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sábado, 12 de dezembro de 2020

Enigma

inscrição gravada numa rocha

Já me referi superficialmente a esta inscrição (arquivo 28 de Agosto de 2013), hoje coloco uma foto do topo da rocha e algumas considerações acerca da inscrição.
Encontra-se entre S. Pedro e o Alto dos Valagotes e em Outubro de 2013, a monografia de Forninhos avançou como sendo um marco divisório de propriedade cujos proprietários mandaram gravar as iniciais dos seus nomes para que não restassem dúvidas sobre a propriedade.
É provável que esta opinião tenha algo de verdade, mas se alguma coisa se consegue ler, na última linha, parece a palavra "JOSUA", de Josué e que tem origem no hebraico Yehoshu'a e tem também o mesmo significado de Jesus.
Outro olhar pode ler:
J.SVA ou joSVA.
Aos meus olhos é "Josua", Jesus em judaico.
A linha do topo eu não a consigo ler bem.
Parece começar por M e uma cruz; e, terminar em JN (de Jesus Nazareno).
Quem dá uma ajudinha?


Mais importante que a sua pertença administrativa, acho que está a importância histórica  e isto é que importaria acautelar. Este penedo bem poderia ser merecedor de melhor protecção, a fim de evitar a erosão e perda daquela epigrafia, que começa a ficar impercetível à vista desarmada. 

Bem-hajam pelo vossa curiosidade e leitura!

domingo, 6 de dezembro de 2020

Património Artístico de Forninhos

Entramos no mês de Dezembro em que por tradição se pensa e vive o Natal e como a Igreja celebra hoje, dia 6 de Dezembro, a figura de São Nicolau, o bispo que viria a inspirar a figura do Pai Natal, lembrei-me de destacar os quadros emoldurados por "caixotões" que se encontram, em exposição permanente, no tecto da nossa Capela e onde podemos ver S. Nicolau, bispo dos séculos III-IV que ficou conhecido pela sua generosidade. 

São Nicolau à esquerda

Filho único de pais nobres, ricos e muito religiosos, ao receber por herança uma grande quantia de dinheiro, livremente partilhou com os necessitados. Costumava fazer doações anónimas em moedas de ouro, roupa e comida às viúvas e aos pobres. 
Alvo de inúmeras lendas, dizem que S. Nicolau colocava os presentes das crianças em sacos e os lançava dentro das chaminés, à noite, para serem encontrados por elas pela manhã. Dessa tradição veio a sua fama de amigo das crianças e ligação, mais tarde, ao rituais natalinos no dia 25 de Dezembro, associando Nicolau ao Menino Jesus.


E como S. José teve um papel importantíssimo na vida de Jesus aqui fica também a representação de S. José, carpinteiro, o esposo da Virgem Maria e pai adoptivo de Jesus.
São José estava noivo de Maria e ao saber que ela estava grávida, decidiu abandoná-la, pois o filho não era dele, mas José teve um sonho com um anjo que lhe disse que Maria ficou grávida pela acção do Espírito Santo e que o Menino que iria nascer era Filho de Deus, então, ele aceitou Maria como esposa. 

"Caixotão" da Sagrada Família já bastante danificado

Perto do tempo previsto do nascimento, devido a um decreto romano, foram para Belém para fazer o recenseamento e lá Maria deu à luz o Menino Jesus e José esteve presentente no nascimento. Mas Herodes queria matar Jesus e o anjo avisou José para fugirem para o Egipto. José obedeceu. Assim, de Belém a sagrada família fugiu para o Egipto e lá viveram durante quatro anos, vivendo do trabalho de suas mãos, como carpinteiro. 
Após esse tempo, o anjo avisou novamente José, em sonhos, que poderiam voltar para Nazaré porque Herodes tinha morrido. José obedeceu e levou a família para Israel.


Que S. José, o eterno esquecido, Maria e o Deus Menino feito Homem, sejam lembrados com alegria e adoração em todas as casas, apesar dos constragimentos vários que afectam o espírito da festa e das famílias.
SANTO E FELIZ ADVENTO.

sábado, 28 de novembro de 2020

Dissabores da Missão

Continuação...
A equipa B-2, do Serviço Cívico Estudantil, que chegou a Forninhos em Agosto de 1975, concentrou esforços também nas localidades da Cortiçada e Matança; era composta por dois rapazes e duas raparigas; as suas terras de origem eram bastante diversificadas: enquanto dois vinham de regiões próximas (Mangualde e Viseu), o outro rapaz vinha de Gaia e outra rapariga era açoriana da Ilha de São Miguel. 

