Reinava D. José I, era Primeiro-Ministro o Marquês de Pombal: Secretário dos Negócios do Reino - era esse o cargo. Foi distribuído por todo o país um conjunto de perguntas para que os párocos respondessem; uma espécie de censos. O Padre Baltazar Dias era o cura de Forninhos e respondeu a 20 de Junho de 1758 às perguntas vindas de Lisboa.
Mas antes dessa data encontrei no Livro B.1 dos Registos de Baptismo de Forninhos, um baptismo curioso, pois o pároco que responde aos serviços do Marquês foi o padrinho e uma sua tia foi a madrinha:
Aos três dias do mês de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito, o Cura Baltazar Dias baptizou solenemente e administrou os santos óleos a um menino de nome António, filho de Manuel Alvares e de sua mulher Catherina de Veiga, moradores neste Lugar de Forninhos, Igreja de Santa Marinha de Forninhos, ambos naturais deste mesmo Lugar. Avós paternos Domingos Alvares e sua mulher Ana de Aguiar e avós maternos António Cardoso e sua mulher Luíza de Veiga, todos naturais deste mesmo Lugar de Forninhos. Foram padrinhos o Padre Cura e a sua tia Maria, solteira, deste mesmo Lugar.
Depois...só a sete de Agosto de 1758 voltou a haver baptismos na Igreja de Santa Marinha. Três duma vez, embora os dois últimos fossem em casa também, uma prática usada ao tempo.
É fácil ler os registos e ao mesmo tempo sente-se um pouco mais da nossa história pela caligrafia do padre fiel escrivão dos nossos antepassados.
Boa leitura.
Lindo achado esse e ver as caligrafias antigas é muito interessante.Eram bem melhores, mais caprichadas, quase desenhadas ...beijos, chica
ResponderEliminarHoje já se não escreve assim.
EliminarE neste ano da graça de 1758 possivelmente dos 270 habitantes que Forninhos tinha, tirando o Pe. Cura, só gente de algumas posses (se calhar a sua tia) sabia ler e escrever.
É que no início do Séc. XX Forninhos tinha 555 habitantes e só sabiam ler 21 homens e 10 mulheres!
Bj, bom domingo.
Ainda na década de sessenta era igual, pois a troco de alguns bens caseiros, mais por altura da matação, era por norma a carteira que escrevia e lia as missivas, pois em primeiro numa casa rural, estava o guardar do gado, os trabalhos do campo e depois uma vez por outra a escola.
ResponderEliminarEste senhor padre (cura), ao menos deixou registos de memórias suas pessoais e dos modos de viver a igreja nesses tempos.
Aceito e compreendo que tenha sido padrinho de batismo mais a sua tia, de uma criança e ele próprio tenha celebrado a cerimónia o que é de louvar.
Do parentesco pouco estranho pois era comum estarem rodeados de familiares na residência paroquial, por norma irmãs solteironas que faziam ao mesmo tempo a vez de criadas.
Um bom texto que dá para aprofundar algumas reminiscências que ainda perduram hoje em dia!
Este padre não só deixou registos, como nos ajuda a criar uma imagem mais positiva dos representantes da Igreja. Explico:
EliminarSempre houve/há uma Igreja boa, defensora dos direitos dos mais fracos, e outra má, discriminatória, que está quase sempre do lado dos ricos e poderosos.
Ao ler estes quatro registos de baptismo não se nota a diferença de tratamento consoante os pais ou padrinhos da criança. O último baptizado, por exemplo, é de Maria, filha de mãe solteira.
Já a forma como o Cura Joze A. Fernandes registou em 1852 "Apolónia" que veio da Roda de Expostos de Aguiar da Beira, diz bem da forma como eram tratadas as minorias e os pobres.
http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2020/11/de-tanto-girar.html
E há mais exemplos.
A gente rica e influente sempre aliciou os párocos das aldeias, com a fartura, o conforto e o poder. E a maioria não conseguiu resistir.
Aqui, também não estranho a relação entre padrinhos e sinto que era normal os padres estarem rodeados por familiares, mas é "estranho" baptizar e ao mesmo tempo ser o padrinho!
O meu padrinho de baptismo também é um padre, o Pe. Matos, mas quem me baptizou foi o Pe. Fernando. Mas eu fui baptizada na década de 70 do século XX.
Memórias de outros tempos.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Para análise futura, Isabel.
EliminarBoa semana.
Nas histórias há detalhes que merecem ser lembrados e apreciados. O que bom precisamos guardar com alegria e gratidão.
ResponderEliminarBoa semana... Beijinhos
É verdade, Anete.
EliminarOutro detalhe é a presença de gentes de povoações vizinhas, numa época em que quase toda a população se deslocava a pé.
Boa semana...Beijinhos
Obrigado por nos trazer um maravilhosa história e com detalhes.
ResponderEliminar:-)
EliminarObrigada Luiz pela visita comentada.
Boa tarde
ResponderEliminarPaula e Xico
Fantástico este post .
Como sempre interessante .
Abraço
MG
Obrigada.
EliminarPara muitos o baptismo é só um dos sete sacramentos da Igreja Católica, mas para quem se interessa por estas descobertas pode sempre construir as suas genealogias.
Abraço.
Como o então cura de Forninhos relata também que administrou ao menino os Santos Óleos,pelo que poderá concluir-se que o menino estaria em perigo de vida e foi baptizado de urgência.
ResponderEliminarNestas circunstâncias, não haveria tempo para esperar ou escolher padrinhos. Se assim foi, só prova que o cura Baltazar Dias era um homem prático e eficiente.
