Desde que nascemos, fomos ouvindo da voz de quem ouviu de quem, que a luta pela posse de S. Pedro com os das paróquia de Penaverde, teve registos sangrentos. E eis que hoje, por gentileza do meu amigo João Nunes, é possível saber e tornar público uns documentos, num português que todos compreenderão, acerca das quezílias em S. Pedro, votos da freguesia, etc..:
"No dia seis de maio de 1875 5.ª feira de Ascenção ouve um grande barulho em S. Pedro entre os de Dornelas e os de Penaverde donde resultou muitos ferimentos e eram tantos os tiros as pedradas e os gritos que parecia que acabava o mundo; ficaram culpados 12 rapazes de Dornelas e tres de Penaverde de que foram absolvidos em audiência geral. Desta freguesia ninguém ficou culpado...do barulho não ouve mortes mas um rapaz de Dornelas esta há mais de um mês sem falar.
Padre Francisco de Almeida Coelho, de Dornelas natural" (fls. 42 verso).
Documento disponível online:
De Forninhos ninguém ficou culpado, mas na folha 42, o Pároco de Dornelas natural tinha registado que veio para a freguesia de Forninhos em 1858 para "encontrar um povo rude e estupido (e mau)...."
"...tem os parochos desta freguesia de avisar os freguezes para os dias em que ouverem de ser cumpridos porque nos devemos respeitar as crenças dos nossos antepassados apesar de que esta época ser a do indesentismou a do vandalismo por isso procurando em muito os senhores párocos que me sucederam que cumpram e façam cumprir não so por respeito a religião de quem somos ministros, mas também para exaltarmos a fe no povo de que somos pastores; tambem ha que dizer que vim para esta freguesia em 1858 para encontrar um povo rude e estupido (e mau) hoje com ajuda de Deus tem milhorado muito, e espero com a ajuda de Deus por aqui me conserve por mais alguns anos, encontrei muita rapaziada de perto de 20 anos sem saber quem era Deus e poucas pessoas avia que soubessem o que era preciso ao Christao para se salvar e ora felizmente já se sabe alguma cousa.
Forninhos 8 de Junho de 1872."
Este padre ainda nos deixou uns apontamentos muito interessantes a respeito dos votos da freguesia (Fl. 43):
"Tinha esta freguesia de tempos imemoriais um voto a Senhora da Lapa todos os anos em dia de S. Barnabé por motivos que expos o reitor de Penaverde que era quem então figurava nesse voto como capelão da câmara do concelho então de Penaverde e como arcipreste requereu e obteve a transferência dela para a capela da S.ª do S. João da sua freguesia e assim um outro que se fazia a S. Clemente na capela do Furtado freguesia de Algodres, ora esta freguesia não gostou da transferência e por isso pouca gente lá ia e passado algum tempo já ninguém o cumpria razão porque eu requeri e obtive de S. Exma transferência do de S. Clemente e do da Senhora da Lapa para a capela da Senhora dos Verdes desta freguesia onde se deveria cumprir o de S. Clemente na 2ª feira ou 3ª do Espirito Santo como era costume e da Senhora da Lapa dia de S. Barnabé ou em outro que melhor parecer ao pároco segundo as cirunstâncias porque assim lhe requeri.
Cópia do requerimento
Exmo Senhor
Diz o pároco da freguesia de Forninhos que havendo na sua freguesia alguns votos como são um a Senhora da Lapa que dista vinte e quatro quilometros da sua freguesia e já em tempo foi transferido para uma capela da freguesia de Penaverde assim como outro a S. Clemente onde o povo os não quer ir cumprirnem ele suplicante insta porque os não cumprira sem a reverencia que lhe é devida muitas vezes fazem desordens pelo caminho e por isso pede a graça de comutar para a capela da Senhora dos Verdes sita nesta freguesia onde podem ser cumpridos."