Mapa da região:Cortiçada, Forninhos e Matança

Quando a missão ia adiantada e terminada a permanência na Cortiçada e em Forninhos, ao chegarem à Matança escrevem para a Sede, em Lisboa: 
"Estamos deveras decepcionados com a falta de apoio geral".
Em termos mais explícitos, perguntam a Lisboa:
"Numa localidade onde não conhecemos ninguém e sem dinheiro...a população já de si fica desconfiada ao ver um grupo que de repente lhe aparece, e que fará se esse grupo lhe vai comprar coisas, pedindo que lhes fiem...".
Apesar do trabalho de recolha em Forninhos ter sido muito bem sucedido, onde contaram com o apoio de jovens locais: "recolhemos trinta e tal instrumentos", tal trouxe-lhes preocupações com o transporte, pois queixam-se da dificuldade em organizar o envio dos "instrumentos agrícolas antigos" recolhidos em Forninhos e dos obstáculos ultrapassados para os conseguirem expedir por via-férrea, assim como as penúrias financeiras. Mas persistem na missão, enfrentando os problemas logísticos:
"Encontramo-nos desde ontem na última das localidades - Matança -, onde encontrámos alojamento na residência paroquial e na escola. O próprio transporte teve de ser de táxi, pois não tinhamos transportes públicos"〔carta da Equipa B-2, escrita na Matança em 3 de Setembro, dirigida aos serviços centrais〕
Depreende-se que haviam resolvido o problema do alojamento: uns na escola, as raparigas protegidas pela proximidade da instância eclesiástica local.
Da carta citada ainda dão conta do estado de andamento das recolhas de literatura oral gravadas em cassetes. Em finais de Agosto tinham enviado para Lisboa três, havendo outra prestes a estar terminada.  Anunciam para os próximos dias a remessa de registos biográficos e de inquéritos à saúde devidamente preenchidos.
Para além dos dados sobre as logísticas do grupo, testemunham o modo e o cariz dos contactos estabelecidos com as populações:
"Este trabalho de recolha dos vários aspectos da cultura popular é importante, mas difícil de explicar às pessoas".
Por isso um dos jovens -que estava muito à frente do seu tempo- tenta forjar argumentos para convencê-las:
"Calcule que depois desaparecem estes instrumentos e depois(...) os que virão depois não conhecem, e o nosso trabalho é esse, aglomerar o maior número de instrumentos antigos para depois os dar a conhecer às pessoas no futuro".
〔Entrevista com B-2, bobine 1〕
Em 2 de Setembro, o responsável pela equipa, o Acácio, assina a carta de porte relativa à expedição por via férrea de um total de 68 quilos, repartidos por "6 volumes com alfaias agrícolas, 1 com canga e ripanço juntos, 1 arado com 1 serra e 1 mangual juntos, 1 sachola". Outros objectos seriam ainda recolhidos.
Apesar destes contratempos, os dois rapazes e duas raparigas levaram a termo a tarefa de que tinham sido incumbidos.
Bem-Hajam.

Do Livro "A Missão" - Capítulo 6 - Pelo interior adentro, de Jorge Freitas Branco e Luísa Tiago de Oliveira.

domingo, 22 de novembro de 2020

De Forninhos até Setúbal

Estamos no Verão Quente de 1975 e no Forninhos de há 45 anos, a vida diária decorria de sol a sol a trabalhar a terra.
Entretanto.... eis que sob a supervisão de Michel Giacometti, reputado etnólogo,  chega à nossa aldeia a equipa B-2 dos alunos do Serviço Estudantil, com vista a reunir alfaias agrícolas, instrumentos e ferramentas do quotidiano rural forninhense para o então denominado Museu do Trabalho de Setúbal.
Compradas ou doadas, no outono de 1975, chegam a Setubal cerca de uma dezena de peças  vindas de Forninhos:

canga, compra a Luis Moreira, com chapa "Luiz Albuquerque Forninhos Aguiar da Beira"


De José Guerra Guerrilha:
- Arado
- Ferro de passar a ferro



- Manuel Martins Ferreira
1 Punhal



De Ludovina Moreira:
1 Serrote
1 Tesoura da poda

E de Luís Teixeira:
- Chocalhos




Além da literatura oral, que já demos conta AQUI,  Isabel dos Anjos Paz Vaz contribui ainda com:  
1 Botelha
1 Espadela


Fonte: https://books.google.pt/


Imagens interior do Museu do Trabalho: retiradas do google.

