Na imagem, retirada das "Memórias Paroquiais" de 1758 Forninhos surge com a grafia que todos conhecemos, mas alguns séculos antes, designadamente no cadastro ou "numeramento" do Reino realizado entre 1527 e 1532, surge como "o lugar de fornos".
O primeiro grande recenseamento da população portuguesa foi ordenada por D. João III (cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua devoção religiosa) e teve início em 1527, sendo realizado sistematicamente comarca a comarca. Um escrivão percorria pessoalmente as cidades, vilas e concelhos e ouvia, sob juramento, dois homens-bons de cada lugar principal, que numeravam os chefes de família. Deveriam socorrer-se também dos livros das sisas e por fim lavravam um auto.
Este numeramento mostrou que existiam em Portugal 282.708 fogos, ou seja, uma população de pouco mais de um milhão de pessoas (1.120.000 almas). Para nós isto pouco significado tem. O que importa e do que temos certeza é que à data do numeramento, Forninhos era Fornos, encontrava-se incluída no concelho de Penaverde e tinha 22 famílias, o que equivale se calhar a cerca de 70 a 80 habitantes. Mas isto numa época em que as mudanças eram muito mais vagarosas do que hoje, significa que o lugar de fornos já existiria há bastante tempo e existia mesmo!
Lê-se também "Fornos" nas inquirições de 1258 "O concillium de Penaverde abrangia as aldeias de "Fornos et Dornelas er Casalia de Moreyra e Monasterium et Finis de Moreira et Queiriz que sunt aldeole de Penna-Verde" (Reinado de Afonso III de Portugal (1248-1279).
O documento original encontra-se no Museu Britânico, pelo que transcrevemos de forma quase integral o numeramento do concelho de Penaverde transcrito e publicado pelo Pe. Luís Ferreira de Lemos (in Penaverde, sua Vila e Termo):
Este numeramento mostrou que existiam em Portugal 282.708 fogos, ou seja, uma população de pouco mais de um milhão de pessoas (1.120.000 almas). Para nós isto pouco significado tem. O que importa e do que temos certeza é que à data do numeramento, Forninhos era Fornos, encontrava-se incluída no concelho de Penaverde e tinha 22 famílias, o que equivale se calhar a cerca de 70 a 80 habitantes. Mas isto numa época em que as mudanças eram muito mais vagarosas do que hoje, significa que o lugar de fornos já existiria há bastante tempo e existia mesmo!
Lê-se também "Fornos" nas inquirições de 1258 "O concillium de Penaverde abrangia as aldeias de "Fornos et Dornelas er Casalia de Moreyra e Monasterium et Finis de Moreira et Queiriz que sunt aldeole de Penna-Verde" (Reinado de Afonso III de Portugal (1248-1279).
E vêm-lhe o nome por lá ter havido alguma "fábrica" onde se cozia cerâmica?
Muito possivelmente.
Refere o Sr. Pe. Luís Lemos no seu Livro que foi encontrada uma protuberância rochosa no declive para as Dornas (quando o fogo de Agosto de 1995 pôs a descoberto muita coisa, mas que não eram penedos), mas grandes blocos informais de cerâmica que pela sua configuração seria ali a "fábrica".
Ou, questionados onde moravam, as pessoas da "fábrica" responderam simplesmente "nos fornos" acabando por ser entendido como o nome do lugar?
Ou, questionados onde moravam, as pessoas da "fábrica" responderam simplesmente "nos fornos" acabando por ser entendido como o nome do lugar?
O documento original encontra-se no Museu Britânico, pelo que transcrevemos de forma quase integral o numeramento do concelho de Penaverde transcrito e publicado pelo Pe. Luís Ferreira de Lemos (in Penaverde, sua Vila e Termo):
No comcelho de Pena Verde vivem 178 moradores, comarca de Pinhel, no qual há os lugares e moradores seguintes:
26 no lugar dos Casais que é cabeça do comcelho
26 no lugar dos Casais que é cabeça do comcelho
26 no lugar de Moreira
30 no lugar de Queyrys
31 na quyntam dos pardieiros
1 na quyntam do vale de pero vaqueiro
3 na quyntam da topetya
2 na quyntam das aveleiras
2 na quyntam da fonte durgeyra
1 na quyntam dos feytais
22 no lugar de fornos
28 no lugar do mosteiro
35 no lugar de dornelos
que todos fazem a soma de 178.
O enumeramento visava também referenciar as delimitações territoriais de cada concelho e "Este concelho tem de termo em comprimento duas legoas e em largura duas partes e comfromta com a vila de trancoso e com o concelho de carapito e com hos casaes do monte e com a villa daguiar e com o comcelho de gulfar e com o comcelho de penallva e com o comcelho de matança e com o comcelho dalgodres".
