Pus-me a pensar nas refeições habituais que se comiam em Forninhos e que se perderam, mas que agora os médicos e nutricionistas nos recomendam, isto é, comer produtos biológicos e 5 ou 6 vezes ao dia, melhor ainda, a cada 2 horas e meia. Ah! E que devemos comer sopa. Pois bem, em Forninhos há 40 ou 50 anos e tal, já era quase assim. Apesar de haver quem passasse mal, pois eram tempos de miséria e muitas famílias nem sequer tinham uma velga para cultivar.
Voltando às refeições, segundo a ordem (corrijam-me, pois posso muito bem estar enganada):
- Às 5 ou 6 da manhã (mata-bicho): figos secos e aguardente;
- Às 7 ou 8 da manhã (almoço): Caldo e um bocado de pão com conduto;
- Às 10h30 (piqueta): Pão com queijo da serra ou com chouriça, às vezes omelete e batatas albardadas e sempre azeitonas;
- Ao meio-dia (jantar): Caldo e carne, sardinha, chicharro, bacalhau, com o que havia: batatas, feijão, chícharos, couves. Os homens acompanhavam a refeição com vinho;
- Às 4 da tarde (só até ao S. Miguel: a merenda): Pão com queijo, chouriça ou presunto. Era normal os homens usarem navalha e cortar aos bocadinhos, que acompanhavam com o vinhito;
- Às 6 e tal ou 7 (ceia): Caldo, feijão com couves, aqui e ali, arroz com couves (os legumes, sem grandes variedades, sempre mais à base de couves) e por vezes bacalhau albardado.
Agora reparem que naqueles tempos se comia muita sopa, havia sempre um caldo a cada uma das três principais refeições: de manhã cedo, ao meio-dia e à noite. Quando se diz "à noite", é óbvio que nada tem a ver com os horários de hoje, pois a luz solar é que indicava os horários. A electricidade chegou a Forninhos depois de 1959/1960(?) e não era em todas as casas e isto significava que as pessoas se deitavam cedo, para cedo erguer, mas o estômago estava habituado a este ritmo do levantar cedo.
Legenda sobre os termos populares usados:
Velga: pedaço de terra para cultivar;
Conduto: acompanhamento do pão (queijo, enchidos);
Caldo: sopa;
Chicharro: carapau grande;
Chícharos: feijão frade;
Merenda: lanche;
Piqueta: refeição intermédia das 10 e tal da manhã;
O pequeno almoço chamava-se almoço;
O jantar era o que hoje chamamos de almoço;
A ceia era a refeição que hoje chamamos de jantar.
Boa noite, pois muito bem, á que verificar que nesses tempos, havia uma regra, nem sempre igual, pois a época do ano também tinha que dizer.
ResponderEliminarDesculpa, mas penso que a hora do Almoço, sempre foi, cerca do meio- dia, agora próximo das 07 ou 08 horas, depende das pessoas e o que se encontravam a fazer.
No que diz respeito, ao modo sempre tradiçional, na nossa terra, a sua alimentação, pois é nestes modos que a nossa saúde é melhorada, como bem se diz: o comer várias vezes ao dia, faz muito melhor á saúde que comer muito em poucas refeições.
Normalmente, em quase todas estas refeições, havia um Caldinho para aconchegar o estómado.
Por hoje chega.
Estas refeições e costumes dependiam da época do ano, isso é certo. No inverno porque os dias eram mais pequenos, não havia merenda, daí referir “só até ao S. Miguel", que é a 29 de Setembro, altura que se entrava no horário de Inverno. No Inverno o serão também era mais pequeno, aliás, ainda hoje é assim em Forninhos. No Inverno as pessoas jantam (ceiam) cedo e vão para a cama também cedo.
ResponderEliminarAos poucos e poucos perderam-se alguns termos usados, mas há pessoas em Forninhos que ainda hoje referem-se ao almoço como jantar e ao jantar como ceia ou cear.
Quanto à refeição “almoço”, não tenho a certeza, apenas me baseei nas regras das pessoas que andavam “a trabalhar para outra” que se referiam à refeição da manhã (o nosso pequeno almoço) como sendo o almoço (posso estar enganada).
A conclusão que tiro é que apesar de não haver a fartura que há hoje, havia sempre que comer, comiam muitos produtos biológicos, havia regras e as pessoas conheciam essas regras, que era um ritmo muito saudável do que o de hoje. Só vejo uma coisa menos boa: é que comiam tudo muito salgado.
Por fim: Digam lá se não apetece comer este prato de feijão?
ainda me lembro bem das refeições feitas pela minha avó, que bom era comer aqueles pratos feitos com o que a horta dava tinha um sabor tão diferente e tão agradavél, é verdade naqueles tempos existiam 4 refeições distintas, pequeno almoço que quase sempre era uma sopa de legumes e batata, o almoço que era servido por volta das 11 horas, depois vinha o jantar que era servido junta às 17 horas e então por fim a seia, eram outros tempos outros costumes bem mqais saudaveis, hoje mesmo quese queira fazer os mesmos pratos parece que já não é a mesma coisa o sabor não está lá, porque será, será da panela, do lume de lanha ou dequem o faz?
