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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Forninhos e os Censos

Estava-se em Abril de 1758. Os Serviços da Monarquia orientados pelo Marquês de Pombal, depois do terramoto de 1755, fizeram uma recolha de dados sobre as terras e gentes de todo o país - uma espécie de Censos. Sobre Forninhos ou Santa Marinha, então do termo da vila de Pena Verde, as informações dadas pelo Cura são poucas e alguns pontos são ilegíveis, mas trago e transcrevo aqui dois pontos que me parecem de maior interesse para este Post:
I
Organização política, admininistrativa, judicial e religiosa: "Fica na Província da Beyra, hé Bispado de Viseu, Comarqua de Linhares, termo da villa de Penaverde, freguesia de Santa Marinha, pertence o mesmo povo de Forninhos.".
II
Demografia: "Tem esta freguesia noventa e seis vizinhos, duzentas e trinta pessoas mayores e quarenta menores.".

Esta e outra informação constam da memória paroquial, datada de 20.06.1758 e assinada pelo Padre Cura Baltazar Dias:




À data de 21 de Março de 2011 (Censos 2011) Forninhos contava 222 habitantes. Há 10 anos (Censos de 2001) tinha 268, mas em meados do Século XVIII tinha 270 (230 pessoas maiores e 40 menores). Uma realidade, no mínimo, digna de nota!

Outra informação obtida recentemente e relevante do ponto de vista populacional, são os "Sensos da População por Paróquia" dos anos de 1936 a 1939 (Forninhos: 1936: 660 Almas; 1937: 689 Almas; 1938: 737 Almas; 1939: 695 Almas)

Aqui fica também a relação do primeiro censo da população do Reino em 1527 (D. João III). Era assim a população do concelho de Penaverde:

"Comcelho de Pena Verde. No comcelho de Pena Verde vivem moradores - 178
No qual comcelho há os lugares e moradores seguintes:
A saber o lugar dos Casais que é cabeça do comcelho - 26
o lugar de Moreira - 26
o lugar de Queyrys - 30
a quynta dos pardieiros - 1
a quynta do vale de pero vaqueiro - 1
a quynta da topetya - 3
a quynta das aveleiras - 3
a quynta da fonte durgueyra - 2
a quynta dos feytais - 1
o lugar de fornos - 22
o lugar do mosteiro - 28
o lugar de dornelos - 35

que todos fazem a dita soma - 178.


Pelo "cadastro da população do reino de 1527 "vemos que nessa altura a quinta dos Valagotes não aparece documentada e Forninhos (dantes Fornos) contava com 22 famílias.
Aqui fica uma boa análise para o fim de semana.

15 comentários:

  1. Muito boa tarde a todos.
    Parabéns Paula por nos trazeres aqui um post que nos elucida um pouco sobre a historia de forninhos.
    Tal como eu, creio que todos estamos interessados em conhecer o passado dos nossos avôs, e dos avós dos nossos avós; não podemos conhecer muito, os escritos são poucos e muitos já se perderam.
    Eu mesmo tenho gasto algum tempo em busca nas bibliotecas e arquivos existentes, mas não tenho encontrado muito. Como todos sabemos, muitos dos escritos antigos foram destruídos pelas sucessivas mudanças políticas que se verificaram ao longo dos tempos.
    Na nossa região temos dois documentos importantes que nos foram legados por monsenhor Pinheiro Marques em “terras de Algodres” e o padre Luís Ferreira de Lemos em “Penaverde, sua vila e termo” onde nos apresentam um trabalho exaustivo.
    Podemos encontrar mais alguns nos arquivos das câmaras eclesiásticas e distritais, mas não muito.
    Desculpa-me Paula, mas sei que também o desejas, faço um apelo a quem souber de histórias contadas pelos seus avós e se lembrem, tragam-nas aqui, temos de ser nós a transmitir aos vindouros, o passado, que é tão rico de tradições e de valores, tanto quanto o que lhes quisermos dar.
    os sensos, é tambem uma pagina da nossa historia.
    OS NOSSOS NETOS VAO AGRADECER.

