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domingo, 21 de junho de 2020

Tempos do Padre António Vieira

A propósito da estátua do Padre António Vieira,  situada em Lisboa, junto da Igreja de São Roque (onde ele pronunciou alguns dos seus mais brilhantes sermões), que foi recentemente vandalizada, fazemos saber que a nossa pequena aldeia esteve presente no mundo dos meados do século XVII, quando Portugal se estendia pelo mundo cosmopolito que o Padre António Vieira tinha criado e onde era actor...
Era do mesmo tempo o nosso jovem soldado Manuel Nunes, vítima da Inquisição por simpatizar com hereges.
Um homem livre que poderia ter ficado na Holanda a receber o seu soldo e onde haveria mais possibilidade de riqueza, mas que arriscou voltar a Portugal e voluntariamente apresentou-se na Inquisição de Lisboa.
Mais informações:
É pena não termos mais dados  sobre os descendentes deste soldado forninhense embarcado nas guerras luso-holandesas que se seguiram à Restauração da nossa Nação em 1640, ainda assim é um orgulho saber que a nossa pequena aldeia esteve presente no mundo nos meados do século XVII.
O nome "Nunes" existe em Forninhos e o "Gonçalves" de seu pai também, mas não sabemos se existe alguma ligação familiar.
Certamente Manuel Nunes teve contactos com espanhois, holandeses, protestantes, cristãos-novos e judeus.

Estátua do Padre António Vieira
pintada de vermelho

Para relembrar quem foi o Padre António Vieira escrevemos algumas palavras:
António Vieira foi um dos mais rigorosos artistas da palavra em língua portuguesa, foi "um imperador da língua portuguesa", como o chamou Fernando Pessoa; uma figura paradigmática da mentalidade seiscentista, missionário jesuíta, orador que atraía multidões, político e diplomata da Restauração, profeta do Quinto Império e vítima da Inquisição.
Nasceu em Lisboa, em 1608, sendo a sua avó paterna negra ou mulata, mas a origem étnica em nada afectaria a afirmação de Vieira na sociedade portuguesa do século XVII.
O Padre António Vieira projectou o que havia de mais universal na Nação Portuguesa, sendo percursor e humanista moderno reconhecido por toda da Europa de então nesses tempos agitados onde Portugal quase podia ter desaparecido se não fosse a sua habilidade e o seu patriotismo.
Foi um exemplo de homem lúcido e corajoso, capaz de lutar com denodo por aquilo em que acreditava e depois um Padre que baseou o seu viver e o seu pregar em concordância com os verdadeiros valores evangélicos.
Os seus sermões, proferidos a partir do púlpito da Igreja jesuíta de São Roque, atraíam tanta gente  que os nobres e burgueses mandavam os seus criados ao alvorecer para lhes guardarem o lugar.
Entre os seus sermões, alguns dos mais célebres são: "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda", o  "Sermão do Bom Ladrão", "Sermão de Santo António aos Peixes" entre outros.
António Vieira defendeu os judeus, a abolição da distinção entre cristão-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (aqueles cujas famílias eram católicas a gerações) e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes e a própria Inquisição.
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14 comentários:

  1. Que triste ver o vandalismo chegando em todos os lugares! Pena! beijos, linda semana,chica

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    1. A Portugal chegou de uma forma ridícula e irracional. O Padre António Vieira é a figura cimeira da cultura portuguesa do século XVII!
      É uma época da qual não tenho grande simpatia, mas temos que a aceitar, só que agora parece que está na moda andar meio mundo a pedir perdão ao outro meio, pelo que aconteceu há séculos!
      Bj, boa semana.

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  2. Uma figura Superior na nossa História, ao tempo e no seu enquadramento sócio/religioso.
    Por mim, penso que quase todas as aldeias dexaram uma pegada na caminhada dessas lembranças de outrora; uns esquecem, outros tentam que não se percam nas brumas da memória pois muitos jovens soldados foram Manuel Nunes.
    Ainda bem que sou do tempo de ser educado em casa, aprender respeito na escola e cultura, agora hà que acabar com estes vandalismos libertinos...

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    1. Manuel Nunes informou que antes de regressar à cidade de Lisboa esteve na Holanda, onde conviveu com todo o tipo de pessoas.
      Mais referiu que nesses anos teve como companheiros outros 11 militares portugueses, igualmente presos pelos holandeses e a quem também serviram como soldados, os quais eram naturais de outras terras portuguesas.
      Se cada terra procurar as gentes dessa época, poderá encontrar boas surpresas para a sua História.

