Foi no início do ano de 2010 que escrevi que nos meados do século passado nas aldeias do interior a população alimentava-se com o que a terra produzia e dos derivados do cevado, assim era designado o porco destinado à matação; e a partir daí dediquei-me a vários aspectos da vida aldeã dos anos 50/60.
Hoje deu-me para fazer um 'post' sobre o peixe que se comia, para além do fiel amigo, o bacalhau, sempre presente na ceia de Natal, e no jantar (= almoço) e merendas das ceifas ou malhas e vindimas.
Família do falecido ti Luís Moreira, conhecida por 'Pissoto' |
Na aldeia de Forninhos era a sardinha o peixe que mais se comia. É certo que por compra também se obtinha o chicharro, mas o peixe fresco que mais aparecia na terra era a sardinha grande e pequenina.
Digo fresco, porque já sou do tempo em que a caixa trazia a sardinha com umas pedras de gelo por cima, mas boa parte das vezes acho que já chegava ardida, mas ardida ou não, comia-se! Dizem que uma sardinha chegava a dar para três, um comia o rabo, outro o meio e o terceiro a cabeça. Pensava eu que era porque não havia dinheiro para comprar sardinhas para todos, mas hoje acho que tal devia-se ao racionamento, originado pela falta de produtos aquando da II Guerra Mundial e que por causa disso os portugueses sofreram com a falta de alimentos, especialmente para a sua alimentação. Tempos difíceis a que os de agora, ainda que de crise, não se lhes assemelham!
Quanto a peixes mesmo frescos, lá havia um ou outro pescador-amador que apanhava umas bogas e uns barbos no rio, ribeira ou ribeiros, mas estar horas a fio a olhar para a minhoca acho que não dava comida a muitos.
Quando esvaziavam algum açude para reparação (e dos muitos existentes havia sempre um a necessitar dela) é que lá ia um magote de rapazes e homens apanhar peixes. Nesse dia, sim, dava comida a muitos.
Normalmente quando queriam peixe do rio, usavam práticas ilegais: deitavam imbude no rio ou ribeiro e aguardavam que os peixes viessem ao de cima, atordoados ou mortos. Outra prática criminosa consistia em deitarem uma bomba de algum foguete guardado do Espírito Santo ou do Santo António dos Valagotes atada a uma pedrita para ir ao fundo. Escolhiam o local onde haviam visto peixes e pum(!) lá vinham uns peixitos ao de cima, mas esta prática usada por alguns, era perigosa!
Fora este modo de os arranjar, só por compra se obtinham. É de notar porém que foram encontradas enguias nas águas do nosso rio e ribeiros. O resto dos peixes eram para os lisboetas e C.ª.
E de repetente ao fazer este 'post' lembrei-me dum trecho do livro O Homem que Matou o Diabo do Aquilino Ribeiro, homem da província e conhecedor do saber popular, mas também intelectual das urbes, no qual retrata uma viagem pelo Portugal rural, de uns janotas à nossa Beira, que carregados de fome aportaram na Ponte do Abade e lançaram ao que havia ao dispôr. A medo, perguntaram à vendeira (mulher da taberna) - "Que há de almoçar?".
"E ali que tem?", apontando uma terrina desasada. "Peixes cá do corgo, mas nem lhos ofereço que são amanhados à nossa moda e as senhoras não gostam". "Deixe ver..." Provámos; era uma deliciosa calda de escabeche, gorda e profunda como cheia do Nilo, que afogava uma boa dúzia de trutas, esses extraordinários salmonídeos que pediram casaca aos marqueses de Luís XIV, para serem janotas da água doce, e o sabor ao jantar dos deuses para não ir nada igual à mesa de gulosos.
A medo provaram o petisco, pensando em apenas matar a fome, que de outro modo não tocariam em comida assim disposta. Só que quando o pitéu lhes roçou as papilas gustativas, deixaram-se de brios e emborcaram sofregamente o que havia, como se acabassem de descobrir a melhor maravilha do mundo".