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  2. Como nos é referido pelos vários sensos, e, atendendo aos habitantes de hoje, não podemos dizer que esta aldeia ficou deserta como aconteceu com muitas por este interior beirão, temos que ter em conta que os tempos mudaram; hoje, nem todas as pessoas fazem da sua aldeia berço e cova, partem á procura de melhor vida.
    O espaço geográfico da aldeia cresceu, embora a população tenha diminuído, isto é um sinal positivo, as pessoas procuram, mesmo na sua terra, uma comodidade que não tinham nas antigas habitações.
    Na historia de uma aldeia como a de forninhos, pode não haver escritos em pergaminho ou papel pardo, mas o testemunho do tempo em que: o ciclo do sol; as festas anuais; a faina dos campos; as ruas e vielas; os caminhos de pé que as mulheres levavam para as hortas; os homens para as courelas; os pastores para a serra e as casinhas onde viveram, ainda cá estão. Estes testemunhos não falam, mas ainda estão presentes e á espera de quem os “leia” e interprete e, assim se fazer a verdadeira historia duma aldeia e suas gentes.

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  3. No terramoto de 1755 Forninhos não sofreu nenhuma ruína.
    O nome primitivo desta população foi Fornos, tomando o diminutivo “inhos” para se distinguir do concelho de Fornos de Algodres, a origem do nome pode derivar de Fornilhos, designação donde são conhecidos os fornos utilizados para coser o pão pelo povo.
    Em Forninhos no ano de 1862 tinha 486 habitantes e 120 casas, em 1864 tinha 481 habitantes e 120 casas, em 1890 tinha 524 habitantes e 140 casas, em 1900 tinha 499 habitantes e 134 casas, em 1911 tinha 555 habitantes e 150 casas, em 1920 tinha 523 habitantes e 131 casas, em 1930 tinha 661 habitantes e 154 casas, em 1950 tinha 662 habitantes e 175 casas, em 1960 tinha 489 habitantes e 134 casas, em 1981 tinha 389 habitantes e 240 casas, a população residente em 1981 era de 188 homens e 201 mulheres, famílias residentes havia 130.
    Em 1911 dos 555 habitantes apenas sabiam ler 21 homens e 10 mulheres.
    Como podem ver dos anos 50 a 1985 Forninhos perdeu 285 habitantes, mas em termos de habitações foi sempre aumentando.
    Destes habitantes que foi perdendo alguns faleceram, mas outros tiveram de partir para vários pontos do Pais, outros para fora do Pais para poderem organizar as suas vidas, visto que em Forninhos e arredores a indústria avançou muito pouco, se houvesse mais trabalhos a população hoje talvez fosse maior, e não estaríamos perto de deixarmos de se freguesia e estarmos pendentes de Dornelas ou Penaverde.

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  4. Pelo que vemos nos escritos antigos, forninhos estava quase equiparado a dornelas.
    Pelo trabalho aqui trazido por M Jorge, verificamos que a partir de certa altura, forninhos foi, em termos demográficos, crescendo em casas e diminuindo em habitantes, enquanto dornelas, embora não tenham sido mencionados os seus sensos, é-nos dado ver que esta aldeia apesar da sua interioridade e da partida de muitos, ainda não parou de crescer, talvez fruto, não só do trabalho, mas também da ambição das suas gentes.

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  5. E não vale a pena esconder que a forte rivalidade que sempre existiu entre o nosso povo e as aldeias nossas vizinhas, Penaverde e Dornelas, vem já de há 500 anos atrás, porque sempre foram povos com mais moradores! Por ironia do destino, em breve podemos ter de nos agregar a Penaverde ou Dornelas!!! Por este motivo é que também é ainda mais difícil aceitar a extinção de Forninhos enquanto freguesia.
    Pelos resultados dos vários censos, dá para ver que o despovoamento de Forninhos não se deve à gente antiga e estas, a meu ver, sempre foram empreendedoras, já que sempre houve ocupações diversificadas nesta terra. Havia carpinteiros, pedreiros, canteiros, resineiros, alfaiates, costureiras, sapateiros, havia tecelãs que trabalhavam o linho, havia os moinhos, lagares de azeite, os fornos, havia os comerciantes estabelecidos (tabernas e vendas do tipo mini-mercado, com bens alimentares, tecidos e outros), etc... etc…. Honra seja feita à gente antiga!
    A causa do despovoamento deve-se, em parte, à emigração e migração, mas em parte também se deve, e muito, às gentes de agora, digo, autarcas, que, por um lado, não foram capazes de trazer sequer serviços para Forninhos, uma vez que esta nossa freguesia sempre foi a mais distante da Sede do concelho! Agora, finalmente, se lembraram de invocar essa distância como “Contributo para a Reforma da Administração Local”. Como diz o ditado: “mais vale tarde, do que nunca!”. Por outro, no campo das agro-indústrias, do agro-artesanato, das indústria extractivas, indústrias fabris, nunca houve políticas de incentivo e, depois, aqueles que por sua iniciativa quiseram investir, como bem sabemos, foram impedidos de o fazer. Em Forninhos é assim: quando não é a Câmara a indeferir projectos, são os vizinhos, os amigos/ou/inimigos e até a familiares, que apresentam “acusos”.
    Assim vai o nosso Forninhos, assim vai o nosso desenvolvimento…

