Andar "ao" arco era um desporto popular. O objectivo era correr o mais possível com a roda (arco) e com o gancho para impulsionar.
Depois do Carnaval cessavam quaisquer demonstrações de alegria, porque na Quaresma não se cantava senão na Igreja, nem se tocava qualquer instrumento, muito menos dançar! Até às crianças se proibia o simples assobio. Os miúdos e juventude entretinham-se somente com alguns dos jogos sempre iguais de há décadas.
Armava-se o pelão que era uma pedra espalmada levantada a pino e com a face mais lisa virada para o campo de jogo (jogo que já vinha da Alta Idade Média). O lugar escolhido era a estrada da oliveirinha. Escolhia-se os elementos de cada grupo. Um grupo ficava junto ao pelão, o outro "ia acima". Julgo que para se escolher qual dos grupos ficava primeiro junto ao pelão deitava-se uma moeda ao ar e perguntava-se: «cara ou coroa».
Cada parceiro do grupo atirava, i.é, jogava a bola de péla diante de si, com a esquerda e batia-lhe com a direita para "os de cima". Se algum a "acanava" - apanhando-a sem a deixar bater no chão - ganhavam os de cima 3 tentos. Senão jogava-a rasteira para o pelão. Batendo neste era "mão morta"; caso contrário era 1 tento para os de baixo. Quando os de cima tivessem morto a mão de todos os de baixo, alterava-se a posição dos 2 grupos.
Acho que era assim.
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O Jogo da "Reza" começava na Quarta-Feira de Cinzas e acabava no Sábado de Aleluia e consistia numa espécie de acordo celebrado entre duas pessoas. Uma delas propunha à outra: «Queres andar à Reza comigo?». Aceite, quem primeiro avistasse a outra gritava-lhe: «REZA!». Isto tinha de ser ao ar livre, porque debaixo de telha não valia. Originalmente, só se deitava a reza 1 vez por dia, depois da luz da rua acender (antes de haver luz eléctrica deitava-se a reza depois do sol se pôr), mais tarde já podia ser quantas vezes quisessem e até se podia andar com um caco de telha na cabeça. Era muito engraçado. Quem ficasse com a Reza no Sábado da Aleluia perdia o jogo e tinha de oferecer à outra as amêndoas. Também havia as "Bodas da Reza".
Por se enquadrar perfeitamente neste tema, ao que jogávamos e com que brincávamos nós mais?
Parece-me que quanto a jogos as Beiras estão par a par ...Jogava-se ainda ao eixo , ao descanso , às tchinas ,ao moutcho ,ao anel,ao mata etc , etc ...Nós lá arranjávamos maneira de nos entreter .Que saudades !!!Sabe ,Paula , apesar de tudo o que hoje há ,acho que as crianças que em conjunto brincaram com estes jogos foram mais felizes .Não ficaram fechadas em apartamentos , muito isoladas , como agora sucede...Enfim , cada tempo tem as suas coisas positivas !!!
ResponderEliminarAB.
Quina
Éramos felizes, qualquer brincadeira servia para nos divertirmos, agora as crianças têm tudo e nunca estão contentes com o que têm, toda a garotada se juntava no largo da lameira para a brincadeira, jogava-mos ao jogo galo um com três pedrinhas outro com três bocadinhos de telha, jogava-mos á macaca, ao caracol, ao mata, quando chegava a noite no Verão brincávamos às escondidas, tinha-mos tantas brincadeiras, mas deixo algumas para os outros contribuidores as poderem revelar.
ResponderEliminarNa Reza eu quando chegava a noite entrava para dentro de casa e já não saia à rua, ficava na janela a ver se via as minha colegas para eu lhes poder dar a Reza, no final da Reza fazia-mos uma festa, cada uma levava algumas coisas de casa, como não tinha-mos ovos porque as nossas mães tinham-nos gasto nos bolos de azeite, então nós íamos roubar os ovos aos poleiros das outras pessoas para podermos fazer os nossos doces, e lá fazíamos a festa.