O texto do Aquilino Ribeiro é extraordinário como não podia deixar de ser escrito por ele, além de uma sátira demonstra muito bem como se vivia e o que era a gastronomia nessas terras "perdidas" de Portugal.
ResponderEliminarUm belo trabalho minha amiga.
Um abraço e um bom Domingo.
E ao mesmo tempo Aquilino mostrou que o interior beirão não era assim tão atrasado. Afinal ali estavam as trutas de escabeche da taberna, confeccionadas à moda popular, para demonstrar como o saber antigo consegue melhor delícia que os pratos servidos nos restaurantes e hotéis das cidades.
EliminarAbraço e bom resto de Domingo.
Lindo post, Paula! Gostei do assunto e de ver detalhes e fotos tão legais...
ResponderEliminarBacalhau?! Hum, depois de um mês que retornamos, ainda falamos demais dos pratos gostosos de Bacalhau daí...
Dividia-se a Sardinha em três! Caramba!!
Beijinhos e bom domingo...
Talvez tenha exagerado e dividiam-na por dois.
EliminarQuanto ao bacalhau, diz a história que foi introduzido na alimentação inicialmente pelos portugueses, que o descobriram no século XV, época das grandes navegações. Desde então faz parte da mesa dos portugueses.
Beijinhos.
Olá, Paula.
ResponderEliminarBoa postagem a nos trazer mais um pouco da História do povo que não se aprende nos livros, mas no conhecimento da vivência das gentes.
Essa de dividir a sardinha, também a conheço, mas noutra "versão", não sei se devido ao tamanho da dita, que não desse para mais, por cá dividiam-na por dois =)
Mas, se me permite, não julgo que ainda fosse resquício do racionamento da Segunda Guerra, mas sim do estado de pobreza de uma grande parte do povo, numa época em que não se tinha direito a nada, senão a trabalho. Ainda hoje, podemos ouvir da boca dos mais velhos, relatos de criarem os filhos, num país de inverno rigoroso, de pés no chão e os levarem, pequenos ainda, com cerca de seis anos, para ajudarem nas fábricas - aqui no Norte, nas antigas cordoarias, que prosperavam - a "virar a roda" para assedar o sisal e torcer a fiação.
Sou filha de um homem que conheceu o trabalho de gente grande em tanoaria aos nove anos de idade, imagine-se! E neta de um outro homem - meu avô materno - que aceitava, e era estimado por isso (pois que rendia mais uns míseros trocos), que as funcionárias da cordoaria levassem os filhos para trabalhar a virar a tal roda, a ajudar a desfiar o sisal, e outras lidas "menores".
Enfim... vidas duras demais, a de algumas gentes do nosso povo.
um bj amg
Olá Carmem.
EliminarEssa da sardinha dividida em três, talvez seja exagero da geração adulta do tempo em que eu era criança. Às vezes duplicam as coisas para percebermos melhor o estado de pobreza de uma grande parte do povo, como bem disse.
Falei do racionamento porque Portugal exportava para a Alemanha e para a Inglaterra uma determinada quota de pescado e eu sempre pensei que a sardinha era divida porque não havia dinheiro para nada, mas hoje sei que se juntava tudo numa só década e tudo junto, deu uma situação de penúria total com as pessoas a terem de se defender com esquemas, cada um como podia. Numa venda de Forninhos, sei que era vendido na socapa um rabo de bacalhau a quem levasse 'x' litros de petróleo.
Devia ter escrito isto no texto também.
Mas muito obrigada pelo grande comentário que aqui deixa envio um bjo amigo tb.
Na segunda metade do seculo passado, a figura da sardinheira era tao popular como a mulher do correio, uma com a caixa da sardinha e chicharro na cabeca, a outro com o saco das cartas e encomendas ao ombro. Ambas calcorreavam quilometros a pe.
ResponderEliminarMas fiquemos pela primeira que madrugada ainda, acarretava a caixa de pinho na cabeca depois de a ter ido buscar aos peixeiros que no caso de Forninhos a traziam da Nazare ou Matosinhos. Compravam ao cento e por norma vendiam tendo por base o quarteirao, andadando de porta em porta e a quem menos podia, era vendida aos pares, sendo que no desempate a ultima era para o "bicho". Havia quem tivesse inveja do negocio e por tal o ditado "A sardinheira vende sardinha e come galinha...".
