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quarta-feira, 4 de julho de 2018

Mulheres que lavam no ribeiro

Não me recordo de ver as mulheres lavar a roupa no rio do Salto (também conhecido por Poço dos Caniços), mas sei que há algumas décadas era um cenário habitual ver mulheres lavarem roupa nos diversos afluentes do rio Dão, dando um colorido engraçado às margens com as peças que ali coravam.
Nos lavadouros dos ribeiros, aí sim, recordo ver mulheres, com experiência adquirida na prática diária, a lavar a roupa à mão, de joelhos num farrapo velho ou numa tacoila para não se molharem.


Água fria da ribeira/água fria que o sol aqueceu.
Velha aldeia/traga a ideia, roupa branca que a gente estendeu.
Três corpetes/um avental/sete fronhas/um lençol/três camisas do enxoval que a freguesa deu ao rol.
Ó rio não te queixes/Ai o sabão não mata/Ai até lava os peixes/Ai põe-nos cor de prata.


Também ainda há lembrança das barrelas.
- Bem ensaboada a roupa era posta, em camadas, num canastro de vime, e tapada com panos de estopa com cinza; por cima era regada com água a ferver.
- No dia seguinte era então lavada de novo e, se por acaso alguma nódoa não saiu, lavavam-na novamente e ficava a corar nas lenteiras dos ribeiros.
Hoje esta tradicional tarefa não passa de uma memória.

Fotos: lavadouro do ribeiro dos Moncões, Forninhos, 2011.

22 comentários:

  1. Confesso que me assola a saudade olhando para estas lindas fotos, no mesmo local sem tanque nem cobertura, fazia juz à cantiga; era um estendal de roupas a corar ao sol quase parecendo um presépio e no inverno, tal como as couves galegas, tesas que nem um carapau...
    Havia que aproveitar o tempo por quem tinha a lavoura diária pela frente que nao se compadecia em ficar a lavar ali ao pé da porta e por tal quando partiam para as sementeiras, regas e colheitas, lá atrás, no carro das vacas, volta e meia ia um canastro de roupa para lavar, fosse nas poças, riachos ou ribeiros que ficavam estendidas em cavacos ou penedos.
    E era por tantos lados, Valongo, Ribeira ou Cabreira.
    Nódoas tivessem, trazidas eram postas a corar.
    Nós, miúdos, escondidos por entre o milho medrado, íamos espreitar as garotas debruçadas sobre as poças a esfregar as peúgas e lenços de assoar, que era assim que aprendiam .
    E claro, descobertos, éramos corridos à pedrada ou com umas ceroulas nas ventas...
    Mas e ainda bem, um grande bem-haja para quem mantém a tradiçao e " àgua fria da ribeira, velha aldeia, ó rio não te queixes...".
    Nem nós!
    Belíssimo texto.

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    1. Bem visto, se iam trabalhar para algum "chão" onde perto havia água, aproveitavam as mulheres para lavar a roupa suja. Faziam isso no Salto na ribeira, nos ribeiros e nas poças de abrir.
      Estas duas moças (não digo mulheres, porque considero a Céu e a Alzira pessoas jovens) ainda lavam roupa à mão neste lavadouro público. Foi feito para aí...em 2007-2008 e serviu para alguns conspurcar a alma do Presidente da Junta com a má língua que o sabão não lava.
      Agora são todos muito bonzinhos, é só "love" a Forninhos e à sua Junta e até as tradições da nossa terra já fazem parte do seu repertório.
      Tanta hipocrisia!
      Na altura, os mesmos que hoje querem recriar "as lavadeiras" e sei lá que mais, até deram um nome a este lavadouro, se a memória não me falha, chamaram-lhe "ninho de carriça ou carriço".
      E fico por aqui...!

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  2. Tão interessante ver essas mulheres. Naquele tempo era normal. Quando fomo pra Itália, por lá vi os lavadouros... Gostei de ver aqui! bjs, chica

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    1. Das minhas visitas a Forninhos lembro-me deste cenário.
      Do lado do Ribeiro que ficava perto da Casa de Ti Agostinha...Mãe da Céu ( foto ) e do falecido José António...Aliás , Casa onde vi pela primeira vez fazer
      bagaço...
      Bem Hajam...

      Abr
      MG

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    2. Nesse tempo "chica" não havia máquinas de lavar roupa em casa, isso foi luxo que mais tarde inventaram para as mulheres das cidades, que não tinham ribeiros à porta.

      MG:
      As irmãs gémeas Céu e Alzira (foto) no seu dia a dia mostram-nos as nossas tradições. Nada de outro mundo!
      Já tive a oportunidade de as ver fazer filhoses à lareira e posso dizer que as filhoses "das Guerrilhas" assim como o seu alambique para fazer o bagaço de vinho da nossa aldeia, são fotos que vejo publicadas em outros sítios da net. Não tenho dúvidas que estas um dia também daqui vão ser levadas, mas não me importo, desde que sirvam para ilustrar histórias e cenas da vida quotidiana da terra natal de cada um.
      Abr/Bom fim-de-semana.

