Hoje trago mais umas cantigas da minha terra. Desta vez: as de embalar...
Uma cantiga ou canção de embalar é uma cantiga que as mães, avós, ou as amas canta(va)m aos bébés para os fazerem dormir mais depressa. A cantiga de embalar tem a particularidade de ser uma melodia calma e com ritmo lento que convida a adormecer. As que as mães e avós de Forninhos cantavam vezes sem conta são "dorme, dorme meu menino", "rouxinol de bico preto", "Ó papão vai-te embora...".
Aqui ficam para recordar:
Dorme dorme meu menino
Qu'a mãezinha logo vem
Foi lavar os teus coirinhos
À fontinha de Belém.
Rouxinol de bico preto
Deixa a baga do loureiro
Deixa dormir o menino
Que está no soninho primeiro
Ó papão vai-te embora
Vai p'ra cima do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.
As noites eram escuras como o breu, às vezes ruidosas pelas rajadas do vento que vinha dos lados de Trancoso, pelo piar das corujas, pelo latir dos cães, pelo ranger das portas das casas velhas que batiam com o vento, pela escuridão das entradas dos pátios...por isso a criançada acreditava mesmo no papão. Mas antes de nós os adultos já acreditavam. Não podemos esquecer que no pós-guerra, na nossa terra, o que predominava era a superstição e os mitos.
Lindas e tão tocantes essas cantigas...
ResponderEliminarVim deixar um beijo, volto em janeiro! Encerro antes o ano nos blogs pra receber nosso filho de longe! bjs, chica, boas festas,bem abençoadas!
Lindas...e ainda hoje são únicas, na forma como podem embalar e comunicar o nosso afecto.
EliminarDeve estar desejosa que chegue o dia. Aproveite bastante e que haja por aí muita felicidade e alegria.
Boas Festas...até 2017.
Rezavaa sabedoria popular:
ResponderEliminar" Quem tiver filhos pequenos
Sempre lhe deve cantar
Quantas vezes a mãe canta
Com vontade de chorar...".
E era verdade, davam de mamar manhã cedo ainda a lua não se tinha posto e navegavam para a lavoura dos campos, a "vida"(trabalho) como diziam, era muita e àrdua, um dia inteiro.
Estando os lameiros perto, vinham a casa numa correria dar a mamada do meio dia, tal não fossea avó ou alguma amiga a levava embrulhada ao seu encontro.
Restava tão pouco tempo para a noite ficar dia e aquele amor da criança que embalava nos braços ao redor do último tição da fogueira,sonolenta e moída que nem uma moira de trabalho, ainda soltava uma canção de embalar, tantas vezes entremeadas com um supetão de lágrimas, antesde o levar para a cama para adormecer e depois o deitar no berço, o nosso, de mim falo, feito em boa madeira pelo tio António Carau. Ali e apesar de cansada, a mãe ainda cantarolava parte destas cantigas antigas...
Mal saído do berço, veio a minha irmã a seguir ocupar o meu lugar e passei a dormir com a minha avó no quarto de dentro. Lembro de que rezava sempre ao deitar e me adormecia no canto da cama encostado à parede para não caír.
Não me lembro dos embalos, mas diz a minha mãe que por norma acabava com:
"O meu menino tem sono
Tem soninho quer dormir
Tragam os anjos do céu
Roupinha para o cobrir".
Gostei muito, Paula.
Foi bom recordar...
É verdade. Quantas vezes cantavam com vontade de chorar!
EliminarAs mulheres, as nossas mães, eram verdadeiras heroínas: em casa tratavam da família, desde o comer à roupa e à limpeza; junto da casa tratavam do 'vivo'; no campo tratavam das hortas, e a regar, e a arrancar batatas, as cebolas, a sachar aqueles terrenos todos e…e…
Dizes que foi bom recordar...
Eu como gosto muito de recordar e como cada terra tem as suas e as de Forninhos são as mais bonitas de todas (é o que eu acho, claro), quis por isso recordar as cantigas de embalar que em Forninhos mais se cantavam e que não quero que se percam. Podem dizer que são iguais às que existem em todas as regiões, são, mas diferem de umas para as outras! Além de que hoje andam esquecidas, pelo menos há +ou- meia dúzia de anos lembro-me de algumas mulheres/mães cantar músicas de embalar de uma letra de uma canção mais actual, como: "Está na hora da caminha, vamos lá dormir...".
Bem interessante a cantiga! Tanto carinho expressado nesses momentos de ninar...
ResponderEliminarUm abraço grande neste sábado... MUITA PAZ E SAÚDE...