Hoje a coisa esta moderna, ou vem o Julio ou a mulher em carrinha frigorifica, Quim Barreiros a cantar no altifalante e balanca electronica a pesar. Com gramas, pois issso do quarteirao, ja foi!
Traziam da grande e da pequena, mais o chicharro que era vendido ao par por cinco coroas (dois mil reis e quinhentos) e que fazia um belo petisco que aguentava dias, regado por um bom molho de escabeche num prato fundo de esmalte, religiosamente guardado nas gavetas da masseira, tal como a sardinha mais pequena que embora fosse pouca, o molho valorizava as batatas.
A grande, sardinha avantajada, em casa pobre, uma dava para tres garotos e nas mais remediadas para dois. Se num dia tocava a parte da cabeca, quando voltasse a sardinha tinha o regalo do rabo. Hoje a cabeca fica na beira do prato, com espinhas...
E era este o peixe de mar, alem do "fiel amigo" que se comia frito ou guisado e cru, tanta vez que preenchiam a toalha estendida no chao, aquando as ceifas, vindimas e varejas.
Quando a sardinheira nao conseguia "despachar" todo o peixe, vinha o grito (aqui recordo a tia Isaura que sempre me dava duas ou tres sardinhas pequenas que comia cruas, ainda hoje..) "Quem me acaba o resto!".
E por norma o "resto" ia a troco de um litro de cereal ou algo que fosse preciso.
Adiante falarei do peixe do rio, sendo que agora ia bem uma espetada de enguias!
Pois, se vinha da Nazaré, Matosinhos ou Figueira da Foz, com poderia chegar fresco o peixe?
EliminarEu já me lembro ver a sardinha com gelo, mas ouvi pessoas mais velhas que me disseram que dantes chegava a Forninhos só com sal.
Não sei como chegava a sardinha e o chicharro à nossa terra (também não fui saber), mas com certeza não vinha directamente da Nazaré ou Figueira, até chegar ao destino era trasladada mais que uma vez.
O bacalhau sei que era trazido pelos almocreves, mas como a "monografia" de Forninhos refere o ofício de almocreve fui agora mesmo ler sobre...e leio que "A Forninhos, os almocreves traziam sal, sardinhas, bacalhau, tecidos e até petróelo.". Não sei. Custa-me a acreditar que traziam sardinhas, mas...
Sei que houve outras sardinheiras em Forninhos, mas de quem me lembro melhor é da tia Isaura e daquilo que ainda presenciei posso dizer que toda a gente gostava de comprar-lhe sardinha, era uma pessoa muito generosa, quando media o quarteirão metia sempre mais umas poucas.
Boa noite*
Saber da história e das histórias daí é sempre interessante.Adoro bacalhau e adoro sardinhas. Gostei de ler todos os detalhes por aqui e o prato, apetitoso! bjs, chica
ResponderEliminarObrigada, Chica.
EliminarGosto de mostrar o que vou conseguindo e de escrever sobre o que me lembra.
Bjs/boa semana.
Do peixe do rio que se ia comendo, resta pouco mais que o recordar...
ResponderEliminarAinda em Agosto passado e porventura por saudade, percorri desde o cimo de Cabreira, sozinho e com uma pequena "pesca" de mochila e licenca dentro, tudo aquilo ate passar a “Ponte da Carriça”. Palmilhei e vasculhei cada recanto e peixes nada! Aguas paradas.
Se iniciei a viagem pelo açude de Cabreira, foi por motivos sentimentais pois naquele lameiro dos meus avos, uma regada como se dizia, grande e produtiva em que se andava um dia inteiro a tratar, primeiro de regadio e mais tarde com motor de rega. Dois ainda existem, um Clinton vermelho e um esverdeado, o Pachancho.