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    3. Ja não me lembrava do apelido do Ti Zé " Guerrilha"
      pai da Céu e da Alzira, mãe de dois rapazes gemeos,
      hoje dois homens. Ti Zé um homem calmo de pouca fala.
      Adorei conhecer esta gente.
      Trataram- me sempre do melhor !!!

      Estive bem perto de Forninhos mas por imperativos
      do protocolo familiar, e dado o motivo trágico da deslocação, não consegui ir á vossa aldeia.
      (tremenda coincidência de datas 9/7/2006- 7/7/2018)

      Mas consegui apanhar cereja na Miusela.
      A Beira Alta enche-me a Alma.

      Bom Domingo
      MG

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  3. Olá! Uma das cenas que gosto de ver filmes são das lavadeiras a beira dos rios.Acho bucolico.Gostei de vir até aqui. Voltarei mais vezes. AnrAbra

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    1. "A Aldeia da Roupa Branca" é um bom exemplo. Só que nesse filme lava-se a roupa dos lisboetas.
      Obrigada pela visita comentada.
      Bom fim-de-semana.

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  4. Um post com muita inspiração, Paula... As fotos transmitem simplicidade, necessidade e beleza singela...
    Um abraço. Boa sexta-feira... Vamos adiante...

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    1. Acho o mesmo. Tinha mais fotos, mas isto é como na televisão e no rádio: não se pode ir além do horário, neste caso, além do espaço que eu considerado útil num blog!
      Vamos adiante...beijinhos e um bom fim-de-semana.

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  5. Costumes raros de se verem, substituídos pela evolução tecnológica.

    Adorei as fotos.

    Beijinhos.

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    1. Pois um dia, apareceu na aldeia a primeira máquina de lavar roupa e pronto...começou aí o princípio do fim de lavar roupa no ribeiro.
      Algumas mulheres de Forninhos, acho que ainda vão ao ribeiro para lavar cobertores grandes e edredons ou carpetes; alguma peça de roupa miúda mesmo que queiram lavá-la à mão, lavam-na em casa.
      Beijinhos.

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  6. Boa noite Paula,
    Gostei deste artigo a lembrar tempos idos.
    Já não sou do tempo das barrelas, mas sim da lavagem da roupa nas ribeiras e enquanto se lavava a roupa de cor a branca corava ao sol...
    Eram tempos duros...mas ficam as memórias para que os mais novos saibam
    como se trabalhava nos tempos dos avós.
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Ailime

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    1. Coravam a roupa ao sol e secavam-na também, para não a trazer para casa molhada, pois molhada pesava muito mais!
      A geração da minha mãe lavou muita roupa no rio, ribeira, ribeiros...poças e lavadouros.
      Além deste "lavadouro dos Moncões" ainda há um outro mais acima, sem cobertura, chamado "lavadouro da Eira" onde eu já lavei muitas vezes roupa.
      Gosto de lavar roupa à mão.
      As barrelas já são do tempo dos nossos avós Ailime, mas lembrá-las hoje ajudam-nos a perceber melhor que os tempos do antigamente não eram mesmo nada fáceis.
      Beijinhos e bom fim de semana.

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  7. Parece que daqui a quinze dias, Forninhos vai renascer.
    Como, pergunto eu, se tanto daquilo que a gente tinha se desvaneceu no tempo.
    Ainda hoje pergunto aos velhos, daqueles que vão restando, como era naquele tempo e a resposta por norma era que cada qual tinha a sua vida e nao se metia na dos outros. Mentira, era o medo de contar.
    Isto a propósito das conversas que as senhoras tinham nos lavadouros e os homens, nem tanto como se imagina de tabernas, mas nas próprias adegas.
    Claro que havia pudor nas peças que eram estendidas e muitas delas remendadas, coisa mais natural, sendo à beira dos ribeiros e à vista de quem passava, mas era assim, que mais havia que fazer a não ser quando podendo e em lugares a preceito, as poderem estender.
    Recordo.
    A canalha como eu, chegava a casa faminto e mais que sujos pelas tropelias da idade, próprias de invadir estes lugares e o gozo supremo era ouvir arreliadas as gentes que ali lavavam..."ai se te apanho, levas uma barrela".
    Isso não que seria uma desonra e amofinados lá íamos para casa sabendo que nos esperava uma boa reprimenda.
    Mas e fora as roupas, aqui se iam lavando as tripas da matação do porco.
    Pelo inverno adentro se matavam tantos porcos e neste ribeiro era o que estava mais perto para o efeito.
    Tal como as toalhas de linho, aqui se lavava o "véu" do bicho que daria os melhores torresmos, nas mesmas águas correntes...
    Nasci a ouvir este ribeiro que conta estórias de secas e cheias.
    Adormeci ao som dele e da sua orquestra noturna. Revejo gentes passadas com as roupas para lavar em canastras sobre a rodilha, descalças pelo rego cheio que corria para os lameiros.
    E sabem que mais?
    Nunca ouvi ninguém contar que em algum dia, faltou uma peça de roupa!
    Vá lá, sejamos educados!