ResponderEliminarAté uma próxima.
Boa tarde a todos.
ResponderEliminarDo que me lembro dos meus tempos de criança/jovem (década de 40/50) não eram os médicos que recomendavam comer bastas vezes e o quê, o povo sabia-o, o trabalho era árduo e de muitas horas, daí, a necessidade pelo desgaste.
Na verdade, pelo que me lembro, o mata-bicho era quando se saía de casa, antes do nascer do sol, uns figos secos ou pedaço de pão com aguardente ou vinho.
O almoço seria pelas oito horas, muitas vezes uns chicharos cozidos com cebola migada e azeite, ou migas, quando havia, lá vinha umas sardinhas pequenas fritas, albardadas.
A piqueta, por volta das 10 horas, um pouco de pão com queijo seco, chouriço quando havia, e azeitonas.
Vinha o jantar pelas 12/12,30 h. já uma refeição á mesa em casa; era caldo( no verão fazia-se um caldo de feijão louro e abóbora, muito bom) e o conduto , o conduto seria tudo o que viesse a seguir ao caldo, normalmente á base de batatas e feijão acompanhado de carne ou bacalhau.
A seguir vinha a sesta, porque, uma vez que nos levantávamos muito cedo para aproveitar a fresca, descansávamos depois do jantar.
Os que dormiam mais, merendavam logo a seguir, mas normalmente, a merenda era por volta das 5 da tarde.
A ceia seria quando se vinha para casa e depois de tratar o gado.
Não será por acaso que ainda hoje se chama CEIA DE NATAL.
A alimentação era na base da batata e do feijão e variava conforme a época do ano, a carne de porco para acompanhar, e peixe: sardinha que era vendida ao quarteirão, chicharro á unidade e bacalhau que se comprava nas vendas.
O queijo, presunto e chouriço, era mais para as merendas e piquetas no verão, que iam desde a Sra. de Março ao S. Miguel.
Não leves a mal Paula, mas a electricidade chegou a forninhos na mesma altura de Dornelas que, se não me engano foi em 1959.
Muita coisa por mim vivida, podia aqui contar, mas o meu blá-blá já vai longo, e não quero de modo algum ser chato.
Pois, por lapso escrevi 1970, quando queria escrever 1960 (vou corrigir). Agradeço a correcção e a sempre dedicada atenção. Muitos dos termos usados são do meu conhecimento, porque eram usados em Forninhos, na minha infância e adolescência, e embora tendo vivido numa época de mais abundância, hoje gosto recordar e de falar dos costumes da minha terra e é muito bom ter ajuda daqueles que o viveram, como o Sr. Eduardo. Chato é observar que são muitos os forninhenses que todos os dias aqui entram, lêem e nada dizem, quando podiam melhor enriquecer este trabalho, falar do que conhecem, mas enfim…
ResponderEliminarObrigada Sr. Eduardo por transmitir a sua sabedoria e as suas experiências, de um tempo de muito esforço que a vida rural impunha, lembrando aqui também a Sesta, 1h ou 2h de descanso a seguir à refeição do meio-dia, que ainda hoje é prática em Forninhos e que se transmitiu de geração em geração.
Os hábitos alimentares de outros tempos nada têm a ver com os de hoje. Quem vivia numa aldeia como Forninhos não tinha muitas opções, havia o porco que se matava no Inverno (as famílias que matavam); Queijo só quem tinha cabras, ovelhas ou vacas; não se comia frango, só em dias de festa um galo ou galinha, nos meses que antecediam a Páscoa não se cozinhavam ovos…a Quaresma uma época de jejum onde a Igreja/Párocos impunham também muitas regras.
Seja como fôr, nos meados do século passado, as pessoas eram menos obesas, alimentavam-se apenas com o que a terra produzia e de acordo com as estações do ano, ou melhor, de acordo com o calendário rural da época(não era assim Sr. Eduardo?) e decerto que as refeições e opções alimentares aumentavam na época de mais trabalho, Verão.
Por falar em Verão, há um ditado que a minha mãe costuma dizer em Agosto, referindo-se às couves, o qual é: “Couves em Agosto é querer ver o homem morto.”, querendo isto dizer com toda a certeza, que no Verão as couves não são boas.
Não havendo grandes variedades de legumes, por exemplo, não havia cenouras, os nabos e abóboras eram mais para os animais, etc, que outro tipo de legumes se comia? Só Vagens (feijão verde)? Outros?
Oi Paula
ResponderEliminarComia-se bem heim?
Ainda é assim por aí? hummmm!
Por aqui era mais ou menos assim, com várias refeições no decorrer do dia , até à ceia às 8 ou 9 da noite.Dizemos desjejum para o (mata-bicho)depois vem o café da manhã, depois almoço merenda, jantar e ceia...aqui em casa em vez de ceia tomamos um chá com torradas ou bolachinhas ou bolos o que tiver. Dizemos ainda merenda para o lanche da tarde e marido ainda diz desjejum para o leitinho da manhã.
