Como o tempo corre! Passou já um ano após a data em que trouxemos à memória Os Expostos.
Naquela altura não era certo (para mim) existir uma roda ou casa de Expostos em Aguiar da Beira, etc...mas o documento abaixo apresentado, relativo ao baptismo de uma criança, de nome Apolónia, dá-nos informação que existiu mesmo uma Roda de Expostos na Vila de Aguiar da Beira.
Baptizada em Forninhos "debaixo da condição" aos cinco dias do mês de Março da Era de mil oitocentos e cinquenta e dois anos pelo Cura Joze A. Fernandes, Apolónia, vinda/dizem no primeiro de Fevereiro da dita era, da Roda de Aguiar da Beira, foi exposta em casa de Antónia Carvalho.
(não existem mais informações).
Os bébés Expostos raramente traziam com eles alguma coisa que pudesse identificá-los, mas por vezes tinham a indicação do nome e a informação de já terem sido baptizados em casa, para evitar que a criança morresse sem o baptismo. Mesmo assim eram novamente baptizados sob conditione, como é referido em alguns registos.
Diz a história que, isto acontecia quando, da parte dos progenitores havia intenção de recuperar a criança mais tarde. De acordo com os regulamentos das casas dos expostos, esta recuperação estava sempre garantida, pois em qualquer momento os pais podiam requerer a guarda dos filhos sem se sujeitarem a qualquer penalização ou julgamento.
Apolónia pode ser um bom exemplo desta situação. Foi levada para a roda, mas terá sido entregue mais tarde a Antónia Carvalho de Forninhos, que não declarando ser mãe dela, acredito ser a sua progenitora, porque de acordo com os registos de baptismo da altura, deu à luz outras crianças de pai incógnito, José, João, António, foram apenas três delas:
- José, nascido em 27-05-1848 e baptiz em 04-06-1848, filho de pai incógnito, mas dizem ser Francisco Dias Guerra.
Madrinha: Maria, filha de António Carvalho e de Ana de Andrade Janela.
Padrinho: José Carvalho, de Forninhos, solteiro
- João, nascido em 16-05-1850 e baptiz em 26-05-1850
Madrinha: Maria, filha de António Carvalho e de Ana de Andrade Janela.
Padrinho: João Carvalho, tio, solteiro
- António, nascido em 16-02-1853 e baptiz em 27-02-1853
Padrinho: Inocêncio Rodrigues, de Forninhos, solteiro
Madrinha: Maria da Fonseca, de Forninhos, solteira
- João, nascido em 27-04-1856 e baptiz em 11-05-1856, filho de pai desconhecido, mas dizem ser António Antunes.
Madrinha: Maria, filha de Francisco Dias Andrade e de Ana da Fonseca, de Forninhos, solteira.
Padrinho: João Carvalho, tio materno, de Forninhos, solteiro
(Por vezes, os nomes repetiam-se porque o primeiro "João" acabava por morrer passado pouco tempo sobre o baptismo).
Notas Minhas:
Os bébés baptizados eram netos de José Carvalho, de Pena Verde e de Maria Andrade Janela, de Forninhos.
Não deixa de ser curioso, o meu trisavô "Cavaca" ser filho de Inocêncio de Albuquerque e de Isabel Andrade filha de Manuel de Andrade Janela; nos registos o nome do meu trisavô, que nasceu em 1819, aparece como António de Albuquerque, António de Andrade Albuquerque ou ainda António Albuquerque Janela.
Ciente que todos podemos ter um antepassado Exposto ou Enjeitado, volto a pedir às autarquias (municipal e local) que invistam um pouco mais na História das terras que representam, no caso, seria uma forma de relembrar centenas de desconhecidos que durante séculos tiveram também um papel importante no concelho.
A roda até pode já não existir, mas há documentos que só esperam ser resgatados e em tempo de pandemia, o pesquisar é coisa que podem fazer sem perigar e é um bom exercício.
De Forninhos existem registos paroquiais desde 1634 (uma raridade para uma freguesia do tamanho da nossa), disponíveis no Arquivo Distrital da Guarda, assim como na Torre do Tombo em Lisboa e tendo consciência dessa fonte inestimável para Todos, é pena não haver um projecto para transcrição dos documentos indispensáveis para reconstituirmos a memória do nosso passado.
