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sábado, 12 de novembro de 2016

ECOS DO PASSADO...

Mais um ano gratificante de partilhas e registos para tantos que nos acompanham, duro, claro, nas pseudo indiferenças mordazes e crónicamente veladas, mas que não suplantam o reconhecimento dos ausentes aquando regressam à aldeia e recebemos aquele abraço de gratidão ou um bem-haja.  
Aqueles que aqui comentam, aqueles milhares que aqui procuram algo de diferente, um abraço a todos, um bem hajam e que venha mais um ano! 

Agora o resumo

Mimos: "A Rainha Santa Isabel, replicava ao esposo "são rosas, senhor...", as nossas gentes dizem na sua simplicidade que "são apenas uns miminhos...".
Mimos de Outono(...) pão de centeio que aguenta dias seguidos...marmelada caseira que no rasto ainda deixa a geleia para todo o ano...castanha sem marca, apenas a nossa castanha...míscaros que pouco aguentam, mal chegaram e já se foram..."

2
Filhóses de pão: "Pequenas bolas, mal amanhadas, mas que a canalha devorava pela gulosa prenda que as levava a lamber os restos de açúcar.
(...) até a cevada semeada para o gado depois de moída servia para fazer bolos deliciosos com o mesmo método: os bolégos, a que agora mais guarnecidos, chamam de sonhos."

3
O marrano: "Quando alguém precisava emprenhar uma das duas porcas parideiras, pedia a alguém da aldeia que tivesse um porco adulto não capado para alugar. Era um ciclo anual vindo de tantas gerações em que por vezes se fazia mais de meia légua a pé, conduzindo por caminhos escombrosos a porca que estava aluada a partir dos cinco meses e que por sinais da "serventia" inchada tal como as tetas, "pedia que a chegasem" ao marrano."



4
Ecos do Largo da Lameira: "Airoso o Largo, que acomodava almas na sombra da varanda velha, algumas mais do que ela...
Os jogos domingueiros batidos nas malhas pelos homens, a panelinha mais pelas mulheres...
Por detrás, na taberna eram batidas as cartas enquantos as mulheres faziam correr o tempo de conversa de regressar a casa a ter a ceia pronta.
Ainda hoje nestes bancos de pedra perdura nos mais velhos a saudade vivida ou contada."

5
O cardo: "Pergunto se ainda lembram o cheiro do cardo e ao menos a sua forma? Agora vê-se pouco, pelo que os mais novos soltam a indiferença num ombrear, desconhecem ser a sua flor a responsável pela coagulação do leite que dá origem ao famoso queijo da serra..."

6
Mães de peito: "Noutro tempo havia muitas mulheres paridas e muita gente mal nutrida, assim, apesar de seios avantajados, faltava nutriente para os rebentos. Havia muitos meninos e pouco leite. Recorriam então a quem lhes pudesse dar o peito para mamar por "esmola", sendo que eram considerados "filhos da esmola"."
E estas mães de peito, podendo, para se nutrirem a si, aos seus e dos outros, bebiam o segundo litro de leite cru de vaca, da ferrada da ordenha."

7
Caminhos bastardos: "Deixado para trás, por motivos políticos, demorou o caminho dos Moncões quase uma eternidade a ter a dignidade merecida. Condigno, agora se apresenta com saneamento e alcatroado, mas creio que os moradores do alto da Estrecada, pelo menos um casal, jamais irá esquecer o motivo de tal abandono."

8
Cantilenas de Maio e o trigo do sacho: "Colhido maduro por alturas de Julho e depois malhado a mangual para moer. Antes tinha de ser lavado, esfregado e colocado ao sol, antes de ir para o moinho dos moleiros que recebiam em dinheiro ou por maquia, naqueles tempos de fome."

9
Saudades dos cegos papelistas: "(...) traziam e cantavam histórias trágicas, verdadeiras ou inventadas que as aldeias tomavam como suas ou pelo menos parecidas e por tal revelavam nas suas cantorias...
Ainda hoje se ouve "Coitada da Maria Alice/Foi levada pela doidice/Para a casa da degraça/Seus pais à procurada dela/Lá a viram numa janela/A dar beijos a quem passa."

