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sábado, 25 de novembro de 2017

Os serradores

Forninhos, já o dissemos, é rodeado de pinhais, predominando o pinheiro bravo. Não admira, portanto, que tenha havido pelas nossas bandas serradores de madeiras. Não era um prolongamento do Pinhal de Leiria, mas serradores de região de Leiria que se dedicavam à comercialização de madeira estiveram ligados a Forninhos e aos forninhenses e alguns deixaram descendentes: tio Zé Teodósio e irmão Diamantino e cunhado Silvestre; tio Joaquim "Buchas".

painel de azulejos que representa os serradores braçais

A imagem acima encontrei-a algures e mostra-nos um trabalho que envolvia um tremendo esforço. 
Depois de abatida a árvore com o machado, esta era cortada com a serra de punhos em toros nas medidas exigidas pela futura aplicação que teriam. Para o efeito, transportavam até à floresta os seus pontais para fazer a burra (uma espécie de cavalete), o fio e a tinta para marcar os cortes, os machados e a sua grande serra, não esquecendo a saca das ferramentas e lá no local de corte/abate de árvores iniciava-se então a serragem com um serrador em pé em cima e o outro no solo. À custa de grande esforço físico, repito, os dois serradores faziam uso da grande serra braçal, puxando-a para cima e para baixo.
Dali saíam barrotes, caibros, cumieiras, falheiras, falheira é a primeira tábua que se separa de um toro ou tronco, quando se serra longitudinalmente em várias tábuas, e que é sempre falha "arredondada" na face externa, ripas, etc...
Posso estar a abrir as tábuas do meu caixão era a sina do Serrador.
Serravam e transportavam a madeira até à Estação do Caminho de Ferro mais próxima. Muita madeira proveniente de Forninhos foi despachada na Estação de Fornos de Algodres. Hoje só os nossos velhotes se lembram disto, apesar desta profissão artesanal ter resistido até à segunda década do século vinte.
Mais tarde ainda vinham os "homens dos burros", que aproveitavam raízes e toda a lenha sobrante, pois dantes tudo era aproveitado, nada ficava no mato como hoje se vê e depois os incêndios acontecem.

30 comentários:

  1. Um trabalho duro e é bom que sirva de exemplo para mantermos limpas os nossos terrenos!
    O azulejo é lindo!!!
    Bom domingo

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    1. Bem-haja.
      Os azulejos em azul e branco são simplesmente maravilhosos e são um marco na história de qualquer terra.
      Forninhos, infelizmente, não tem grande riqueza no âmbito da azulejaria. Haverá alguma dezena de azulejos dedicados aos santos, religião, mas da paisagem, património e actividades de trabalho...nada!
      Há uns anos um "político" falou (num outro blog) em ornamentar com azulejos uma entrada de Forninhos com o nosso património edificado. Hoje, à distância, consigo ver que objectivo dessa pessoa era angariar votos, porque se assim não fosse, quando foi Presidente de Junta (entre 2009/2013) poderia ter feito isso e muito mais naquela entrada.
      As pessoas de Forninhos como comem muito queijo esquecem-se, mas eu como não gosto de queijo...gosto de avivar-lhes a memória, pois esse político falou/escreveu também em fazer um Parque de Campismo nos terrenos baldios da Freguesia de Forninhos, mas o certo é que assim que se apanhou no poder, tratou logo de vender uma boa área desses baldios e pinheiros também!
      Para quê???
      A floresta não é mais rentável???
      Como nos mostra o azulejo, cada pinheiro tem uma bica. No tempo dos serradores e resineiros a floresta era rentável. Ganhavam os proprietários, ganhavam os contratantes da exploração e o pessoal contratado para serrar a madeira, recolha...todo o produto da exploração ficava na aldeia.
      Esta resposta está a ficar muito longa, pelo que vou ficar por aqui.
      Bjo amg.

