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sexta-feira, 12 de março de 2021

No Balcão


Não havia rua ou lugar da aldeia em que não houvesse uma casa com estas escadarias de pedra a que chamavamos de balcões...e ranchos de miudagem. 
Nestes balcões, no Verão era comum as pessoas sentarem-se para apanharem a fresca. Eram também ponto de encontro da mocidade que depois de mais um dia de escola e do trigueirar nos campos, ainda tinham genica para calcorrear as ruas e tantos jogos jogar nas quentes tardes de verão...depois e se ainda me recordo, no meio das picardias próprias da idade, ainda vinham cantorias cantadas ao desaforo, por vezes até invulgares...
Uma vez e moço novo, andava eu no seminário de Gouveia e lá na orquestra, tocava bandolim.
Nas férias de Carnaval, trouxe o instrumento para a aldeia e na Quarta-feira de Cinzas, deu-nos para a maluqueira no Lugar do Outeiro.
Coisa para os mais chegados, quase os mesmos de sempre no balcão das Brasileiras que se juntavam pela tardinha, e puxo do bandolim, dança a Nazaré e a Zita e outros que se foram juntando.
Caíu mal no povo por ser quaresma e o padre ralhou na missa do domingo seguinte. 
Ainda não havia a televisão e a rádio quem a tinha eram poucos. 
Bem-haja a Jessica de Melo pela fotoConfesso que me perco nos rostos, mas jamais no sentimento destas reuniões de carinhos.

18 comentários:

  1. Linda foto e até o padre ralhando valeu,rs...Eram tempos assim,não? Lindas lembranças! beijos, lindo fds! chica

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    1. Depois do Carnaval cessavam quaisquer demonstrações de alegria e até às crianças proibiam o simples assobio!
      Mas tudo valeu a pena e esta foto torna-se ainda mais significativa e saborosa para todos nós, pelo cenário e pessoas que bem conhecemos.
      Beijinho chica.

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  2. Quando esta foto foi tirada já havia televisão, uma vez que se vê ao longe uma antena (talvez da Venda do tio Augusto Marques ou do meu tio Zé Matela). A casa é da pessoa que se vê ao cimo do balcão, o tio Maximiano Afonso; também lá vejo a sua esposa, tia Deolinda e alguns rostos do Ribeiro e Lage da Eira/Barroca.
    O meu bem-haja também à Jessica Melo.
    Tantos balcões que merecem ser recordados!
    O do ti ´Armando Castanheira, o da ti´Felisbela (que já aqui recordamos em 2012), o das ti´brasileiras, o da ti´Adélia, o da ti´Ludovina e até, no Lugar, o da minha avó Jesus. Os moradores faleceram e começaram a ficar vazios, mas a televisão também ajudou, claro.
    Sobre a quaresma...
    Penso que naquele tempo havia da parte dos seminaristas e ex-seminaristas, uma atitude muito mais aberta em relação à divindade do que a das pessoas da aldeia.
    A mentalidade do nosso povo era quase a mesma das décadas passadas: submissão, adoração, medo...elas não percebiam que o Deus em que tínhamos sido educados era muito mais tolerante, mais amigo, mais amor. Não tínhamos medo de brincar com Ele! E isso, por vezes, criava confusões nas mentes das pessoas que nos viam dançar e ouviam cantar em plena quaresma.
    Por outro lado sendo adolescentes eramos naturalmente propensos a fazer e dizer maluquices!
    Obrigada Xico por partilhares connosco este episódio, já conhecia, mas é sempre bom recordar.
    Eram outros tempos!

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    1. Em garoto, subi muitas vezes essa escadaria, era bem recebido por essa Gente de bem, que sempre foram.
      Eram momentos únicos: escutar aqueles que eu considero "bibliotecas vivas". Muitos já não estão entre nós e entretanto despovoamo-nos. É pena...
      Na idade dos "porquês" nós crianças tínhamos de ir em jejum para a comunhão e era pecado bater no céu da boca com a óstia sagrada.
      A nossa terra tem uma mão cheia de ex-seminaristas se cada um nos contar uma história, ainda que curta, somos capazes de nos rir mais vezes por aqui, mesmo os mais sisudos.

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  3. Boa tarde, foto interessante parabéns.

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  4. Olá, querida amiga Paula!
    Santa Zita é muito lembrada aqui na família, padroeira das empregadas domésticas.
    Admiro tanto as histórias da sua aldeia
    Como aprecio histórias do povoado, tenho alma interiorana.
    Parabéns pela narrativa!
    Seja muito feliz e abençoada!
    Beijinhos, saúde e preces
    🍀🙏👼🙌🕊️💐😘

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    1. Olá Rosélia,
      As histórias construídas a partir de ocorrências concretas na aldeia, vividas ou contadas pelos mais velhos, são as mais lindas, nem as mais arranjadas e compostas pelos bons escritores se lhes comparam!
      O XicoAlmeida é muito bom a contar as suas historias no presente do indicativo.
      Beijinhos e votos de melhoras.

