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sábado, 20 de fevereiro de 2021

Forninhos - ano da graça de 1758

Reinava D. José I, era Primeiro-Ministro o Marquês de Pombal: Secretário dos Negócios do Reino - era esse o cargo. Foi distribuído por todo o país um conjunto de perguntas para que os párocos respondessem; uma espécie de censos. O Padre Baltazar Dias era o cura de Forninhos e respondeu a 20 de Junho de 1758 às perguntas vindas de Lisboa. 
Mas antes dessa data encontrei no Livro B.1 dos Registos de Baptismo de Forninhos, um baptismo curioso, pois o pároco que responde aos serviços do Marquês foi o padrinho e uma sua tia foi a madrinha:


Aos três dias do mês de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito, o Cura Baltazar Dias baptizou solenemente e administrou os santos óleos a um menino de nome António, filho de Manuel Alvares e de sua mulher Catherina de Veiga, moradores neste Lugar de Forninhos, Igreja de Santa Marinha de Forninhos, ambos naturais deste mesmo Lugar. Avós paternos Domingos Alvares e sua mulher Ana de Aguiar e avós maternos António Cardoso e sua mulher Luíza de Veiga, todos naturais deste mesmo Lugar de Forninhos. Foram padrinhos o Padre Cura e a sua tia Maria, solteira, deste mesmo Lugar.
Depois...só a sete de Agosto de 1758 voltou a haver baptismos na Igreja de Santa Marinha. Três duma vez, embora os dois últimos fossem em casa também, uma prática usada ao tempo.


É fácil ler os registos e ao mesmo tempo sente-se um pouco mais da nossa história pela caligrafia do padre fiel escrivão dos nossos antepassados.
Boa leitura.

24 comentários:

  1. Lindo achado esse e ver as caligrafias antigas é muito interessante.Eram bem melhores, mais caprichadas, quase desenhadas ...beijos, chica

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    1. Hoje já se não escreve assim.
      E neste ano da graça de 1758 possivelmente dos 270 habitantes que Forninhos tinha, tirando o Pe. Cura, só gente de algumas posses (se calhar a sua tia) sabia ler e escrever.
      É que no início do Séc. XX Forninhos tinha 555 habitantes e só sabiam ler 21 homens e 10 mulheres!
      Bj, bom domingo.

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  2. Ainda na década de sessenta era igual, pois a troco de alguns bens caseiros, mais por altura da matação, era por norma a carteira que escrevia e lia as missivas, pois em primeiro numa casa rural, estava o guardar do gado, os trabalhos do campo e depois uma vez por outra a escola.
    Este senhor padre (cura), ao menos deixou registos de memórias suas pessoais e dos modos de viver a igreja nesses tempos.
    Aceito e compreendo que tenha sido padrinho de batismo mais a sua tia, de uma criança e ele próprio tenha celebrado a cerimónia o que é de louvar.
    Do parentesco pouco estranho pois era comum estarem rodeados de familiares na residência paroquial, por norma irmãs solteironas que faziam ao mesmo tempo a vez de criadas.
    Um bom texto que dá para aprofundar algumas reminiscências que ainda perduram hoje em dia!

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    1. Este padre não só deixou registos, como nos ajuda a criar uma imagem mais positiva dos representantes da Igreja. Explico:
      Sempre houve/há uma Igreja boa, defensora dos direitos dos mais fracos, e outra má, discriminatória, que está quase sempre do lado dos ricos e poderosos.
      Ao ler estes quatro registos de baptismo não se nota a diferença de tratamento consoante os pais ou padrinhos da criança. O último baptizado, por exemplo, é de Maria, filha de mãe solteira.
      Já a forma como o Cura Joze A. Fernandes registou em 1852 "Apolónia" que veio da Roda de Expostos de Aguiar da Beira, diz bem da forma como eram tratadas as minorias e os pobres.

      http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2020/11/de-tanto-girar.html

      E há mais exemplos.
      A gente rica e influente sempre aliciou os párocos das aldeias, com a fartura, o conforto e o poder. E a maioria não conseguiu resistir.
      Aqui, também não estranho a relação entre padrinhos e sinto que era normal os padres estarem rodeados por familiares, mas é "estranho" baptizar e ao mesmo tempo ser o padrinho!
      O meu padrinho de baptismo também é um padre, o Pe. Matos, mas quem me baptizou foi o Pe. Fernando. Mas eu fui baptizada na década de 70 do século XX.

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  3. Memórias de outros tempos.

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. Para análise futura, Isabel.
      Boa semana.

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  4. Nas histórias há detalhes que merecem ser lembrados e apreciados. O que bom precisamos guardar com alegria e gratidão.
    Boa semana... Beijinhos

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    1. É verdade, Anete.
      Outro detalhe é a presença de gentes de povoações vizinhas, numa época em que quase toda a população se deslocava a pé.
      Boa semana...Beijinhos

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  5. Obrigado por nos trazer um maravilhosa história e com detalhes.

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    1. :-)
      Obrigada Luiz pela visita comentada.

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  6. Boa tarde

    Paula e Xico

    Fantástico este post .
    Como sempre interessante .

    Abraço
    MG

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    1. Obrigada.
      Para muitos o baptismo é só um dos sete sacramentos da Igreja Católica, mas para quem se interessa por estas descobertas pode sempre construir as suas genealogias.
      Abraço.