No dia 4 de Janeiro de 1898 veio paroquiar Forninhos o Pe. José de Almeida Coelho, por ser já paroco da freguesia de Dornelas. E, voltando atrás no Livo, fls. 33, disse ter recebido do seu antecessôr os livros existentes no cartório,"entre os quaes apareceu este no estado que se vê, com cinco folhas cortadas; e com as que não de página 33 a 41 em branco e no fim de tudo uma notícia a respeito de votos a que estavam obrigados as mesmas freguezias. Para que nao julguem que ele foi mutilado em meu poder, aqui lavro esta nota, que assigno.
Parochia de Forninhos, 4 de Janeiro de 1898 oito
Pe. Jose de Almeida Coelho."
(Sublinhado nosso)
Fonte: Livro de Óbitos de Forninhos.
O que estava escrito nas cinco folhas cortadas nunca o vamos saber. Quem as cortou também dificilmente o saberemos. O que sabemos é que passados mais de 150 anos ficamos a saber aspetos importantes da realidade da nossa freguesia no século XIX.
Quanta história a ver ,ler e ainda, na certta muito por encontrar por lá em Forninhos! Vale a pena! beijos, chica, lindo domingo!
ResponderEliminarÉ verdade! Estes documentos são preciosos, permitem um avanço de investigação até aqui completamente bloqueado. Estou certa que vamos encontrar mais...e mais...
EliminarBjs, lindo domingo!
Documentos que serão muito interessantes de ler
ResponderEliminar.
Feliz fim-de-semana … cumprimentos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Quando nos "cai no prato" da nossa curiosidade documentos assim, fabulosos, preciosos, fascinantes, eu fico vidrada!
EliminarAdoro a história da minha terra e pronto!
Bom fim-de-semana...Cpts.
Considero essas memórias uma verdadeira relíquia que precisa ser bem preservada.
ResponderEliminarPara já ficam no nosso Arquivo, no futuro logo se vê...o passado não foge, o que pode acontecer é outros apropriarem-se destes documentos, como já aconteceu num passado recente.
EliminarA ver vamos...
Mais um excelente trabalho de antropologia.
ResponderEliminarPor momentos, vi-me remetido ao tempo das Cruzadas (pelo menos resquícios) de outrora.
A demanda entre Dornelas e Penaverde no lugar de S.Pedro, fica o registo para a história, o motivo era óbvio, a possessão, mas Forninhos ficou isento de qualquer atitude menos digna, tal não bastou ao clero desconfiado e por tal enviaram em missão este padre qu teceu "louvas" aos paroquianos de Forninhos, deste modo: "tambem ha que dizer que vim para esta freguesia em 1858 para encontrar UM POVO RUDE, ESTÚPIDO E MAU, hoje com ajuda de Deus tem milhorado muito, e espero com a ajuda de Deus por aqui me conserve por mais alguns anos, encontrei muita rapaziada de perto de 20 anos sem saber quem era Deus e poucas pessoas avia que soubessem o que era preciso ao Christao para se salvar e ora felizmente já se sabe alguma cousa".
Os Votos e suas andanças, assim como o desaparecimento das cinco folhas... fica para uma próxima pois isto é fabuloso e merece o nosso empenho.
Parabéns Paula!
Este padre disse que veio paroquiar Forninhos em 1858, foi o ano em que se decidiu (a Câmara de Aguiar da Beira), estabelecer os limites desta freguesia (04-05-1858). Talvez por isso, escreveu "apesar de que esta época ser a do indesentismou a do vandalismo". Mas se de Forninhos ninguém foi culpado, onde se meteram? Fugiram para as loijas? Esconderam-se nalguma lapa? Meu Deus!! Isto diz muito deste povo!!
EliminarPara compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado, mesmo!!
Se aquelas 5 folhas falassem...
Agora dos votos temos aqui um documento muito importante e que nos dá informação valiosa e um grande avanço...
Um agradecimento especial ao João.
Já fiquei mais informada por aqui.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Todos ficamos, Isa, porque n´O Forninhenses a partilha não é uma palavra vã!
EliminarBom domingo.
Verdade!
ResponderEliminarQuezílias sempre houve mas registos deste género provavelmente não por isso são umas relíquias!
