Seguidores

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Poesia Outonal em prosa

Foi com pesar que tomei agora conhecimento da morte do Pedro Luís Lópes Pérez (PL.LP) do Blog "poesia y vivencias" depois de lutar anos contra um cancro. Os conhecidos também deixam um vazio neste nosso mundo de mortais. 
Paz à sua alma.


"Atrás dos primeiros menos-calores do estio findo vieram, nos acasos das tardes, certos coloridos mais brandos do céu amplo, certos retoques de brisa fria que anunciavam o outono.
Não era ainda o desverde da folhagem, ou o desprenderem-se das folhas, nem aquela vaga angústia que acompanha a nossa sensação da morte externa, porque o há-de ser também a nossa. Era como um cansaço do esforço existente, um vago sono sobrevindo aos últimos gestos de agir. Ah, são tardes de uma tão magoada indiferença que, antes que comece nas coisas, começa em nós o outono.
Cada outono que vem é mais o perto do último outono que teremos, e o mesmo é verdade do verão ou do estio; mas o outono lembra, por o que é, o acabamento de tudo, e no verão ou no estio é fácil, de olhar, que o esqueçamos. Não é ainda o outono, não está ainda no ar o amarelo das folhas caídas ou a tristeza húmida do tempo que vai ser inverno mais tarde. Mas há um resquício de tristeza antecipada, uma mágoa vestida para a viagem, no sentimento em que somos vagamente atentos à difusão colorida das coisas, ao outro tom de vento, ao sossego mais velho que se alastra, se a noite cai, pela presença inevitável do universo.
Sim, passaremos todos, passaremos tudo. Nada ficará do que usou sentimentos e luvas, do que falou da morte e da política local. Como é a mesma luz que ilumina as faces dos santos e as polainas dos transeuntes, assim será a mesma falta de luz que deixará no escuro o nada que ficar de uns terem sido santos e outros usadores de polainas".

Do "O Livro do Desassossego" de Bernardo Soares/Fernando Pessoa.
Foto: XicoAlmeida.

7 comentários:

  1. A um passo
    de nada......

    Sangram-me os pés
    De calejados
    Os cantos
    Dos lábios
    Estão gretados
    O choro
    Já não verte lágrimas
    Mostra-se inútil
    A caminhada
    E eu estou
    A um passo
    De nada.....
    O sabor
    Amargo
    Dos Soluços
    Angustiados
    O cheiro
    De algo
    Que não tudo
    A cor das flores
    ( de dissabores )
    Com venenoso
    Perfume
    Cravam em
    Mim picos
    Nesse sonho
    Conturbado
    Que me mente
    Deixa atormentada
    E eu...
    Eu ?
    Estou
    A um passo
    De nada !!

    Guilherme Moura

    ResponderEliminar
  2. Maldito Outono que leva o que não devia e deixa o que pouca falta por cá faz...
    Maléfico, levou um grande amigo, mas vá lá que não conseguirá jamais apagar o grande poeta, nao é, Pedro?
    " Um dia vais conhecer a minha terra, tal como prometido por ti!".
    Há muito que a gente falava e estava empolgado em vir à Nossa Senhora dos Verdes, Ele que já doente, ainda percorreu os Caminhos de Santiago.

    Pedro Luis López Pérez (PL.LP)11 de outubro de 2015 às 14:22
    "Por unas razones u otras los tiempos han cambiado, y ahora todo se realiza de una manera más mecánica y artificial. A veces recordando esos Tiempos se suspira por ellos y se piensa...¡¡¡Que Tiempos más buenos y plenos de armonía!!!
    La Vida es así. Los Ciclos se van terminando y los Recuerdos se van extendiendo por nuestra mente, al igual que los dolores por nuestro cuerpo.
    Dentro de poco tiempo volveré a publicar.
    Siempre es un placer poder visitar tu espacio y saber nuevas de ti a través de tus comentarios...Eres un Amigo con letras mayúsculas y sabes que te aprecio un montón.
    Abrazos.".
    Pedro Luis López Pérez (PL.LP)16 de outubro de 2015 às 13:48
    ¡¡¡Gracias, mi querido Amigo Xico, por esta especial Entrada!!!
    Me ha emocionado y sabes que, cuando pueda, iré a visitar a tu entrañable y precioso Pueblo de Forninhos.
    ¡¡¡Gracias, de nuevo, por estar siempre ahí y por ser como eres!!!
    ...Mas não vieste, Pedro.
    Sabes e sei que me escutas, nao vieste por cá continuares, ainda sonhei palmilhar os caminhos de Santiago e Senhora dos Verdes, mas afinal, partilhamos de modo singular o que a vida nos valida no tempo e nos corações apesar de não os conhecermos e estarmos tão perto, crê que fiquei mais enriquecido bebendo dos teus valores de Homem de causas e que irei para sempre guardar no coração.
    O raio do Outono...
    Vá lá, raios, não te cortaram as asas e dá daí um abraço!!!




    ResponderEliminar
  3. Soube da sua morte no próprio dia, pelo blogue da Dorli, embora eu não conhecesse nem o Pedro nem o seu blogue, solidarizo-me com o vosso pesar. Afinal foram já muitos os amigos e familiares que perdi com o maldito cancro.
    Deixo-vos com este poema.

    POEMA DO AMIGO MORTO

    Quem morreu, não foi ele.
    Foram as coisas, que deixaram
    de ser vistas pelos seus olhos.
    Quem morreu, não foi ele.
    Foram os objetos que a sua
    mão deixou de tocar...
    (...)
    Não foi o sangue que lhe parou
    de fluir, nas veias:
    foi, antes, o vinho que ficou imóvel,
    na garrafa.
    Não é ele o defunto,
    é o mundo
    que morreu nos seus cinco sentidos.
    É o sol,
    o grande sol pendido
    que ainda lhe ilumina o rosto.
    É a rosa,
    a rosa quente que já esfria,
    no corpo onde, a todo momento,
    abria e fechava a corola...

    Cassiano Ricardo

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. Este ano ... um outono esquisito ... doentio!!!
    Realço:
    Cada outono que vem é mais o perto do último outono que teremos, e o mesmo é verdade do verão ou do estio; mas o outono lembra, por o que é, o acabamento de tudo, e no verão ou no estio é fácil, de olhar, que o esqueçamos.
    ...
    bj

    ResponderEliminar
  5. Um texto que nos faz pensar muito no Outono da vida. O viver com os seus ciclos e realidades fortes, apesar das tantas belezas.
    Não conheci o Pedro Luís, mas deixo o meu abraço de conforto p vc e Xico.
    Com carinho

    ResponderEliminar
  6. A blogosfera ficou mais pobre com o falecimento do Pedro.
    Da minha parte ficará para sempre uma insatisfação, uma sensação de que tanto ficou por dizer-lhe...
    Até sempre Pedro Luís.

    ResponderEliminar
  7. Boa tarde Paula e Xico,
    Ai o outono, tão seco este ano, mas que me transmite uma certa nostalgia na alma... Magnífico texto do Livro do Desassossego.
    Fiquei muito triste pelo falecimento do Pedro Luiz cujo diálogos convosco não perdia, embora não visitasse o seu Blogue.
    Um amigo de Portugal e de Forninhos.
    Que descanse em paz!
    Beijinhos,
    Ailime

    ResponderEliminar

Não guardes só para ti a tua opinião. Partilha-a com todos.