de cangalhas |
Agora, com sua licença, o porquinho.
pia de pedra |
Mãos habilidosas na arte de trabalhar a pedra de certo a executaram esta pia de pedra (granito) igual a tantas outras que serviu de certo viandas sem fim, quer às porcas parideiras, quer aos lustrosos porcos que serviriam de sustento, durante todo o ano, às pessoas da casa.
Agora que as viandas se tornam inúteis, a pia encostada à parede permanece disponível para outras funções, quiçá, um dia servir de floreira num qualquer jardim. Enquanto isso não acontecer esta pedra silenciosa, continuará com muitas estórias ainda por contar.
Urna partida |
Em cada aldeia, há sempre estórias que são transmitidas de forma verbal. Essas estórias têm sempre um fundo de verdade, embora "quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto", mas a história que conto não tem acrescentado.
Há umas dezenas de anos atrás, quando uma retroescavadora, ao serviço da Junta de Freguesia, procedia à abertura de um caminho, foram levantadas algumas urnas - algumas com ossos que se desfizeram com o movimento - e foram levadas dali para servir de bebedouros a animais (ou pias, como popularmente assim chamamos). Há quantos anos lá estavam? Sabe-se lá?
O que sei é que o nosso património precisa de ser protegido e protegê-lo não é levá-lo para lugares que nada têm a ver com ele, aliás, se assim fosse para que serviria o património existente?
As urnas deviam voltar àquele lugar (cemitério medieval de S. Pedro), porque só àquele lugar dizem alguma coisa. A povoação residente de Forninhos pode não ter pessoas interessadas, mas o concelho tem uma Associação de defesa do património, Aquilaris - Património Vivo Aguiar da Beira, que tem o dever de defender o que pertence à comunidade.
Ah! Aguiar da Beira, sim, foi onde o nosso Primeiro Ministro inaugurou na semana passada uma queijaria e no seu discurso, desatou a elogiar Dias Loureiro, antigo dirigente e um dos principais responsáveis pela fraude do BPN, que causou aos contribuintes um prejuízo superior a 4.700 milhões de euros.
Interessante de ver as histórias, os objetos e as críticas bem feitas.realmente a preservação deveria ter ocorrido! abraços, chica
ResponderEliminarAcho que a critica quando é feita para chamar a atenção daquilo que poderia e poderá ser feito de outro modo, devia servir, pelo menos, para meditarem sobre o criticado e procurarem as soluções possíveis e mais correctas. Nem sempre isso acontece, porque em Forninhos acham sempre que n' O Forninhenses se critica com o intento de destruir "A" ou "B".
EliminarAbraço amigo.
Feios, Porcos e Maus (em tom trágico-burlesco).
ResponderEliminarFeios, os burros. Gostavam de obedecer, mas falta o modo de o saber, pois para onde vai, vao as cangalhas e apenas nelas batendo, o burro entende.
Se leva estrume e traz um molho de couves ou alguma lenha, tendo fome ninguem o apanha. Fica cego e por tal reconhece o caminho de casa, mas...
Porcos mesmo, os porcos.
Nunca sonham senao com a pia que depois de comer a viram, apesar de os estar a convidar para proveito dos donos e felizes, longe de imginarem que vestiam a pele dos burros. mais burros e porcos, convenha.
Faltam os maus!
Aqueles que onde comem, deixam migalhas (desculpe a ousadia sr.Passos).
E desculpe tambem o nao se falar de ratos que gostam de queijo, mas a classe ficou bem representada na queijaria de Aguiar. Pelo "ferro, (ola Manel),
pela "ferrugem", (ola Pedro). Cuidado leitores, com a eventual toxicidade com os derivados da mama...
Por,onde te querem para tal te convidam.
As Bodas de Figaro!
Que me desculpe o Ettore Scola pelo abusivo de feios, porcos e maus, mas...
Lavar o focinho ao porco, as orelhas ao burro e a maldade aos maus, tempo perdido!
Engraçado que o negócio dos burros muitas vezes estava nas mãos dos ciganos. Quando o cigano/comprador tentava fazer negócio, o animal apresentava-se na melhor forma, o pior era nos dias seguintes...!
EliminarAgora o negócio dos laticínios está nas mãos de “empresários bem-sucedidos” que prejudicaram o país e as pessoas!
O que vale é que em Aguiar da Beira a maioria já não anda enganada como os porcos da ceva!
Objetos bem descritos e de tanta utilidade, Paula.