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  2. Na altura do descrito, o concelho de Aguiar da Beira (ao qual Forninhos pertence), era considerado como uma das maiores manchas de pinheiro bravo da Europa.
    Anos menos atrás, a culpa da calamidade dos incêndios ia direta para os madeireiros, pastores e resineiros...
    Mas vamos aos serradores que antes dos madeireiros com modos industriais, vergavam a espinha em prol dos seus propósitos.
    Sabem, quando a gente escreve temas tocantes, vem um laivo de memória "acho que me lembro..." e depois não foi bem assim e procuramos ter o assunto o mais fiel por nele constarem nomes reais, de mortos ou vivos ou impossíveis de ouvir, sendo que não os queremos esquecer!
    Do pouco que me recordo, um quase nada e do que apurei, fica o meu contributo:
    A tia Albertina e o sr. Diamantino, oriundos da zona do pinhal de Leiria, andavam pela nossa zona em busca de madeira, comprando matas (as árvores) para o seu negócio e dada a abundância de pinheiro bravo em Forninhos, por aqui aqui ficaram uns dois anos numa casa da minha bisavó e arrendaram terra para cultivo. O meu tio António Guerra com a sua junta de vacas, transportou muita madeira para o largo da Lameira que depois seria recolhida por furgonetas para a estação de comboio em Fornos de Algodres, tal como o meu pai aquando os vindos de baixo, mas antes destes, compraram uma mata enorme ao sr. Antoninho da Matança e se foi governando com as suas pujantes vacas.
    Destino havia para esta soberba madeira, como descrito na peça, mas a mais forte tinha destino: as travessas para as linhas do caminho de ferro, o resto para variadas coisas, nem que fosse para o soalho da casa a fazer e seu forro, ou umas falheiras para as lojas do ganau.
    Curiosamente, quem veio do litoral até às profundezas do interior, deixou raízes e daqui levaram famílias para junto das ondas do mar.
    Ainda me lembro do tio António Carau em cima da "burra" e lápis na orelha e o seu pai Tio Zé Carau por debaixo, a serrarem afinadinhos pelo risco...
    Belo Post!

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    1. Era mesmo assim. Os serradores e outros por terem vindo noutros tempos trabalhar para Forninhos ficaram por lá, tiveram os seus filhos e contribuíram para o sustento e crescimento da nossa terra. Mas isto já não é Forninhos. Presentemente, a aldeia sequer consegue fixar os naturais quanto mais trazer gente de fora!
      Algo vai mal...
      Mas os coveiros de Forninhos ainda são capazes de vir dizer que a utilização da madeira na construção nas linhas de caminhos de ferro foi a causa, pois transportaram centenas de forninhenses para fora à procura de melhor nível de vida.
      São capazes disso...mas o grave é que parece que tudo o que dizem/ou/escrevem lhes fica bem!
      Repito-me:
      Algo vai mal...

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    2. ..tudo o que dizem/ou/escrevem...E FAZEM lhes fica bem!

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  3. Um trabalho que existiu , fica na lembrança de quem viveu esse tempo...bjs, chica

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    1. É, se não forem as lembranças de quem viveu esse tempo, certamente muitas imagens não teriam chegado aos nossos dias. Não podemos dizer que trabalho de serrar madeira está perdido para sempre, pois há as serras mecânicas, mas claro, a cena tipicamente campestre que vemos no azulejo era duma época muito diferente de hoje...na vida...no ambiente...na sociedade...bjs.

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  4. Olá Paula e Francisco:
    O pai de meu pai , Francisco , ganhou a vida a vender tocos,
    raizes de pinheiros ,para as casas abastadas da cidade ,onde,
    numa delas terá conhecido a noiva , minha avó.

    Abr
    MG

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    1. A história dos seus avós deve ser bem bonita, mas que bom que fala nos tocos!
      A imagem elucida-nos sobre o processo de serração, mas são poucos os que lembram dos "homens dos burros" que passavam por Forninhos e acartavam as raízes para também vender (suponho).
      Os povos limítrofes das matas sempre retiraram proveitos (caça, cogumelos, lenha, matos, caruma, carvão), mas parece que agora só o povo de Forninhos é que nada retira da floresta!
      Desconhecimento? Falta de vontade? Falta de dinheiro? Falta de estratégia? Se calhar um pouco de todas.
      Abr./bom domingo!

