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sábado, 5 de maio de 2012

A sacha do milho


Depois da sementeira do milho há sempre que fazer, sachar, regar, etc…por mais cuidada que a terra esteja, cresce sempre ao mesmo tempo que o milho as ervas daninhas e a sacha serve para arrancar essas ervas. Para este trabalho/tarefa lá iam ranchos de pessoas com os sachos ao ombro, que durante horas sachavam e arrancavam as ervas.
Mas…a primeira tarefa da sacha do milho era arralar, um trabalho mais ou menos leve, pois o mais difícil era não arrancar o pé de milho certo, depois era pegar no sacho e juntar-se ao rancho.
Esta fotografia tirada nas Corgas mostra precisamente um rancho de pessoas a sacharem milho e também o feijão/chícharros e abóboras que eram semeados no meio do milho. Hoje é uma mata de carvalhos americanos. Mas, neste terreno das Corgas num ano era semeado centeio, no ano seguinte, milho. Regra geral era assim em todas as terras, mudando de cultura, descansa a terra. 
Nota-se que o calçado das mulheres é aberto, a mulher de escuro e lenço na cabeça até parece estar descalça, o que era vulgar, mas convém destacar que nesses tempos apareciam muitos lacraus. Seria interessante a descrição do lacrau (escorpião) e histórias vividas. Quem quiser ou tiver vontade de deixar de ser um leitor passivo, pode e deve fazê-lo.
*
Foto: sacha do milho nas Corgas, cortesia da D. Augusta Joana
Da esquerda para a direita: o seu pai: tio Armando; o seu tio João; sua tia Rosária; a tia Esperancinha; Joana; Alfredo; tia Ana (sua mãe); a rapariga com a bébé ao colo é a sua prima Teresa e a bébé é a Manuela (filha do casal Alfredo e Joana). 

17 comentários:

  1. Sempre há o que fazer depois de tudo feito, é fato. Quanto ao escorpião, por enquanto não vi nenhum em Curitiba, ainda bem. Mudando de assunto, aceitei o seu comentário e hoje fiz prosa ao invés de versos. Faço versos para simbolizar às vezes a realidade não muito boa do cotidiano, que fica bem melhor quando em versos e até eu me distraio de algum aborrecimento:) Um abraço, Yayá.

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  2. Paula,

    No passado as pessoas não se preocupavam muito com esses perigos. Acho que elas percebiam quando eles estavam por perto.
    Digo isso, porque meu avô, quando era vivo, sentia cheiro de cobra de longe. Rs
    No sítio do meu pai, tem muitos escorpiões. Ele já foi mordido, e meu neto Gustavo também. Ambos, foram as pressas para o hospital, e lá ficaram tomando vacinas e os cuidados.
    Tenho pavor de cobra e escorpião. Risos

    Mas falando da foto, que na minha opinião é uma relíquia, mostra a força das mulheres trabalhando no campo. Gostei muito.

    Paula, se eu sumir, não me abandone. Estou com muito pouco tempo para atualizar o blog e visitar os amigos.

    Beijos

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  3. Quando muitos moravam em Forninhos, este era um cenário habitual, homens e mulheres nas sachas, calçados ou descalçados. Também assim andavam descalços nas ruas da povoação homens, mulheres e crianças. Hoje, claro, não passa de uma memória, mas segundo me contavam era assim mesmo. Havia pessoas que tinham os pés tão calejados e ressequidos por uma vida de trabalho de sol a sol, que até se conta que uma vez, se não me engano foi o tio Luís Rebelo, pisou um lacrau e pensando ser uma picadela de um ouriço (do castanheiro), tirou-o com a mão.

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  4. Esta velha foto de outro tempo relembra o que fomos e também é para mim uma viagem à infância, pois ainda me lembro vividamente destas tarefas. À tardinha, depois das aulas e da merenda, antes ou depois dos deveres, eu e os meus irmãos íamos para a Estracada “de baixo” ajudar a sachar o milho. O meu irmão Luís costumava arralar - a minha avó Coelha até dizia que sabia arralar muito bem! O David não sachava, tinha “um conjunto” numa oliveira, onde tocava bateria lol. Bebia-se uns goles de água para matar a sede e quando se acabava o eito voltávamos para casa. Ainda hoje quando passo naquele terreno, lembro a sacha do milho e do calor daqueles dias.

    Um agradecimento à Joana por ter guardado esta relíquia, pois é uma imagem que, por várias razões, não voltamos a ver nas Corgas.
    As fotografias antigas têm-me ajudado a compreender melhor a minha terra e os meus familiares. Ver a ti´ Ana do meu ti´ Armando tão magra, de saia comprida em tom escuro e de lenço foi, para mim, uma surpresa. Lembro-me já da ti´ Ana ser uma mulher muito moderna.

