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sábado, 4 de julho de 2020

António Coelho

O aforismo "As pessoas não morrem, quando nos lembramos delas" diz-nos que, quando nos lembramos das pessoas, estas não morrem. É baseando-me no sentido deste aforismo que presto aqui homenagem ao grande carpinteiro António Coelho de Albuquerque, meu bisavô paterno.
Nasceu na Matela, freguesia das Antas, a 14 de Maio de 1874
Terá aprendido cedo a arte de carpinteiro, profissão que tinha quando com 33 anos de idade pediu passaporte com destino ao Rio de Janeiro - Brasil.
Sinal de que a profissão de carpinteiro não dava para sustentar a família (digo eu).
Aos  31 de Outubro de 1907, na Secretaria do Governo Civil de Vizeu "disse que desejando ausentar-se para o Rio de Janeiro por Lisboa pretendia se lhe lavrasse o termo da sua identidade de pessoa".
Ofereceu como testemunhas abonatórias Pedro Bernardino d'Almeida, negociante de Castendo e José Cabral Pinto, comerciante de Vizeu, 


os quais declararam que reconhecem perfeitamente o impetrante e d'isso tomam inteira responsabilidade".
O Ex.mº Governador Civil, vendo que o impetrante apresentou todos os documentos legaes e que ofereceu testemunhas abonatorias que merecem todo o credito, ordenou que o passaporte fosse concedido.
Era obrigatório haver alguém que "abonasse" a viagem (uma espécie de fiadores).
Os sinais do impetrante são os seguintes: Altura, um metro e 57 centimetros. Rosto regular. Cabelos castanhos. Olhos castanhos. Nariz regular. Boca ???. Côr natural.
Signaes prticulares 2 cicatrizes uma na testa (??) e outra pequena na sua face esquerda(??).

Fonte: Arquivo Distrital de Viseu.

Do que consegui perceber, qualquer pessoa que pretendesse viajar para fora tinha que requerer passaporte na Secretaria do Governo Civil. No documento constava o lugar de destino da viagem, a identificação do requerente, o estado civil, a idade, a profissão, a residência e várias características particulares como a altura, a cor dos olhos, do cabelo, nariz, barba e sinais particulares (muitos destes sinais eram cicatrizes e vestígios de bexigas).


No início do século XX, em cada semana ou mês, eram mais umas casas fechadas no povo. A toda a hora se ouvia: "Abalaram para o Brasil. Já abalaram. Foram todos". Havia um sentimento de perda, de vazio...
Mas é possível que António Coelho, meu bisavô paterno,  não tivesse emigrado...
A minha família diz que depois de casado viveu em Forninhos, onde trabalhou sempre como carpinteiro. Também trabalhou na agricultura, como era habitual naquele tempo, cultivando alguns pedaços de terra que herdou ou foi comprando. 
Também atendendo ao ano do nascimento dos filhos acho que não abalou para o Brasil.
Família:
Era casado com Emília de Andrade e tiveram 6 filhos:
- José, nasceu em Forninhos a 15 de Novembro de 1903.
Netos: António, Aida, Arminda, Emilia, Agostinho
- Maria, nasceu em Forninhos a 22 de Março de 1907  
Netos: Júlia, Margarida, António, Samuel, Natalia
- Arminda, nasceu em Forninhos a 26 de Dezembro de 1909
Netos: Darcilia, Antonio, Álvaro
- Armando, nasceu em Forninhos a 20 de Março de 1913
Netos: João, Augusta
- Álvaro
Netos: José, Rosa, Celeste, Antonio, Juvelina
- Abel
Netos:  Odete, José, Conceição,  Arminda, Manuel (Nel), Simão, Samuel

http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2018/10/origens-da-familia-coelho-de-forninhos.html



O pedido do registo criminal é de 9 de Outubro de 1907.
A Comarca de Fornos d' Algodres atesta que dos boletins arquivados no registo criminal desta Comarca, nada consta contra António Coelho d' Albuquerque, casado, filho de José Coelho d' Albuquerque e de Carolina d' Andrade, natural do lugar da Matela, freguesia das Antas, concelho de Penalva do Castelo, d'esta comarca e morador no lugar e freguesia de Forninhos, concelho d' Aguiar da Beira.
Todos os documentos eram acompanhados do registo criminal passado pela Comarca e pelo registo de batismo do impetrante.