Já em tempos me havia proposto fazer uma visita a este Museu pelo que tem guardado da ruralidade, mas a pandemia tal adiou, no entanto o confinamento deu azo e tempo a variadas pesquisas temáticas entre as quais e com alguma surpresa, o que acima se descreve.
Ainda bem que peças nossas estão expostas em Setúbal, estas e outras ferramentas de trabalho são o melhor testemunho para transmitir às novas gerações da reviravolta que as últimas décadas proporcionaram nas sociedades.
Só que de Forninhos a Setúbal ainda é um longo caminho.
Eu conto lá ir em breve, se o Covid o permitir, claro.

sábado, 14 de novembro de 2020

Um Padre "Miguelista"

O reinado de D. Miguel foi curto e conturbado, mas em torno dele gerou-se um fenómeno de idolatria que se traduzia num exagerado culto ao seu retrato - a "real efigie". Mesmo antes de se tornar rei, já circulavam milhares de imagens suas aplicadas em broches, caixas de rapé, alfinetes ou medalhas.
Rapidamente entendido como uma arma política, o que começou como uma moda extemporânea, tornou-se uma obrigação após a subidade de D.Miguel ao trono.
Os cidadãos deveriam pedir ao soberano a mercê de usar a sua efigie e este tinha a prerrogativa de o autorizar...e mandar publicar na Gazeta de Lisboa!
El-Rei D. Miguel distribuia medalhas de ouro à sua base social de apoio e o símbolo de fidelidade ao monarca que ficou conhecido pelos cognomes "O Usurpador" e "O Absolutista"também chegou a Forninhos, pasme-se!!
Foi a 20 de Novembro de 1830 que o monarca concedeu o uso da sua real efigie, em ouro, ao Cura Lourenço Homem de Albuquerque, pároco de Santa Marinha de Forninhos
Fonte: Artigo/Comunicado da Gazeta de Lisboa, 26-11-1830.
Este padre, claro, foi apoiante do partido de D.Miguel, o que, em tempo de perseguições como aquele foi, nunca seria um bom sinal para Forninhos, já que o símbolo de fidelidade ao monarca, durante as Guerras Liberais, ameaçava a segurança e a vida das pessoas. Um abade da Matança, de nome Garcia ou Barros, foi assasinado no momento em que celebrava missa, em dia de S. Bartolomeu. Podem ver o acontecimento horroroso aqui
Sobre a Guerra Civil Portuguesa, de 1832-1834, também conhecida como Lutas Liberais, Guerra Miguelista ou Guerra dos Dois Irmãos, vidé:

 

Houve mais medalhados e medalhas que "O Rei Absoluto" era um mão-largas...
O Reverendo da Villa de Figueiró da Granja, Abbade da Igreja de Nossa Senhora da Graça, por exemplo, também foi medalhado.
Mas quem foi Lourenço Homem de Albuquerque?


Assinatura do Cura "Miguelista"

Nos registos paroquiais, por vezes, encontramos diversos párocos quase em simultâneo, pelo que não é fácil assinalar a data em que um termina e outro começa. Mas...Lourenço Homem de Albuquerque paroquiou a freguesia de Forninhos de 1820 a 1832, doze anos, portanto. Em 1833 veio paroquiar esta freguesia o Cura Belchior Luiz do Amaral (1833-1837), seguido do Cura Pe. Manoel de Barros (1838-1840)...

Já agora as medalhas de "filiação política":



Alfinete Miguelino

Na monografia de Forninhos no capítulo "Invasões e Liberalismo" há uma informação que dizem datar de 27 de Novembro de 1830 que diz isto:
"Neste dia a Gazeta de Lisboa noticiava que o Rei D. Miguel tinha concedido no dia 20 desse mês(...), o uso da Sua Real esfinge, medalha em ouro, ao reverendo Lourenço Homem de Albuquerque, pároco de Santa Marinha de Forninhos, pertencente ao Bispado de Viseu. A notícia é parca em informações pelo que não nos foi possível apurar qual o motivo de tal honra."(sublinhados nossos).

Primeiro- a informação data de 26 de Novembro de 1830 e não 27 de Novembro, conforme se prova com  folha numerada com o nº 1142:


Segundo- O motivo de tal honra!!!  Não se trata de sinal de honra, mas sinal de pertença, como elemento ativo numa guerra. O Padre de Forninhos, foi um dos muitos que se permitiu pedir ao usurpador do trono, a mercê de usar o penduricalho de propaganda da causa miguelista, digo, a sua efigie (e não esfinge como se lê). 
Segundo o dicionário Priberam Esfinge é um monstro fabuloso com a cabeça humana e corpo de leão. Já Efígie é um retrato, imagem, figura de um indivíduo. 
Algumas vezes, as pessoas pronunciam "esfinge" ou "efinge", mas Historiadores de "alto gabarito" confundirem o termo...é Obra!!
Mas isso é outra história...

Fontes: 
Gazeta de Lisboa