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quinta-feira, 26 de março de 2020

SOLIDÃO



O tempo voltou atrás mais vazio.
Neste lugar das Alminhas havia outrora o dever de parar e rezar pelas Almas do Purgatório; na Quaresma o costume de "Cantar às Almas"; de fazer um compasso de espera da Irmandade e só depois prosseguir. Obrigação religiosa. 
Eram tempos de sentimentos, agradecimentos e penitências. 
Tempos de fé e respeitos na obrigação de cumprir com os preceitos delegados pelos mais velhos.
Estes, ao pouco foram perecendo, um ou outro, ainda por ali passavam a caminho da missa ou do Centro Social, que a fé ainda os ia ajudando no encosto da bengala e meio cansados, descansavam numa breve e fervorosa entrega, persignada com o sinal da cruz.
Depois ainda havia tempo para umas curtas conversas caseiras...
Agora e nos poucos que restam, instalou-se a solidão e medos muitos, mais pelos seus  e curiosamente dos vizinhos, que deles próprios.
A saudade mais sentida, é verem o mundo deles que foi longo, virado do avesso, estarem ali confinados, apoquentados, sem poderem espairecer, nem sequer ver uma Alminha.
E é verdade, na aldeia não se vê uma alma de gente...

Foto de Ana Constança, tirada a 26 de Dezembro de 2006.

14 comentários:

  1. É mesmo assim! Por lá nem uma alminha! beijos, chica,fiquem bem!Saúde! chica

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    1. Um deserto, amiga Chica, até o dia traz com ele a cor da noite...
      Um abraço e saúde.

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  2. Gosto dessas casas feitas de granito
    E atualmente quem tiver juízo não sai de casa. Nem mesmo para rezar.
    Abraço e saúde

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    1. E ainda na rua acima, tantas casas como esta, cheias de flores nas varandas e canteiros da rua.
      Rezar pode e deve ser em casa, mas alguém também tem a necessidade de ir em busca de alimentos para o corpo.
      Abraço.

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  3. Por aqui é a mesma ausência... e as alminhas têm sempre quem pare junto delas e ore!!!... Bj

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  4. Mas agora em pensamento. Acho que até as pessoas evitam por elas passar,
    têm medo pis diante delas e nos funerais,pousavam o caixão e rezavam, pelos outros, os idos...
    Beijinho.

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  5. O texto é muito bonito. Parabéns.
    Só se vive uma vida e quando se vive na solidão é muito triste, mas é o que cada vez mais se vê pela nossa terra! Já quase todos estão sozinhos há anos, por tal este "fique em casa" pode não ser tão mau.
    - Falta a missa, rezam em casa. Isto não significa desviarem-se do caminho, nem é um castigo de Deus como dizem alguns chefes de igrejas!
    - As alminhas há muito estão esquecidas, como estrada abandonada.
    - Os funerais, a grande maioria, já não faz os itinerários antes existentes que passavam pelas Alminhas e Cruzeiros.
    - Quanto às idas ao Centro Social prefiro não dizer nada pois corro um risco sério de me exceder. Acho que nenhum utente corre o risco de ser apedrejado, como foi o autocarro de idosos infectados que residiam num Lar. Isto é que é grave!
    Agora, estarem cofinados por obrigação e medo é outra coisa. O medo é um outro vírus perigoso.
    De resto, a foto é maravilhosa, Parabéns à Ana Constança.

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  6. Concordo com o que dizes, mas...
    Estas pessoas mais antigas, viram filhos e filhas partir, desde a guerra ou para o estrangeiro e ficavam ambas as partes a sofrer na saudade da distância e na ansiedade de virem ao menos uma vez por ano, ou mais, podendo, Natal e Páscoa e é nesta última que tal não vai acontecer.
    Assim ficam isolados sem vizinhos e amigos e o que lhes mais dói, além de não terem a família à mesa, é também a angústia de eles não poderem estar junto na sua terras natal. Sofre-se de ambos os lados, mas quem está só e espera meses, um ano pelo gritar dos netos...é difícil de aguentar, pensam sempre que foi o último ano e que nada já adianta e venha o que vier, já cá ando há tanto tempo...
    Por vezes ainda iam a um dos dois cafés da terra, por norma depois da missa e do almoço no Centro, uns dizem que estão encerrados a mando das autoridades e como manda a Lei, outros (ouvi em surdina) que a porta dos fundos ainda dá serventia, mas não quero acreditar, sinceramente.
    Quanto ao Centro e sem medos ou rodeios, espero que tenha mudado os hábitos festivos e prossiga de forma serena e profissional na sua limitada funcionalidade.
    Saúde a todos!