No seu registo de Baptismo, de 4 de Junho de 1874, ainda constam as seguintes informações:
Era neto paterno de Maria de Albuquerque e avô incógnito e materno de António Ferreira e Isabel d' Andrade.
- Foram padrinhos José Ferreira e sua mulher Guilhermina da Costa.



Faleceu no dia 01 de Novembro de 1955. Tinha 81 anos de idade. Está sepultado no cemitério de Forninhos.
Nasceu no mesmo dia o seu bisneto Zé 'pincho' que Deus já levou para junto dele.
Quem ainda o conheceu diz que quando estava doente foi visitado pelo pároco da aldeia, o Senhor Padre Valdimiro; e tendo manifestado a vontade de viver mais um ano o Senhor Padre respondeu-lhe: -"Deus faz-lhe a vontade porque pede pouco" e assim aconteceu.
Na sua época foi um carpinteiro de mão-cheia, muito competo, tinha habilidade para tudo, desde uma simples gamela e uma colher de pau, um baú para guardar a roupa, uma arca para armazenar os cereais à masseira de amassar o pão e à salgadeira onde se salagava e guardavam as carnes de porco enterradas em sal para todo o ano: assoalhava e forrava casas, assim como fazia as portas e janelas, armações para o telhado, carros para carga puxados por bovinos, assim como arados e outros utensílios para a agricultura; desde fazer camas, berços e caixões para meter os falecidos, às simples cruzes de madeira para sinalização das sepulturas, sabia e fazia tudo com muita classe.
Deixou como seguidores da sua arte o filho José Carau e neto António Carau, filho de José Carau, que tal como o seu progenitor davam saída a tudo de carpintaria. Depois da morte destes ninguém mais aprendeu esta arte.

* Carau é alcunha.

20 comentários:

  1. Muito linda tua homenagem e concordo...Elas estarão sempre vivas em nossas memórias! bjs, chica

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    1. É para isto que o nosso Blog serve...
      E...descobrir...descobrir...descobrir.
      Eu que não recebera da minha família qualquer memória de familiares emigrados que viveram na primeira metade do século XX, descubro que afinal o meu bisavô podia ter emigrado, um seu irmão (Eduardo Coelho de Albuquerque) a 2 de Abril de 1908 com 35 anos também pediu passaporte com destino ao Rio de Janeiro (não sei se emigrou ou não, já que o pai, José Coelho de Albuquerque, morre 04 de Maio de 1908 e teve um filho chamado Armando, que nasceu em 14/12/1908, foi baptizado no dia de Natal desse ano, mas faleceu com quase 9 meses, a 03/09/1909).
      Outros seus irmãos (José Coelho e Manuel Coelho) embarcaram no "Pátria" chegam ao porto de Nova York no dia 16 de Março de 1916.
      Bj, bom domingo!

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  2. A genealogia pode ser um elo que pode unir familias, porque não recriar a grande família de Forninhos, com origens na Matela, Dornelas, Matança, etc...?
    A terra dos nossos avós pode não ser Forninhos!
    Todos juntos podemos fazer um projecto colectivo físico como tu tens tentado fazer online. A partir daí todos podiamos descobrir ainda mais histórias que a história nos esconde.
    Chega de folguedos.
    Temos tanto espaço, tanta parede, podiamos deixar lembranças, ao menos por escrito, podiam ao menos dizer que ainda me lembro...
    Vamos ver...
    Este Homem falado no texto, mulher, filhos, netos, bisnetos...merecem mais que o muito respeito e consideração, uma mão cheia de bem-hajam.
    A memória, foi-se espartilhando no tempo, mas ainda no resguardo temporal, sinto determinados rostos, o tempo não apaga tudo, deixaréstes de cinzas...

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    1. Há 12 anos atrás falou-se nisso, de a Junta comprar os volumes do registo paroquial e civil de Forninhos e assim constituir uma base de dados ao dispôr de todos para recriarmos as árvores genealogicas, mas as árvores precisam de raízes e a nossa terra é Forninhos, onde os folguedos têm sido a prioridade.
      Como sempre disse (e mantenho), se descobrir algo mais que ache que vale a pena partilhar com todos (familiares ou não), já sabem que o farei, sem qualquer objectivo que não seja de conhecermos melhor A NOSSA TERRA.
      Mais que isso não posso fazer...

