Gosto imenso de coisas antigas e marcantes, coisas que nos tocam, tal como a boina conhecida por basca, mas em Forninhos por boina à espanhola. A sua história está disseminada pela Península Ibérica de modo bravo ou romanceado, mas terá porventura chegado à nossa terra por volta dos anos sessenta, altura do primeiro surto migratório.
A boina, era um adereço relevante dos "passadores" espanhóis bascos, que tal usavam para passarem os "engajados" portugueses pelos Pirineus a "salto" para França.
Nem todos conseguiam a "travessia" e do fracasso faziam redobrar a esperança para novas tentativas, deixando na terra a "moda" da boina dos seus guias como reconhecimento de bravura...a moda pegou e o que começou por ser moda, tornou-se em mais uma componente de identidade e por tal não morrer no esquecimento.
A boina à espanhola, era preta com um espigo na corôa, forrada a seda ou coisa parecida, sendo que meio século atrás, na Feira Nova ou em Trancoso, o seu custo rondava os 5$00 (cinco escudos), dizem os mais antigos. Porventura caras, até porque tinha de vir mais um par de alpercatas, porque para trás ficavam os muito mais baratos carapuços altos e quentes, mas grosseiros para os mais velhos e a eles habituados desde sempre, bem como a imitação da boina espanhola sem fôrro ou as boinitas com pala que embora frias botavam figura nas festarolas.
Tive várias, segundo me diz a minha mãe.António Carau |
Eu e tantos outros da minha idade, mas pela simples razão de sermos uns "corrécios" "bandoleiros", uma tribo de tal não posso esquecer "ladrões" que de vez em quando pilhava o que estava à mão de semear e tudo entrava na boina. Traquinices que as nossas mães mais valia não verem sob pena de haver arrelia séria e por tal muitas vezes as lavávamos no rio e secavam penduradas nos amieiros para estarem lavadinhas para na manhã seguinte estarem dependuradas na nossa mão e louvarmos como imposta mocidade portuguesa, o tirano do Salazar.
Mas também não posso esquecer o meu pai e outros: tio Carau, tio Guerrilha, tio Zé Lopes, tio Forra ...que nas lides da lavoura e mesmo por detrás da rabiça do arado, não a despegavam da cabeça, a não ser aos domingos e dias de festa em que imperava o chapéu; já os rapazotes usavam-na como sedução das raparigas quando a usavam tipo rufia, gingão e malandro em alguns casamentos à espanhola...
Que lindas fotos e as boinas são charmosas e as meninas gostavam de ver, na certa! abração,chica
ResponderEliminarSem dúvida que as menina gostavam e não se ficavam atrás, emolduradas na cabeça com os seu lindos lenços floridos.
EliminarAbraço, Chica.
Meu avô paterno não dispensava a boina!!!
ResponderEliminarObrigada por dar a conhecer sua história!!!
Bj
O meu avò paterno que ainda conheci, não recordo de usar a boina, tirando no tempo mais frio e pela noitinha, aquele carapuço grande e quente, no resto era o seu estimado chapéu negro, sempre imaculado.
EliminarO meu pai sim, sempre de boina espanhola na cabeça, tirando os dias solenes em que reinava o chapéu.
Obrigado eu pela sua presença.
Olá, Xico ! Estive ha pouco em Pamplona onde a boina ainda impera associada ao traje folclórico.
ResponderEliminarBom fim de semana
Beijo
Boa tarde Nina, não fosse esta boina também conhecida por basca entre nós e curiosamente ainda também se ir por cá vendo como um adereço folclórico.
EliminarBeijo.
As boinas à espanhola vinham de Espanha, e para além da boina vinham as alpercatas e outros bens de que todos se lembrarão: rebuçados caramelos, chocolates, cacau, bacalhau...
ResponderEliminarJá aqui publicamos muitas fotografias do antigamente em que se vê os rapazes e rapazitos com essa boina e outras boinas e também chapéus, uma imagem que se perdeu nos confins do tempo…
De quem me lembro melhor é do meu tio António Carau, até morrer usou a sua boina à espanhola, às vezes andava com ela meio de lado, assim como vemos nas fotos do Che Guevara. Ficava-lhe muito bem e era a sua imagem de marca.
Falas dos carapuços altos e quentes dos mais velhos. Quem se lembra do tio Mosca, um homem castiço que usava um longo carapuço na cabeça que se prolongava até ao ombro? Eu não me lembro, mas ouvia falar do seu carapuço.