São três cantigas, Anete, cantadas ao ritmo do batimento cardíaco da criança, por isso, para ninar os seus netinhos pode escolher as letras que a música vem sempre do coração.
EliminarBeijinhos.
.....
ResponderEliminarContava minha mãe que um senhor "inglês grande", se refugiou da guerra no nosso lugar. Habitou a casa que minha avó Maria viria a comprar com o dinheiro que meu avô João de Gouveia mandava do Curaçao.( Venezuela ) .
Minha mãe tinha medo do homem . Rondava a casa . Não percebia
porque dela teve de sair ?
Minha avó mandava o senhor embora . Mas o senhor voltava .Com oito , dez anos , as noites de minha Mãe eram de medo.
Tinha terminado a guerra . A Segunda Guerra. A miséria era muita . A emigração em massa tinha começado . Os Madeirenses procuravam a sorte na Venezuela e Africa do Sul.
O porto do Funchal era a primeira escala , estratégica , para
a " descoberta" de outros lugares.
O senhor inglês deixou de aparecer. Fez uma gruta com mais de
10 metros de profundidade , para se refugiar. A poucos metros do lugar onde eu nasci, num terreno propriedade , então , dos Blandy , familia poderosa inglesa que nos finais no Sec XVIII se fixou na Peróla do Atlântico.
A gruta permaneceu intacta até á minha infãncia . Eu e o meu amigo João Jardim , um dia decidimos explorá-la . Arranjámos uma tocha ( a luz do lume abriu - nos o caminho ) . Tinha um banco cavado na terra a centímetros acima do chão .
Uma reentrância,especie de hall de entrada e depois uma recta de alguns metros.
O fumo não nos permitiu permanecer por muito tempo....
Passei noites a pensar naquela figura " mítica "que perturbou
tanto as noites de minha Mãe !
Hoje naquele lugar existe uma Capela " da Boa Esperança" de seu nome, onde minha Mãe foi catequista até morrer com cancro da mama em 2004.
Adormecer não foi fácil noutros tempos. No meu caso a retrete era a 20 metros da porta de casa e com frio, nada como o de Forninhos, não era fácil...
Com a televisão a preto e branco , veio a novela " Escrava Isaura " , o " Senhor Feliz e Senhor Contente" , meu pai fez obras com dinheiro emprestado pelo patrão Mário Albuquerque e adormecer começou a ser coisa menos complicada e confortante. Finalmente por volta dos 10 anos já pude tomar banho pausado deitado na banheira para " pânico " das minhas irmâs á espera de vez !!
Pouco depois veio a tormento da Guerra em África que também tocou á minha familia..outras noites a pensar nos que partiam
para nunca voltar !
Sem nada disto agora não se dorme por futilidades e estupidez
como é o caso das cerca de 700 crianças que ficaram sem ver o pai este ano por causa dos divórcios dos pais ! A vergonha continua sem ser julgada . Um nojo !!
O Mundo não para de arranjar " cantigas de embalar " bem mais amargas que as doce " cantigas " deste post .
Abr
MG
A má formação aliada à sede de vingança faz destas coisas e o pior é que confudem o cérebro das crianças.
EliminarAbraço.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarUm artigo muito terno e autêntico que posso confirmar;))!!
Sim, porque nas aldeias havia todos esses ruídos e ainda me recordo do pânico que sofria durante a noite, quase sempre sem dormir e das dores de cabeça consequentes pela manhã.
Gostei de conhecer as canções de embalar que eram entoadas pelas mães e avós de Forninhos. São lindas!
Não me recordo de cantigas de embalar dessa época na minha aldeia nem de a minha mãe ter o hábito de cantarolar fosse o que fosse.
Ainda sobre os ruídos da noite, quando nos mudámos para estes lados, com enorme desgosto nos meus treze anos, lembro-me de ter pensado na época de que pelo menos não havia ruído tendo passado a dormir bem. Os papões tinham ficado lá longe…
Estórias de Forninhos que mais uma vez reavivaram as minhas!
Resto de bom domingo e excelente semana.
Beijinhos,
Ailime
Os ruídos do vento,os medos fictícios da escuridão alicerçados em patranhas inventadas, papões, feiticeiras, lobisomens, mulas sem cabeça, almas de outro mundo e histórias afins, faziam com que as crianças mergulhassem a cabeça nas pesadas mantas da cama.
EliminarAh! E para a trama ser completa não faltavam os locais concretos, com fama de aparecimentos macabros...Em Forninhos o local predilecto era o denominado "Carvalho da Cruz".