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  3. Mais um post rico de lindas lembranças. Concordo plenamente, há pessoas que continuam muito vivas no nosso coração e mente. Acho linda a profissão de carpintaria!
    Uma boa semana, querida Paula... Venha me encontrar no Vida & Plenitude... Bjs...

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    1. Posso dizer que 64 anos após a sua morte o meu bisavô ainda hoje é lembrado como um homem muito social e alegre e pelo carpinteiro que fazia e ainda forrava os caixões.
      Os caixões "dos anjinhos" eram forrados todos de branco e eram aplicadas umas flores em tecido e o dos adultos eram forrados de cor roxo e levavam nas costuras uma fita dourada.
      Com um lápis por detrás da orelha, que acredito sequer usou na escola por lá não ter ido, o meu bisavô riscava a madeira com a precisão de um Miguel Ângelo!!
      Mas a todos os carpinteiros Forninhos muito deve, sobretudo porque toda a antiga arquitectura do pormenor que ainda hoje perdura foi-nos deixada por estes profissionais.
      Bj, boa semana.

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  4. Recordações de outros tempos e da família que nos antecedeu. Figura interessante a do seu bisavô.
    Abraço, saúde e uma boa semana

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    1. Boa tarde Elvira.
      O meu bisavô Coelho não era só carpinteiro de Forninhos, era o carpinteiro de 4 ou 5 freguesias!!
      Só é pena que numa família tão numerosa, não haja um neto/e/bisnetos com sensibilidade para escrever uma linha sobre o avô/bisavô!
      Mas encerro esta resposta com aquele adágio caracterológico (se existe a palavra): CADA UM, leia-se aqui FAMÍLIA, É COMO CADA QUAL.
      Um abraço.
      Saúde!

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  5. Boa noite

    Foi em FORNINHOS que vi fazer bagaço pela primeira vez .
    Um homem de vime na mão a descobrir onde havia água .Onde fazer um furo para ir buscar essa água .
    E lá estava essa preciosa água.
    Foi em FORNINHOS que vi alguém erguer paredes a olho. Sem prumo.
    E as paredes que eu saiba não caíram. .
    Ainda lá está .

    Tal como já transmiti ao Francisco
    que me honrou com uma chamada por estes dias ..

    Forninhos foi uma etapa . Uma aprendizagem . Um desafio .Uma aventura .Penalva adentro pela escuridão ..da viagem .

    E entre mágoas,nódoas e desalento
    por aí passados nada apaga a hospitalidade e honra dos Forninhenses .

    Bem haja . Eterno obrigado .

    Continuem a promover esse vosso cantinho .
    Mesmo às vezes contra a corrente .

    Abraço

    MG

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    1. Obrigada pelo apreço por pessoas que vão contra a corrente, sempre no sentido da nascente.
      O nosso povo podia ser iletrado, mas era culto!
      Sem ouvirem o serviço meteorológico sabiam se ía chover; sem o “precioso” auxílio da ASAE, faziam boa aguardente, jeropiga, queijos, enchidos...
      Abraço.

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  6. Boa noite Paula,
    É incansável na procura de tudo o que possa engrandecer as memórias de Forninhos.
    Gostei de saber acerca do seu bisavô e a forma como se processavam as autorizações para o passaporte.
    Muitos partiam, outros como o seu bisavô lá tiveram razões para ficar e decerto fez um trabalho grandioso como carpinteiro.
    Um beijinho e continuação de boa semana.
    Ailime

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    1. Olá Ailime,
      É sempre bom sabermos dados dos nossos antepassados e no pedido do meu bisavô as informações até são algumas, ainda assim faltou a foto, em alguns casos a concessão de passaporte incluia foto.
      Nas fichas consulares que já publiquei aqui num artigo denominado "Forninhenses em terras do Brasil" de alguns nossos conterrâneos, é possível ver a data de nascimento, filiação, foto, entre outros dados...
      O que levou o meu avô a ficar? Palavra que não sei...mas requerer o passaporte para o Brasil foi decerto uma opção dura e dolorosa. Já tinha 2 filhos.
      Homenagem merecida. Pela coragem e pela muita classe na sua arte!
      Beijinho.

