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sábado, 22 de abril de 2023

O que a história diz do nosso Rio

Nome
Nos documentos antigos há referências a este rio como tendo tido incialmente o nome de "Om". Em documentos do século XII aparece com o nome "Adon": no foral de Azurara da Beira (Mangualde) de 1102 lê-se "Adon". Mais tarde, no foral de Aguiar da Beira de 1258 (século XIII) lê-se "Aon", a grafia perdeu o "d".
Parece que a evolução terá sido "Om" ou "Aom" - "Daon" (por metátese) - Dom. Nuns sítios pronunciava-se Aon e noutros Daon, predominando depois este, donde saiu - Dão

Nascente do Rio Dão

Descrição do Percurso
O percurso parte do local que há séculos é tido como o ponto de nascimento do Dão, entre duas lages graníticas, na povoação da Barranha, freguesia do Eirado.
Atravessa depois um pequeno pinhal, onde se encontra a Capela do Nosso Senhor do Castelinho. Ao sair do pinhal, depois de pequena extensão em estrada asfaltada (EN330), flete à direita, por caminho de terra batida, ao encontro do troço mais selvagem e imponente do percurso, entre impressionantes afloramentos graníticos e horizontes de perder a vista para sul e sudoeste (...) seguindo-se vários quilómetros de travessia ao longo das suas margens, cruzando as povoações de Porto de Aguiar, Dornelas e terminando nas imediações de Forninhos.
Vai perder o nome em o Mondego na Foz do Dão perto de Coimbra.
Confrontações e Curiosidades
Este rio é referido em vários documentos para definir confrontações de vilas e propriedades. 
No Livro "De Terra em Terra" Leite Vasconcelos refere que num documento de 974  falou-se aí da extensa "quinta" de Santa Comba que chega usque in ribulo Adon, usque in foce ribulo Adon. A foz deste rio é no Mondego e Sancta Columba deu origem ao moderno nome de Santa Comba (Dão).
Curiosamente no volume 16, página 790, do Dicionário Geográfico de Portugal, do Pe. Luiz Cardoso, há uma descrição da Paróquia de Forninhos, datada de 14 de Mayo de 1758 e assinada em "Santa Comba de Forninhos" pelo Abbade João da Costa Feixo e os Vigários Jozé de Freitas da Costa Villasboas  e Manoel de Novaes de Sá (fl. 790). 
"E esta, hein?!"
No Livro "Penaverde Sua Vila e Termo, pág. 25, o Pe. Luís Ferreira de Lemos sobre o rio Dão refere: "Também este banha Penaverde, no sítio em que a separa da Cortiçada. Benefícios porém, não lhe dá nenhum. Passando ao fundo de uma ravina, não lhe rega um palmo de terra".
Já o Cura José de Campos, in Memórias Paroquiais de Dornelas (8 de Junho de 1758) refere que logo desde o seu nascimento (na quinta da Barranha) vem regando terras e no sítio desta freguesia que corre pelo mesmo vale se faz mais aprazível com árvores silvestres como são freixos, álamos, caniceiros e salgueiros. Tem em si vários engenhos como são pizões, moinhos, lagares de azeite. Não é navegável, e o peixe que produz em maior abundância são bogas, bordalos e barbos (...)
Este rio também é mencionado nas Memórias Paroquiais da freguesia de Sezures, pelo Cura João Rodrigues (15 de Maio de 1758):
"Tem mais este rio Dam quatro pontes de pao...Uma onde chamam a ponte de Sancta Clara na freguesia do Castello, outra onde chamam a Ribeyra Dam, nesta freguesia de Cezures, outra na freguesia de Forninhos, outra juncto ao lugar de Dornellas".

Forninhos, Ponte da Carriça - Rio Dão

Toponímia
Na nossa toponímia ficou um sítio, próximo do rio, chamado "Fonte Dom" que pronunciamos "Dum".
No hino de Forninhos
Forninhos é terra linda/Nada tem que invejar/Fica na encosta da serra/Vê o Rio Dão passar...

18 comentários:

  1. Um bom trabalho de pesquisa!
    Espero um dia conhecer Forninhos!
    👏👏👏

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    1. Obrigada, Gracinha!
      A Ponte da Carriça é a ponte mais bonita que temos na freguesia (embora falte uma sinalização com o nome da ponte num dos muros), mas temos na freguesia mais património de valor que vale a pena conhecer.
      Bom domingo, bj

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  2. Que interessante trabalho fizeste.
    Linda e importante pesquisa!
    Adorei! beijos, ótimo domingo, chica

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    1. Bem haja! Já na primária, quando aprendi os nomes dos rios e serras...e as linhas de comboio também...eu gostava da matéria.
      Beijos, bom domingo.