Ailime, acho que o que durante a infância se viveu numa aldeia nunca mais se esquece. Depois vem-se para a cidade e são outros os ruídos e papões.
Bom fim de semana.
Beijinhos.
Embalavam as mães, as avós e então os irmãos mais velhos?
ResponderEliminarEra o castigo de ficar de "plantão" a baloiçar o berço durante o dia, apesar da gana da brincadeira lá fora. Ecomo calar aquela garganta berrante a não ser com açucar no nó de pano...
Bolsavam aflitos,sabia porventura a gente do quê e cantavamos o dorme meu menino que a mãezinha logo vem...
Qual lavar os cueirinhos, andavam pelos montes a lavrar e semear o centeio. E a gente pequena fazia jogos com amana mais nova.
Pegávamos nas sua maos e mexiamos devagarinho num bailado que soltava sorrisos e gargalhadas parvas de alguém borrado até às orelhas e que não sabiamos mudar.
As mudas eram de pano, fraldas que no inverno quase nem secavam.
O jeito era pouco, pois mesmo nós cheirávamos a cueiros.
Masa gente ajeitva a coisa com o dorme meu menino e quando tal nao resultava, lá vinha, olha o bicho papão.
Depois sobrava para a gente, por não sabermos cantar.
Aí jáeratarde, estavamos quasea dormir e oque viesse, pouco importava.
Que ele cresça depressa e que nos deixe em paz.
Claro que sim, os irmãos mais velhos tratavam dos mais novos e também trabalhavam em casa e no campo, logo desde os verdes anos pois, como dizia o provérbio "o trabalho do menino é pouco, mas quem o perde é louco".
EliminarMas nem tudo era mau, também havia mimos e momentos bons na vida de um garoto que tinha de baloiçar o berço. Um ovo estrelado num quarto-de-trigo, os jogos de futebol e outros da infância, o poder tocar a matraca na Quaresma, a festa de Nossa Senhora dos Verdes...
Naquela linda manhã
ResponderEliminarestava a brincar no jardim
a certa altura a mamã
Chamou-me e disse-me, assim
Não brinques só a correr
Tropeças sem querer, se cais ficas mal
e..........
Era uma vez um cavalo que andava num lindo carrocel
Tinha orelhas altivas e usava lacinhos de papel
A galope a saltar, corre, corre cavalinho sem parar.
Acho que toda a gente conhece estas cantigas de hoje, que canto à minha neta,à noite e à tarde, quando ela diz que vai descansar um bocadinho mas quer que o avô esteja com ela. Dias de hoje mas, na minha infância, me recordo de minha mãe me levar com ela para tomar conta de meu irmão mais novo (na altura, José António),quando ia sachar milho e lhe tinha que dar a mama.
Canções de embalar, antigas, me recordo da primeira, dorme dorme meu menino, a mais frequente ma minha infância.
É bom recordar, e recordei. Obrigado e parabéns Paula, bom começo para o oitavo.
Pois, quem não ouviu ao menos uma destas quando era criança?
EliminarSe dantes imperava a rispidez nas atitudes e nos sentimentos, havia muito amor, mas poucos afagos, hoje já não é assim, penso que os netos de Forninhos conhecem bem a doçura e a "bichinha-gata" da ternura civilizada.
Para ti, avô que és, que participas na educação da tua neta e nas brincadeiras, os meus sinceros parabéns!
Bom fim de semana!
Olá, Xico!
ResponderEliminarMuito interessante essa viagem à memória dos costumes.
Beijinhos
E à emoção das descrições da vida antiga e da simplicidade das famílias de Forninhos.
EliminarHistorias e cantigas que me embalaram, como foi bom recordar.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Recordar é viver!
EliminarUm abraço.
É mesmo minha amiga.
EliminarUm abraço.
Não conhecia esta mas eu adorava inventar letras com o som do embalar...para os meus filhos adormecerem!
ResponderEliminarA nostalgia tocou meu coração!
Obrigada pela partilha...bj
É, a nostalgia desperta dentro de nós :-))
EliminarBeijinhos.
Boa semana e bj
EliminarPor aqui há novidades:
https://mgpl1957.blogspot.pt/2016/11/olhares-e-pensamentos-outonais.html
Conheço essa canção de embalar. A minha avó materna falou-nos nela e cantava-a.
ResponderEliminarTenho pena de não ter crescido na minha aldeia com suas tradições.
Beijinhos.
Reconheço que os privilégios de quem viveu na aldeia são diferentes de quem vivia na cidade.
