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quinta-feira, 21 de maio de 2020

5.ª Feira de Ascensão

Hoje é 5.ª feira de Ascensão. Para muitos é o dia da espiga, mas eu sempre conheci este dia como a 5.ª feira de Ascensão, o dia em que Jesus Cristo subiu (ascendeu) ao céu em corpo e alma, após 40 dias na terra, depois da ressureição.
Em tempos, terá sido um importante feriado religioso, o dia em que eram benzidos os campos, principalmente os dos cereais, que eram primordiais na alimentação humana e dos animais. 
Depois que deixou de ser feriado, a Ascensão é celebrada no domingo próximo.


Em conversa telefónica com algumas pessoas, a maior parte bem se lembra da procissão das ladaínhas à volta da igreja e da benção ser feita no sentido Cruzeiro Paroquial/Casa Paroquial. De volta ao interior da igreja realizava-se a cerimónia, com o Santíssimo Sacramento exposto na Custódia e com todo o povo ajoelhado e na altura da "uma hora santa" do altar-mor era atirada em direcção ao Santíssimo uma chuva de pétalas de rosas desfolhadas. Era como o dia do Lausperene.
- Dia do Lausperene? Perguntei eu.
- Sim, em memória do período que o corpo de Jesus Cristo passou no túmulo até à Ressureição, só que agora era para lembrar a Ascensão de Jesus, o senhor padre vinha também aspergir com água benta.
- Ah! não me lembro nada disto, dentro da igreja só lembro na minha infância, de atirar punhados de pétalas de rosas para cima do altar de Nossa Senhora de Fátima no último dia do mês de Maio, no final de se rezar o terço.
Enchiam-se açafates com pétalas de rosas de várias cores, brancas, cor de rosa, amarelas, vermelhas, mas predominavam as vermelhas.
- Agora o que se verifica é que ao longo da história,  a Igreja Católica tem andado muitas vezes às aranhas em relação a muita coisa. Não fazem as coisas bem feitas. Desta vez os campos não vão ser benzidos por causa do estranho covid-19, mas no ano passado o padre também já não abençoou os primeiros frutos.
-Também não sabia disto. Foi a chuva que o impediu?
-Não, não lhe apeteceu. De tal maneira que...
- Dizia a minha mãe que neste dia os passarinhos não iam ao ninho.
- E também se dizia, e disto eu lembro-me,"Dia da Ascensão seca a raíz ao Pão" anunciando assim o pão, a vida e o aloirar/amadurecer das searas.

17 comentários:

  1. Boa noite de paz e saúde, querida amiga!
    Muito interessante o costume religioso daí.
    Bendizer a primeira colheita é uma tradição em muitos locais, pois sermos gratos agrada por demais ao Senhor Deus, certamente.
    Tanto Ele nos oferta ao longo do ano, da vida...
    Gostei muito de ler suas memórias de um tempo que mudou muito...
    Viva a Ascenção de Nosso Senhor Jesus Cristo!
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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    1. Sim, em muitos lugares se cumpre também. Tem a validade de um ano, por isso nesse dia se renova e se começa outro ciclo.
      Bom fim de semana com saúde!

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  2. Que coisa...As cabeças mudam, os ventos sopram e as pessoas fazem o que lhes dá na tampa,rs...Pena! beijos, chica

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    1. O actual pároco, empedernido da sua juventude, parecer ter dificuldade em perceber que, nunca conseguirá fazer bem o seu trabalho se não fomentar no seu povo a honradez das suas crenças e tradições.
      Bje bom fim-de-semana.

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  3. Um post muito interessante.
    Pena que os costumes e tradições se vão perdendo nos tempos.
    Abraço e saúde

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    1. Acho que a igreja que somos todos (não é um padre) as deixamos morrer para mais tarde haver motivo para as recriar!
      Abraço Gd.

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  4. Só ouvi falar deste dia há pouco tempo!
    Obrigado pela partilha!
    ...
    Relativamente aos passadiços de Arcozelo não sei quantos km são mas são fáceis de fazer, num bom troço, com muita gente porque vai dar a Miramar à praia!
    Começa junto ao cemitério de Santa Maria Adelaide em Arcozelo!
    Bj

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    1. O Google acabou de informar-me que ida e volta são cerca de 5 km. É um percurso que também gostava de fazer.
      Bj

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  5. Olá, Paula...
    Os tempos vão mudando e surge cada uma! Ainda mais agora em tempo de Coronavírus... Só Deus nas causas!!!
    Gostei de ler e refletir no seu texto...
    Bjs e feliz fim de semana...

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    1. Pois é, ainda mais agora que a fome anda por aí e já não é só uma ameaça...Só Deus nas causas!!!
      Um abraço de amizade.
      Bom fim de semana.

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  6. " Reparando na vidraça, viu o pano da aurora colado contra ela, lívido, estanhado, sem profundura, como a água de rio turvado pelo vento. E, interrompendo devaneios e devoções, recitou a oração da manhã:
    Bendita seja a luz do dia, bendito seja quem a cria; bendita a água das fontes, bendita a urze dos montes; bendito o linho na estriga, bendito o pão na espiga e o pão alvo já cozido; bendito o rico e o desvalido; bendita a ovelha que dá a lã, e o arado que lavra a chã; bendita a Virgem Santa Maria, para que nos dê um bom dia, e na hora da nossa morte nos assista e nos conforte, nos dê graça, nos dê luz, ora e sempre, amém Jesus!
    (Aquilino Ribeiro).