Por esta altura, as vacas junguidas de madrugada,acarretavam as mangueirase e o mais que fosse para um dia de tarefa e que no meio da manha se resguardavam na sombra de uma oliveira meia derreada sobre um arreto, sempre batendo com o rabo para sacudir as moscas e moscardos.
Entretanto, o unico barulho era soltado pelo sincronizado (quando nao engasgava) do trabalhar do motor de rega.
Havia a pausa para a "janta" a que os alfacinhas "armados" em senhores, chamavam de almoco.
Era depois disso e enquanto o meu querido pai se estendia sob a fresca sombra dos amieiros, as mesmas que tinham recebido o aroma da batata cozida e umas postas de bacalhao numa panela de ferro montada no meio da areia, que se ia apanhar algum peixito.
Ou simplesmente com as maos, naquelas lorcas de raizes ou pedregulhos em que uma mao tapava por instinto uma parte e a outra vasculhava e sentindo por dntro a "revolta" Deus nos acuda! Eram barbos por todo o lado sem maos a medir. Fosse nos dentes ou por dentro das cuecas ou para o meio do milho.
Com a ribeira mais seca, servia o embude, o cannabis do peixe que os atordoava nos pequenos bocados de agua. Ficava a marinar depois de esmado o tuberculo de um dia para o outro, depois era deitar com a agua retida, chafurdar, aguardar e apanhar. Parece facil mas nao era.
Lembram aqueles canastros de verga com que se levavam os queijos para as feiras? Do melhor! Camuflados com ramos de amieiros que eram entrelacados de ponta a ponta, na vertical e horizontal, eram colocados no pico do calor e aquando o peixe recolhia, junto as raizes das arvores e um bom e resistente "estadulho" (vara), batia e batia e eles entravam para dentro. Peixe bom!
Pior as enguias que vinham por embude ou este modo, mas escorregadias apenas com um garfo daqueles antigos ou folhas de aboboreira, quando nao, deslizavam e eram uma vez...
A minha mae apanhou duas que dizem e acredito por ter visto, por debaixo do penedo da açude de Cabreira que enchiam um cabaço, daqueles de tirar agua para regar. Dizia que tinham a grossura do pulso de um homem.
Tambem apanhei algumas e num dedo a marca de uma mordedura, mas o sabor do peixe frito, o barbo, as bogas e enguias...e o molho de escabeche...a frescura da ribeira numa sesta que tambem as vacas dormiam como se fossem "sagradas", apenas quebrado uma vez por outra por um passaro maravilhoso chama de guarda rios...
Um dia enquanto os meus pais regavam, estava eu a brincar dentro no rio da Ribeira (levava pouca água no verão) ao pegar numa pedra para construir uma casa, sem olhar, peguei foi numa cobra ribeirinha...que medo!
EliminarDiz-me só uma coisa: não chamavam eirós às enguias?
Um dia temos de falar da bicharada que nos dava medo e dos que nos dava cabo da paciência também.
Asim se chamavam as enguias mais pequenas, sendo que aquelas que se apanhavam (mesmo em fartura, tempos idos...), eram as enguias que por ali medravam sem poderem retornal a leito materno e longinquo, o mar dos Sargacos. Por tal cresciam e ficavam velhas, idosas e suculentas...
EliminarAs cobritas eram lindas, por norma esverdeadas, fininhas e que metiam medo as raparigas. Por norma cirandavam em volta dos juncos da agua e assustadas, era "era um ver se te avias...".
Os "rapazes, gozavam com a situacao e armados em herois, aquando apanhavam alguma, pegavam no rabo delas e atiriravam para longe. Podia dar a valentia para ganhar uma namorada!
A bicharada que dava medo?
Tantos bichos, tantos medos tradicionais...coisas nossas que podem formar um lindo e singelo Post!
O interior beirão é repleto de gente com sabedoria...com um avida difícil onde a terra...os animais e o rio lhes proporcionavam alimento!
ResponderEliminarVi retratada aqui...a minha aldeia...no seu texto e nas histórias que ouvi dos mais velhos!!!
E a sardinha...continua a ser um bom peixe!!! Bj
...uma vida...