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  6. Boa arde para todos.
    É verdade, as artes e ofícios, o comércio e a pequena industria ligada á agricultura e á construção civil, são o pólo principal do desenvolvimento das aldeias do interior; agora também o turismo, uma potencialidade em grande desenvolvimento para quem o quiser e souber explorar.
    Como diz aluap, forninhos teve artes e ofícios, hoje, praticamente não tem, tudo o que teve foi perdendo aos poucos, e provavelmente muito em breve, até a sua identidade como freguesia vai perder, o que é pena.
    A ambição de um povo, não se pode atribuir só á autarquia, embora esta seja o pólo central, mas a verdade constatada é, que nada avança nesta terra, as iniciativas foram poucas, mas destas poucas, ou foram travadas á nascença ou tiveram pouca duração, as razoes não as sei, posso pensar, e cada um tem a sua maneira de pensar e ver as coisas, mas o certo é, que os sensos falam por si.
    Noutros tempos, tinha-se orgulho em participar na coisa pública, mesmo que gratuitamente, hoje não se faz nada com orgulho ou dever, mas sim a troco de pagamento, e quando assim é, quando se não trabalha com amor a uma causa ou se trabalha sem o apoio da comunidade, não se pode fazer nada.

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  7. Nas minhas “deambulações” pelos arquivos, encontrei este escrito curioso, ora vejam.

    “Pagavam de jugada uma taleiga de trigo e três taleigas de centeio os homens de fornos, dornelas, casai de Moreira e mosteiro.
    Quem tivesse vinhas e colhesse delas cinco moios, devia dar um puçal; se não tivesse cinco moios, nada pagava”
    (ver. Beira Alta vol. XV pag 148)

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  8. O Padre Cura (=Pároco) que responde aos serviços do Marquês preocupou-se mais com a organização religiosa do que com outros conteúdos. Por exemplo, sobre as actividades económicas, que acredito que as já havia nessa altura, pelo menos, de sobrevivência, ou seja, para abastecer as pessoas da terra, e não para fazer comércio para fora da terra com os produtos, nada é mencionado.
    Claro que sobre isto nenhum fundamento tenho, mas pelo que ed santos agora publica (referindo "...os homens de fornos"), por aquilo que conheço e ouvi os meus familiares contar, é provável que Forninhos tivesse também alguma actividade virada para a indústria da época: moagem de milho, trigo e centeio e fabrico de vinho e azeite.
    E agora outra curiosidade respeitante à nossa freguesia:
    O número de eleitores votantes para a Assembleia de Freguesia das autárquicas, foi de 221 no ano de 2005, e 202 votantes no ano de 2009.
    Chamo a atenção para o número de eleitores pois estes números não incluem pessoas menores de 18 anos (que ainda não votavam)!
    Os censos falam por si, e a importância dos resultados eleitorais também! Se calhar se ao longo dos tempos os resultados fossem diferentes, hoje muitos, pelos conhecimentos e cultura que têm, podiam servir a sua terra de uma forma mais eficaz e consciente.
    É bom que continuem a ler e a fazer reflexões sobre o Forninhos de Ontem&Hoje.Porque eu não me esqueço do que se passou em 1989 e, depois, no princípio da década de 90! A mágoa antiga não se apaga...

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  9. CURIOSIDADES.
    Na nossa região em 1821, um lavrador com os seus bois ganhava:
    “deinverno, duzentos equarenta reis edecomer ao lavrador, edeverão, trzentos reis edecomer ao lavrador, esendo aseco trezentos reis de inverno e trezentos esetenta reis deverão”
    Os jornaleiros ganhavam.
    “ deinverno aseco, cento evinte reis, acavar com enxada, e deverão, acento equarenta reis e sendo adecomer, a cincoenta reis, de inverno e asessenta deverão, enomais serviço for de enxada, menos hum vintém por dia”
    Para os ofícios também havia tabelas, para sapateiros por exemplo:
    “Çapateiros – mestre com aprovação para toda a obra – a decomer, 100 reis; com aprovação quartada, 80 reis; obra feita em casa – por cosiçagem humas sollas dando os donos o linhol e solla, de sete para cima, 40 reis; de sete pontos para baixo, 30 reis. Dando os çapateiros as sollas e linhol, respectivamente, 300 e 160 reis; uma solla só, 70 reis; de vaca nova, duas sollas, 60 reis; uma solla só, 50 reis. Botas o que cada um ajustar.”
    (mª F: Monsenhor Pinheiro Marques.)
    Seguem-se as tabelas de pedreiros; carpinteiros; cardadores; ferradores; alfaiates etc.
    Entretenham-se a decifrar, mesmo assim, é mais fácil que o latim.