Que saudades que eu tenho desse tempo.
Que eu me lembre muitas brincadeiras diferentes das atuais, aliás, nem mesmo vejo as crianças brincando!
ResponderEliminarTempos de crianças magras e mais espertas...rsrsrsrs
Bjs, Paula.
Nunca fui grande jogador da "Pela", mas que era um jogo interessante era! Era esse sem duvida o jogo numero um, dos domingos da quaresma!
ResponderEliminarJa correr com o arco era melhor e, cada rapaz queria ter a melhor "ganxeta"!
Um abraco de amizade.
Uma feliz e santa quaresma.
Bons tempos, os jogos que já foram referidos sempre serviram para nos divertirmos e passar o tempo, o pouco que tinha-mos, pois não era só brincar a terra tambem precisava de nós.
ResponderEliminarAinda se jogava o jogo da " Chona", este era bom para partir cabeças e alguns vidros.
Dizes bem serip, porque brincar era um tempo por nós conquistado entre os muitos afazeres e deveres.
ResponderEliminarNa Lameira jogava-se a tudo, as meninas à macaca, avião, com a bola de pêlo; ao berlinde, pião e à chôna, os rapazitos; mas no fim da tarde todos nos juntávamos para jogar às escondidas e creio eu que era a brincadeira colectiva que mais jogávamos. Um de nós ficava com a cabeça baixa sobre a esquina da casa do tio Augusto Marques ou da tia Adélia, e enquanto contava até 10 ou até 20, todos os outros toca a esconder-se, no fim da contagem dizia: «rô, rô, passarinho já lá vôooo» e desatava à procura e ganhava quando os encontrasse a todos. Andávamos horas seguidas nisto na Lameira, era até os nossos pais nos chamarem para cear!
Os jogos que eu mais gostava era o jogo do pisa e os que tinham o desenho de quadrados no chão, todos interligados: macaca, avião e caracol. Já o “escanxo” foi jogo que nunca consegui aprender, a técnica deste jogo nunca foi clara para mim.
Como os tempos mudam!
ResponderEliminarOs modos de brincar aqui relembrados por quem brincava, é exemplo disso.
Alguns jogos tinham a sua época como por exemplo, o pelão ou a pela, só se jogava na quaresma, mas jogava-se com tal intensidade, que transmitia alegria, não só para quem jogava como para quem assistia.
Já o arco, era brincadeira de todo o ano, e para crianças do meu tempo, era brio para aqueles que tinham o arco e gancha (em alguma lugares era gancheta, como nos diz Al-cardoso) mais bem feita, tanto servia um arco roubado nos barris da resina como de qualquer pipo, mas os mais “jeitosos” eram os dos caldeiros por serem redondos e faziam um zunido que punham as crianças felizes e a correr mais depressa.
Uma boa quaresma para todos, e cuidado, não se pode comer carne ás sextas feiras.
Muitos jogos se faziam, hoje nada se vê.
ResponderEliminarOs mais velhos já não teem paciência e os mais novos, onde estão?
Estes hoje, os poucos que ainda hà, metem-se em frente ao monitor do PC e é ali que passam horas a fio com outro tipo de jogos.
Quer voce dizer nao se deve comer carne as sextas feiras, poder pode sempre e, a consciencia e que ficara pesada ou nao! lolololo
ResponderEliminarUm abraco de amizade.
Muito boa noite para todos.
ResponderEliminarBem… eu nunca entendi muito bem esta questão de se comer ou não carne nesta época, pelo simples facto de que, se não estou enganado, quando se pagava a BULA já se podia comer.
Creio que os mais novos não ligam muito a isto, e nós mais velhos, só alguns.
É sim Paula nós ás escondidas chamávamos “rou” a lengalenga não é bem como tu dizes é “rou rou penicou passarinho já lá vou”.