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    1. Não é o que se lê na fantástica obra "Forninhos a terra dos nossos avós" que passo a citar:
      "Enquanto nos lavadouros públicos as mulheres lavavam a roupa e punham a corar a vida dos outros, nas tabernas os homens partilhavam conversas com um copo de vinho tinto cheio".
      Quanto ao (daqui a quinze dias) só me apetece citar Alexandre Herculano: “isto dá vontade de morrer”.
      Só para exemplo:
      Ouvi dizer que pretendem recriar uns namorados na fonte (creio que na da Lameira). Tudo bem, era na fonte que outrora começava uma boa parte dos namoros entre rapazes e raparigas da terra. Os rapazes esperavam as raparigas quando estas iam à fonte para abastecerem a casa com a água necessária e acompanhavam-nas até casa. Mas não foi isso que ficou na obra supra, a tal que é fantástica!! Pelo contrário, escreveram que numa altura em que os namoros começavam com um simples piscar de olhos, os jovens procuravam cruzar-se com as suas pretendentes nas cerimónias religiosas!!!
      Em que é que ficamos???

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  8. Era bastante trabalhoso este método mas também era muito mais ecológico, as máquinas de lavar veio alterar esta "tradição".
    Um abraço e bom Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. E as máquinas estragam muita roupa, se bem que às vezes a qualidade do detergente também não ajuda!
      Dantes bastava água, sabão e uma pedra em forma de rampa.
      Boa semana.
      Abraço.

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  9. Cheguei a ver as roupas serem lavadas no rio que ficava pertinho da casa dos meus avós, nas minhas férias, e aqui apesar da modernidade das máquinas de lavar, ainda existe as lavadeiras que levam as roupas pra lavar nos lavanderias e traz tudo limpinha e cheirosa.
    Beijos

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    1. Hum! Que cheirinho.
      Fátima, esclareço que em Forninhos não há/nem houve a profissão de lavadeira, i.é, mulheres a lavar roupa "para fora" à mão ou à máquina, apenas houve/há mulheres que lavam à mão a sua própria roupa no ribeiro ou em tanque antigo, mais por gosto do que por necessidade, acho eu.
      Beijos.

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  10. Não me lembro de ter visto este post. Peço desculpa.Lembro-me bem de quando a minha mãe punha a roupa a corar Também me lembro das barrelas da roupa. À época a mãe não usava detergente. Também o pai ainda não tinha aberto o poço nem feito o tanque. De uma barril de madeira, que já estava velho para as funções a que se destinava, meu pai fez o "tanque" a que nós chamávamos celha, cortando-em duas metades que calafetou, a fim de não perderem água. Nessa época a mãe ia buscar a água ao chafariz á Telha, uma distância de quase 500m. Ela levava uma bilha grande de barro que depois de cheia, transportava à cabeça sobre uma rodilha de pano, a que as pessoas por aqui chamavam de sogra, nunca entendi porquê. E uma mais pequena que trazia na mão. Então ela raspava parte de uma barra de sabão azul e branco, em finas aparas, para a celha, cobria-as com um pouco de água para que fosse derretendo. Depois punham um panelão de água ao lume até ferver e despejava na celha. Com um pão ia mexendo até que se levantava uma grossa camada de espuma. Depois pegava na roupa branca e ia mergulhando-a peça a peça. Lembro-me que teria os meus 4/5 anos, de pedir muito à minha mãe uma boneca. As filhas do sr. Fernando, empregado do escritório tinham tantas, e eu nem uma. Um dia a mãe trouxe-me uma boneca de papelão, preta como o carvão, com as pernas coladas, uma boca pintada de vermelho e uma carapinha. Provavelmente seria a mais barata da loja. Eu nunca tinha visto um preto, na minha curta existência, e pensei que a boneca estava suja. E se estava a melhor maneira de a lavar era metê-la na barrela. Daí que uma noite, depois da mãe ter metido a roupa na barrela para lavar no dia seguinte, eu levantei umas peças de roupa e deitei a boneca com todo o cuidado entre elas. No dia seguinte, a água da barrela estava negra, a roupa toda manchada, e a boneca desfeita. Escusado será dizer que fiquei com o rabo a arder das palmadas que a mãe me deu, e nunca mais tive outra boneca.
    Abraço

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    1. Interessante já na altura haver bonecas de tez diferente! Na minha infância nunca vi nenhuma e se calhar para a branquear faria o mesmo ;-)
      Por falar em roupas tingidas, sei que em Forninhos quando as mulheres enviuvavam tingiam num caldeiro ao lume as suas roupas mais claras, pois não iriam abandonar o luto e, assim, do velho faziam novo. Dizem-me que obtiam bons resultados, porque quanto mais escura fosse a cor melhor, preto, no caso. Compravam um cartucho de corante e assim renovavam "o guarda-fatos".
      Perante isto, se calhar para alguns, conforme falam em lavadeiras também vão falar que houve tinturarias em Forninhos ou que houve na nossa terra "tintes" e não é nada disto que quero dizer, somente houve mulheres que lava(va)m roupa à mão também tingiam roupa se necessário fosse.
      Abraço.

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