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    2. Sei que os serradores na minha zona de nascimento
      alinhavavam o espaço para onde os pinheiros caíam.
      Amarravam cordas tipo as que se usam nos barcos para
      atracar os barcos.
      Serravam a árvore na posição de corte adequada.
      Pressionavam a(s) corda(s) e á medida do corte
      a( s ) árvore (s ) ,pinheiros, e outras,iam cedendo caindo com a maior exatidão possível.
      Um trabalho aparentemente simples,mas de grande
      risco.
      Assim se abastecia as serrações da cidade e daí
      matéria prima para mobiliário, construção civil e
      derivados de todo o tipo.
      Eu nasci na zona do Funchal mais densa em árvores.
      A zona alta. A zona do nevoeiro . Hoje bem conhecida
      pelo nevoeiro famoso que adia jogos de futebol...
      no Campo do Nacional da Madeira.
      Penso que já falei aqui deste assunto.

      Abr
      MG

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    3. 2 x barcos sem necessidade.
      "...usam nos barcos para atracá-los...." assim sim.

      MG

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  5. Que o calor de um carinho,
    o afeto de um abraço e o sorriso de uma
    grande amizade sejam presença constante em sua vida.
    Estou aqui para desejar um Domingo abençoado.
    Fique na paz >< Fique com Deus!
    Beijos e carinhos meu.
    Evanir..

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  6. as matas de antigamente estavam limpas...


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. ...e agora há cada vez mais matas cerradas, algumas impossíveis de penetrar, com incêndios como os deste ano que vitimaram tantos dos nossos!

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  7. Mais uma boa lembrança mostrada aqui. Esforço e dedicação, certamente estavam bem presentes nesse trabalho.
    O painel é admirável, conta os momentos investidos numa tarefa bastante compensadora.
    O meu abraço

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    1. Tanto quanto sei Forninhos também nunca homenageou os Serradores.
      Valham-nos ao menos os azulejos d'outras terras...para os lembrar e admirar um trabalho que envolvia, sim, dedicação e um tremendo esforço.
      Abraço.

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  8. Muito interessante. Como sabe, meu pai foi alcunhado de Manuel da Lenha, porque toda a sua vida adulta foi trabalher num armazémde lenha.
    Todos os anos vinham camiões de troncos de arbores que eram quardados no armazém e que durante o ano ele ia serando em pedaços pequenos e rachando para transformar em cavacos que iam alimentar os fogões da seca.
    Um abraço e boa semana

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    1. E quanto interessante foi a vida do Manel da Lenha! Adorei esse conto.
      Por Forninhos ficou a alcunha de serrador e serradores. Por vezes a alcunha prolonga-se por gerações e a pessoa acaba mesmo por a integrar no seu nome, já que nem sempre corresponde a algo de depreciativo, uma alcunha pode derivar dum hábito do quotidiano, duma característica no trabalho.Nem sempre a alcunha é ofensiva.
      Da parte do meu pai somos os "cavacas", mas palavra que não sei se está relacionada com lenha, com esses pedaços pequenos (chamamos cavacas em Forninhos). Sempre ouvi dizer que o nome vinha duns primos que eram duma aldeia próxima, mas se calhar também fomos uma família de lenhadores. Vou sondar.
      Abraço, boa semana também.

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  9. Um trabalho bastante duro e difícil e que envolvia alguns riscos, muito bem descrito neste excelente texto.
    Uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Sê envolvia! Ainda bem que em Forninhos não há memória de mortes derivadas desta profissão artesanal.
      Boa semana tb.

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  10. Boa noite amiga!
    Vim agradecer sua amável visita e lhe deixar um carinho em forma de abraço virtual.
    Amo suas postagens e logo voltarei para comentar. Tenha uma noite de paz iluminada por jesus. Abraços

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    1. Obrigada, igualmente!
      Abr/cont. de boa semana.

