Havia em Forninhos pessoas, lavradores, que não tinham possibilidades económicas para ter gado, mas que faziam um contrato/acordo oral com os mais endinheirados que eram quem comprava, por exemplo, um bezerro/a e o punha na sua loja para o criar durante algum tempo, ficando portanto com o encargo de o amansar, estimar e alimentar e quando estivesse em condições de o vender, o ganho era dividido pelos dois, caso fossem animais de engorda. Caso fossem animais para trabalho, aquele que o tinha comprado ganhava mais de metade. Pela possibilidade de parição de bezerros, as vacas, eram quem mais lucro davam. Estou a vender 'a coisa' tal como a comprei, mas não é completamente certo que se passasse tal e qual, de qualquer forma este tipo de negócio era uma maneira de ambas as partes realizarem algum dinheiro, embora com maiores vantagens para quem tinha feito o investimento inicial, pois só arriscava o dinheiro e não tinha nenhum trabalho.
Como geralmente era nas feiras das redondezas que se procedia à venda de gado, e como estamos em Janeiro e está aí à porta a tão esperada feira dos Vinte do Mosteiro ou feira de S. Sebastião como diziam os antigos, que continua a celebrar-se no próprio dia (20 de Janeiro), lembrei-me de colocar esta entrada, pois antigamente foi esta feira anual um local predilecto para a compra e venda de gado, assim como a feira anual de St.º Ildefonso de Esmolfe (a 23 de Janeiro) e, ao mesmo tempo, aproveito para lembrar que as feiras, festas e convívios na nossa região não se realizam apenas no Verão e que os Santos de Inverno também são merecedores de uma chamada de atenção.
Espero que a meteorologia ajude!
Como geralmente era nas feiras das redondezas que se procedia à venda de gado, e como estamos em Janeiro e está aí à porta a tão esperada feira dos Vinte do Mosteiro ou feira de S. Sebastião como diziam os antigos, que continua a celebrar-se no próprio dia (20 de Janeiro), lembrei-me de colocar esta entrada, pois antigamente foi esta feira anual um local predilecto para a compra e venda de gado, assim como a feira anual de St.º Ildefonso de Esmolfe (a 23 de Janeiro) e, ao mesmo tempo, aproveito para lembrar que as feiras, festas e convívios na nossa região não se realizam apenas no Verão e que os Santos de Inverno também são merecedores de uma chamada de atenção.
Espero que a meteorologia ajude!
De facto uma tradição antiga, da qual infelizmente não tenho recordação.
ResponderEliminarPara variar, há que abordar quem o recorde e para tal queira colaborar.O texto levanta-me algumas questões: Era apenas extensivo aos bovinos ou aos ovinos e caprinos?
Forninhos sempre foi terra de mais vacas que bois, talvez por isso o enfoque nas vacas.
A necessidade de uns aliava-se ao empreendorismo de outros de forma pacífica e na palavra de honra. Se o animal era para engorda, a divisão de lucros era pacífica.caso fossem animais de trabalho, algumas questões: Como animais de trabalho, como o leite, geradoras de crias para continuar o ciclo, tinham outro valor e o investidor ganhava mais, mas será que não tinha risco? Em ambos os casos, pergunto, e se o animal morresse? muitas vezes as vacas iam à jeira para outros, o pagamento era dividido entre os dois? E as possiveis crias eram criadas no mesmo sistema e mantinha-se o mesmo tipo de acordo, ou a vaca mãe a partir de determinada idade ficava pertença de um deles? Se fosse para o mais necessitado, de que forma pagaria? O mais certo era ir vender na feira e fazer a partilha, mas senão fosse? Não sei mas tenho curiosidade em saber.
Mais fácil seria ter galinhas ao ganho, dividiam-se os ovos e comia-se a dita cuja.
XicoAlmeida
Penso que só as pessoas mais velhas podem responder às tuas perguntas(e mesmo assim será difícil hoje saber-se com precisão os trâmites do contratado). Mas sempre respondo à primeira questão:
ResponderEliminar1. O negócio era extensivo a ovinos e caprinos.
Portanto, também havia cabras e ovelhas, com certeza apascentadas básicamente em terrenos baldios, dada a dificuldade económica do responsável pela guarda dos animais.
ResponderEliminarUns vendidos na aldeia para consumo, outros para leite e queijo e outras vendidos talvez na Feira Nova.