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    1. Não faltam por aí notícias falsas. A internet tem muito de bom, mas por vezes exageramos em dar-lhe crédito. Quando investigo qualquer assunto, estou sempre de pé atrás. Se puder e souber, evito acreditar em tudo.
      Aconselho toda a gente a manter-se atenta também. Sobretudo quando se trata das redes sociais. Algumas informações não são credíveis e são mesmo actos de malvadez!
      Se não quisermos deitar tudo a perder, só poderemos confiar no trabalho dos nossos profissionais de saúde e acatar as orientações das autoridades.
      Os cafés têm de fechar, certo, mas mercearias, padarias e supermercados acho que não.
      Tanto quanto sei em Forninhos só há uma mercearia e esse estabelecimento pode estar aberto.
      Tenhamos esperança que daqui a uns tempos nos possamos reencontrar todos no Café!

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    2. Ainda aqui volto para dizer que as pessoas antigas de hoje já são os que foram para a Guerra (a do Ultramar), que também viram os filhos e filhas partir para o estrangeiro e para outras partes do nosso país, claro.
      As mães e pais que viram os filhos partir para a Guerra já morreram.
      Mas os Ramos e a Páscoa, vai custar-lhes, claro. Eram dias para as pessoas se reverem, já que muitos (como nós) regressavam à terra natal, nesta época especial.
      Não haver a visita pascal acho que também custa aos mais velhos, habituados "há séculos" às boas festas e aleluia e ao aspergir da casa e família com água benta.
      Mas nestes dias o Centro de Dia não abre para acolher os seus utentes. O CSPF não abre aos feriados, quem não tiver a familia por perto vai passar a época pascal mais triste, é facto.
      É nesta parte, que não entendo, nem nunca vou entender, o papel dum Centro de Dia.

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  7. Realmente, são dias de solidão e esperas... Um bonito texto nesta fase tão tenebrosa!
    Orando por vc e família, Paula... Muita paz e saúde, querida amiga...

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    1. Quiçá Deus nos ponha à prova para ouvirmos voz da razão: quando tudo corre bem esquecemos e até plantamos ódios, mas na refrega dos medos, solidários por obrigação.
      Isso não, deve ser evitado no dia-a-dia.

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  8. Boa tarde Xico e Paula,
    Estamos em tempo de reclusão com desejos que o malvado vírus nos dê tréguas.
    A solidão impera onde a mesma já era de bradar aos céus.
    Que será deste nosso mundo agora confinado às paredes das casas? Que será de tantos que vivem sós, quase abandonados?
    Neste momento tão rico em práticas religiosas, não se pode dar asas à fé. Só no recolhimento do nosso coração.
    Gostei muito, como sempre, da sua narrativa.
    Bejinhos para ambos e saúde.
    Fiquem bem, assim como vossos familiares.
    Ailime

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  9. Boa noite, caríssima Ailime.
    Pois, que dizer?
    Andamos por aqui no destino que nos tolhe as mãos por mais pobres ou ricos que fôssemos, somos apenas pequenos grãos de areia que a todos, mas todos nos coloca no mesmo deserto. Todos temos medos e receios, quando isto passar vou ser diferente, mas e depois, vamos ver, lucrar com a crise, enganar, lucrar e depois se a "maléfica" voltar?
    Assim, minha amiga, temos de ter fé mas não basta, temos de ser cidadãos conscientes e responsáveis.
    Beijinho.


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