Todos os anos a mesma "guerra fratricida" de quem vai avidamente rapar o fundo do tacho do arroz doce, como se este tivesse segredos ocultos. Se calhar tem, pois aquando vamos a Forninhos, a mãe prima pela obra, o arroz doce que tal como o pudim caseiro do ano passado, aligeira a chegada distante, para ver quem tem o privilégio de rapar o fundo dele, acabado de sair do lume e ainda a escaldar...coisas que não ficam bem no final do ano, afinal o segundo pecado capital: a gula!
No último dia de consoada, perdi. Cheguei quando lavavam os tachos e nem o cheiro... embora as travessas fumegassem, mas era diferente não sentir o segredo no lamber da colher de pau.
Confesso que fiquei meio arreliado comigo próprio, mas ela, a mãe, sossegou-me:
- Deixa lá, as tuas irmãs foram embora e não quero que fiques ougado. À tardinha vamos fazer outro tacho, rapas e dou-te a receita, está bem?
- Quando souberem, vai ter de as aturar, ai meu Deus, ainda por cima a receita...
E assim foi. Mas agora quem irá aturar a minha mãe por tornar público o segredo?
Seja o que Deus quiser e cá vai no linguajar dela:
- Presta atenção e repara:
* Dois litros de leite gordo
* Uma caneca almoçadeira, rasa, de arroz malandrinho (carolino)
* A mesma caneca de açúcar, mal cheia
* Quatro gemas de ovos
* A dita caneca de água
* Duas pequenas cascas de limão
Prontinhos?
Mãos à obra!
Tacho ao lume com calor médio, com a caneca de água e as cascas de limão, com umas areinhas de sal (poucochinho).
Estando a ferver, bota-se o arroz para dentro sem lavar, pois a goma tem qualidades e dá sabor.
Importante ir mexendo com colher de pau, até chupar a água e quando tal acontece...
Misturar o leite previamente aquecido, sem ter fervido e do qual se guarda frio uma pequena quantidade.
Deitar aos bocadinhos para o tacho, mexendo, mexendo ternamente, até ferver e quando estiver cozido, apaga o lume e bota o açúcar.
Está quase feito? Quase, mas...
Acho que aqui está o segredo...
Botou o açúcar, mas tem de botar as gemas e estas têm de ser bem batidas com o resto do leite frio que foi guardado para nada coalhar.
Coa isto num coador de rede por via de irem para o tacho asseadas e sem sarfalhos.
Calma, está quase...
Misturar, mexer e tornar a pôr ao lume, mexendo sempre e assim que começar a levantar bolhas...
Finito!
Colocar em travessas, pratos ou taças e depois do arroz doce estar frio, brinquem com a decoração de canela.
Agora vou rapar o tacho antes que cheguem primeiro!
Que delícia, hein?! Arroz doce é mesmo muito gostoso e, feito pela mãe, mais ainda!...
ResponderEliminarUm abraço
Pois, Anete, se já por si é tão bom este arroz doce caseiro, misturado com a doçura da mãe, fica divino.
EliminarAbraço.
Xico, a parte melhor é mesmo rapar o tacho.
ResponderEliminarFeliz ano!
beijo
E quando se vai para a mesa jantar e para a sobremesa, insistem no arroz doce, já não apetece....
Eliminar"Malandro, não queres, estás cheio dele, rapaste o tacho..".
É quando sabe melhor...
Beijo.
Não gosto de arroz doce, a minha sobremesa preferida é o leite-creme caseiro, mas dizem que é bom em qualquer momento e que não pode faltar na mesa de Natal ou Ano Novo. A canela, acho eu é a essência do Natal.
ResponderEliminarSabias, Xico, que as nossas avós e mães, numa altura de mais miséria adicionavam folhas de limão ao arroz doce (e não cascas)?
Iam buscá-las ao limoeiro da D. Laura!
O ideal era juntar 1 ou 2 cascas de limão, mas não havia...
Mas segundo se lê na grande obra imaterial de Forninhos, as nossas avós tinham laranjas para as filhós e para os "biscoitos" de milho e trigo!
Não havia limões, mas havia laranjas!!!
E esta, hein?
Não gosto de arroz doce, mas é bom em qualquer momento...
EliminarA canela aproveita a quentura da travessa e vaidosa e cheirosa, vai-se aquecer...
Agora a sério, quem tinha limões em Forninhos ou laranjas?
Alguma das poucas casas mais abastadas e ...
Tinham porventura os nossos avós "essas" iguarias, querias. Só depois os nossos pais aquando vinham das feiras de vender queijo ou gado, lá traziam um bolso cheio.