    Agora não temos padre nem espigas, vale que sobram as flores do campo, aquelas que são louvadas pelas gentes rudes...
    DIA DA ESPIGA
    Vale a pena recordar e celebrar com a poesia de Miguel Torga!
    "Não sei que tem a luz da primavera, . .
    Que me embebeda !
    Será que eu bebo por telepatia
    A alegria
    Do vinho que há-de vir ?
    Embriagado ando, de certeza...
    A cair,
    Só de ver outro sol na natureza.

    Mais um excelente post, fruto de muita pesquisa, por mim, fico pela parte humana pois a celestial leva mais tempo a encontrar que míscaros depois do Nata...
    Vai um abraço que hoje é o dia deles!!!

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    1. A Igreja Católica aceitou, em tempos, quase sem questionar, as manifestações religiosas populares pagãs, depois de cristianizadas. O povo religiosamente tudo aceitou, também quase sem questionar. Agora anda padre e povo às aranhas, incapazes de encontrar a saída, não só no que respeita à Ascensão, como quanto a qualquer fenómeno religioso. Estou a lembrar-me dos 300 anos do Milagre ocorrido nas searas da nossa região, destruídas pelos bichos. Era de 1720.
      O que é que a Igreja, repito, que somos Todos, já fez para lembrar a data?
      O dia de Santa Cruz que foi a 3 de Maio já passou «nada».
      O Espírito Santo está à porta «nada». Noutra terra, que não Forninhos, já haveria um cartaz, com o seguinte dizer:
      «Devido à situação actual de pandemia, a tradicional romaria será substituída pelo seguinte programa: ......"
      É assim tão difícil aceitar as sugestões genuínas quem vêm do exterior, principalmente daqueles que apesar de longe sentem a sua terra com o coração??
      E, finalizo com uma frase das "Terras do Demo", de Aquilino:
      «O senhor padre não abria os beiços, tão ausente da família como se ela não existisse ou morasse no cabo do mundo.»

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    2. (aditamento ao comentário anterior que era para escrever, mas que acabou por me passar).
      Na altura da "uma hora santa" quem atirava em direcção ao Santíssimo uma chuva de pétalas de rosas desfolhadas era sempre o teu avô Francisco.
      Depois do seu falecimento muita coisa se perdeu.
      Merecia uma homenagem por parte de Forninhos, por tão bem cuidar da Capela e Igreja.

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    3. Bem-hajas por aqui o trazeres. O meu querido avô Francisco, meu segundo pai e meu padrinho de baptismo.
      Levava a Igreja e seus preceitos muito a peito, religioso sem beatices, muito respeitador, sapiente e tolerante.
      Brincalhão e folgazão nas serenatas de guitarra.
      Partiu talvez por isso partiu pelo carnaval, tempo de animaçao, tinha eu 12 anitos.
      Sabia diferenciar as coisas, a Deus o qu é de Deus, ao homem o que é do homem.
      Um Senhor.

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    4. De nada. Não merece louvores só por ter cuidado bem da Igreja e Capela, merece também pelo empenho que teve em preservar as tradições, segundo contam foi ele sempre que armou o andor para as procissões de Nossa Senhora dos Verdes, era só um (o de Nossa Senhora), mas era sempre decorado pelo teu avô com imaginação e beleza.

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  7. Boa tarde Paula,
    Um artigo muito rico relatando as vossas tradições nesta altura da Ascenção.
    Penso que o dia da espiga era associado à Ascenção e lembro-me de que na minha aldeia, na tarde desse dia, as crianças terem dispensa da escola para irem para os campos próximos com as catequistas apanhar os ramos da espiga. O significado concreto nunca soube.
    Na minha aldeia não havia a tradição de benzer os campos e os frutos.
    No mês de maio cantavam-se as florinhas na igreja, em que crianças vestidas de branco, com bandejas repletas de pétalas de flores as atiravam sobre a imagem de Nossa Senhora e ramos de flores que eram depositados a seus pés.
    Sobre a Igreja tenho notado que ao longo do tempo, muitas descrições bíblicas têm sido explicadas de uma forma mais clara. A própria Ascenção é um mistério, uma vez que o corpo físico de Jesus não terá ascendido e como diz no Evangelho de ontem, os discípulos não O reconheceram, duvidaram, quando Ele lhes apareceu.
    Mas vou deixar isto para os Teólogos.
    Um beijinho e uma boa semana, com saúde.
    Ailime

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    1. Boa tarde Ailime,
      Mas sabe que pessoas precisam acreditar em alguma coisa para de certo modo se sentirem bem com elas próprias!
      É como o caso da chamada Santa Maria Adelaide (no norte do país). Não é reconhecida como santa pela Igreja Católica, mas é considerada pela devoção popular, devido à incorruptibilidade do seu corpo.
      Por este andar da Igreja Católica ainda vamos também pôr em causa a Assunção de Nossa Senhora e, consequentemente, as Aparições de Fátima!
      Já a benção dos campos, é diferente, bastava haver vontade, independentemente da Ascensão que lhe está associada, não deixa de ser uma invocação feita à Mãe-Natureza ou Mãe-Terra.
      Muito bom o seu comentário.
      Bj, boa semana com saúde para si também.

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