Não havia rua ou lugar da aldeia em que não houvesse uma casa com estas escadarias de pedra a que chamavamos de balcões...e ranchos de miudagem.
Nestes balcões, no Verão era comum as pessoas sentarem-se para apanharem a fresca. Eram também ponto de encontro da mocidade que depois de mais um dia de escola e do trigueirar nos campos, ainda tinham genica para calcorrear as ruas e tantos jogos jogar nas quentes tardes de verão...depois e se ainda me recordo, no meio das picardias próprias da idade, ainda vinham cantorias cantadas ao desaforo, por vezes até invulgares...
Uma vez e moço novo, andava eu no seminário de Gouveia e lá na orquestra, tocava bandolim.
Nas férias de Carnaval, trouxe o instrumento para a aldeia e na Quarta-feira de Cinzas, deu-nos para a maluqueira no Lugar do Outeiro.
Coisa para os mais chegados, quase os mesmos de sempre no balcão das Brasileiras que se juntavam pela tardinha, e puxo do bandolim, dança a Nazaré e a Zita e outros que se foram juntando.
Caíu mal no povo por ser quaresma e o padre ralhou na missa do domingo seguinte.
Ainda não havia a televisão e a rádio quem a tinha eram poucos.
Bem-haja a Jessica de Melo pela foto. Confesso que me perco nos rostos, mas jamais no sentimento destas reuniões de carinhos.
Linda foto e até o padre ralhando valeu,rs...Eram tempos assim,não? Lindas lembranças! beijos, lindo fds! chica
ResponderEliminarDepois do Carnaval cessavam quaisquer demonstrações de alegria e até às crianças proibiam o simples assobio!
EliminarMas tudo valeu a pena e esta foto torna-se ainda mais significativa e saborosa para todos nós, pelo cenário e pessoas que bem conhecemos.
Beijinho chica.
Quando esta foto foi tirada já havia televisão, uma vez que se vê ao longe uma antena (talvez da Venda do tio Augusto Marques ou do meu tio Zé Matela). A casa é da pessoa que se vê ao cimo do balcão, o tio Maximiano Afonso; também lá vejo a sua esposa, tia Deolinda e alguns rostos do Ribeiro e Lage da Eira/Barroca.
ResponderEliminarO meu bem-haja também à Jessica Melo.
Tantos balcões que merecem ser recordados!
O do ti ´Armando Castanheira, o da ti´Felisbela (que já aqui recordamos em 2012), o das ti´brasileiras, o da ti´Adélia, o da ti´Ludovina e até, no Lugar, o da minha avó Jesus. Os moradores faleceram e começaram a ficar vazios, mas a televisão também ajudou, claro.
Sobre a quaresma...
Penso que naquele tempo havia da parte dos seminaristas e ex-seminaristas, uma atitude muito mais aberta em relação à divindade do que a das pessoas da aldeia.
A mentalidade do nosso povo era quase a mesma das décadas passadas: submissão, adoração, medo...elas não percebiam que o Deus em que tínhamos sido educados era muito mais tolerante, mais amigo, mais amor. Não tínhamos medo de brincar com Ele! E isso, por vezes, criava confusões nas mentes das pessoas que nos viam dançar e ouviam cantar em plena quaresma.
Por outro lado sendo adolescentes eramos naturalmente propensos a fazer e dizer maluquices!
Obrigada Xico por partilhares connosco este episódio, já conhecia, mas é sempre bom recordar.
Eram outros tempos!
Em garoto, subi muitas vezes essa escadaria, era bem recebido por essa Gente de bem, que sempre foram.
EliminarEram momentos únicos: escutar aqueles que eu considero "bibliotecas vivas". Muitos já não estão entre nós e entretanto despovoamo-nos. É pena...
Na idade dos "porquês" nós crianças tínhamos de ir em jejum para a comunhão e era pecado bater no céu da boca com a óstia sagrada.
A nossa terra tem uma mão cheia de ex-seminaristas se cada um nos contar uma história, ainda que curta, somos capazes de nos rir mais vezes por aqui, mesmo os mais sisudos.
Boa tarde, foto interessante parabéns.
ResponderEliminarObrigada.
EliminarUm abraço.
Olá, querida amiga Paula!
ResponderEliminarSanta Zita é muito lembrada aqui na família, padroeira das empregadas domésticas.
Admiro tanto as histórias da sua aldeia
Como aprecio histórias do povoado, tenho alma interiorana.
Parabéns pela narrativa!
Seja muito feliz e abençoada!
Beijinhos, saúde e preces
🍀🙏👼🙌🕊️💐😘
Olá Rosélia,
EliminarAs histórias construídas a partir de ocorrências concretas na aldeia, vividas ou contadas pelos mais velhos, são as mais lindas, nem as mais arranjadas e compostas pelos bons escritores se lhes comparam!
O XicoAlmeida é muito bom a contar as suas historias no presente do indicativo.