Bj
São mesmo! Tudo isto confirma a tradição oral existente na nossa terra.
EliminarBj
Ainda bem que estes registos não se perderam para memória presente e futura.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Sem dúvida nenhuma, teria sido uma grande perda.
EliminarUm abraço e boa semana.
Olá Boa tarde
ResponderEliminarNotável post .
História . património e Amor .
Amor pelos Antepassados .
Amor pela Terra .
Parabéns .
Bom Domingo
Abraço
MG
Parabéns a todos quantos têm alimentado este blog, mas especialmente ao meu amigo João, porque graças a ele ficamos a saber muito mais de Forninhos.
EliminarAbraço.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarMagníficos estes registos que vos dão conta de histórias passadas e com bastante interesse para o povo de Forninhos.
Mais uma vez louvo o seu trabalho de pesquisa que sem ele muitos destes factos não seriam conhecidos.
Um beijinho e votos de uma boa semana.
Ailime
Obrigada Ailime.
EliminarEste blog existe para isto mesmo, para trazer ao de cima coisas que nem o tempo apaga...
Mas esta série de apontamentos foi possível obter graças a um amigo de infância, que nos tem ajudado bastante, mas se queremos continuar a trazer estas coisas antigas que os nossos "avós" viveram, temos de continuar a pesquisar...seguir pistas, confirmar hipóteses, etc...
Beijinhos e uma boa semana para si também.
Acabo por ter orgulho nos meus antepassados.
ResponderEliminarO pai da minha avó Ana, Zé Saraiva, era o Regedor à altura de Forninhos.
Atravessados os de Dornelas e Penaverde, a coisa já era sangrenta, vieram pedir a sua intervenção para acalmar e ele juntou os seus homens da terra e acudiu aos lá de cima, mais frageis. Queria era harmonia, coisa que ainda hoje escassa!
Talvez um dia, os padres um dia encontem os recônditos de uma capela e nos levem no rebanho em prol do Pastor...
Não pode ser, XicoAlmeida! Em 1875 esse teu avô (bisavô) Saraiva tinha 16 anos! Com 23 anos, em 1882, casou com a tua avó Maria Melo.
EliminarJá o pai do teu bisavô, que também se chamava José Ferreira Saraiva, que era de Colherinhas e que casou em Forninhos com uma irmã da minha bisavó Ana dos Santos...acredito mais.
"Foi Forninhos a herdeira mais quinhoeira do espólio artístico-religioso e arqueológico de S. Pedro..." escreveu o Pe. Lemos de Penaverde, no seu Livro, portanto, se os de Forninhos é que ficaram com o que era de todos, não se iam meter ao barulho (acho eu).
Mas quando agora vemos todas aquelas terras abandonadas e nada de Capela, nem de Santo, até me apetece pensar que para Forninhos foi castigo, um grande castigo!
Mal empregada fortuna, como dizia a cigana.
Mas e afinal por onde páram esses pertences a que o padre Lemos se refere que "Foi Forninhos a herdeira mais quinhoeira do espólio artístico-religioso e arqueológico de S. Pedro..."
ResponderEliminarFalamos de património artistico/religioso e nesse contexto dizem que muita da pedra oriunda de S. Pedro, reverteu para a igreja matriz de Forninhos, quanto ao Santo, todos sabem os caminhos que percorreu e aonde ainda se encontra.
Pesa muito e não vale a pena trazê-lo e depois ficar ao desmazelo na porta da sacistia.
E, na minha santa ignorância,isto era a modos feudais, o poder das terras, poderio!
A boa pedra -o Pe. Lemos o disse- aplicaram-na (os de Forninhos) na construção do cemitério e reparação da igreja. O São Pedro tiveram-no muito tempo detrás da porta da sacristia até que o pároco, uma bela noite, o fez seguir para o seminário de Fornos de Algodres. Santo e capela eram património religioso comum.
EliminarJá as terras, a transferência dos baldios para os particulares, no século XIX, fica para um dia...