ResponderEliminarAs aldeias com suas histórias e belezas...
Bonitas fotos...
Um abraço grande... Tchau, adeuzinho...
Objectos de um tempo em que todas as famílias tiravam da terra o máximo que esta lhes podia dar, Anete!
EliminarDepois em cada aldeia, há sempre histórias que são transmitidas de pais para filhos de forma verbal e a história das urnas de pedra
que foram levadas, outras partidas, é actual e é contada por uns poucos naturais de Forninhos, mas já houve quem lhe acrescentasse um ponto!
Abç e até breve.
Voltando por aqui e vendo suas palavras... Explicações preciosas!
EliminarAté breve...
Abraços Grandes...
Interessante a cangalha!
ResponderEliminarPor aqui havia um ou dois burros...e hoje é ver as trotinetes galgando os trilhos de outrora!
Sempre aprendendo por aqui!
Bj amigo
Pois é Graça, hoje são as trotinetes que vão onde os tractores não passam!
EliminarBj amigo tb.
Pessoalmente nunca vi um burro com cangalhas, só em imagens, como agora aqui apresentaste, e presumo que não tendo visto, não será fácil voltar a ver.
ResponderEliminarQuanto às urnas, deveriam estar no sítio onde pertencem, e já que existe uma Associação de Defesa do Património, deve tratar disso o quanto antes.
Nem me tinha dado conta ter sido Aguiar da Beira o local do elogio a um dos grandes amigos de Cavaco Silva, pelos vistos também muito admirado pelo primeiro ministro.
Boa alusão do Xico a Feios, Porcos e Maus, um dos meus filmes favoritos.
Depois desta ligeira paragem, vou continuar a pintar a minha cozinha! :-)
xx
Laura, em relação às urnas, no ano de 2011 até quiseram acrescentar um ponto à história: que quando descobriram o cemitério, a Junta de Freguesia de então fez o que lhe competia, ou seja, informou o IPAR do achado e comunicou à Câmara Municipal. Ora se do achado a Junta informou a Câmara, então cabia à Câmara, como à Junta, procurar por todos os meios a salvaguarda de tais elementos arqueológicos!
EliminarHoje o concelho já pode contar com uma Associação para Defesa do Património, portanto, pode e tem de fazer o que a Junta e Câmara (juntas) não fizeram. Mas a ver vamos...como diz o cego, é que um dos membros dessa Associação também admira bastante Cavaco Silva, Passos Coelho e Dias Loureiro e em 2013, sabemos, que vendeu património da freguesia de Forninhos e gastou dinheiro público numa obra imaterial que em termos culturais está mais próxima da ficção do que da história da terra dos nossos avós!
Até agora essa Associação do Património nada fez!
Bj e bom trabalho ;-)
Pela estrada plana, toque, toque, toque,
ResponderEliminarGuia o jumentinho uma velhinha errante,
Como vao ligeiros ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque toque,
Toque, toque é tarde, moleirinha santa,
Nascem as estrelas, vivas em cardume,
Logo a moleirinha, toque se levanta,
P'ra vestir os netos, p'ra acender o lume.
( Do meu livro da 4° classe. Ja nao me lembro das outras quadras; sai da escola, ha mais de ano e meio.
Seria injusto falar dos serviços prestados pelos burros e nao falar das burras, cujo leite foi no passado utilizado para alimentar crianças. Quanto aos cosméticos para os quais é utilizado, consta que já Cleopatra o utilizava para tomar banho, a fim de manter a beleza da pele, mas isto todos os leitores o sabem melhor que eu. Abraço bom fim de semana.
Creio que quis escrever "saí da escola há mais de meio século" e não ano e meio ;-)
EliminarMas isso que aqui escreveu vem reforçar a ideia que tenho do quanto foram úteis ao longo dos tempos estes animais. Eram também muito utilizados pelos moleiros no transporte das taleigas de farinha e eu já nem me lembrava que o leite das burras não o usou só Cleópatra no banho, também serviu para alimentar crianças!
Bom fim de semana/Abraço.
Bom dia, Paula. Fiz de proposito escrever ano e meio, isto para rir evidentemente. Recordo-me virem as padeiras de Coruche trazer pão de centeio de centeio à minha aldeia, que trocavam pelos cereais e se nao fosse o burrinho, era impossível. Nesse tempo, o burro e a carroça eram os únicos "veículos" acessíveis a certas pessoas do interior.Quanto aos moleiros, os "nossos" já tinham cavalos. No que concerne a pia de pedra, Também os perpianhos do muro e as pedras da calçada estão carregadas de historia. Abraço, Bom f. de semana.
