para um beirão nesta cidade capital
sem alma, sem nada, quase indiferente...
Inventam-se uns presépios por obrigação,
sem a ternura do musgo e devoção
da minha aldeia e da minha gente...
À minha Beira vou
em cada esquina, em pensamento,
subo a serra e lhe dou
estes versos-sentimento.
Atravesso mataguedos.
Salto fragas e penedais.
Tenho saudades dos medos,
e da casa dos meus pais.
À minha Beira vou,
ao berço, à terra-mãe
subo a serra e lhe dou
hossanas por Jerusalém!
À minha Beira vou
deste barulho e confusão
subo a serra e lhe dou
a alma e o coração!
mas:
À minha Beira não fui, p'raqui fiquei
P'ra lhe dizer, p´ra lhe contar
que o meu poema
é nostalgia, pena
por cá ficar...
Guardo num berço pequenino
nostalgia desse tempo e dos meus,
memórias, presépios de menino...
Que saudades, meu Deus!!!
E, sem querer, subo à serra, à minha Beira...
e sinto-me menino de novo,
no meio da gente do meu povo,
na festa de Natal verdadeira...
O Natal de Lisboa (25-12-1984).
Uns versos, de Ilídio Guerra Marques, com saudade dos verdadeiros Natais em Forninhos, da festa de Natal verdadeira.
Este verso tem uma profundidade que por vezes fica um labirinto tão grande, que quase nela nos afogamos na mistura de sentimentos, naquele amor profundo pela terra e a leitura das lápides de suas raízes, cujas coisas restam por descobrir e do que a seguir pode vir...
ResponderEliminarManifesto a gratidão que connosco tiveste no ano transacto, por nos presenteares na quadra natalícia e de modo particular, com este sentido poema, porventura das mais bonitas lembranças de Natal que aqui e de modo particular, fomos agraciados, a tua.
Pouca gente imagina o conforto e a força para continuarmos a prosseguir e escrever sobre o cascalho, reconstruir memórias puras e tais darmos por benditas.
Este ano celebramos aqui o Natal de todos; mais da aldeia que nunca, o Natal dos ausentes de Forninhos, os seus residentes, emigrantes, o Natal de todos, o da saudade, da nostalgia, dos presépios de meninos que queriam subir a serra no meio das suas gentes, na procura do Natal Verdadeiro.
Que saudades, meu Deus!!!
Bem haja Ilídio por esta prenda de Natal!
Eu gosto muito deste poema, o tom popular até me faz lembrar o "Natal...Na província neva" de Fernando Pessoa. Quer Pessoa, quer o Ilídio imagina a família na província, reunida, conseguindo na sua unidade familiar continuar as tradições natalícias.
EliminarNa cidade, quando saímos à rua, falta aquela brisa gelada que até corta, falta o cheiro das várias lareiras que aquecem as cozinhas ainda activas. Falta o musgo e até os presépios com o lago feito do papel interior dos maços de cigarro.
Na cidade, tudo é luz e Jingle Bells por todo o lado, enquanto na aldeia, quando nos juntamos, canta-se uma versão mais cristã do refrão do "Gingle Bells":
Toca o sino, pequenino,
sino de Belém
Já nasceu o Deus Menino,
para nosso bem.
E outras lembranças da nossa terra que já não imaginava, se não fosse este "À minha Beira vou..."
Bonito verso. Bom domingo!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Sem dúvida, um bonito verso.
EliminarBoa semana!
Bom dia Paula,
ResponderEliminarUm poema que me tocou o coração, uma vez que comungo dos mesmos sentimentos do autor.
Até a foto me fez lembrar como eram verdes e macios os musgos de então.
Uma excelente partilha.
Obrigada!
Bjs para si e Xico.
Bom domingo.
Ailime
Obrigada Ailime. Escolhi esta foto porque o autor fala da ternura do musgo e porque em 1984 quando se pensava em Natal, pensava-se logo em musgo para atapetar o chão dos presépios. O musgo do presépio tinha de ser o mais macio, fofo e verde e havia sempre quem sabia onde havia o melhor.
EliminarBeijinhos e boa semana.
Magnífico poema que se adequa a tanta gente( incluo-me) que passa o Natal, sem o calor de outrora!
ResponderEliminarBeijinhos.
Hoje o Natal é digamos, mais artificial, os interesses comerciais e o exibicionismo sobrepõe-se à verdadeira festa. Acho que na aldeia o pior é o frio, mas também Natal sem frio não é Natal.
EliminarBeijinhos.
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ResponderEliminar.......
" É tremenda a solidão do Natal.."