Eram outros tempos os da madrasta ditadura.
EliminarDe cá Salazar, do outro lado Franco, faces da mesma moeda em que os seus despojados de tudo, tentavam orientar a vida através do famoso contrabando, punido por lei, mas acolhido por todos na necessidade como dádiva divina no amenizar da miséria com bens que vinham de longe, do país Basco e que os galegos negociavam identificados com a imagem de marca, a boina.
Acabou aos poucos por ser adoptado o seu uso ao dia a dia dos nossos nativos, porventura ao início como modo revolucionário, mas com o tempo como adereço apropriado pela sua utilidade à vida dos camponeses.
Leve e cómoda, além de ter muito uso prático.
Para trás começaram de facto a ficar no esquecimento os tais carapuços compridos que descaíam pelo ombro, como o caso do ti Mosca a que te referes, tipo campino, mas artesanal e grosseiro, dos quais poucos se lembram, pois além deste senhor, havia o ti Luis Pègo e mais abaixo, na Quinta da Ponte, o ti Farèlo...
Certo é que a boina veio e ficou por muitos anos como uma obrigação na cabeça.
De miúdos a graúdos, ninguém andava com a cabeça a descoberto, não para tapar a careca, coisa rara, mas por ser saudável e prática para o que fosse.
Quem não lembra de ouvir dizer que "trouxe uma boina de figos, cachos ou cerejas"?
A mesma utilidade com que as mulheres traziam "arregaçadas" no lenço tirado da cabeça de coisas do campo.
Mas e desculpem, nada como pòr a boina de lado, à malandro, provocando um derriço ou uma bulha.
Coisas reais que se vão perdendo, infelizmente!
Sublinho: "... a boina veio e ficou por muitos anos como uma obrigação na cabeça.".
EliminarImagino que para os miúdos desse tempo era obrigatório ter boina como era ter caderno para levar para a escola e cantar o hino!
Comparas a boina ao lenço das mulheres, até há um provérbio que diz: “Pelo São Lourenço vai à vinha e enche o lenço”, mas também o avental de cote das mulheres servia de cesto para apanhar fruta, legumes, feijões...
Ao que o avental portava é que se lhe chamava uma arregaçada disto e daquilo. Acho eu.
Boa tarde Xico,
ResponderEliminarAdorei que tivesse trazido a boina como tema ao vosso Blogue com duas fotos muito interessantes a ilustrar a sua narrativa.
Não sabia a origem de tal adereço masculino (e mais tarde feminino tb)! Apenas que o meu avô materno e os da sua geração nascidos no inicio do século XX já a usavam! Os mais idosos nessa altura usavam barretes semelhantes aos do campinos do Ribatejo, mas escuros e grossos. O meu pai, vaidoso que era, também a usou para disfarçar a sua calvície. Mais tarde trocou-a por bonés;) que ainda hoje usa nos seus noventa anos.
Termino acrescentando que lá na aldeia a boina também era apelidada de mitra o que me levou agora a uma pequena investigação, sendo que é usada nas mais variadas religiões e daí talvez a origem do nome e pela forma como era colocada.
Desejo-lhe e à Paula um bom fim de semana.
Beijinhos,
Ailime
Curioso que o que aparenta ser um simples adereço, carrega com ele tanto das nossas raízes. Certo, amiga Ailime?
EliminarOs beirões da minha terra tinham as mesmas ganas das outras regiões, mas cada qual a seu modo e também foram "ratinhos", como aqui já se escreveu e por tal, traziam com eles costumes e modos, afinal passaram pelo ribatejo, alentejo e afins, afinal um acrescento de um mundo não visto ecujo impacto, deixava as gentes da aldeia perplexas...mais tarde, a "arquitectura" das casas dos emigrantes que do mesmo modo a traziam por bem.
Mas a boina ficou e foi adaptada para o dia a dia, ate se finar e décadas depois ressuscitar como moda de alta costura (coisa ciclica) e mirabolante.
O meu av^, não recordo de usar, o outro o materno, morreu era a minha mãe pequenina. Este o paterno, era aperaltado, senhor do seu chapéu, mas nas noites frias não prescendida do longo carapuço.
Agora não posso esquecer o meu pai e amigos mais próximos, quase todos vizinhos, que no descanso de um dia de labuta e ntre dois copos ao serão, um pouco "tocados", a punham de lado.
Como que pedindo licença para o dia seguinte e no levantar, a mesma era tirada da cabeça, sacudida no joelho e "santas noites para vomeçês...".