"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena" (Fernando Pessoa).
Boa tarde. Informações detalhadas e impressionantes. Parabéns.
ResponderEliminarObrigada. Preservar a nossa identidade e salvaguardar a memória dos nossos antepassados a todos devia tocar. Infelizmente, aqueles a quem mais essa tarefa incumbe, são os primeiros a negligenciá-la.
EliminarMais um excelente artigo (disso se trata por profundo trabalho e pesquisa) de outros tempos e realidades, dramas escondidos que afinal e quem tal imaginaria, tão actuais e pelo mesmo motivo, a miséria.
ResponderEliminarElas e eles, coitadinhos, tinham de abandonar os seus "tesouros", a coisa que mais adoravam, na esperança que a boaventura lhes acarretasse uma vida promissora e quiçá um dia se pudessem encontrar e seguir um caminho único...
Esta pesquisa que retrocede nos tempos, entronca em tantos antepassados que me deixa a pensar:
"Afinal e se calhar, posso ser também um legado da Roda desse tempo, tal como qualquer de nós, pois ela existia!".
Infeliz o povo que apenas vive o presente sem procurar tanta gente. É pobre!
Por isso finalizei com a frase que faz parte da obra de Fernando Pessoa "Mensagem" uma obra que glorifica o passado e projecta um futuro.
EliminarVi uma roda no Mosteiro do Louriçal e contemplá_la despertou em mim... emoção!
ResponderEliminarObrigado pela partilha... Bj
Quem não fica emocionado?
EliminarPrincipalmente os que descendem destas pessoas cuja existência se iniciou com o abandono!
Como se conseguia? E que sofrimento para a mãe e o bebé. Acho que vinha dali muita tristeza.
Bj.
Meu bisavó José Augusto, após a morte de minha bisavó Rosa, cansou com uma Senhora Apolônia Fernandes, seria ela descendente da Apolônia exposta? Sempre quis saber mais sobre Apolônia Fernandes, e se era alguma parente de minha bisavó Rosa Fernandes.
ResponderEliminarAurélio, é bem possível, mas só o acesso ao Livro dos Expostos de Aguiar da Beira e ao registo completo de "Apolónia Fernandes" conseguimos saber mais sobre estas Apolónias e formação desse apelido familiar (Fernandes).
EliminarEste trabalho era importante as autarquias fazerem.
Isto são só umas pontas...
Mas há quem se lembre duma Apolónia já velhinha (solteira ou viúva) que vivia no Lugar, onde viveu a sua avó Etelvina.
O meu agradecimento pelo comentário.
Muito interessante este artigo e é impressionante os registos de uma "pequena" terra vir desde o inicio do século XVII.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Verdade, temos Registos de Batismos desde 1634; Registo de Casamentos desde 1635 e Registo de Óbitos também desde 1635.
EliminarSó pela transcrição que fiz de alguns documentos, dá para ver que o sangue que nos corre nas veias não difere muito de pessoa para pessoa.
Bom domingo.
Abraço.
Bom dia
ResponderEliminarOportuno, atual , intenso .
Trabalhoso .Rico
Este post.
As crianças cujas Mães não podem ou não queriam ajudar a educar e criar..
Os filhos de pai incógnito .
Aqui faz - se História .
E hoje ?
Não haverá lugar à RODA ?
Crianças como a de Sta Apolónia deitada no lixo ..
A de Torres Vedras ainda um feto.
A do Cacém ...deixada à porta de uma Igreja Evangélica..
Casos por este Mundo "louco"..
Não faltam...
Nos tempos que correm este post
pode levar a um tremendo debate .
As crianças ??
Milhares que tendo PAI,as proibiram de o ter ...
Puseram - nos fora do circuito .
Da Educação .Do Amor .
Cortaram Afetos.
Destruíram .
Por maldade .
Vingança .
Ódio .
Sem fim .
Milhares de processos em Tribunais de FAMILIA , que de FAMÍLIA nada têm.!!!
A mentira e crueldade da RODA do Séc XXI ,exposta nas redes sociais ,
como sendo uma coisa de VERDADE..
Passámos da RODA Séc. XIX à tortura do SEC XXI...
O HOMEM evoluiu ?
Não !!!
Parabéns Por mais este belo Post
Paula e Xico.