10
Forninhos: Festa do Espírito Santo: "Está a chegar o dia do Espírito Santo. Porventura uma das romarias mais singulares e veneradas pelas aldeias vizinhas que guardavam para na altura cumprir, promessas, numa intensidade de fé e caridade que ainda hoje subsistem.
Hoje fiquei triste ao ver o cartaz das festividades (...) pela ausente referência para com a Irmandade de Sezures/Esmolfe, a Irmandade mais antiga e ferverosa...".

11
Ao redor de Forninhos: "...) No curto passeio, searas de centeio que ondulavam por debaixo de uma algazarra de andorinhas que o vento levava. Pensava que tal tinha acabado, mas não.
Um homem com uma gadanha!
Ganhei o dia, gritei!"

12
A boina à espanhola: "Gosto imenso de coisas antigas e marcantes, coisas que nos tocam, tal como a boina conhecida por basca, mas em Forninhos por boina à espanhola.
A boina à espanhola, era preta com um espigo na corôa, forrada de seda ou coisa parecida, sendo que meio século atrás, na Feira Nova ou em Trancoso, o seu custo rondava os 5$00 (cinco escudos), dizem os mais antigos."

26 comentários:

  1. Tão bom olhar pra trás quando podemos ver e rever, ler, reler coisas boas aqui publicadas! Valeu! abração,chica

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    1. Quando se tem orgulho nas origens honradas dos nossos antepassados,escrever sobre tal, é um prazer imenso.
      Abraço, Chica.

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  2. Um ano em cheio e de leituras muito interessantes. Que nos fazem desejar outras.
    Parabéns pelo aniversário.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. Mais um ano...
      Quando pensamos queesgotamos os temas ao londo destes sete anos, acho, sem presunçao, que ainda temos um pouquinho dos "nossos" e como eles, levantamos mais uma pedra e por debaixo, mais um legado.
      Abraço, Elvira.

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  3. .......

    Eu destaco : " Mães de peito " do Xico ..
    e
    " Raizes " da Paula..

    Foram tempos dificeis, não só em Forninhos e que muitos recusam aceitar . Mas faz parte da nossa " História "recente.
    A geração de 60/70 foi paulatinamente saindo e o 25 de Abril
    ajudou mentalidades e politicas a mudar !
    Não passámos fome , nem fomos á guerra , mas nas rugas dos nossos pais e avós ainda estão as marcas das suas raízes.
    Uns com oitenta , outros com noventa e até mais .

    Uma " obra " este Blog , repito .

    Abr
    MG

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    1. "Eles não sabem, nem sonham,
      que o sonho comanda a vida,
      que sempre que um homem sonha
      o mundo pula e avança
      como bola colorida
      entre as mãos de uma criança.".

      Sabe, amigo António, também temos um sonho que tem por base uma terra de pedras na qual foi erguida estoicamente, o de um dia termos apoios para deixar oregisto escrito disto a que generosamente chama de "obra".
      Quem sabe se no futuro os rebentos de agora não irão sentir estas memórias tal como diz António Gedeao, "uma bola colorida..."?.
      Um abraço amigo!

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    2. .......
      .......

      De noite passei Penalva...
      No luar a minha esperança...
      Falta a última etapa...
      Forninhos atrás da Matança..

      Eu vi uma raposa...
      Mais á frente uma ribeira...
      De noite fiz o caminho...
      De longe Fornos á cabeceira...

      Que estranho aquele lugar....
      Escuro, frio e distante...
      Um dia perdi-lhe o rasto...
      Bebi do tinto em noite desgastante...

      Recordo aquela velhinha...
      Tia Agostinha de seu nome...
      Por muito que me impeçam...
      A minha Liberdade ninguém a tome..

      Isto é mais um grito...
      Um obrigado a estes obreiros...
      Ao Xico e á Paula um Obrigado..
      Para Forninhos verdadeiros pedreiros....

      Abr
      MG

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    3. Amigo António, penso ser de sua autoria, bonito e certeiro, meus parabéns.

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    4. Amigo, Santos

      Sim. Podia sair melhor.
      Tenho um Antonio " amigo" e cliente em C de Ourique
      que enquanto não vende gelado faz poemas. Tem mais 35 anos de vida do que eu.Imagine !Mas 1 folha de poemas
      para ele demora dias e horas a sair bem.Eu arrisco-me
      a más figuras inspirado neste blog e nas viagens á vossa terra , chegando sempre ao inicio da madrugada,
      diferente , misterioso ,medonho,lindo ,apaixonante e
      inigualável.