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  5. Gostei muito da foto e da boa narração do Xico.
    Tantas coisas assim e tão significativas, como encontros com bate-papos gostosos em escadarias. Puxa, realmente momentos felizes!
    O meu abraço aos dois...

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    1. Histórias do quotidiano como esta, não hão de faltar, Anete! Temos de ir mais vezes ao fundo do baú das memórias e trazer aqui outras que têm estado lá guardadas.
      Um Grande Abraço para aí.

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  6. Adoro as fotos antigas. elas são sempre fontes de recordações
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Quanto eu concordo com a minha amiga!
      Não sei dizer do que se trata, mas é notório que o tempo estava de feição e que seria domingo ou dia de festa (pelo vestuário dos fotografados)?!?
      Abraço e bom domingo com saúde.

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  7. Bom dia Xico,
    Bela narrativa de recordações passadas nos balcões com os jovens a divertirem-se com boas conversas e seus cantares.
    Antigamente os padres das aldeias não deixavam escapar nada e lá vinha o responso na Igreja e neste caso esteve o Xico na berlinda.
    Tempos que não esquecem.
    Beijinhos para a Paula e Xico.
    Bom domingo com saúde.
    Ailime

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    1. Ailime, ainda hoje não lhes escapa nada!
      No final da missa quase sempre vem a reprimenda, nem que seja porque se enganaram num cântico! Fazem-nos crer que até as coisas mais naturais e inocentes são propositamente mal feitas! Parece que o bom para a alma é ser pobre e infeliz, mas há um ditado que diz "Um santo triste é um triste santo". Portanto, um cristão triste é um triste cristão.
      Os balcões estão vazios, há menos alegria nas ruas, mas os dias são melhores ao redor de pessoas felizes e bem humoradas, capazes de se rirem e fazer rir os outros.
      Saúde e bom domingo!
      Bjs

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  8. Uau!... quanta história aí vivida!!!
    Bj

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    1. Um baú de memórias, vidas inteiras de encontros e desencontros e acima de tudo a alegria na mocidade.
      Bj.

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  9. Boa Noite

    Há poucos meses tive essa sensação
    estranha e carregada de sentimentos
    de ver fotos minhas com minhas irmãs e primas , com uma das minhas avós .
    Bela . Mãe do meu falecido Pai.
    A nossa Mocidade e Juventude , para nós , os "cotas" de 50 e muitos nada tem a ver com a Infância e Juventude dos nossos filhos, sobrinhos, amigos ou enteados.
    Lembro - me, por exemplo, dos Santos Populares em Junho , Julho e como saltavámos á fogueira. Ora por Santo Antônio .Ora por São João, São Pedro e Santa Isabel .
    As brincadeiras.Os carrinhos de cana
    o dominó . Os papagaios de papel.
    Vocês reuniam nos "balcões" , nas escadarias. Também eu tinha escadas e degraus e redor da minha casa.
    Como era tudo tão diferente . Havia televisão a preto e branco . Havia comunicação por carta e os carteiros eram mensageiros de filhos na guerra ou emigrados. Nas Américas e África.
    Havia um lugar na mesa para o Pai.
    Quem não respeitasse e cumprisse era castigado . Havia tareia . De vime ou sapato. Chileno. Mas éramos mais felizes que hoje . Porquê ?
    As ambições e expetativas eram mais baixas. Quando queiramos comer fora, meu Pai dizia que a mesa e cadeiras podiam se colocadas no quintal e já estávamos fora . A almoçar fora....
    Havia respeito pelos mais velhos e
    sobretudo as Mães desempenhavam o
    seu papel a tempo inteiro .Cuidavam
    ensinavam os filhos . E raras vezes
    havia deslizes . Em poucas famílias
    essa função da Mãe a tempo inteiro não era visível . E quase sempre com
    resultados.Os que andavam na "borga"
    eram os que tinham a Mãe menos presente.Isso determinou o meu olhar e percurso . Acho mesmo que o lado
    bom de mim está na vincada educação
    de minha Mãe . Sempre presente na minha luta . Ela que alertou para o
    desperdício da Sociedade . E mesmo
    em minha casa . Comida . E excessos
    que os anos noventa e a mudança de Século foi transversal á nossa sociedade se consumo .
    Com as amarguras , dificuldades e restrições desta Pandemia , as conversas remexem o meu espírito e hoje mais do que nunca as fotos de
    quando fomos meninos e meninas podem
    ajudar cada um de nós a perceber o que fomos , o que somos e que pretendemos ser .
    Sem saber quando cada um de nós se apaga , o certo , o mais certo é aprendemos com os erros e AMARMOS
    cada vez mais a nossa caminhada .
    E os que nos rodeiam...

    Abraço
    Miguel Gouveia

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  10. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
    Muda-se o ser, muda-se a confiança;
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades".
    Tal já dizia o poeta...
    Bem-haja amigo pela partilha e a profundidade de sentimento a que já nos habituou.
    Abraço.

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