EliminarBeijinhos.
Oi Paula, eu lembrei agora de como eu gostava de cantar(mesmo sem boa voz) cantigas de ninar para os meus filhos, tinha uma que era a preferida " Desce gatinho de cima do telhado pra se o (dizia o nome do filhote)dorme um sono sossegado"
ResponderEliminarAdorei lembrar, beijos.
Obrigada Fátima pela 'sua' cantiga de ninar.
EliminarDeixe que lhe diga que sempre é mais bonitinho um gatinho no telhado do que o papão da cantiga popular de Portugal!
Beijos&Abraço.
Minha neta tem sete anos. fui eu que a criei até que foi para a escola. Ela gostava imenso de ouvir cantar o papão e quando cantava outra coisa. Então para não estar a cantar sempre o mesmo eu is fazendo novas quadras invertendo os versos.
ResponderEliminarPor exemplo
Ó papão vai-te embora
Vai p'ra cima do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.
De cima deste telhado
o papão vai a fugir
Um soninho descansado
a menina vai dormir
A menina vai dormir
Um soninho descansado
de cima deste telhado
O papão vai fugir
E por aí fora. Estava sempre a cantar o mesmo mas ia alternando os versos até ela adormecer.
Um abraço
Decerto a sua neta levada pela melodia e variação da rima, adormecia mais depressa.
EliminarUm abraço.
Tive a sorte de ter tido duas avós amigas e carinhosas...
ResponderEliminarA de cima a do Oiteiro, paterna e porventura mais rica, tentava a seu modo que me sentisse feliz e por tal me dava uns trocos depois da janta domingueira.
Mas eu dormia cá por baixo da ladeira, na zona do ribeiro...
Dos montes, o ribeiro que inundava os lameiros, os bichos que esta outra avó,a do ribeiro me encostava no peito para perder medos e afinal "quem tem medo do lobo mau...". mas a gente tinha, nao fora a gente tantas vezes ter ouvido as suas "matracas".
E,dizem que no outro dia, depois da tempestade, a avó de cima perguntava para a debaixo como as coisas tinham corrido...
Escorregava a de cima ao encontro da de baixo em camadas de neve fresca.
Tolas e amorosas estas minhas avós!
Meias atordoadas, faziam uma fogueira enorne e cantavam o "meu menino"...
Tudo isto enquanto o meu pai acomodava as vacas e a minha mãe o resto do ganau...
E elas cantavam embalos, já meio reloucadas, no bom sentido!
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ResponderEliminar.....
Estou cada vez mais convencido que somos sempre o resultado de factores diversos : o nosso percurso de vida , as opções , as escolhas,os amigos e os casamentos que fazemos/desfazemos
vão - nos moldando a nossa postura e personalidade.
Mas os avós são algo que nos marca para sempre. Ainda hoje é assim. As crianças querem muito os avós ! O arroz de caril e o empadão da avó é sempre melhor que a sopa e a canja da mãe.
Aquilo que me dá uma tranquilidade tremenda foi a forma como no pior período da minha vida ,escolhi a minha avó Bela, como
" refúgio"para recuar ao passado ,em visitas,sempre ao Sábado
ás vezes curtas mas saborosas.Não foi uma mulher de consensos
mas " criou" cinco filhos,nos tempos dificeis que 35/55,viveu
a 2 Guerra Mundial , a Ditadura , as "birras" do meu avô num
casamento que ultrapssou as Bodas de Ouro,que comemorámos num momento único e inesquecivel.Ficou viúva em 1988, em Outubro, e,morre tranquilamente aos 95 anos , em Abril de 2009, uma semana depois de minha última visita em que me perguntou pelo meu trabalho , pelo meu carro e pelos meus filhos.
Teve uma velhice de " luxo". Acarinhada e sempre bem tratada.
Dos vários netos, eu atingi um target de visitas assinalável apesar de ter vivido longe durante 17 anos...
Este blog , " de embalar ", faz-me reflectir o que fui eu e os meus avós e dá-me uma tranquilidade positiva pensar que sem grandes meios económicos e muita humildade ,nunca mataram ou esfolaram os vizinhos para sobreviver !
Posso perfeitamente dizer obrigado aos meus avós pela semente
que hoje aqui testemunho , semente que me tem alimentado nas
várias etapas da minha vida !
Amanhã ,"avó" Mila,beirã de gema ,tem arroz de caril á espera
Eu revejo-me nestas relações, num Mundo cada vez mais cruel e
dividido !
Obrigado avós ...que nos embalaram para a Vida !!
Abr
MG