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  5. Desejo um Feliz Dia das Mães à todas as mães de Portugal, Mães são anjos de Deus aos seus amados filhos e, nesse amor infinito e sempre abençoado festejamos. Que festejemos essa linda irmandade que nos une, nessa nossa amada língua portuguesa e os nossos textos lidos com carinho. Paula, agradeço a sua companhia e a sua amizade, Felicidades!. Um abraço, Yayá.

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    1. Obrigada Yayá por lembrar as mães de Portugal. Houve muitas almas caridosas que mataram a fome a alguns que lêem os nossos textos, mas hoje porque já não andam descalços e têm que comer (ainda bem), acham desagradável que eu escreva sobre esses tempos, mas eu defendo que a cultura do milho e centeio, trabalhos, canseiras, suores, deve escrever-se senão os vindouros nunca saberão o que foi a vida na nossa terra.
      Ao fazer uma pesquisa na Internet felizmente encontrei também gente a divulgar este tipo de memórias, para que os jovens de hoje conheçam os trabalhos que os seus avós e bisavós passaram, até poderem ter que comer na mesa e muitas vezes matar a fome a quem nada tinha.

      Um abraço também para si/Paula.

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  6. São estas velhas reliquias que nos trazem á memória os tempos em que homens/mulhres e até alguns jovens, se levantavam da caminha bem cedo e com o sacho ás costas lá iam direcção a uma qualquer propriedade, onde a cerca de duas semanas se tinha lançado o milho á terra, milho/feijão e algumas sementes de nabo, pois estas tambem cresciam junto com o milho.
    Depois de sachado o milho pela primeira vez,este apenas tinha umas duas ou tres folhas, tambem era preciso alguns dias após voultar a dar uma nova sacha, esta mais aligeirada ( esta tarefa tinha o seu nome, arrasar?)
    E assim o milho ía crescendo, até ao dia em que como todas as coisas precisam de água, este não era diferente, lá se ia avelgar e de seguida a 1ª rega ( assentar o milho )
    assim ele lá crescia até ganhar espiga, quando as "barbas" dessas espigas estivesse seca, mais uma grande tarefa para toda a familia e até para amigos, cortar cruta ou bandeiras, depende de cada zona, estas eram espalhadas e quando estivessem secas eram enfeichadas e guardadas para o Inverno alimentar os animais. Alimento bastante apreciado por eles.
    Está a chegar o fim do Verão, as espigas estão prontas para serem escamizadas, Vai um serão de Festa!!
    resto de um Bom Fim de Semana.

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  7. A sacha do milho,até me doi a cabeça quando penso nessa tarefa,tambem eu me lembro bem Paula,daquela estracada, aqueles eitos que pareciam não ter fim,é verdade que enquanto voces sachavam,eu cantava em cima de uma oliveira,que era para não custar tanto o trabalho e ainda ia buscar umas peras à pereira do tio Agostinho(gira discos)lol mas tambem sachei bem a minha parte,embora escolhesse sempre o lado onde havia menos erva e quando cortava uma caneira de milho arranjava logo meio de a esconder,para a minha mãe não ver héhé, mas depois veio aquele produto tipo erbicida,que ao curar a terra as ervas eram muito menos,e não queimava o fruto.

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  8. Verdade se diga, sachei muito milho, batatas e outras coisas, mas nunca foi o meu forte.
    E é como o David diz, quando calhava cortar um milheiro, o melhor era disfarçar ou até esconde -lo, pois se ele já estava arralado, mais um ou dois que se cortavam, menos milheiros ficavam, menos milho havia, prejuízo!
    A culpa não era nossa, mas sim da lamina do sacho, não tinha olhos.....

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  9. À 2.ª sacha não sei bem, mas acho que chamavam “aterrar” (?) e o milho, ao contrário do centeio, como necessita de muita água para se desenvolver, o que era semeado nas terras secas como só recebia a água do céu para se “aguentar” melhor, na 2.ª sacha aconchegava-se a terra à raiz do milho.
    Quando eu leio comentários em que o nosso linguajar é protagonista, como é o caso de “avelgar”; “assentar o milho”; “cortar a cruta”; “caneira”, é quando noto cada vez mais a minha distância em relação a este linguajar popular. Na verdade, penso que se fosse mais velha podia escrever artigos com mais vocábulos da nossa terra, que por hoje já não se usarem em Forninhos os mais novos nem sequer os conhecem.
    Vou acrescentar mais um: na nossa terra dizia-se “alacrairo” e não lacrau. Não sei se noutras terras ou regiões a palavra lacrau se pronunciava assim, mas esta forma de falar também faz/ou/ fazia diferença.

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  10. Boa tarde .Também sachei muito milho nao por gostar muito mas porque era obrigada .Como ja foi dito íamos cedo e so vínhamos pelo meio dia , a dor de costas então nem se fala , mas o trabalho tinha de ser feito .Eu também penso que era aterrar milho .