EliminarOs temas apresentados por nós são específicos da aldeia de Forninhos, mas muitos deles podiam ser de outra aldeia qualquer.
EliminarE a sardinha continua a ser um bom peixe e os peixes do rio também são saborosos. Não sei se a Graça alguma vez comeu; são como os jaquinzinhos, mas em peixe de água doce.
Bjinho.
Boa tarde, gosto de passar por aqui e ler sobre o povo e das dificuldades sentidas, principalmente nas aldeias no interior, na época descrita havia muita dificuldade no litoral onde existia pesca , quando mais no interior, lembro-me bem, que na minha casa a minha mãe dividia uma sardinha entre mim e o meu irmão, infelizmente a pobreza do povo e as dificuldades passadas pelo mesmo não estão escritas, mas estão na memoria, não será o caso dos submissos e mentirosos, incompetentes que dizem que governam Portugal.
ResponderEliminarAG
Sem dúvida, para o "aluno modelo e C.ª" a pobreza deve ser um mito ou lenda...coisa de velhos (nós)!
EliminarUm abraço.
Quando regressei de Luanda em 1975 fiquei colocada em Hombres/S.Pedro D'alva /Penacova.
ResponderEliminarO peixeiro passava duas vezes na aldeia e apenas trazia sardinhas e chicharro.
Comiam uma sardinha assada em cima de uma fatia de boroa.
Apesar de tudo, eram crianças felizes.
Adorei o teu texto.
Beijinhos.
É o que toda a gente diz, as pessoas passavam necessidades, mas em compensação eram mais alegres.
EliminarSobre os peixeiros. Não tenho a certeza, mas nos anos 70 acho que na nossa aldeia os sardinheiros (não se dizia peixeiros) vinham numa carrinha ou camioneta abastecer apenas as sardinheiras, de sardinha e chicharro.
Então depois as sardinheiras com a caixa/canastra à cabeça é que davam a volta ao povo ou povos a vender a sardinha.
Mais tarde, anos 80, já se falava em peixeiros, que vinham com uma carrinha com arca frigorifica e altifalante a anunciar o peixe que traziam. Já traziam outras variedades de peixes.
Ainda hoje, duas vezes por semana o peixeiro dá volta ao povo de carrinha.
Beijinhos.
"A História é Mestra da Vida" e é bem certa esta expressão. Não sendo a História uma ciência exata, como a Matemática, por exemplo, ela tem a possibilidade e a vantagem de nos mostrar factos, um pouco adulterados, pke o tempo vai passando e "quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto", usos e costumes que mais nenhuma outra ciência o faz. Temos a Sociologia, que nos dá uma visão bastante boa da sociedade, mas mais no aspeto social, como o próprio nome indica.
ResponderEliminarO texto está escrito com mto realismo e à-vontade, e nota-se k quem o escreveu sabe da matéria, e k está bem documentado.
Tenho formação superior em História, e escusado será dizer que "como" este tipo de textos, mas há tanta coisa k eu não sei deste meu povo.
Aqui, aprendi mtas coisas, sobretudo locais, k é sempre o mais interessante.
Parabéns, Aluap!
Beijos.
É, a história não é estática e chega por vezes recheada do resultado do ditado popular: "quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto".
EliminarEu não sou formada em História, apenas sou uma pessoa que adora história e tudo quanto à história da minha terra diz respeito e já tenho dito que muito do que escrevo não foi vivido por mim. Mas gosto muito de ouvir o que os mais velhos têm para contar e até 2009 nunca pensei em escrevê-lo, apenas ouvir…Depois que criei a página d' O Forninhenses, basta uma palavra ou frase e nasce um artigo. Acho importante ouvir quem tem muito para nos contar, pois podemos retirar muitas aprendizagens das coisas do passado que nos ajudam a viver o presente. Apenas tendo conhecimento de como era a vida antigamente nos é permitido dar valor ao que temos actualmente, e muitas das vezes não sabemos dar esse valor.
Bem haja pela visita comentada. Estou sem tempo agora, mas prometo visitá-la amanhã.