ResponderEliminarUm jogo que eu gostava muito de jogar quando andava na escola era, ao “Anjo bom Anjo mau” era assim:
Duas meninas uma era o Anjo bom a outra era o Anjo mau, outro grupo meninas ficavam num canto e faziam de fitas, cada uma escolhia uma cor, quando um Anjo o bom ou o mau batia à porta e dizia truz- truz uma menina respondia quem é, o Anjo dizia Anjo bom ou Anjo mau dependia o Anjo que fosse, a menina perguntava que deseja, o Anjo dizia fitas, a menina dizia de que cor, o Anjo lá dizia a cor se houvesse essa cor o Anjo levava a menina com ele, ganhava o jogo o Anjo que levasse mais meninas.
Era um jogo muito divertido.
Tenho que aclarar os meus amigos menos entendidos do seguinte: De acordo com as leis da Igreja Catolica Apostolica e Romana, nao se "pode" comer carne em nenhuma sexta feira do ano. Na quaresma nem com "Bula" nem sem bula se pode comer.
ResponderEliminarNas outras sextas feiras que nao sao da Quaresma, e que se pode remir essa abstencao, com o pagamento da "Bula"!
Espero ter sido claro.
Um abraco a todos.
Antes deste tema tive o tema da abstinência “alinhavado” para dizer como as pessoas cumpriam de modo geral a disciplina canónica, pelo menos, desde a Quarta-Feira de Cinzas até à Sexta-Feira Santa, mas não tinha conhecimento de não se “poder” comer carne em nenhuma Sexta-Feira do ano. Quer dizer, não digo que não soubesse, porque conheci uma Senhora de Olinda, Pernambuco, Brasil, que durante todo o ano, às Sexta-Feiras, não comia carne, mas julguei que era por opção e não por “imposição” das leis da Santa Igreja.
ResponderEliminarMas clarifique-me só mais uma coisa, amigo Cardoso, neste assunto a lei da Igreja ainda não mudou?
Sei que em Forninhos houve pessoas que em toda a quaresma inteira só faziam uma refeição por dia e às Sextas-Feiras só se alimentavam de pão e água, mas julgo que não há quem não comesse carne em nenhuma Sexta-Feira do ano, mas não sei se houve.
Tens razão Maria, pus-me a olhar para trás e, para nós, jogar às escondidas era jogar ao “rou”, ou rô-rô (?), este jogo não tinha nada que saber, mas a técnica e lenga-lenga de alguns já nem me lembro bem. Mesmo do pelão acho que havia uma cantilena para cada tento.
ResponderEliminarJogávamos também muitas vezes ao anel, todas em roda com as mãos estendidas em concha. A que tinha o anel nas mãos justapostas passava as suas mãos por dentro de cada uma e num par de mãos deixava cair o anel.
Disfarçadamente pára e pergunta a uma: «Onde está o anel?». Se não acertar continua.
Muito semelhante era o jogo do lenço. A que tem o lenço circula por fora da roda e deixa-o cair atrás de uma. Dá mais umas voltas para disfarçar, pára e pergunta «Onde está o lenço?». Quem acertar vai ela deixar o lenço.
Para memória futura, os nomes e técnicas dos jogos a que jogávamos, deviam registar-se.
Eu creio que nao mudou, o que aparentemente mudou foram as "bulas" ja ninguem fala nelas!
ResponderEliminarEm minha casa a minha mulher gosta de seguir as regras e raramente comemos carne, as Sextas-feiras, o que ate nao e nada mau, porque nos comemos mais carne que peixe!
Obrigado amigo Al-cardoso pelo esclarecimento quanto á questão das “bulas”.
ResponderEliminarEm minha casa também não como carne nas sextas-feiras da quaresma, mas confesso; a minha mulher não a põe na mesa.