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  11. Pois é para mim esses trabalhos foram de alguma diversão, uma vez que só de muito em muito tempo as praticava, por isso não posso dar bem o valor a pessoas como vocês passaram, hoje ainda o faço mas quase por carolice, na minha terra poucas são as pessoas que cultivam,mas essas fazem-no em grandes qquantidades, outros porém o milho é semeado junto às regadeiras,porque para depois o dar de comer para as galinhas, por cá também se fazia a sacha, mas já não se fazia a desbasta, porque a terra é muito forte e suporta bem esse tipo de cultura, já não se vê milheirais como antigamente, porque hoje é mais fácil comprar do que produzir.
    Mas digam lá que eram outros tempos, tempos que quando nos lembramos, nos trazem um sorriso.

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  12. É pois João. Apesar das dores de costas e bolhas nas mãos, ainda assim acho que valeu a pena viver as situações que aqui recordamos (não é Manela?). No tempo da rega do milho brincávamos também com a “barba” do milho. Lembro-me bem que o meu irmão Luís metia um bigode e dizia que era o pai :))))))) Como membros de uma comunidade só podemos sorrir quando recordamos e partilhamos as nossas histórias.
    Li há tempos uma afirmação que registei por dela gostar muito: “brincar não era um tempo oferecido, mas conquistado entre os múltiplos afazeres em que cedo nos iniciávamos no mundo do trabalho.”.
    Se rodarmos os ponteiros do relógio para trás, sabemos que nesse tempo era assim. Brincávamos na rua, na Lameira, só depois de ajudarmos os nossos pais nas sachas, nas regas, etc...
    O fim do mundo rural a mim deixou-me saudades.

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  13. Pois é Paula, apesar de serem tempos de muito trabalho, também eu tenho saudades desse tempo, eram tempos vividos com mais alegria do que os tempos de hoje, trabalhava-se mais mas também tínhamos muitas brincadeiras, o largo da lameira estava sempre cheio de crianças para brincar.
    Também ainda sachei e aterrei milho, eu estava sempre desejosa de acabar a sacha, quando chegávamos ao fim do terreno era uma alegria para mim, mas no dia seguinte lá íamos nós sachar outro terreno de milho o que me deixava triste, mas a vida naquele tempo era assim e nós tínhamos que ajudar os nossos pais.
    Quando o milho já tinha barba eu fingia que era cabelo e fazia-lhes uma trança, na escanada do milho encontrava espigas ainda com a trança que eu fazia.

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  14. A nossa memória guarda em recantos coisas que só com imagens as recordamos e esta fotografia, Maria, leva-nos a pensar sobre tempos vividos, mas o mais importante é constatar que, sendo tempos difíceis, eram também de convívio e de entreajuda. As pessoas de outrora, essas sim, eram uma força viva que trazia vida à aldeia. Agora as pessoas vão sendo cada vez menos e o milho que se cultiva hoje em Forninhos não tem comparação com o que se cultivou, também apareceu na nossa freguesia há uns anos o javali e os lavradores deixaram de semear milhos nos terrenos mais afastados da povoação. Porquê o surgimento de javalis? Em miúda sempre ouvi falar do lobo, da raposa, do bicho das galinhas, do texugo, da lebre, do coelho, da cobra, do lagarto, da escova-terra (toupeira), da sarda, do lacrau, já do javali, que me lembre, nunca ouvi falar.
    Mas tudo muda.

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  15. Como fui a mais nova dos meus irmãos e sai da terra bastante nova quase não trabalhei nada nas terras, mas recordo quando era pequena ia com os meus pais para o campo gostava de deitar os feijões no rego e as batatas. Também ia com um grupo que vinham ajudar na sacha do milho era bonito cantavam-se as cancoes da época e comia-se umas coisinhas boas. Como se fazia ao milho depois da primeira sacha era como disse o serip, gostei do comentário dele. Um beijo a minha prima joaninha por ter uma foto tão linda dos familiares que eu recordei muito bem esses gostos e na corga onde eu ia algumas vezes principalmente na ceifa. Com respeito as mordidelas dos lacraus lembro-me de morder um a minha mãe na eira não sei que remedio caseiro lhe ponham mas sei que sofriam muito e largas horas.
    M.D.

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  16. Uma imagem traz muitas recordações e dei-me conta que se não fosse esta fotografia nada conhecia deste tio João e tia Rosaria, no entanto, hoje eu sei onde foi a sua casa e ainda sei que quando ía a casa do meu querido avô Cavaca, pedia para ouvir o meu pai. Ou seja, a brincar, metiam-se com o meu pai (criança) por causa dos olhos:

    - Que lindos olhos tens ó mocho!
    E o meu pai respondia:
    - Cojjza-se.

    O ti´João adorava ouvir isto e muito se ria.

    Eu não me canso de conhecer melhor a história da minha terra e suas gentes e cada vez mais fico impressionada com a vida de pessoas tão simples, que da minha parte só podem merecer uma homenagem recordatória.
    Vamos pois em frente porque para a frente é que é o caminho e querer sempre fazer mais e melhor é o único caminho possível.

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