Seguidores

domingo, 2 de dezembro de 2018

Bolinhos de cevada

Agora mais guarnecidos, dão pelo nome de sonhos, mas para quem não teve o prazer de provar os bolinhos de cevada, sem ovos, apenas sal, água, bom azeite de Forninhos e açúcar (último ingrediente a acrescentar), passo a apresentá-los:




Feitos a olho, os bolécos (maneira como também são conhecidos os ditos) eram fritos em azeite bem quente (eu já apanhei o óleo) e polvilhados com açúcar. A massa do pão de cevada é repartida em bolinhas, com a ajuda de uma colher, antes de ser frita. Se a massa estiver mais firme, com mais farinha, acabam por ficar redondidos, se a massa estiver mais mole, ficam com alguns "fios".
À merenda eram uma delícia. E ainda são!!
A minha mãe ainda os faz, mas agora com ovos e um pouco de leite. Nada enjoativos, pouco doces...fofos q.b...divinais!
Era assim...naqueles tempos difíceis havia imaginação para criar doçaria. 
Diz a minha fonte que o trigo, era fidalginho, só ia às bodas e altar sagrado e o pão (o centeio) não dava para todo o ano, então como a cevada amadurecia e era colhida primeiro, era da farinha de cevada que se fazia algum pão e em vez das filhóses de pão (centeio), faziam  com a massa levedada os bolinhos  fritos de cevada.
E com isto ainda se recorda a lenga-lenga dos cereais:
Dizia o trigo:
- Eu sou o pão alvo e ando pelas festas, comigo não queiram meças.
Aqui a exibição deste cereal para afirmar que era superior a qualquer outro, só estava na mesa dos ricos e em locais sagrados.
Intervinha a cevada:
- Eu sou a preganuda que acudo às pressas.
Referia-se ela à fomes de Maio, quando esgotadas as arcas do cereal velho.
Mas rematava o centeio:
- Eu cá não me gabo, nem deixo de me gabar, mas quem não me comer pouco forte há-de-andar.
Sim, porque o pão era o principal sustento de todas as pessoas.
Fiquei fascinada com esta lenga-lenga.
Dantes tudo falava, para além dos animais, falavam os sinos, falava o pão, falava o trigo e falava a cevada.

(A foto foi roubada, como podem ver pela fonte, porque vergonhosamente não tenho uma minha!)

18 comentários:

  1. Que delicia devem ser! Adoro coisinhas assim! Bjs chica

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. São património há "séculos" que ainda se vai provando "quando o Rei faz anos".
      Bjs, boa semana.

      Eliminar
  2. Boa tarde Paula,
    Que bom aspeto têm esses fritos de cevada!
    Antigamente, como diz, tudo falava, e acrescento se permite, tudo tinha cheiro, tudo nos calava na alma.
    A lenga-lenga é maravilhosa. Não conhecia e diz bem de como as coisas se passavam.
    Tenho novidades da minha aldeia;))!!
    Beijinhos e boa semana.
    Ailime

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é Ailime, para mim e para si a lenga-lenga dos cereais pode ser uma novidade, mas para outros é uma maneira de recordar o que se passou.
      Beijinhos e passe uma boa semana também.

      Eliminar
  3. Ai se me lembro da cevada...
    Semeada na invernia, poucos dias bastavam para rebentar, precoce face ás outras sementeiras da sua família, como o centeio, trigo e até a aveia. Não era delicada no colher, picava como a aveia, naqueles preganas que por dentro daquele casulo tinha o grão e cuja casca do mesmo, daria os bons farelos para outros proveitos.
    Na nossa era moderna, foi um dos principais proventos de subsistência, tal como por exemplo a castanha nos tempos de carestia.
    Tal como outros cereais, era malhada nas eiras a pulso dos manguais e depois de erguidas as preganas e o grão limpo, ia a moer nos moinhos de rios e ribeiras em dias em que a comunidade tinha acordado em "sortes", a quem teria as primazias.
    E a primazia tinha a farinha de cevada, a primeira e mais ansiosa para remediar as arcas vazias (quem tais tinha) de centeio e de trigo da colheita do ano passado. Matou fome a muitas gentes e animais, considerada como reles e apesar de sete mil anos antes de Cristo nascer, estar á frente do trigo...
    Claro que me lembro dos bolécos, sempre assim os ouvi chamar e não de sonhos nesta modernidade, tal sendo e se calhar, mudava o meu nome próprio. Mas tais lembro sempre fritos no azeite e mesmo a massa que iria ao forno, por vezes na fornada junta com o centeio, eram amassados à parte, apesar das massas levedarem no mesmo tempo e tirando o trigo que fintava rápido, as bôlas da cevada coziam mais depressa e havia o conhecimento ou sabedoria das nossas gentes.
    Apenas uma curiosidade: estes nossos antepassados e alguns ainda vivos, quantas não foram as vezes em que acompanhavam estes bolinhos com um forte café de cevada?
    O outro era para os ricos, em boas cafeteiras reluzentas, este o de cevada, ali feito ao borralho numa panela de três pés.
    Como a cevada medrou ao longo dos tempos e agora o mundo domina!
    São servidos para uma cervejinha, da pura e feita de malte de cevada?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com café, feito à lareira...divino, simplesmente divino.
      Mas, ma verdade não havia hora para comer bolinhos de cevada, todas as horas eram boas, podia era não os haver, porque a vida era um bocado madrasta naqueles tempos, as coisas eram regradas, bolinhos e bolécos, só por altura das festas!
      Falas nas bolas de cevada, estas coziam-se mal ainda saída da debulha, pois "quando há fome, não há ruim pão". Sim, porque a cevada era muito cultivada, mas para o "vivo".
      Pelo que contam, bom...bom...foi a época dos trigos e sêmeas da padaria artesanal da ti Esperança. Havia pessoas que lá iam buscar a massa para fritar filhóses de pão, sabias?
      A cerveja dispenso, mas de pão de malte eu gosto :-))