EliminarAh!
EliminarDos moleiros, lembro-me de um a que chamavam o Bombo, que trazia as taleigas e, sim, vinha com o seu cavalo, que costumava prender no largo da aldeia e nós, a garotada, a admirarmos o animal.
Das padeiras, não lembro, mas sei que a primeira vez que vieram vender pão a Forninhos, foi uma padeira de Coruche, que vinha num burro. E eu imagino (só imagino) que no caso, a cangalha para tranportar o pão era feita de verga. Se calhar eram feitas pelos cesteiros de Forninhos (isto é também para rir, claro)!
Aqui, cidade da Amadora (que há 200 anos era a Porcalhota) já vi algumas vezes distribuir o pão numa cangalha de verga adaptada a uma bicicleta!
Quanto à pedra, Sr. Leitão, costumo dizer que é na pedra que se imortalizam as obras mais duradoiras.
Abraço.
Quem não tinha dinheiro para vacas, comprava uma burra. Lembra-me de em Forninhos das pessoas que tiveram burros(as), Tio Zé Grilo, Tio Zé Cardoso e a última pessoa que me lembra, foi a Tia Graça Melias. Davam bastante jeito no trabalho caseiro. Em pequeno, lembra-me de chamarem ao queijo flamengo, queijo de Burra, mas não sei até que ponto é verdade.
ResponderEliminarAgora, burro, burro fui eu, quando comprei os pinheiros queimados de um baldio de Forninhos e depois alguém foi aos baldios buscar os que o vento tombou, de borla e também por ter dado à Junta mais de cem metros quadrados de terreno para alargar um caminho e depois para alargar o Cemitério, a Junta comprou a preço de ouro. Coisas como estas e mais, fizeram com que eu perdesse a vontade de viver em Forninhos, mas antes de sair, hei-de fazer "estragos" nas politicas governativas na aldeia. Há que dar tempo ao tempo e mais burrices aparecerem.
A palavra burro, pode ter vários sentidos, sujeito (animal) e adjectivo. Como adjectivo, pode ser considerado atributo a uma pessoa, por ser benevolente a quem não reconhece, e atributo a alguém que não aprende. Mas cuidado, chamar-se burra a uma pessoa no sentido de a catalogar estúpida, pode ser considerado crime. Ainda esta semana um juiz (é de pasmar) foi condenado por dizer a uma colaboradora que era mais burra que os próprios burros. Valeu-lhe o retiro de dois meses de antiguidade e mudança de local de trabalho (Correio da Manhã).
EliminarAgora o burro animal, é burro duas vezes. Burro de nome e burro por ser estúpido, assim como o porco. Porco animal e porco por fazer porcarias.
Espero com este comentário, ter esclarecido alguém que não entendem bem o porquê da minha burrice, inserida no comentário anterior.
Sem ofensa, há gente muito burra (adjetivo benevolente).
Diziam isso, que o queijo flamengo era queijo de burra, mas ninguém em Forninhos fazia queijo flamengo, aliás esse queijo confunde-se com a nossa história, mas não é tipicamente português, nem há notícia que a queijaria que o Primeiro Ministro foi inaugurar a Aguiar da Beira o venha a fabricar ;-)
EliminarQuanto à tua "burrice", deixa lá...as acções ficam com quem as pratica! No "Forninhos Transparente" podes também fazer bastantes estragos!!!
Já agora, sabes que as janelas e portas que os "brasileiros" ofereceram à Junta de Freguesia "já lá moram"?
Bom fim de semana, Henrique.
Ofereceram??? A troca de quê??? Dizem "eles" a troca dos pinheiros cortados. Verdade?????? Um dia se saberá.
EliminarIsso é o que eles dizem, claro, porque por detrás há muita "marosca", mesmo no que respeita ao terreno que a Junta comprou para alargar o cemitério.
Eliminar"Muita água ainda vai correr por debaixo da ponte", Henrique! Melhor, tendo em conta o que fizeram e aquilo que têm vindo a fazer, digo: "Muita lama e muito esgoto vão correr por debaixo da ponte".
Brevemente o povo todo o saberá.
Gostei deste belo trabalho e o burro é o todo o terreno destas pobres terras do interior com a vantagem de ser um transporte ecológico.
ResponderEliminarUma abraço e bom fim de semana.
Mas no interior beirão já quase não se vê burros, é um animal em vias de extinção e protegido em algumas regiões por associações sem fins lucrativos.