XicoAlmeida
A feira do Mosteiro sempre me lembra ser uma grande feira de gado e de queijo ,sempre gostei de la ir ,mas na famosa feira dos 20 quem precisasse de comprar ou vender gado era esse dia que muitos o faziam , era como um dia de festa ,agora nao sei como e . Quanto a antiga tradição ja nao e do meu tempo .
ResponderEliminarBoa noite, ora aqui está um assunto que desconhecia por completo, é muito como diz o ditado viver e aprendendo.
ResponderEliminarHoje já poucas pessoas têm gado para desempenhar trabalho agrícola, mas ainda há pouco tempo na localidade de Fonte Fria vi um carro de bois a ser puxado por só animal, por achar uma sena já tão em desuso tirei uma foto.
ResponderEliminarAs vacas e bois ainda não se extinguiram, extinguiu-se foi as tradições, os usos e costumes tão enraizados nestas terras.
EliminarConheço carro de bois, mas não conhecia a sua história, desejo bom divertimento à feira. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarOlá,Paula!
ResponderEliminarQue interessante saber deste costume na comercialização de animais! E imagino que estas feiras de janeiro,das quais você nos falou, deveriam mesmo ser eventos importantes para a realização destas transações comerciais. Já aqui no Brasil, eu não saberia dizer se já usaram deste tipo de "criação" dos animais, uma vez que as vastas extensões de terra dos antigos criadores de gado tornavam esta prática dispensável...Mas adoro vir até aqui e descobrir estas estórias dos lugares por onde viveram meus ancestrais! Muito obrigada,querida Paula,por compartilhar!
Meu abraço carinhoso pra ti!!!
Teresa
("Se essa lua fosse minha")
Eu adoro compartilhar estas coisas, mas sinto algum receio em publicá-las, porque há coisas que conheço e outras não, pois o modo de vida nas aldeias mudou muito desde o tempo dos meus avós para cá. Hoje não se cria um boi ou vaca “a meias”, já se não pagam rendas aos proprietários, nem se vê nos recintos das referidas feiras gado para compra e venda, logo não se vê os negociantes com uma mão-cheia de notas a querer comprar estes animais, nem os “ajudantes” que de uma maneira engenhosa ajudavam a fazer o negócio. Eu explico. Nas pendências entre vendedor e comprador aparecia sempre um estranho (às vezes contratado) que dividia ao meio a diferença entre dos dois, para que o vendedor desça e o comprador suba o preço. Uma percentagem da diferença previamente combinada era para “ajudante”. Forninhos teve alguns “ajudantes”, cujo nome não vem ao caso apontar, mas se o "poder local" quiser registar a história e memória local, amanhã os netos de hoje terão uma ideia de como foi a vida dos seus avós.
ResponderEliminarHá ainda tanta coisa para conhecer…tanto passado.
Bom dia a todos!
ResponderEliminarInfelizmente pouca coisa consegui apurar a este respeito do "ganho", mas esse pouco quero compartilhar convosco.
Caso haja algum desfasamento, as minhas desculpas.
A pessoa com mais posses, comprava vitelas novas no início do inverno, que dava a criar e depois de criadas eram vendidas e o lucro dividido. A seguir comprava outra e era o mesmo sistema.
Havia porém quem não queria andar ao "ganho" embora tivesse necessidades; nesse caso pediam dinheiro a juros, não aos bancos mas a particulares, principalmente para as vacas de lavoura e iam cumprindo a dívida da forma acordada, muitas vezes com o dinheiro das crias.
Com as ovelhas o negócio era diferente.
Contaram-me que funcionava deste modo:
Fulano comprava as ovelhas e estas eram entregues aos cuidados e responsabilidade de determinada pessoa (sei alguns nomes, mas não cito por ética).
Como se dividia o lucro do negócio?
Simples! quem trazia e mantinha as o velhas, ficava com o leite e o queijo, a outra parte (afinal o dono), ficava com os borregos e a lã.
Bom negócio para ambas as partes!
XicoAlmeida
Ainda me recordo bem de dois desses "ajudantes", já falecidos, por vezes a fazerem a "partilha" do negócio (normalmente vacas) no largo da Lameira, de bengala na mão, chapéu preto na cabeça e colete de onde ostentavam a corrente do relógio de bolso.
ResponderEliminarO negócio era selado na venda do tio Zé Matela, com copos de vinho e uns biscoitos.