      Como não sou homem de traumas , gosto de desaviar a história e potenciar, potenciando-me nas fontes da vossa sabedoria.
      Gostava de verdadeiramente de ter " bagagem" para escrever um livro . Confesso. Como um " sem abrigo" francês o fez e vendeu 50 mil exemplares,vamos lá ver
      o que me espera.
      Nem que fosse apenas para "falar" a três ou quatro pessoas , uma delas, minha Mãe !!

      Parabéns porque dos Forninhenses "residentes ", além,
      óbvio, da Paula e Xico , o meu caro é o único que cá vem com nome próprio defendendo o que que lhe vai na
      alma ! Admiro - o por isso !!
      Continue por muitos anos.


      Abr
      MG

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    5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    6. ..
      Desafiar e não desaviar , quis dizer...

      Abr
      MG

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  4. A nível de Forninhos, um novo blog foi um lufada de ar fresco na informação via net.
    Porquê?
    Porque foi a partir do dia 9 de Novembro de 2009 que todos e em todas as páginas da net que se criaram depois, começaram a reparar na casa de Forninhos, a falar de vivências, gastronomia, costumes e tradições, a querer homenagear os artífices de todas as áreas, etc. e tal... Antes d' O Forninhenses para certa gente só contava a informação rápida e actual, sobre o que acontecia na freguesia. Para essa gente bem acolitada era a altura de balanços, era um tempo em que as tradições eram uma miragem!
    Afinal contra ventos e marés, conseguimos com mérito encher o blog de algo que ninguém falava e que agora até já copiam!
    Estás de parabéns Xico pela tenacidade e entrega ao projecto.
    Um bem-haja por tudo!
    Bem-hajam todos os que connosco colaboram.

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    1. Estamos todos de parabéns por mais um ano de dever cívico cumprido.
      Tanto o constrói e alimenta quem edita um post,como quem o comenta e visualiza.
      Não posso esquecer pessoas que o abraçaram nos seus primórdios e depois se foram afastando, presumo que por verem que o foco era falar de forma transversal sobre Forninhos, de modo laico, respeitando, claro, os credos de cada, fossem de que paradigma fossem.
      Uns, ao verem as janelas fechadas de se tornarem conhecidos por interesses pessoais, mudaram de agulha, outros tiveram medo em se exporem por se mexer em tabús. Sacrilégio falar, melhor,ousarmos mexer no clérigo, na nobreza, quando afinal aqui sempre se falou do povo e para o povo, o mesmo que nos motiva. Lembras, Paula, aqueles dias que se seguiram aquando da publicação de "Os Filhos do Centro"?
      A partir daí, os interessados em tal, a maioria da aldeia, tornou-nos poscritos e quando nos cruzamos, sai um bom dia por obrigação mas de cara virada.
      "Uma mão lava a outra", mexeu de forma descontrolada nas redes sociais.Interesses.
      Tem sido duro este périplo, cujos percalços apenas se justificam por invejas, interesses e medos.
      Medos mais que justificados pois jamais alguém imaginaria um dia ter vivas as suas memórias permanentes expostas em todas as partes do mundo. E as pessoas desconfiam de quem delas se aproveita...
      E pronto, venha mais uma rodada e "vai acima, bota abaixo", por mais um ano!

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    2. Numa aldeiazinha do interior chamada Forninhos ficarem tão incomodados por se falar dos "Filhos do Centro" ou da gestão da Junta em que com "Uma mão lava a outra" é porque o assunto é sério.
      Só fizemos o que tinha de ser feito, a partilha de informações e novidades são uma forma de conhecerem melhor o local onde nasceram ou viveram. E muitos, acredito, ficaram a saber que os deuses afinal têm pés de barro.
      E o que restará? Pedaços inúteis, que um dia os vindouros juntarão, para que vejam o que foi o agora vigente Reino do Caciquismo.