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  10. Belas descrições da época em que existiam estes “Sr.ºs”, lavradores, jornaleiros (de jornas?) “Çapateiros”… os mesmo davam de certeza uma ajuda enorme na lavoura e nos diversos arranjos/concertos/cosiçagem, agora é como se vê…tudo se modificou com as alterações na maneira de viver.
    Ao ver estas tabelas, será que no arquivo da Câmara ou mesmo da Junta e da nossa Igreja, não existem documentos que ajudem também a contar a nossa história local?

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  11. Também eu quero realçar o número de habitações antigas recuperadas e outras modernamente construídas, que foram uma boa resposta à desertificação, abandono, da aldeia. Mas de que adiante ter casas, se nelas não há pessoas? A riqueza de uma terra ainda são as pessoas! E qualquer cidadão compreenderá que uma freguesia em pleno século XXI com 222 (à data de hoje, até menos) é uma freguesia bem diminuída.

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  12. Boa noite, é sempre bom conhecer sempre mais alguma coisa da terra que nos é querida, pena mesmo é não se conseguir chegar tão longe no tempo para que se conheça a verdadeira origem desta terra, Forninhenses são mesmo muitos, mais do que julgamos existir, mas esses restantes estão espalhados por esse mundo fora, foram á procura de melhores dias que depois de o conseguirem por lá ficaram, regressando só na altura das férias, os que ficaram chegaram a uma idade que já não lhes permite trabalhar, começou a faltar a força de trabalho e as pequenas industrias começaram a fechar, agora é tarde para voltar atrás, e como já foi dito se não são uns a impedir a criação de algo positivo, são outros, (a inveja é o mal que mina o que de melhor se tenta construir).
    Alup os jornaleiros a que se refere o breve texto que o amigo Ed Santos bem transcreveu, refere-se mesmo aos trabalhadores que trabalhavam à jorna ou seja de sol a sol, os que vendem jornais são os ardinas e os que recolhem a notícia são os jornalistas.
    Um abraço.

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  13. Curiosa também esta tabela estabelecida para este ofício.
    “alfaiates capazes de toda a obra, de pano fino e seda, a de comer, 70 reis, aprovados com licença coartada,60.”
    “nam se lhe põem taxa por dia a seco por se nam costumar nestas terras a trabalhar por dia a seco”
    Obra feita nas lojas,
    “ por uma casaca de pana fino, bem aparelhada com todos os necessários, 1200 reis; por uma véstia caseada toda, e bem preparada, sendo asertoada, 300reis; por uns calções, 160 reis; por um capote forrado todo e com capuz e cabeções, 240 reis; sem forro, 200 reis; em ceragoça de vara e côvados: por uma casaca caseada até á cinta 700reis; por uma vestia cozisa com linhas, e caseada até á cinta e forrada toda, 220 reis; por uns calções forrados todos, 120 reis; sem forro, 100 reis; por umas polainas forradas todas e bem sobrecosidas e aparelhadas, 200 reis; por uma carapuça redonda forrada toda, 30 reis; por uma mantilha de baeta comprida, de mulher, com tafetá e papellam e forros, 60 reis”
    (mons. Pinheiro Marques)

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  14. Olá Paula.
    Como arquivista adorei este "post" É muito bom ver as pessoas interessarem-se pelo arquivo da sua memória colectiva.
    Um grande abraço
    António

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  15. Pode não ser obra física, mas nem só de "coisas" se vive nesta terra, mas também do pensar.
    Muitos desta terra, muitos mesmo, até hoje não conheciam o percurso populacional deste lugar, mas como penso que é importante sabermos a história que a nossa aldeia teve ao longo dos tempos, tenho deixado aqui “coisas nossas”, alguma “história e lendas” e muitas “memórias”, para que todos os que por este portal entram possam ficar a conhecer os aspectos importantes do passado colectivo da nossa aldeia de Forninhos.

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