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  11. Pinhal de leiria, Pinhal do Rei, Vieira de Leiria, minha terra de infância dos 6 aos 15 anos. Lá fui parar através do Sr, José Teodósio, natural desta terra mas sendo serrador em Forninhos onde solicitou os serviços de meu pai, como pedreiro para umas obras nas suas casas na Vieira, aldeia (hoje Vila) onde a indústria era abundante quer na madeira quer nas limas, aços e transformação do vidro (onde trabalhei 3 meses, ano 1970 e me contou um ano para a reforma), meu pai gostou, havia dinheiro e levou a família da altura (dois dos meus irmãos são naturais de lá). Sr. José Teodósio, além de ser serrador junto com seu cunhado e empregado dos Valagotes, Sr. Graciano, também negociava com batata que levava para a feira da malveira e fazia a "praça na Vieira aos Domingos". Mas o assunto são os serradores e meu avô materno, carpinteiro, muita madeira cortou e serrou. Com o traçador deitava a árvore abaixo, com a serra de mãos fazia as tábuas, com a garlopa e plaina alisava e fazia os encaixes na madeira e claro, aplicava-a no local solicitado. Nas matas onde eram cortados os pinheiros, nos sítios inclinados, para carregarem os troncos faziam-se umas covas para os carros de bois ficarem na horizontal que se chamavam serradouros (penso), a mata junta da minha casa (em Forninhos) tem um, mas são visíveis em vários locais da aldeia.
    Serradores, penso que não esteve presente no tema das profissões, na comemoração do dia da freguesia, se foi, não me apercebi.

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    1. Que comentário bom, Henrique!
      Na minha opinião, Sr. Zé Teodósio, embora não sendo natural de Forninhos, foi uma pessoa que culturalmente também fez muito por esta terra e só por isso até merecia uma homenagem.
      Já o disse e volto a dizer: no "dia da freguesia" deviam distinguir publicamente a Associação Recreativa e Cultural e os seus ex-dirigentes pelo trabalho que realizaram em prole do associativismo local. O Sr. Zé foi um deles!
      Afinal o dia da freguesia (18 de Julho) não foi escolhido, porque era o dia da Padroeira de Forninhos, dia Irmandade e também o dia da Associação?
      Pelo menos era isto que todos diziam no ano de 2010!
      Aos Serradores, sim, fizeram "tábua rasa" quer nesse dia de 2011, quer no "livro" também. Em ambos lembraram ao de leve os carpinteiros.
      Boa noite*

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    2. Mais te digo, o ano (13 de Julho 2014) que dedicaram à "Floresta" não me lembro se lhes referirem também!
      Nesse ano até houve a inauguração de um monumento e, bem sabes, nao foi aos Serradores, mas eu nem vou comentar inaugurações interesseiras...não é do meu interesse ;-)
      Bom feriado, Henrique!

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  12. Boa noite Paula,
    Gostei imenso deste artigo, como sempre aprecio os escritos sobre Forninhos.
    Foi excelente recordar este assunto, que me fez regressar à infância, finais dos anos 50, em que na minha aldeia, também rodeada de pinheiros bravos, agora a maior parte queimados pelos últimos incêndios, em que existiam ainda serradores que usavam o mesmo método.
    Tempos outros que é bom lembrar para que os mais novos saibam como eram esses tempos e nós para reavivar a memória.
    Beijinhos,
    Ailime

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    1. Sabe Ailime, os jovens de hoje não são tão sentimentalistas, só quando chegarem à nossa idade é que se calhar vão ver, sentir, que recordar também é viver.
      Beijinhos e bem-haja pela manifestação de apreço.

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  13. Gostei muito do seu texto, uma linda homenagem à esses trabalhados que fizeram parte dessa historia de Forninhos.
    Adorei o trabalho de arte desse painel de azulejos, uma linda e merecida representação ao trabalho dos serralheiros.
    Beijos.

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    1. Olá Fátima, serradores não é o mesmo que serralheiros, seja como fôr, a nossa terra tem um passado de que nos orgulhamos e tem sítios, com visibilidade, que ficavam bem bonitos com painéis de azulejos, mas para isso era preciso que o comportamento daqueles que Forninhos elege não fosse o de "sempre preocupados com...e com quem não devem"! Este é o principal motivo porque fazem homenagens descabidas, nem é a falta de ideias, porque num passado recente falou-se dessa ideia!
      Mas: ..."mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... já assim dizia o nosso Grande Camões"
      Beijos.

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