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  3. Bom dia de nova semana, querida amiga Paula!
    Em Anchieta, ES, onde morei, temos a estátua de São José de Anchieta, parceiro e amigo de Antônio Vieira!
    Também foi vandalizada e restaurada depois da canonização.
    Que pena não serem respeitadas!
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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    1. São Anchieta estará para o Brasil como o Pe. António Vieira está para Portugal.
      Anchieta também deixou a sua marca no campo cultural.
      É famoso o seu poema da "Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus".
      Beijo e votos de boa semana.

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  4. Bom dia Paula,
    A ignorância e a irresponsabilidade estão a tomar conta deste nosso novo mundo a braços já com tantos problemas.
    Não querendo fugir ao tema veja-se os ajuntamentos dos jovens por esta Europa fora em tempo de Pandemia.
    Sobre o Padre António Vieira foi na verdade um Ilustre Português.
    Gostei de saber também mais um pouco da história de Forninhos e do vosso bravo soldado Manuel Nunes.
    Um excelente artigo, Paula.
    Um beijinho e continuação de boa semana, com saúde.
    Ailime

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    1. Ailime, os jovens Hoje vivem sem pensar nos Amanhãs!!!
      Sobre este bravo soldado. Bem...já aqui (no Blog) uma pessoa disse, de uma forma pífia, que de Forninhos só tinha a nascença!!
      Querendo com isso dizer que os de Forninhos só são aguerridos para os da terra!
      Enfim...
      Um jovem que de Foninhos vem para Lisboa (refere que foi crismado na Igreja de Santa Justa) e embarca para as Indias com 13 anos, não era aguerrido?
      Nas décadas de 50 e 60 do século passado, sabemos, que era normal enviar os filhos com essa idade para as cidades...como é que seria no século XVII?
      E, um homem solteiro como ele, poderia ter ficado na Indonésia ou na India e lá formar família. Ou, então, ter ficado na Holanda onde haveria mais possibilidades de riqueza, no entanto, voluntariamente voltou a Portugal. Naquela altura podemos dizer que voltar foi uma aventura muito arriscada!!
      Apresentou-se na Inquisição de Lisboa e foi julgado em dois dias!!
      Estranho...
      Os inquisidores não tinham como averiguar o que fosse em dois dias, nem tinham - acho eu - como ir em Forninhos averiguar a veracidade da sua identidade, mas ele deu-lhes informações suficientes para que fosse apenas advertido a não reincidir nas culpas confessadas e a manter-se um fiel católico.
      Diz que o Cura que o baptizou já tinha falecido (talvez o soubesse antes de embarcar para a Índia), mas acho que foi o nome do padrinho a palavra chave que lhe deu a garantia de ser baptizado na Igreja de Santa Marinha de Forninhos!
      Desconhece-se o real motivo do seu regresso, mas foram muito inteligentes as suas declarações.
      Já me empolguei e...alonguei. Beijo, Beijo, boa semana com saúde também.

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  5. É sempre bom lembrar o Padre António Vieira um dos grandes vultos da nossa cultura, o que fizeram à estátua é incompreensível e puro vandalismo.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Para quem o fez, ficam as pertinentes palavras do próprio padre António Vieira:
      «Quem faz acções de Elias é Elias; quem fizer acções de Batista será Batista; e quem as fizer de Judas será Judas. Cada um é as suas acções, e não é outra coisa. Oh que grande doutrina esta para o lugar em que estamos! Quando vos perguntarem quem sois, não vades revolver o nobiliário de vossos avós, ide ver a matrícula de vossas acções. O que fazeis, isso sois, e nada mais».
      Um abraço e continuação de boa semana.

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  6. O Padre Antônio Vieira é admirável, li alguns dos seus belos escritos. Que coisa horrível essa da pixação...
    Ótimo post!
    Abraços

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    1. Obrigada Anete.
      Lisboa achou que não podia ficar à margem da onda de derrube de estátuas na alegada luta contra o racismo!
      Mas vandalizar a estátua de um homem que se orgulhava do tom escuro da sua pele e que em pleno século XVII denunciou na corte portuguesa a brutalidade com que os escravos negros eram (mal)tratados no Brasil, exigindo que fossem tratados como seres humanos e não como animais de carga é, no mínimo, anedótico!
      Abraços&Beijos.

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  7. Boa tarde
    Paula

    Excelente .
    Muito bom este apontamento .

    Parabéns !
    Desejo que FORNINHOS saiba reconhecer este seu empenho .
    Na Divulgação .
    Na História .
    Na honra .
    Na amplitude das suas gentes pelo Mundo .

    Fiquem bem
    Em Paz
    Cuidem - se da crise Pandémica .

    MG

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    1. Deixe que lhe diga que fiquei deveras agradada com o seu comentário MG!
      Mas como Forninhos já não é um povo não sabe reconhecer este empenho (um povo só é digno desse nome, quando não renega o passado, que o preserva, que o estuda e que o faz recordar e comover).

      Tudo de bom para si neste ano do coronavirus!

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