EliminarAbraço e bom fim de semana tb.
Claro que mais de meio seculo de vida, as memorias esbatem. Mesmo as mais marcantes, necessitam de retoques dos com quase mais outros tantos em cima, aqueles pormenores que nos prendem como contos na lareira. Testemunhos.
ResponderEliminarVou ficar por Forninhos e tentar que o pensamento se alheie de proverbios populares, o mais comum, " batendo na cangalha, o burro entende...".
Se o dizem algum fundamento existe para tal, mas...
Houve na minha aldeia, burros e burras, animais acarinhados e bem tratados, um prolongamento muito importante na subsistencia familiar, tal como na maioria das aldeias proximas destas aldeias da beira alta.
Ter uma boa junta de vacas, era sinonimo de prosperidade, ter uma vaca, era bom, ter um burro ou uma burra, quase bastava, ruim era nao ter nada.
E pedir quase em desespero se "o teu burro me pudesse levar nas cangalhas um bocado de estrume e na volta trazer umas resteas de couves e nabos, eu depois te agradeco...".
Assim pedia o pobre ao remediado, sendo porventura agora, tantos anos passados, parecerem mordazes estas letras, mas acreditem, reais!
Numa cangalha ia a esperanca de uma sementeira. No estrume, a esperanca de uma colheita abundante e no regresso para quem tivesse um porquito a criar ou umas galinhas, aqueles restos cortados de hortalica, compunham o ano .
No sentido lato, o burro era companheiro do homem e sempre como tal se manteve na sua coerencia, contrariamente ao homem que o tentou imitar sem com ele ter aprendido.
Arre que e burro!
Das imagens que guardo com mais clareza, o ti Agostinho e a Tia Prazeres.
De um modo carinhoso, pois aquandon ia a casa dos meus pais, diariamente os via passar no regresso, com o animal puxando a carroca, com os restos que a terra dera e enlevados ao ponto de na paragem quase nem responderem aos bons dias. Olhavam felizes, tinham casado na casa dos setenta, ele viuvo, ela solteira e quando um partiu, o outro pouco esperou. Mas sempre os vi com o burro, ou burra, nao sei...
O do tio Carlos Melias, animava a rapaziada, nele montado, a tocar a concertina e a mocidade atras a gritar as modas da altura.
Perguntei a alguem do que se "alembrava" (gosto do linguajar) e a resposta foi numa simplicidade yocante.
"Pouco antes de termos vacas, ia com o meu pai a Fornos levar o queijo para a feira numa burra do tamanho de uma mula, nunca em Forninhos se viu igual e eu pequenita, sete anitos porventura pois ele morreu tinha por volta dos oito, nela ia montada e feira feita, vinhamos os dois nela montados a cantarolar, sim que ele cantava bem ...".
Ja agora, um grande bem haja aos buros e burras da minha terra!
Também das imagens que guardo com mais clareza é o tio Agostinho e a tia Prazeres e sua burra. Bons vizinhos!
EliminarAcredito também que se os caminhos eram estreitos, os burros eram uma mais valia para transportar os estrumes para as sementeiras, umas vezes na carroça, outras em cangalhas.
A razão para um burro (ou uma só vaca), prender-se-à, sim, com factores económicos e ter uma junta (junta = parelha de bois ou vacas, duas vacas ao mesmo tempo a puxar o carro) já era sinal de possibilidades económicas.
Boa noite Paula, na verdade e começando pelo fim, como vai este Pais... Já cantavam há muitos anos o Sr. Feliz e o Sr, Contente!
ResponderEliminarPor essas e por outras em vez de darem atenção aos problemas das terras andam de jantarada em jantada a ouvi-los;))!
Como já tenho referido aqui é uma pena que o vosso Património seja tão mal tratado!
Um beijinho e até breve,))!!
Bom domingo.
Ailime
Quando a isso “nem me lo digas” Ailime, como dizia Vasco Santana no filme “Canção de Lisboa”!
EliminarBeijinhos e inté...
;))! Inté!
EliminarBjs
Ailime
Obrigado amigo (a). Estou fazendo uma visita ao teu Blog. Meus parabéns pelos teus trabalhos e sucessos. Abraço de Manoel Limoeiro. Recife PE.
'Feliz dias das mães, amigo(a)".
http://grupounidoderodafogo.blogspot.com.br/
Recife, 09 de maio de 2015.
Obrigada Manoel.
EliminarSeja bem vindo, sempre!