      Eliminar
    2. Em boa verdade, tenho presente alguns nomes da nossa aldeia que as ligam a coisas, coisas essas que fazem parte da nossa história, construída aos poucos e a contos e "lêndias" de cada vez.
      Tal como outros povos, fomos "catando" por ali e além no sobejo dos ricos e muitos às escondidas. Sim, por os muitos que arrendavam as terras de cultivo mais fértil, o melhor era para o "senhor". Esses sim, comiam pão de trigo e filhóses bem untadas nos ovos caseiros...mas festas havia em que lautas mesas, plantadas de iguarias que o "povo deles" não sabia o nome, nem sequer os criados, metiam estes bolinhos nos cantos da mesa para mostrar, porventura que todos eram iguais...
      Agora que toda a gente é rica, estou de pleno acordo contigo, simplesmente divino aquele cheiro a café de cevada, coisa de nem todos os dias, mas volta não volta, calhava.
      Pode agoniar muitas gentes, mas logo pela manhã, uma sardinha frita de véspera, acompanhada por estes bolos e uma caneca deste café...
      Havia quem metesse uma pinga de aguardente.
      Pois é Paula, tanto temos e nos tentam obrigam a esquecer, como se fosse vergonha sermos aquilo que somos e de onde viemos.A raiva que me não abandona, reside simplesmente no modo como aqueles nossos antigos que considero heróis, serem menosprezados, por si sós e pela cultura que deixaram, entre muitas, esta da culinária de subscistência. Algum agrupamento se referiu à Tia Esperança e seu forno, a importância na vida da aldeia e seus paradgimas?
      Fácil sim, em dia de festa da aldeia, vir tudo por encomenda.
      Bolinhos de cevada que podiam ser "ressuscitados", quem os vê na festa de Natal a enfeitar as mesas, afinal, "coisas dos nossos avós" e de tão pobres poderiam parecer mal...



      Que se lixem os fracos!

      Eliminar
    3. Nem tudo lembra Xico, mas deviamos aproveitar as diferenças para nos tornarmos conhecidos.
      Ressuscitar os bolinhos de cevada, creio que seria original e não vergonhoso, e porque não as filhóses da massa de pão da tia Esperança ou de outras "tias" por exemplo?
      Bolo Reis e outras guloseimas do género, não é necessário ir a Forninhos para comê-las.

      Eliminar
  4. Doces com sabor a saudade!!!
    Adorei ler... Bj

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade, as saudades levedam com a imagem dos bolinhos de cevada.
      Bjo

      Eliminar
  5. Respostas
    1. Para mim são melhores do que os "sonhos" de hoje, feitos com massa diferente e bem mais doce.
      Um abraço, boa semana.

      Eliminar

  6. Hummm, fiquei com vontade de provar, Paula!...
    Uma doce e saudável postagem...
    Bons dias de Dezembro...
    Abração

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nós sabemos que sim ;-) ainda assim serão sempre curtos e incompletos os post´s que pretendem descrever o cereal panificável e todos os trabalhos ligados à sua produção.
      Bom Dezembro, abraç&bjos.

      Eliminar
  7. Respostas
    1. Muito obrigada pelo comentário aproveito para desejar uma boa semana.

      Eliminar
  8. Parecem ser muito bons.
    Abraço

    ResponderEliminar

Não guardes só para ti a tua opinião. Partilha-a com todos.