Eram profissionais na "arte" e não perdiam uma feira aonde houvesse gado para vender. Já tinham estatuto tipo juizes do povo) e ganhavam uns bons trocos. Afinal eram os avaliadores.
Nos defeitos ao animal era comum " não tem os dentes aprumados, é curta dos quadris, um corno é mais baixo...", no realce "olhem bem esta cabeça, vaca fina, mansinha e não há igual a andar ao rego..."
Nas feiras, como a Feira Nova, festejavam com marrã frita, uns quartos de trigo e o tinto.
XicoAlmeida
Nas minhas notas sobre a questão das ovelhas tenho também anotado que o ganho era dividido dessa maneira (queijo e leite para uma parte; borregos e lã para a outra) e já agora note-se que o borrego e cabrito assado no forno sempre foi peça de honra na nossa Beira, mas o modo como a nossa gente se alimenta também passou a ser diferente de lá para cá.Hoje todos nós somos consumidores de carne de vitela, mas tenho também anotado que nesses tempos da nossa terra ninguém comprava na feira um boi ou vitela para consumo, a compra e venda do gado bovino – diz o meu “velhote” destinava-se mais para trabalho e transporte.
ResponderEliminarA minha maior tristeza é ver que se não fosse o que aqui se vai escrevendo, já ninguém quer saber dos modos de vida da gente antiga, só os mais velhos é que se lembram e ficam espantados por eu querer saber como era antigamente a vida dos velhotes e velhotas e por lhes pedir para me contarem como foi!
Bom dia a todos.
ResponderEliminarQuém se não recorda desta feira, todos os anos e ano após ano no dia 20 de Janeiro, lá se realiza esta tão badalada feira.
Ou melhor já foi.
Sempre que me lembro, e, já lá vão umas décadas, esta era a feira anual, em que muita gente ali gostava de ir; uns procurando um bom negocio, na compra ou venda dos seus animais, bovino ou caprino.
Era também uma feira para os melhores queijos da região, porque sempre me disseram que o queijo de Janeiro era o melhor, assim sendo, quém não gostava desta altura para expor o seu melhor produto?
Hoje esta Feira já não me parece ser o que era á uns bons anos atrás, parece que tudo acaba.
Não posso afirmar bem o que escrevo, pois já não vou a essa feira á alguns anos, mas heide ir.
Boas recordações este dia me trás, cheguei a vir de Aguiar da beira a pé, só para ver a feira; eu e outros.
Esperemos que hoje, pela manhã o tempo se encontre melhor, para todos os que a visitam, pois se estiver como neste momento...as barracas voam....
Abraço
A minha memória diz-me que a feira dos bois fazia-se ao cimo do monte que ficava a sul da feira. À feira dos Vinte também eu nunca mais lá fui, mas todos os anos em Agosto vou à Feira Nova. No terreno acidentado a norte, onde fica a Capela de São Sebastião, e no vale onde estão as carvalhas ainda por lá assentam alguns tendeiros, mas poucos, pois as novas formas de vida e de ganhar dinheiro acabaram não só com a criação, venda e compra de gado e com os “misseiros”, mas também com os sardinheiros, as doceiras e até com as bancas de legumes e frutas, queijos, etc… Aliás, quem conhece, sabe bem que mercado fechado que existe no recinto da feira presentemente é um triste e pobre mercadito, mas isto é assim se calhar porque as pessoas das nossas terras ficam mais contentes com os caixotes de betão que se constroem, do que com tudo o resto, por tal deixa andar e esperar que esta feira com centenas de anos desapareça!
ResponderEliminarJá agora completo que resolvi chamar este ano a atenção para a Feira dos Vinte, por ser uma feira que as pessoas da nossa terra recordam ir, mas sei bem que quem ali se deslocar não encontra nada de inovador relativamente aos anos anteriores, apesar disso espero que a meteorologia ajude e que seja um dia festivo com mais tendeiros e muita gente, que seja um dia de reencontro entre amigos e que não falte lá a boa marrã!
ResponderEliminarNão sabia desta tradição “ vacas e bois ao ganho”, era uma maneira interessante de se ganhar a vida.