Uma das cantilenas que se ouvia e que eu, embora criança, achava muita graça, era quando a péla (bola de ténis) era mandada na direçao do pelão, as que estavam atrás chamavam a péla para que esta se desviasse do pelão abanando o avental e cantando:
ResponderEliminarANDA PARA AQUI MINHA LINDA, OLHA UM AVENTAL DE CHITA, QUANTO MAIS SE LAVA MAIS BONITO FICA.
Como há costumes, hábitos e pensamentos que ficam enraizados, na 4.ª Feira de Cinzas e 6.ª Feira Santa não como carne, mas às 6.ªs Feiras umas vezes como, outras não, acontece é que quando me alimento de carne tento privar-me de outra coisa que consumo no meu dia a dia, por ex, beber café, que para mim tem tanto valor como o acto de não comer carne.
ResponderEliminarO costume de comer carne já está desadequado aos nossos dias e mesmo numa comunidade como Forninhos até faz mais sentido a Igreja incutir nos seus paroquianos que este deverá ser um tempo de reconciliação, de união, de aproximação, do que interiorizar que devem praticar o jejum. Deixar de comer carne, para comer pargo ou marisco, onde está o sacrifício?
E numa comunidade como a nossa, que se diz católica, foi pena terem deixado morrer o jogo da REZA, que mais que ganhar um pacote de amêndoas, proporcionava verdadeiros momentos de amizade entre o grupo que jogava.
ResponderEliminarA Maria dizia que no final da reza faziam uma festa, que para além de cada uma levar coisas de sua casa, ia-se tirar os ovos aos poleiros. Eu sou da geração seguinte e ainda vivi as Bodas da Reza, eu e a Cila íamos tirar ovos aos poleiros e pedir açúcar e arroz, para o arroz-doce, à minha avó Coelha e à tia Adélia, porque não havia dinheiro para se comprar ovos, açúcar, arroz ou leite.
Mas agora até nos mandam esquecer as velhas ou antigas tradições, mas se as esquecermos que povo seremos? Sem memória o que somos?
Um dos jogos tradicionais que ainda se vai mantendo parece que é o jogo da panelinha (na 2.ª Feira de Páscoa).
Rapazes e raparigas punham-se todos em fila, alinhados uns atrás dos outros. O 1.º da fila lançava para trás, por cima da cabeça, a panela de barro que era apanhada pelo outro e corria logo para a retaguarda tomar a mesma posição. O 2.º fazia o mesmo e assim sucessivamente. Dava-se a volta à aldeia percorrendo as ruas. Sendo a panela de barro, naturalmente não aguentava a queda e lá se partiam umas quantas.
Qualquer que fosse o jogo tradicional jogado naqueles tempos, era levado muito a sério, jogava-se com alegria e… até com um pouquinho de emoção.
ResponderEliminarA reza por exemplo, também tinha o seu contrato celebrado com “cerimónia”, era assim: depois de combinarem a quantidade de amêndoas que o vencedor ou vencedora viria a ganhar, enganchava-se o dedo de um no do outro, ao mesmo tempo que se fazia esta espécie de compromisso.
ENGANCHAR, ENGANCHAR
PRÁS AMENDOAS TE GANHAR
QUANDO TE MANDAR REZAR
…REZA
Pois era. Cada um enganchava o dedo mindinho (ou era o indicador?) da mão direita, um no outro; fazia-se um movimento idêntico ao aperto de mão e dizia-se ao mesmo tempo, em voz alta, o enganchar, enganchar. Mas na nossa terra só se jogava às amêndoas com os rapazes. Entre as amigas, havia as Bodas da Reza, que era uma festa só para raparigas.
ResponderEliminarCorrer com o arco ou andar “ao” arco já era só para rapazes e parece que um dos melhores era o Jorge Pina. Talvez alguém se lembre do Jorge e fale disso.
Já agora, acham que este miúdo com o arco pode ser o Jorge?