O sortilégio da boina...
Beijinhos, Ailime.
Xico, gostei de saber da boina, fotos muito boas!
ResponderEliminarTempos bem lembrados e narrados com o coração...
Abração
Olá Anete.
EliminarPor vezes fica difícil escrever coisas dos nossos, que de nossas pouco têm por as vivermos no resto das suas fraldas de memórias e as gentes que vão restando, poucas, vão no seus olhar esbatendo as mesmas.
Entre o "espera um bocadinho a ver se me lembro" aos poucos vai saindo qualquer coisa, mais outra e outra na altura a despropósito, mas que mais tarde encaixa perfeita noutras narrativas.
Pena que vai restando pouco tempo para registos temporais por parte de gentes de magnitude intemporal.
Bem haja a elas e um abraço para si.
A boina á espanhola na minha terra é usada pelos homens do peixe na praça , mercado....
ResponderEliminarMeus avós usaram chapéus , meu pai e tios já nada usaram...
Uma vénia a esta temática e ao homem que eterniza a boina á espanhola até aos nossos dias...Vitorino , um cantor de intervenção que vi actuar na Homenagem a Adriano Correia de Oliveia na Aula Magna em 2011....
Abr
MG
Boa noite António.
EliminarA boina veio como tantos outros temas a "talho de foice" pelo simples facto de com ela carregar muito da identidade das nossas terras e da qual Forninhos não passou ao lado...
Usada por necessidade e por vezes com vaidade, valia tanto como umas calças ou tamancos nos pés.
Curioso que aquando o toque das trindades, não havia rico ou pobre que a tirasse da cabeça em sinal de respeito, até mesmo para dar a salvação aos vizinhos.
O chapéu "abafou" um pouco o seu uso, talvez por mais estiloso ou gosto, pois como diz, o Vitorino não a larga, mas o Janita seu irmão, prima pelo seu belo chapéu.
Um abraço amigo.
Gostei de ler este belo texto sobre esta boina que infelizmente caiu em desuso e que em tempos também foi muito usada por intelectuais.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Confesso amigo Francisco que em miúdo duas coisas não podiam faltar na fardápia da indumentária, a boina e a atiradeira no bolso detrás do calção.
EliminarA boina era o tecto conde se escondiam segredos por debaixo dela, porventura como uma praia recôndita e perdida na travessia de chegarmos a casa e contar os figos roubados, peixes apanhados e quejandos...
Qual o motivo de os mais famosos pintores, criarem o seu pessoal clima e arte vindo do cocuruto da boina?
Um abraço.
Muito interessante. Aqui na minha zona, era muito raro ver-se alguma. E chamavam-lhe boina à Che.
ResponderEliminarAbraço
Interessante Elvira pois também tive uma do Ché!
EliminarAs outras eram para o diário da juventude, mas "aquela" do 1º de Maio em Lisboa (o primeiro em liberdade), foi diferente...
Mais um conto maravilhoso que tiraste do teu baú de recordações.
ResponderEliminarA única boina que usei foi a de escuteira.
Beijinhos.
Pedaços de vida que julgamos apenas nossas, mas que partilhadas nos permitem ver coisas tão parecidas.
Eliminarem me lembrava da boina dos esscuteiros e que me desculpem estes pois foi uma experiência excelente usar aquela boina mais ainda quando era o chefe da patrulha Lobo em Gouveia, serra da estrela.
Agora e depois deste tema, alguem me tem uma guardada, daquelas antigas...
Beijinho.
"...Pedaços de vida..."
ResponderEliminarCruzei-me por mera coincidência da vida com um cabo-verdiano
com idade de ser meu avô , em Vale Figueira , onde vive e tem
um quintal replecto de arvóres de fruta comuns ás nossas ilhas e países.......fomos " bater" ás amarguras do tempo do "Tarrafal"- a mais "negra" página recente da nossa História -
Tinha acabado de visitar o "Forte da Graça",em Elvas, onde os presos politicos eram colocados em alas estreitas e escuras,
ponham-nos a transportar água do fundo do vale e chegados ao cimo a água ia fora e toca a descer para buscar " outra carrada de sofrimento " .....
De bonés nada !!! Apenas " um pedaço de vida " para recordar que , noutro tempo , meu pai dizia ao meu avô :" ...sua benção , pai !!! " e este tirava-lhe o chapéu ...
Eram assim os reencontros.....
Desde então atê hoje os "pedaços de vida" são diferentes para o bem e para o mal ....
Abr
MG