ResponderEliminarHá muitos anos que não vou à feira dos vinte, quando era pequena a minha família ia lá todos os anos, a minha mãe fazia anos no dia dezanove e no dia vinte lá íamos nós á feira para festejar, a tradição era comermos a famosa carne da marrã, dar uma volta pelos feirantes e lá víamos a feira dos bois, como o dinheiro era pouco não se podia comprar muita coisa mas o bolo Teixeira tinha de ser comprado.
Agora todos os anos em Agosto costumamos ir à feira nova, mas nunca mais comi a carne da marrã, mas se Deus quiser este ano em Agosto vou lá voltar e comer essa deliciosa carne com um quarto de trigo, como diz a Paula.
Gostava de conhecer melhor a terra do meu pai e os meus avós e ouvir melhor as suas histórias!
ResponderEliminarFeira dos vinte molhada
ResponderEliminarsem cabritos pra comprar
sem vacas para vender
sem tendeiros pra enganar
sem vista para se ver
sempre se compra um chapéu
e duas chouriças dos boches
a marrã que vem do céu
não tá tempo de deboches
mas quer queiramos, quer não
o cheiro e sabor a festa
pra esta gente modesta
não lhes mata a tradição
Até outro dia
XicoaAlmeida
Aluap, afinal o que é um "misseiro"?
ResponderEliminarTem relacionamento com missa?
Deve ser terminologia bem antiga e que desconhecia.
Belo registo este termo!
XicoAlmeida
Sim, está relacionado com missa. Os antigos chamavam missa ao negócio/tramóia. E o "misseiro" era o tal ajudante que recebia a percentagem previamente combinada, i.é., recebia por ajudar à missa.
ResponderEliminarDe notar que os misseiros de Forninhos ajudavam a tramar os da própria terra.
Tudo muda...mas também tudo se herda!
Possivelmente haveria dois "misseiros" no negócio.
ResponderEliminarUm da parte do vendedor, outro da parte do comprador.
Um para subir o preço, o outro para baixar. Penso eu, não sei...
Tipo advogado de defesa e advogado de acusação.
XicoAlmeida
Acho que não. Esses homens que “ajudavam” a fazer o negócio quase sempre eram contratados pelos compradores de gado. Faziam era bem o papel deles, que era fazer com que o vendedor descesse e o comprador subisse o preço, mas segundo sei o misseiro nunca prejudicava o comprador, pois era este quem lhe pagava “a missa”.
ResponderEliminarImagina em Forninhos. Fulano sabia que amanhã uma pessoa da sua terra ia à feira Stº Ildefonso, em Esmolfe, vender um boi, com certeza esse misseiro aparecia por lá para ajudar a dividir ao meio a diferença entre os dois, mas o que a história diz é que os misseiros sempre prejudicavam os da sua terra!
Faziam-no talvez por necessidade. Hoje fazem-no mais por maldade!
Outros tempos. Outras mentes!
Depois da Feira Nova, da marrã, dos sons, dos porcos Lameira abaixo, fazes aqui referência à Feira de Stº. Ildefonso, em Esmolfe, a propósito dos "misseiros" e dizes:
ResponderEliminar- Fulano sabia que amanhã uma pessoa da sua terra ia à Feira de Stº. Ildefonso...
Curiosamente é amanhã, dias 23 de Janeiro que se realiza!
Vamos fazer uma curta visita a esta feira à moda antiga, apesar da festa da maçã bravo de esmolfe, já ser uma referência, com mérito, a nível nacional.
Feira afamada pela quantidade de gado que ali se transacionava.
Mas havia mais, além do normal de quase todas as feiras beirãs à época, por aqui apareciam os esteireiros de Vila Cova do Covelo, a vender as suas esteiras,
Os latoeiros de Pindo e da Matela, afamados na região, com os seus baldes de zinco, potes de azeite, francelas, lampiões e candeias.
Aqui se ajustava com os fogueteiros de Lusinde, animadores das festas e romarias da região, o tipo e quantidade de foguetes para a festa da Senhora dos Verdes.
Boa sorte amanhã para o "misseiro"!
XicoAlmeida
E os estalinhos de Carnaval dos Cantos?
ResponderEliminarMas uma das minhas lembranças mais antigas é a de ficar à espera que o meu avô Antoninho voltasse da feira do St.º Ildefonso com um bolo de azeite. Confesso que desde muito criança sempre gostei do bolo de azeite. Ele como sabia que eu gostava muito oferecia-me um bocado.
No recinto da feira, o que mais dava nas vistas acho que era a moldura das chouriças, oferendas ao Santo.