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  7. Anónimo2/22/2021

    Como o então cura de Forninhos relata também que administrou ao menino os Santos Óleos,pelo que poderá concluir-se que o menino estaria em perigo de vida e foi baptizado de urgência.
    Nestas circunstâncias, não haveria tempo para esperar ou escolher padrinhos. Se assim foi, só prova que o cura Baltazar Dias era um homem prático e eficiente.
    Outra curiosidade foi terem se perdido, na sequência genética de Forninhos os sobrenomes Álvares e Veiga, que figuram no nome dos pais do menino.
    Ou não??
    Uma semana boa, neste tão complicado confinamento.
    Bj para ti e gd abraço ao Xico
    Ilídio

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    1. Muito mais do que saber quem era filho de quem, estes registos ensinam-nos muito sobre o passado. Bem-haja por comentar.
      Já encontrei o registo de "um menino sem nome" com a observação "batizado em casa por necessidade" (em 29-07-1852).
      Seria interessante saber, se estas crianças batizadas de urgência e, em muitos casos, batizadas em casa, chegaram à idade adulta, mas é difícil...muitos sobrenomes desapareceram "há séculos". Álvares e Veiga perderam-se.
      Bj

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  8. Muito interessante estes documentos que permitem conhecer melhor a história da sua terra.
    Abraço, saúde e uma boa semana

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    1. E assim ocupo algum do tempo livre a revelá-los, sem sair de casa.
      Continuação de uma boa semana com saúde.
      Abraço.

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  9. A tempo de ser batizado na igreja, por milagre.

    "Ainda vinha o meu saudoso pai na agrura do calor do trabalho dos
    campos, a mulher minha mãe, estava comigo na barriga e já mal podia ajudar.
    Percebia claro o momento, maspouco deixava transparecer, sofria no silêncio, esperando que ao eu nascer, nao fosse atacado pela febre a que chamavam coculuche.
    Isto em pleno Agosto quente, tão ou mais quente que o calor da lareira, onde fumegava a caldeira de cobre, com panos e paninhos que a parteira, minha avó Maria Lameira na sua altivez, semelhante à sua estatura ordenava.
    Perto do meio dia, apareceu esta coisa, eu.
    Feio todos os dias, cada velhota rezava pelos cantos, no dizer "Nosso Senhor o conserve"!
    Contam.
    Fui arrebitando caminho até ser dado como morto. Era a maldita febre.
    A minha família era muito dada aos padres, talvez por algumas posses que tinham e contribuiam em prol da terra, deles e da igreja.
    Foi marcado o meu funeral de anjinho, caixao branco, etc... para o dia seguinte.
    Mal pareceria ir a sepultar este anjinho, filho e neto de quem era, sem ser baptizado, ficaria a vida eterna no limbo...
    Pela calada da noite e acordado com o sr. padre, embrulhado me levaram à igreja para o baptismo.
    No dia seguinte seria o funeral, mas com irmandade e tudo.
    Faltava o nome ainda não escolhido.
    Pergunta aqui, pergunta ali e nada!
    O Sr. padre Valdemiro sugeriu, coitadinho como logo vai para debaixo da terra, porque não dar o nome dos dois avós, Francisco e Antonio em homenagem?
    Assim fui baptizado, Francisco Antonio
    E este malandro, ja na altura teve o descaramento de enganar tudo e todos e hoje com amor por aqui andar...".

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    1. Deus tinha outros projetos para ti...
      Mas provavelmente essa seria uma prática relacionada com as elevadas taxas de mortalidade infantil que existiam e a crença de que as crianças que morriam sem ser batizadas não iam para o céu.
      Os estudos demográficos apontam para, até perto de 1800, a morte de cerca de metade das crianças até aos 10 anos.
      "Olha" apesar das condições de vida duríssimas que se viviam na época, tu nasceste e cresceste num tempo tido como "tempo de ouro". Depois do teu nascimento é que se viu pela nossa terra algum progresso, luz eléctrica, telefone, rádio, televisão (na casa do padre), carreira...já havia chafarizes de água corrente, potável e sempre limpa; a possibilidade de frequentares um seminário, embora não tivesses vocação sacerdotal, etc...
      O pior foi mesmo a ditadura e aquele período a partir de 1961 até 1974 - A guerra colonial que a muitos marcou para toda a vida.

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  10. Boa noite Paula,
    Arquivos importantíssimos que ajudam a construir a História de Forninhos!
    A Paula tem-se mostrado incansável na defesa do vosso Património Histórico, que é de louvar!
    Gostei de ler!
    Beijinhos ,
    Ailime

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    1. Obrigada Ailime.
      Acho que tem de haver respeito pela história humana, principalmente numa terra onde usam e abusam dos "nossos avós", até porque os avós têm nome. Domingos Alvares e sua mulher Ana de Aguiar e António Cardoso e sua mulher Luíza de Veiga tiveram, pelo menos, um neto chamado António. Quem são os seus descententes?
      Como dizem na RFM "vale a pena pensar nisto!".
      Bj e bom fds.

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  11. Paula, vim avisar qye acaba de entrar teu céu lá! Obrigadão!
    Podes ver aqui:
    https://ceuepalavras.blogspot.com/2021/02/blog-post_26.html

    bjs, lindo fds! chica

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    1. Muito agradecida.
      Bom fim de semana com saúde, para aí...
      Bjs

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  12. Olá, querida amiga Paula!
    Meu pai tinha uma caligrafia impecável. Tenho ainda uma carta dele escrita no outro século. Era maravilhosa, talhada como ninguém. Não herdeiro o talhe dele.
    Agradeço sua delicadeza na minha ausência pela saúde familiar. Muita delicadeza sua.
    Gosto do seu jeito historiadora de ser.
    Esteja bem, amiga, proteja-se!
    Beijinhos e saúde

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    1. Rosélia, podemos e devemos ter orgulho da gente antiga, pela caligrafia e não só...por isso, para mim, já se tornou num "vício" procurar os factos passados.
      Bom fim de semana (espero que os seus problemas de saúde sejam resolvidos rapidamente).

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