" Inventam-se uns presépios por obrigação..."
Uma tremenda VERDADE, num belo texto !
Bom Domingo
MG
E tão actual passados quase 30 anos!
EliminarAbraço.
Uma realidade poética carregada de saudade!
ResponderEliminarObrigada pela partilha!!!bj
Ainda bem que sentimos saudade, é porque valeu a pena viver o que recordamos. Bjo.
EliminarUm poema muito bonito que carrega a saudade de quem está longe da terra natal. Já passei por isso embora a grande maioria da minha vida o tenha passado nas terras da minha infância.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Elvira, eu como tenho passado todos os natais em Forninhos, mal lá chego, sinto o mesmo que o autor "menino de novo, no meio da gente do meu povo..."
EliminarAbraço.
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ResponderEliminar.....
Quem se quiser conhecer bem e conhecer o verdadeiro Mundo que o rodeia que passe um Natal sózinho ou mesmo uma passagem de ano .Eu passei um dia de Natal sózinho(estive com visitas ate
de madrugada ) e duas passagens de ano.
Sempre por opção própria e nunca por falta de convites .
Preferi estar sózinho.
Adorei. Tornei-me mais pessoa . Mais humano .
Ver gente á procura de comida no lixo na passagem de ano em Lisboa ( quando de gasta milhões em fogo de artificio ) falar
com essa gente e tentar percebê-los , tornou-me mais humano mais pessoa , mais "rico" ! Partilhei e cresci .
E encontar pessoas na solidão ,a precisar apenas de um abraço de um olá , apenas de um aperto de mão.
Ir a uma missa na Penha de França com meia dúzia de pessoas.
Velhotes sózinhos. Isolados a orar. Caminharam sózinhos pela calçada . Chuva miúdinha . O " menino nasceria " pouco depois mas a esperança esfumava-se nos lençois da Solidão ...
Nessa Solidão da cidade falta o " calor" do nosso lugar .
Mas muitos nem têm Lugar ou Aldeia. Apenas uma Calçada fria no meio da escuridão .
Tão cruel e duro como o fascínio na Gruta de Belém.
Ganhei outras defesas , outros olhares , outras vantagens e
acreditei mais no nosso caminho !
Se tiver de repetir , repito, sem medo.
Vale na grande cidade. De um milhão.
Como na pequena de cinquenta mil .
Fiquei a perceber a verdadeira dimensão do egoísmo em que estamos mergulhados.
Abr
MG
António, obrigada pela mensagem Humana que irradiará daqui para o mundo, porque o Blog d'os Forninhenses tem gente por tudo que é lugar que vai lê-la.
EliminarUm abraço amigo.
Muita paz e saúde no natal e em todos os dias do ano! Que o verdadeiro sentido do amor seja presente em todos os momentos, sempre! Felicidade. Ives Vietro
ResponderEliminarFELICIDADE. Não pode haver sentimento mais abrangente que este. Se estivermos felizes é porque tudo o resto está bem. Assim sendo, para si, os mesmos votos que para os restantes dias do ano...e de todos anos: Felicidade!
EliminarAbr./Paula.
Paula, um poema muito bonito! Cheio de boas lembranças e preciosidades do verdadeiro Natal!
ResponderEliminarUm abraço e tudo de bom para você e família...
Para si também, e que o novo ano que está aí a chegar traga tudo de bom para si e família.
EliminarBeijinhos.
Oi Paula, adorei o poema, carregado de sentimentos, e quem não tem um natal da nossa infancia pra recordar e sentir saudades...
ResponderEliminarlembro que era tão diferente... sinto saudades de como era bom, hoje é bom também, mas é bem diferente.
já em clima de natal, receba um abra.ço carinhoso
Olá Fátima, um poema antigo que nos traz lições de amor, de saudade, partilha e união. Faço minhas as suas palavras, hoje é bom, mas o espírito de Natal é bem diferente desse tempo, porque as pessoas cada vez estão mais individualistas.
EliminarE como Natal é tempo de dar a receber, receba também um abraço carinhoso meu.
Nesta Lisboa cidade,/
ResponderEliminarTão longe da minha Beira,alta serra,/
Dói me a alma com saudade,/
Do Natal na minha terra./
Paula e Xico, que a alegria do Natal em Forninhos contagie família e amigos e seja prenúncio de Novo Ano verdadeiramente Bom.
Um abraço grande a minha terra.
Ilidio
Parabéns e um grande bem haja pela participação n' O Forninhenses.
EliminarSão estes pequenos passos que muito nos incentivam.
Abraço e feliz continuação de um Ano Bom.