Beijinhos e votos de melhoras.
Gostei muito da foto e da boa narração do Xico.
ResponderEliminarTantas coisas assim e tão significativas, como encontros com bate-papos gostosos em escadarias. Puxa, realmente momentos felizes!
O meu abraço aos dois...
Histórias do quotidiano como esta, não hão de faltar, Anete! Temos de ir mais vezes ao fundo do baú das memórias e trazer aqui outras que têm estado lá guardadas.
EliminarUm Grande Abraço para aí.
Adoro as fotos antigas. elas são sempre fontes de recordações
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
Quanto eu concordo com a minha amiga!
EliminarNão sei dizer do que se trata, mas é notório que o tempo estava de feição e que seria domingo ou dia de festa (pelo vestuário dos fotografados)?!?
Abraço e bom domingo com saúde.
Bom dia Xico,
ResponderEliminarBela narrativa de recordações passadas nos balcões com os jovens a divertirem-se com boas conversas e seus cantares.
Antigamente os padres das aldeias não deixavam escapar nada e lá vinha o responso na Igreja e neste caso esteve o Xico na berlinda.
Tempos que não esquecem.
Beijinhos para a Paula e Xico.
Bom domingo com saúde.
Ailime
Ailime, ainda hoje não lhes escapa nada!
EliminarNo final da missa quase sempre vem a reprimenda, nem que seja porque se enganaram num cântico! Fazem-nos crer que até as coisas mais naturais e inocentes são propositamente mal feitas! Parece que o bom para a alma é ser pobre e infeliz, mas há um ditado que diz "Um santo triste é um triste santo". Portanto, um cristão triste é um triste cristão.
Os balcões estão vazios, há menos alegria nas ruas, mas os dias são melhores ao redor de pessoas felizes e bem humoradas, capazes de se rirem e fazer rir os outros.
Saúde e bom domingo!
Bjs
Uau!... quanta história aí vivida!!!
ResponderEliminarBj
Um baú de memórias, vidas inteiras de encontros e desencontros e acima de tudo a alegria na mocidade.
EliminarBj.
Boa Noite
ResponderEliminarHá poucos meses tive essa sensação
estranha e carregada de sentimentos
de ver fotos minhas com minhas irmãs e primas , com uma das minhas avós .
Bela . Mãe do meu falecido Pai.
A nossa Mocidade e Juventude , para nós , os "cotas" de 50 e muitos nada tem a ver com a Infância e Juventude dos nossos filhos, sobrinhos, amigos ou enteados.
Lembro - me, por exemplo, dos Santos Populares em Junho , Julho e como saltavámos á fogueira. Ora por Santo Antônio .Ora por São João, São Pedro e Santa Isabel .
As brincadeiras.Os carrinhos de cana
o dominó . Os papagaios de papel.
Vocês reuniam nos "balcões" , nas escadarias. Também eu tinha escadas e degraus e redor da minha casa.
Como era tudo tão diferente . Havia televisão a preto e branco . Havia comunicação por carta e os carteiros eram mensageiros de filhos na guerra ou emigrados. Nas Américas e África.
Havia um lugar na mesa para o Pai.
Quem não respeitasse e cumprisse era castigado . Havia tareia . De vime ou sapato. Chileno. Mas éramos mais felizes que hoje . Porquê ?
As ambições e expetativas eram mais baixas. Quando queiramos comer fora, meu Pai dizia que a mesa e cadeiras podiam se colocadas no quintal e já estávamos fora . A almoçar fora....
Havia respeito pelos mais velhos e
sobretudo as Mães desempenhavam o
seu papel a tempo inteiro .Cuidavam
ensinavam os filhos . E raras vezes
havia deslizes . Em poucas famílias
essa função da Mãe a tempo inteiro não era visível . E quase sempre com
resultados.Os que andavam na "borga"
eram os que tinham a Mãe menos presente.Isso determinou o meu olhar e percurso . Acho mesmo que o lado
bom de mim está na vincada educação
de minha Mãe . Sempre presente na minha luta . Ela que alertou para o
desperdício da Sociedade . E mesmo
em minha casa . Comida . E excessos
que os anos noventa e a mudança de Século foi transversal á nossa sociedade se consumo .
Com as amarguras , dificuldades e restrições desta Pandemia , as conversas remexem o meu espírito e hoje mais do que nunca as fotos de
quando fomos meninos e meninas podem
ajudar cada um de nós a perceber o que fomos , o que somos e que pretendemos ser .
Sem saber quando cada um de nós se apaga , o certo , o mais certo é aprendemos com os erros e AMARMOS
cada vez mais a nossa caminhada .
E os que nos rodeiam...
Abraço
Miguel Gouveia
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
ResponderEliminarMuda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades".
Tal já dizia o poeta...
Bem-haja amigo pela partilha e a profundidade de sentimento a que já nos habituou.
Abraço.