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    3. Curiosamente hoje ouvi na televisao, alguém de forma acertiva questionar o funcionamento das IPSSpor este país.
      As elevadas contribuiçoes do estado (todos nós...)para que os maiselementares príncipios de boa ética e gestao, funcionem.
      Há quem diga que a fiscalizaçao pertence à igreja, mas o dinheiro vem na sua maioria do cidadão.
      Será verdade?
      Acredito que sim, pois o "Restaurante" nao deve e apesar dos convites, gerar receitas para a sua sustentabilidade.
      A Junta, saberá a razão dos seus procedimentos que com pouco esforço e do domínio público, jamais levantariam qualquer suspeiçao.
      Bastava a simples demonstração do exercício dos resultados, ou de modo simples, recebemos tanto, gastamos tanto e temos tanto.
      O cerne da questão destes silêncios evidencia de forma vergonhosa o que se sabee poucos de tal falam.
      Foram eles que tudo fizeram...coitadinhos.
      Daí e por tal denunciarmos, fomos poscritos.
      Há quem desminta esta evidência?

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  5. Adorei tudo que li.
    Recordações de antanho que são património cultural do nosso portugal, nomeadamente o "profundo".
    Raízes que deviam ficar escritas e tentar recuperar.

    O meu obrigada pelo maravilhoso trabalho.

    Beijinhos.

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    1. Olá Elisa.
      Por aqui a gente bem que vai tentando ir de encontro a esse desiderato de deixar memórias escritas, mas continuamente batemos na maioria das vezes no muro do silencio comprado em festarolas por motivos políticos e que mais podemos fazer?
      A maioria nem merecem as "esmolas" que lhes forraram o estômago, mas agora são políticos!
      Nao é fácil trilhar estes caminhos, minha amiga
      Beijinho.

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  6. Xico, parabenizo vcs novamente pelo amor e carinho por Forninhos!
    Continuem escrevendo e nos fazendo conhecer coisas tão interessantes e culturais... Vcs merecem aplausos meus!
    Abraços e boa semana...

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    1. Bem haja Anete.
      Claro que vamos continuar enquanto a vida tal permitir.
      Difícil, claro, e de tal temos noçao, mas por enquanto impera a liberdadede expressao, coisa que alguns teimam em não respeitar.
      Abraço.

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  7. Não conhecia "o marrano"!!!
    Escritos e registos sempre dignos de uma leitura!
    Boa semana!

    Gosta de mar e de provérbios?
    Veja aqui uma selecão deles:
    http://mgpl1957.blogspot.pt/2016/11/proverbios-com-sabor-maresia.html

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    1. Tal como o "marrano", tantas coisas. Por tal "mendigamos" aos mais velhos que procurem nas suas smemórias, registos factuais e verídicos do que viveram ou herdaram ao borralho dos seus ancestrais.
      Depois, a gente partilha aqui com carinhoe um misto de saudade.
      Beijo, Gracinha.

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  8. Parabéns Xico, os assuntos que aqui trouxeste, são de se tirar o chapéu, força para mais um ano.

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    1. Obrigada Henrique, não apenas pelas plavras mas pelo teu contributo tantas vezes aqui escritas.
      Tu és além de amigo, um Homem de paixões pela nossa terra e que dos poucos que melhor honra os nossos antepassados. Nunca viras a cara à luta!
      Um abraço, amigo.

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    2. A actual vida social em Forninhos, fechou-me as portas à vivência a tempo inteiro na aldeia, apesar da minha residência oficial ser nela, não me revejo no ambiente que paira desde há uns anos atrás.
      Acredito na justiça, quer deste mundo, quer do além. Quem se meteu nelas, hade pagar por elas. Decidi optar, novamente, pela cidade mas não desistir, nunca, do que penso, ser melhor para Forninhos. A luta pela sua evolução, minha intenção.
      Mais uma vez parabéns a todos.

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  9. Boa noite Xico,
    Magnífico recordar aqui todos os temas que têm partilhado no vosso Blogue sobre usos e costumes de Forninhos e outros assuntos relacionados com a vossa aldeia. Tenho saído daqui mais enriquecida e ao mesmo tempo têm-me ajudado a recuar no tempo e a reacender as minhas memórias no que respeita às minhas origens.
    Bem-hajam!
    Continuação de boa semana.
    Beijinhos,
    Ailime

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  10. O bem-haja vai para si, Ailime pelo seu carinho e força, pelas suas palavras e vivências de uma infancia partilhada de recordações avoengas, lindas...
    E que mal tem recordar o passado que foi real perante o mistério do futuro?
    A minha amiga está numa casa que também lhe pertence eportal equando lhe aprouver, sirva-se dela!
    Beijinho.

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