Interessante estas maneiras antigas de se viver, vemos hoje o quanto eram certas e saudáveis...até mesmo o dormir cedo e levantar cedo...
Maneiras de se viver tão parcidas em países tão distantes... com certeza nossos antepassados trouxeram daí tudo isso né?
Meu bisavô veio da Ilha da Madeira, e muitos outros colonizadores daqui do meu cantinho vieram daí...acho que por isso tenho tamanho amor por Portugal
bjs
Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)
Hoje os modos de vida e as opções alimentares nada têm a ver com as aqui referidas, há muita abundância e variedade e com isso a qualidade foi-se...
ResponderEliminarRecordo bem na minha meninice e juventude só havia duas qualidades de pão: o centeio e o trigo. Pão era “centeio”; Trigo era “trigo”. Hoje comercializa-se todo o tipo de pão, de soja, 7 cereais , de lenha, pão com chouriço, pão com azeitonas etc, etc, só que por azar, ganhou-se em quantidade, mas perdeu-se a qualidade do produto.
Bolos? Só por alturas das festas: Páscoa, Espírito Santo (que era lá para Maio ou Junho), Festa de Agosto (15 de Agosto); Natal…nem nos aniversários havia bolos, vejam bem…isto lembro-me bem e não foi assim há muitos anos!
Quando se fala cada vez mais em modificar os hábitos alimentares, em não comer à noite alimentos indigestos, fazer exercício físico, fiz uma pesquisa sobre provérbios antigos relacionados com a gastronomia, aprendizagens e sabedorias incríveis que o povo foi sedimentando durante séculos e que achei valer a pena aqui transcrevê-los:
QUEM COME A CORRER, DO ESTOMAGO VEM A SOFRER
QUEM EM MAIO NÃO MERENDA, A MORTE ENCOMENDA
QUEM SE DEITA SEM CEIA, TODA A NOITE RABEIA
PÃO QUENTE, NEM A SÃO NEM A DOENTE
ÁGUA FERVIDA PROLONGA A VIDA
ALHO E LIMÃO SAO MEIO CIRURGIÃO
DEPOIS DE CEAR, PASSEAR.
Naqueles tempos também já se usava a massa e o arroz.
ResponderEliminarMas os legumes mais consumidos no verão, eram as nabiças, que se semeavam no meio do milho, juntamente com o feijão, prática ainda hoje usada; os repolhos, a que ainda hoje chamamos, repolho das malhas; e feijão verde, o que a Paula também chama de vagens, eram muito utilizados durante o verão. Era um legume muto contestado pelas crianças, poucas gostavam e a qual chamavam de beijinhas.
A alimentação desses idos tempos não tinham muita variedade, é certo, mas também havia menos obesidade, disso não tenham dúvidas.
Acho que o nome correcto era vaginhas, só que devido à dificuldade que algumas pessoas tinham de pronunciar correctamente diziam “baijinhas”, que é a vagem de feijão tenrinhas.
ResponderEliminarHoje este e outros nomes originais da nossa gastronomia tradicional estão quase desaparecidos, mas os nossos antigos, que não copiavam "os outros", é que tinham razão, porque vagem é vagem, e feijão é feijão, e por exemplo, chamar sopa/ou/caldo de vagens, faz mais sentido do que sopa de feijão verde, porque muitas vezes as vagens, porque são colhidas ainda pequenas, nem sequer têm ainda feijão.
È o que se passa, hoje, muitas pessoas após o jantar, fazem as suas caminhadas.
ResponderEliminarVamos lá ver, se a gente se entende, porquê, não chamar sopa de feijão verde, á sopa feita deste legume, porquê, chmar-se sopa de baijinhas brancas, pois é de onde se retiram a vagens do feijão que se encontra semeado no meio do milho e que nesta altura são colhidas para esse efeito.
Os nossos Pais e avós, e os seus antes, é que por qualquer motivo, ou porque lhes dava mais geito, diziam " vou fazer uma sopa de baijinhas".
Amigo serip,não leves a mal, mas repara:
ResponderEliminarAs vagens não se retiram do feijão, retiram-se do feijoeiro e o feijão é que é retirado da vagem, pelo que, repito, os nossos antigos estavam certos. Claro que a malta mais nova, de há 30 anos a esta parte, sobretudo os que foram criados nas cidades ou noutros países, como a França, desconhece estes modos e maneiras de dizer, usados pelos nossos pais e avós, mas eu e tu e outros, que nascemos e fomos criados na aldeia, mesmo residindo fora 20,30 ou mais anos, de algum modo, acabamos por ser marcados por certos hábitos e a mim não me choca nada os termos antes usados, aliás, cada vez os aprecio mais e chego à conclusão que na nossa beira se falava correctamente.
Em Forninhos o jantar era CEIA; o almoço era JANTAR; o pão era CENTEIO; a sopa era CALDO; a tijela era a MALGA; os mais velhos eram tratados por “Vossemecê” ou “Você” (redução de Vossemecê) e não por “Tu”…se é que me faço entender…. agora as novas mentalidades impuseram-se e ninguém leva a mal por isso.