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  7. Meu bisavô, o que posso dizer, não o conheci apesar de ser o seu segundo bisneto, penso eu, o primeiro o Martinho que ainda o viu, o que sei é que foi um bom mestre a trabalhar a madeira e deixou a arte nos progenitores. Felizmente conheci sua esposa, minha bisavó a qual vi desembaraçar pelo menos um irmão. Arrisco a dizer que metade de Forninhos são seus descendentes. Caraus, Lopes, Cavacas, Xispas, Pichelins, Pinchos e Peleiras, é só somar. Desconhecia a sua origem da Matela, nunca me ocorrei a perguntar a minha mãe que muito sabe sobre os seus progenitores. O meu agradecimento para ti Paula.

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    1. Faço um reparo, o Zé Pincho não foi bisneto mas sim neto. Era filho do Tio Alvaro que por sua fez filho do nosso bisavô. Mantenho o que escrevi antes, penso que meu irmão Martinho seja o 1.º bisneto e eu eu o 2.º. O Martinho nasceu no mês da sua morte, dia 11 de Novembro mas de 1953. Só os filhos do Zé Pincho é que são bisnetos.

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    2. Registo com agrado as tuas palavras, és o primeiro da família a reparar com a tua palavra no erro, já corrigido. Obrigada Henrique!
      Também penso que o Martinho é o bisneto mais velho. O 2º bisneto serás tu e a Zita será a 3ª bisneta.
      Quanto a ser da Matela, não estranho, a sua mãe, Carolina de Andrade, era da Matela. E já o pai da avó Carolina também era da Matela.
      Muitos naturais da Matela casaram com naturais de Forninhos e vieram viver cá para baixo, se calhar, porque a nossa aldeia era bonita e cativante!
      Das alcunhas faltaram os Pirolas.
      A avó Emília tinha um irmão chamado Abel (que era o pai da tia Adélia, tio Manel Pirolas, etc...).
      Também a mãe da tia Felisbela (Maria da Conceição) era irmã da avó Emília. A tia Felisbela teve uma irmã chamada Aida (o mesmo nome da tua mãe), que emigrou para o Brasil.
      Pergunta à tua mãe, sff, se sabe algo mais acerca desta Aida...e se sabia que o avô Coelho pediu passaporte para ir para o Brasil.
      Dou comigo a pensar que a minha avó Coelha foi criada desde bébé com a sua avó Dulce e avô José Dias (pais da avó Emília). A minha avó nasceu em Março de 1907, será que foi por o seu pai (nosso bisavô) querer emigrar para o Brasil que ficou aos cuidados dos avós maternos?

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    3. Alguns bisnetos devem ser mais novos que alguns netos, estou a lembrar-me de alguns filhos do tio Álvaro (Tónhito(?), Juvelina) e do tio Abel (Simão e Samuel).

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  8. Onde atrás escrevi Pichelins, queria dizer Xilins que corresponde à alcunha do meu Tio avô Armando (Xilim).

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    1. Já nem me lembrava desta alcunha!
      Penso que era interessante escrever-se uma pequena história sobre a origem de cada uma da nossa família. Algumas são tão óbvias que pouco há a dizer; outras perderam-se no tempo e já ninguém se lembrará da sua origem; mas muitas terão por trás episódios interessantes e engraçados.
      Acho que vale a pena tentarmos.
      O bisavô Coelho inventou algumas, inclusivé a dos seus filhos. Ouvi dizer que foi ele que pôs o nome "Carau" a um e "Peleira" a outro!

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  9. Boa noite estou procurando a familia de Felisbela Maria da Conceição. Estou no Brasil e a mãe do meu bisavô se chamava Felisbela. Comecei a estudar a familia do meu bisavô. Até onde sei eram 3 portugueses e um deles veio para Fortaleza... tinha também uma irmã Maria José Vinhas

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    1. Não sei se estamos a falar da mesma família, mas abra o link abaixo para ver a origem da família "Coelho".

      https://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2018/10/origens-da-familia-coelho-de-forninhos.html

      Minha trisavó teve 3 filhos: Emília, Abel e Maria da Conceiçao.

      Maria da Conceição teve 2 filhas do 1º casamento:
      Felisbela (que ainda conheci) faleceu nos EUA.
      Aida (emigrou para o Brasil).

      Enviuvou e voltou a casar; do 2.º casamento teve 2 filhos:
      - Manuel
      - Alberto

      Obrigada pela visita.

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