Bom Domingo
Abraço
M Gouveia
Pois, pelo que se passa actualmente, não sei se diga felizmente ou infelizmente que acabaram com a Roda em Portugal.
EliminarMas enquanto existiu houve ilegalidades de que pouco sabemos.
Sabemos que a justiça era ineficaz.
Quantos padres e Juízes de Orfãos tiraram dividendos da fragilidade do sistema?
As amas só as havia pela necessidade que tinham de obter algum rendimento, já que as condições para desempenharem o papel de ama eram poucas, sobretudo pela miséria em que, por vezes, também viviam.
Agora dos processos em Tribunais de Família “nem me lo digas” como dizia Vasco Santana!
O meu amigo, melhor que eu, conhece o sistema, mas há casos e casos...
Bom domingo Miguel.
boa tarde. um bom artigo
ResponderEliminarObrigada.
EliminarAqui fica-se a saber informação importante.
eu! bem conhecido...., já á muito que não visitava este blog, mas á sempre um dia este foi hoje, fiquei muito grato por ver estes artigos, em prol dos nossos antepassados.
ResponderEliminarAmanhã este blogue faz 11 anos! Hoje, já todos têm uma janela na sua mão para interagir no momento, mas aqui ainda continua a haver espaço para aquele momento que se espera diferente!
EliminarVolta sempre!
Saudações amigas.
Boa Noite
ResponderEliminarNão se deve dar Parabéns atrasados .
Dizem que dá azar.
Em 2009 não sabia deste Blog .
Em 2009 vivia no Funchal .
Não era utilizador NET...
Tinha o tempo absorvido 14 horas
por dia .
Não tinha vida Familiar .
Andava " numa roda viva " a disfarçar o assalto que me fizeram em de 2006, em Loures.
Dançava e bebia para abafar as mágoas . Namorava .
Tinha dois trabalhos .
Full e Part - time .
Pagar dividas ...foi o meu foco.
Depois regresso para Lisboa.
Trabalhar o "meu mercado " e com pessoas já me conheciam.
Recuperei a minha rede de contatos.
Conheci a neta da Ti Adélia e do Ti Aníbal, de Sobral Pichorro .
Minha MÃE no Céu , deu-me esta luz.
Ter FAMÍLIA , reconstruir Caminhos .
Levar uma criança à Escola.
Hoje já na Faculdade.
Reencontrei - me com a Beira Alta,
que tinha deixada para trás em 2006.
Conheci dois amigos com que nunca estive .
O seu BLOG DE FORNINHOS...
O "NOSSO BLOG"..
Admiro -os com profunda sinceridade
Á Paula e o Xico. OBRIGADO.
Amanhã brindou por vocês
Um Beirão .
Ao que vos move .
A Paixão pelas suas origens .
O Orgulho mas suas gentes .
Aquele Cantinho no Vale , entre
FORNOS E AGUIAR DA BEIRA..
Que me atormentou numa noite de luto de Maio de 89...
Lugar pela qual ganhei Admiração
Simpatia .
Respeito.
As suas gentes ...
Aquele Cantinho que eu 'desbravei'
noite dentro por Penalva abaixo
já de madrugada , eram crianças
os netos do Ti Antônio Grilo e da Ti Isilda .
Dormiam profundamente depois de cinco horas de viagem.
Os meus Avós Francisco , Bela e Maria e minha Mãe Maria José estão
Felizes .
Descobri novos Caminhos e entendo
com quem SABE MAIS DO QUE EU que
afinal de contas, tal como os nossos antepassados VIVER é UMA ARTE de
sobrevivência , Amor e Trabalho.
Fé e Esperança .
Não tenho mais palavras .
Mas onze anos de BLOG é motivo para
Brindar .
Aqui vai um BEIRÃO c/ Gelo
Sempre PAULA e XICO.
Abraço
Miguel Gouveia
( Pai de dois homens e uma senhora netos de Forninhos )
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar"Não se deve dar Parabéns Adiantados .." quis dizer .
ResponderEliminarObrigada pela colaboração prestada, se todos os forninhenses tivessem a mesma disponibilidade temos a certeza que o nosso Blog seria muito mais rico!
EliminarApesar das coisas não estarem famosas, temos de combinar um encontro (real) com as devidas precauções.
Um abraço.