Devaneios escritos na estratosfera por quem desconhece as realidades em que as filhoses eram de pão centeio.
Vais aprender a gostar de arroz doce, prometo!
E esta, hein?
E olha que o arroz doce devia saber bem acompanhado por uma filhó.... (sem, ovo, claro! porque se calhar, nesse tempo, eram precisos para outras coisas)!
EliminarE aqui entre nós, que ninguém nos ouve...como se diz em Forninhos "é um delírio"!
Dantes a desculpa era o "vamos entrar no mundo da imaginação e fantasia", mas agora é mais que isso: é pura ficção.
E... bom, não sei, mas acho que não vou gostar de arroz-doce mesmo.
Que bom ter não só mostrado, mas ter também explicado tão bem a receita!...Que vou experimentar qualquer dia.
ResponderEliminarAgora percebo porque o meu arroz doce não é nada de especial, e ficava sempre de um branco desmaiado....é que nunca levou gemas!!...:-) Por isso esse está com uma cor tão bonita.
Eu costumava era rapar o tacho das papas, e ainda hoje adoro papas com leite!
Obrigada pela receita, Xico!
xx
Por aqui faz-se imenso arroz doce!
ResponderEliminarRequer muita paciência!
O meu fica gostoso...mas não chego aos calcanhares do que a minha mãe fazia!
Bj amigo
Que receita bem mostrada e deu até vontade!!! abraços praianos,chica
ResponderEliminarEsse arroz com sabor de infância é saboroso, valeu a receita! Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarQue delicia e raspar o fundo do tacho é o melhor de tudo. Já anotei a receita, sua mãe deve ter receitar preciosas. Tu sabe que minha mãe fazia uma bolachinha de milho que era uma perdição. Nunca anotei a receita pois sempre tinha uma lata cheia quando chegávamos em casa. Agora só me restou a saudade.
ResponderEliminarFeliz 2015 e dê uma abração na Aluap.
Em casa, quando as festas eram em casa da minha mãe, também era uma luta para se raparem os tachos.
ResponderEliminarAgora, as festas nada me dizem!
Beijinhos.
O blog dos forninhenses informa que a tia Ilda Cardosa, deixou-nos hoje, tinha 85 anos.
ResponderEliminarNatural de Penaverde, casou com o tio Zé Cardoso, que era natural de Forninhos. O funeral será no cemitério da freguesia de Forninhos, Sábado, dia 10 de Janeiro, às 16h00.
A tia Ilda descansa agora em paz. Não esquecerei as conversas que tínhamos num banco da Lameira.
É assim, sentada no banco da Lameira, que gosto de a lembrar.
Os sentimentos à família,
da Paula e do Xico.
As últimas palavras que recordo da tia Cardosa foi em Agosto, junto à fonte da Lameira e que em brincadeira a "provoquei", naquelas coisas nossas de eu, uma contínua criança, Lhe dizer que Forninhos era bonito.
ResponderEliminarRespondeu irritada: " E eu não sei meu caraças...".
Pires, dá um abraço aos teus irmãos e um beijinho a tua santa mãe.
Gosto tanto.
ResponderEliminarA minha receita é ligeiramente diferente, mas o teu parece-me delicioso.
Beijinhos e bom apetite.
Através deste espaço, expresso os meus pêsames a todos os seus filhos, netos e restante família. Em Outubro último, esteve toda a tarde em frente ao meu lagar a ver-me espremer o vinho e onde me pediu para ir ver o seu frigorífico que não funcionava, o que fiz. Por vários motivos não posso estar presente. Que descanse em Paz.
ResponderEliminarBoa tarde Xico, santa a sua querida Mãe! Uma santa lhe digo eu!
ResponderEliminarPois até me comovi e senti o aroma do arroz doce e feito dessa forma tão terna como diz só pode resultar numa delicia assim e cuja receita vou já copiar se me dá licença,))!
Depois esse pormenor de rapar o tacho! Sabe uma coisa? Ainda agora (já a ficar velhota;)) quando faço um bolo ou a minha espécie de arroz doce não me contenho e lá rapo o fundo ao tacho! Ricos tempos os da infância que se prolongam no tempo!
Beijinhos e obrigada por esta preciosidade.
Boa semana.
Ailime
Olá Chico aqui o seu arroz doce deve ser maravilhoso, até eu gosto de rapar, mas agora nas festas de familia quem faz o arroz doce é a minha filha, como cada um leva sempre as suas coisas, o arroz doce é sempre dela mas, também já tem lá três diabinhos que ajudam sempre, até a princesa Mariana é quem faz a decoração, e rapam bem o tacho!!!
ResponderEliminar1 beijinho Lídia