Beijos.
Desculpa esta informação, mas creio ser útil: o tradutor do blogue não funciona. Eu tinha um destes, do Blogger, no meu blogue, e tive de o substituir por outro.
ResponderEliminarBeijos.
"...Do que me alembro, perguntas?...", neste linguajar tao bonito...
ResponderEliminarLigo, claro por aguentar com respeito o que vinha em em catadulpa um churrilho de reparos e quase todos acertados. Depois, procurando coisas antigas de gentes desaparecidas de tantos e tantos anos atras, havia que andar afinado, na certeza mais possiveis das coisas que nos formaram como gentes de bem em Forninhos. Gentes distantes em que Cristo nem era nascido, mas por ali andava. Adiante, vamos para as sardinhas...
Narrativa de alguem que ainda guarda nomes a partir de oitenta anos passados!
O meu avo Antonio (materno) falecido muito novo, tinha a sua labuta preenchida e entre elas os rebanhos e queijos para vender por norma na feira de Fornos. Segundo a minha mae, nunca foi homem de trazer fruta das feiras, dizia que arvores abundavam, bastava ir tais buscar. Trazia sim e aqui toco no tema, nao por vaidade mas sim por inteligencia, uma caixa de cento de sardinhas da pequena!
Era casa de lavradores fartos pelo sacrificio do dia a dia e por tal a abundancia. Jamais naquela casa entrou algo para desaugar os filhos. Um Senhor, tal como a avo Maria.Ficava guardada em calda para trabalhadores e familia.
Mas quem nao trazia a sardinha da feira, esperava que alguem acarretasse1
Quase oitenta anos atras,
A tia Espanhola!
Coisas que a gente por aqui descobre, reliquias da nos historia. Da nossa terra.
Trabalhou nas vinhas por alturas devidas, casou com um (devido respeito) dos Palaios da familia dos Mineiros. Tres filhos, Adelia, Aurelio e Manuel e porventura tantas e tantas coisas...tal como o outro homem cm quem casou, depois.
Ia buscar as caixas de sardinha ao comboio da estacao de Fornos de Algodres e depois palmilhava a pe, aquelas aldeias ate Forninhos.
A seguir veio a Micas que morava no Oiteiro. Tambem vendia sardinha carregada de sal e "moribunda", afinal igual a muitas, tal como as do Triste e mulher Clementina que na falta de dinheiro, trocavam o meio quarteirao por meia duzia de ovos...
Estariamos aqui a noite inteira por meia duzia de coisas...bonitas!
Tia Espanhola.
EliminarEspanhola deve ser alcunha. Será que transmitiu a alcunha aos filhos Adélia, Aurélio e Manuel? E o negócio?
Agora se ia buscar a sardinha ao comboio de Fornos e calcorreava mais de 10 quilómetros até Forninhos, é porque os almocreves não traziam a sardinha, pelo menos, a fresca. Sardinha seca, ainda vá que não vá...
Também ainda me lembro ver ovos nas caixas das sardinheiras que percorriam aldeia. Era com certeza um bom negócio para ambas as partes.
A par das sardinheiras também batiam às portas os oveiros. Forninhos não teve oveiros, bem o sabemos, mas que passaram por lá alguns a comprar ovos, para depois venderem nas casas de comidas e dormidas, passaram!
Parabéns Xico por procurares saber mais coisas do antigamente.
Isto é Forninhos, obrigada.
Pobres sardinhas que depois de descerem o Oceano Indico, subirem o Atlantico, de terem escapado à voracidade dos mergulhões, a fim de virem banhar-se na nossa linda costa, eram apanhadas nas redes "traiçoeiras", misturadas co sal, enviadas aos solavancos pelas sinuosas estradas do val do Vouga, a fim de que as gentes do interior dispusessem de algumas proteinas também apelidadas conduto para acompanhar as batatas, acusavam-as de serem "ardidas".- O tia Maria, a sardinha que me vendeu era "ardida". E a pobre peixeira, depois de ter vestido uma blusa, uma saia e um avental lavados pela manha, acabava o dia toda "besuntada", porque o sal derretido lhe escorria para a roupa, podia retorquir: O minha senhora va ao talho ver se é mais barato. Falta de sorte em muitas das nossas aldeias, o talho so passava ao Domingo, e nem todas as pessoas podiam por la passar. Mas que culpa tinha a sardinha se Portugal nao era uma linda planicie atravessada por uma rede de canais pelos quais ela viria até nos e saltaria para o prato a fim de ser saboreada viva,como se faz la para o Oriente?