Outra curiosidade foi terem se perdido, na sequência genética de Forninhos os sobrenomes Álvares e Veiga, que figuram no nome dos pais do menino.
Ou não??
Uma semana boa, neste tão complicado confinamento.
Bj para ti e gd abraço ao Xico
Ilídio
Muito mais do que saber quem era filho de quem, estes registos ensinam-nos muito sobre o passado. Bem-haja por comentar.
EliminarJá encontrei o registo de "um menino sem nome" com a observação "batizado em casa por necessidade" (em 29-07-1852).
Seria interessante saber, se estas crianças batizadas de urgência e, em muitos casos, batizadas em casa, chegaram à idade adulta, mas é difícil...muitos sobrenomes desapareceram "há séculos". Álvares e Veiga perderam-se.
Bj
Muito interessante estes documentos que permitem conhecer melhor a história da sua terra.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
E assim ocupo algum do tempo livre a revelá-los, sem sair de casa.
EliminarContinuação de uma boa semana com saúde.
Abraço.
A tempo de ser batizado na igreja, por milagre.
ResponderEliminar"Ainda vinha o meu saudoso pai na agrura do calor do trabalho dos
campos, a mulher minha mãe, estava comigo na barriga e já mal podia ajudar.
Percebia claro o momento, maspouco deixava transparecer, sofria no silêncio, esperando que ao eu nascer, nao fosse atacado pela febre a que chamavam coculuche.
Isto em pleno Agosto quente, tão ou mais quente que o calor da lareira, onde fumegava a caldeira de cobre, com panos e paninhos que a parteira, minha avó Maria Lameira na sua altivez, semelhante à sua estatura ordenava.
Perto do meio dia, apareceu esta coisa, eu.
Feio todos os dias, cada velhota rezava pelos cantos, no dizer "Nosso Senhor o conserve"!
Contam.
Fui arrebitando caminho até ser dado como morto. Era a maldita febre.
A minha família era muito dada aos padres, talvez por algumas posses que tinham e contribuiam em prol da terra, deles e da igreja.
Foi marcado o meu funeral de anjinho, caixao branco, etc... para o dia seguinte.
Mal pareceria ir a sepultar este anjinho, filho e neto de quem era, sem ser baptizado, ficaria a vida eterna no limbo...
Pela calada da noite e acordado com o sr. padre, embrulhado me levaram à igreja para o baptismo.
No dia seguinte seria o funeral, mas com irmandade e tudo.
Faltava o nome ainda não escolhido.
Pergunta aqui, pergunta ali e nada!
O Sr. padre Valdemiro sugeriu, coitadinho como logo vai para debaixo da terra, porque não dar o nome dos dois avós, Francisco e Antonio em homenagem?
Assim fui baptizado, Francisco Antonio
E este malandro, ja na altura teve o descaramento de enganar tudo e todos e hoje com amor por aqui andar...".
Deus tinha outros projetos para ti...
EliminarMas provavelmente essa seria uma prática relacionada com as elevadas taxas de mortalidade infantil que existiam e a crença de que as crianças que morriam sem ser batizadas não iam para o céu.
Os estudos demográficos apontam para, até perto de 1800, a morte de cerca de metade das crianças até aos 10 anos.
"Olha" apesar das condições de vida duríssimas que se viviam na época, tu nasceste e cresceste num tempo tido como "tempo de ouro". Depois do teu nascimento é que se viu pela nossa terra algum progresso, luz eléctrica, telefone, rádio, televisão (na casa do padre), carreira...já havia chafarizes de água corrente, potável e sempre limpa; a possibilidade de frequentares um seminário, embora não tivesses vocação sacerdotal, etc...
O pior foi mesmo a ditadura e aquele período a partir de 1961 até 1974 - A guerra colonial que a muitos marcou para toda a vida.
Boa noite Paula,
ResponderEliminarArquivos importantíssimos que ajudam a construir a História de Forninhos!
A Paula tem-se mostrado incansável na defesa do vosso Património Histórico, que é de louvar!
Gostei de ler!
Beijinhos ,
Ailime
Obrigada Ailime.
EliminarAcho que tem de haver respeito pela história humana, principalmente numa terra onde usam e abusam dos "nossos avós", até porque os avós têm nome. Domingos Alvares e sua mulher Ana de Aguiar e António Cardoso e sua mulher Luíza de Veiga tiveram, pelo menos, um neto chamado António. Quem são os seus descententes?
Como dizem na RFM "vale a pena pensar nisto!".
Bj e bom fds.
Paula, vim avisar qye acaba de entrar teu céu lá! Obrigadão!
ResponderEliminarPodes ver aqui:
https://ceuepalavras.blogspot.com/2021/02/blog-post_26.html
bjs, lindo fds! chica
Muito agradecida.
EliminarBom fim de semana com saúde, para aí...
Bjs
Olá, querida amiga Paula!
ResponderEliminarMeu pai tinha uma caligrafia impecável. Tenho ainda uma carta dele escrita no outro século. Era maravilhosa, talhada como ninguém. Não herdeiro o talhe dele.
Agradeço sua delicadeza na minha ausência pela saúde familiar. Muita delicadeza sua.
Gosto do seu jeito historiadora de ser.
Esteja bem, amiga, proteja-se!
Beijinhos e saúde
Rosélia, podemos e devemos ter orgulho da gente antiga, pela caligrafia e não só...por isso, para mim, já se tornou num "vício" procurar os factos passados.
EliminarBom fim de semana (espero que os seus problemas de saúde sejam resolvidos rapidamente).