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  3. Um bom tema trazido à lembrança. Parabéns Paula!
    De salientar a alusão a Santa Comba, nunca tinha ouvido este nome nas memórias de Forninhos.
    Já da fonte Dum sempre ouvi falar que era de duas famílias:
    Do Sr. Luisinho (Luis Fernandes Abrantes) e D. Laura e dos meus bisavós, José Maria Saraiva e Maria de Andrade, mais conhecida por Maria Mello "a Rainha".
    Havia lá um pessegueiro de São João
    Nespereiras, coisa rara nas nossas bandas...
    Uma presa de água (uma nascente) que tinha uma bica onde apanhavam a água para beber.
    Aqui fica mais este apontamento para a nossa história.

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    1. A explicação do nome pode ter a ver com a extensa “quinta” de Santa Comba que chegava até ao rio Dão. O rio nasce na Barranha e logo ali tem o nome. Não sei...
      Sei que as memórias paroquiais de Forninhos orientadas pelo Marquês de Pombal estão assinadas pelo Cura Baltazar Dias . Estas, constantes do Dicionário Geográfico de Portugal que foi publicado pelo Padre Luís Cardoso, que o ofereceu ao Rei D. João V, foram assinadas pelo Abbade João da Costa Feixo e os Vigários Jozé de Freitas da Costa Villasboas e Manoel de Novaes de Sá, no dia 14 de Maio de 1758.
      Mais tarde, em 20 de Junho, o Baltazar Dias copiou as questões do inquérito de Maio?
      Mas obrigada pelo que informas sobre a fonte Dum. Com certeza essa bica ou nascente deu o nome ao sítio; ainda me lembro da bica e ser cultivada pelo tio Ismael nos anos 80.
      Posso acrescentar que uma irmã do teu bisavô Saraiva, chamada Ana, casou com um irmão do pai da Dona Laura.

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  4. Grato pela partilha. Gostei de ler.
    Cumprimentos poéticos

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  5. Bom dia

    Uma tantas vezes nos anos 90 banhei - me nesse vosso rio com
    os meus filhos ainda pequenos .
    Não fosse o acesso íngreme no
    regresso seria uma coisa para se repetir dezenas de vezes.
    Lugar ímpar .🙏🙏🙏🙏

    Parabéns pelo post
    Forninhos no seu melhor .
    Quando encontro Beirões digo com
    Orgulho que mergulhei onde nasce
    o Dão . !!
    Isso serve de cartão de visita e para
    bom começo de conversa .
    Ás vezes acaba em negócio .
    Ser metade madeirense e metade beirão ( a minha segunda família é de Sobral Pichorro ) têm me dado um jeito do caraças .
    Óbvio Beira Alta, 100 - Madeira , 0
    em hospitalidade . Os madeirenses
    não abrem as portas de casa logo assim ...á primeira . Só depois de
    muita conversa de café misturas e bebedeiras ...😛😛

    Abraço

    Antonio Miguel Gouveia

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    1. Bom dia Miguel Gouveia,
      O rio da minha aldeia era o melhor local fluvial da redondeza e foi bem importante noutro tempo e só não digo "deste tempo", porque hoje os jovens já não querem estes locais que são nossos, para se divertirem. É pena e tudo podia ser diferente, mas com o propósito sempre de cada um ser o mestre da obra, não se faz nada de duradouro nem de interesse geral para ninguém. Forninhos orgulhoso "orgulhosa-mente só"...
      Bom feriado.
      Viva o 25 de Abril.

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  6. Trabalho de pesquisa e conhecido maravilhoso digno do mais elogio. Conhecendo gostei muito do seu blogue. Fiquei fã
    .
    Abri um blogue de poesia. Gostava que o conhecesse, visitando. Obrigada.
    -
    ilusoesepoesiaadulta – (sem vernáculo)
    .

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    1. Agradeço o seu interesse e elogio e consoante a minha disponibilidade visitarei o seu blogue, mas "custa-me" comentar poemas.

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  7. Sempre a aprender por aqui! Uma ótima semana!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Aqui i lema sempre foi: “Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar".

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  8. Anónimo4/25/2023

    Uma postagem muito boa e gostei dos dizeres do hino de Forninhos sobre o Rio Dão.
    Fotos bonitas.
    Bjs, Anete

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    1. De vez em quando ainda se canta, embora a aldeia de Forninhos fique num vale e não na encosta da serra, quando muito fica no fundo da serra.
      Bjs

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  9. Boa noite Paula,
    Um post que me tinha escapado e que muito apreciei.
    Revela um trabalho de pesquisa intenso, mas que deu bons frutos pelos pormenores que partilhou.
    Parabéns, Paula, por este belo trabalho.
    Beijinhos,
    Ailime

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    1. Obrigada Ailime,
      Apraz-me ler documentos antigos e, depois, falar do nosso rio é sempre agradável, é natureza no seu estado puro.
      Beijinhos e saúde.

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