ResponderEliminarDesculpem leitores, isto nao me "da" todos os dias. Abraço, boa semana.
Mas ainda bem que lhe dá de vez em quando ;-)
EliminarGostei muito! Lendo-o, visualizei a peixeira. Diz a minha mãe que acabava o dia com a roupa besuntada e também besuntados ficavam os ovos que trocava por sardinha.
E numa altura em que havia produtos da agricultura para a sobrevivência, mas não havia moeda, comia-se o que havia ao dispôr por mais "ardido" que o conduto lhes parecesse!
Talho? Diz ainda a minha mãe que só os ricos lá iam e poucas vezes. O porco tinha de dar para o ano inteiro e galinha era só para as mulheres quando tinham as crianças.
Um abraço e cont. de boa semana.
Boa noite Paula, outro artigo de excelência.
ResponderEliminarAssim era também na minha aldeia. Quando era criança a sardinha muitas vezes chegava já salgada para consumo, assim como o chicharro, este sim com pedras de gelo a manter-lhe a frescura.
A respeito de peixe comi imenso peixe do Rio Tejo que naquela época não estava poluído como tem estado ulrltimamente.
Sobre a sardinha cortada em três era mesmo assim tal como a minha avó me contou, ela que nasceu em 1907.
Pobres, muito pobres mas mais alegres e felizes disso dou o meu testemunho.
Beijinhos e continuação de boa semana. Ailime
Paula voltei para fazer uma referência ao magnifico texto de Aquilino Ribeiro. Uma preciosidade.
EliminarObrigada por transcrevê-lo.
Bjs Ailime
Comecei a gostar de Aquilino porque escreveu muitas vezes sobre o povo beirão e este texto é muito significativo.
EliminarMesmo sendo considerado pobre, o aldeão sabia bem receber, sabia viver, conquistando prestígio. Assim vejo esta viagem pelo Portugal rural, do qual aquela gente de requinte se queriam ver afastados depressa, mas que acabaram por se deliciar com as trutas de escabeche da taberna da Maria Gaga, que acompanharam com broa de centeio, "negra e crivada de olhos pequeninos, como se tivesse levado tiros de escumilha" e um vinhinho..."um palhete dos sítios que passava tilitando nas goelas e sabia a amoras e framboesas".
Voltando acima. As pessoas passavam dificuldades, mas eram mais alegres, o que deixa a impressão que a abundância é contrária à alegria.
Bjs e tudo de bom.
Paula se não estou enganado a foto não é do falecido Luís Moreira mas sim do falecido Luís Albuquerque pois ele é que era conhecido por Luís Pissoto
ResponderEliminarOlá Luis,
EliminarSão a mesma pessoa. O nome do seu avô era Luís Albuquerque, mas era conhecido em Forninhos por Luís Moreira, talvez para o distinguir do pai que também se chamava Luís Albuquerque; a mãe chamava-se Maria Moreira Pina.
O seu avô nasceu a 7 de Setembro de 1920 e faleceu com 87 anos no dia 28 de Fevereiro de 2008.
Era casado com Antónia de Andrade Santos, conhecida por Antoninha Pissota.
Da sua avó já publicamos alguma coisa da sua genealogia.
https://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2020/06/familia-pina.html
Já sabia, mas obrigado, ando a tentar saber é as datas de nascimento e falecimento dos meus bisavós Luís Albuquerque e Maria Moreira Pina para poder continuar com a arvore genealógica por parte do meu avo Luís, porque por parte da minha avó Antoninha tenho avançado.
ResponderEliminar