Notas minhas
No ano em que o concelho de Penaverde foi visitado pelo escrivão que recolhia dados para o numeramento, as quintas dos Valagotes e de Colherinhas ainda não eram povoadas, pelo menos não são referidas no dito numeramento.
Como e quando o nome original diminuiu para Forninhos?
Como e quando o nome original diminuiu para Forninhos?
O topónimo Forninhos só nos aparece escrito da forma actual nos primeiros registos de casamento. Avança a "monografia de Forninhos" os primeiros em 1626. Não estranho muito esta informação, pois no processo de inquisição do soldado Manuel Nunes, nascido em 1632, em Forninhos, é referido que os seus pais (Pedro Gonçalves e Maria Nunes) são naturais e moradores em Forninhos. Já o tínhamos referido aqui.
Mas...
Mas...
Pelos Tribunais do Santo Ofício passou também um membro do Clero, um cura natural de Fornos de Algodres, mas morador em Santa Marinha de Forninhos, o qual foi acusado (concubinato) em 16 de Abril de 1617 e se livrou do castigo em Dezembro do mesmo ano (clique aqui para ver o documento do Arquivo Nacional da Torre do Tombo). Assim, a derivação Forninhos já surge em documento de 1617.
A teoria é de que o diminuitivo surgiu para distinguir o lugar do de Fornos de Algodres, faz sentido. Mas no século XVII e não século XIX, quando por uns poucos meses a freguesia esteve incorporada no concelho D´Algodres.
Obrigada pela interessante partilha!!!bj
ResponderEliminarDe nada. É preciso não esquecer que este blog nasceu para divulgar as notícias, a história, as tradições e as curiosidades da terra que me viu nascer.
EliminarBjo*
Notável....
ResponderEliminarTodos nós trabalhamos ,temos familia ,filhos , temos, na cidade, sobretudo, muito tempo perdido em longos trajectos de e para o trabalho. Enfim , ás vezes temos as chatices da vida . As que criamos, com os nossos erros e as chatices que nos batem á porta , quando abrimos de mais as nossas portas
á ingratidão e á maldade dos que nada fazem .
O Mundo seria melhor se ocupassêmos nos tempos livres a ajudar os outros, ou no voluntariado, ou na promoção social
e civica das nossas terras e origens , mesmo vivendo longe.
Conheço pessoas que desde os 55 anos não fizeram mais nada
na vida senão , imaginem , olhar para o outro , apontar o dedo ,anos a mendigar e criticar governos e ministros frente do televisor na hora dos telejornais.
Quando simplesmente ajudar Associações , Bombeiros e Clubes na promoção social ,nem que seja duas horas por semana seria
o tempo suficiente para matar o vazio e as frustações da vida e assim lançar sementes para um Mundo melhor !!
Este desabafo a respeito deste post que necessariamente deve
absorver muito tempo ao seu autor e por isso merece o meu
respeito e admiração. Que forma brilhante de estar na VIDA.
Com cultura , saber e excelente gestão do tempo...
Conheci Forninhense que entre duas décadas nunca lá pisaram
a sua igreja e monumentos. 25 anos depois de lá ter ido pela
primeira vez conheço este blog que leva uma terra tão humilde
e cheia de História a todos os cantos do Mundo onde existem
descendentes....
Que bom ser DIFERENTE....
Gostei deste Post...
Bom fim semana
Abr
MG
Investigar as raízes humildes da minha aldeia, é assim mesmo, gastamos o tempo a folhear livros, desloca-mo-nos a arquivos por vezes longínquos, pesquisamos os cantos mais escondidos da internet, o que consome muito tempo, são muitas horas retiradas ao sono, mas o resultado é compensador.
EliminarHaverá sempre forninhenses que só pisam a igreja num qualquer funeral. É muito triste. Como é triste um dia lerem na monografia da sua terra que a actual igreja foi construída em 1731 e outras mentiras mais.
Por isso, farei má propaganda à monografia de Forninhos, porque não é sobre a terra dos meus avós, nem avós dos meus avós...
É bom ser e PENSAR DIFERENTE, António.
Um abraço.
Sem dúvida que somos uma terra milenar que assenta os seus valores no trabalho, na honradez, no bem receber, um misto herdado de princípios de invasores sucessivos pela sua localização estratégica que,presumo, se foram assimilando.
ResponderEliminarPara mim quase leigo, neste estudo que a Paula fez e Louvo, mais que factos reais registados, está o desvendar do embrião de onde veio Forninhos. Ela tenta ir mais além nas suas pesquisas,do que investigaçoes "ao dia" que nada acrescentaram, mas louvadas foram, enfim...
Forninhos, no meu entendimento e quer queira ou não, nasceu na serrania de S. Pedro, nem me interessa por quem por tão antigo, como prova o Castro da Gralheira e zona envolvente e depois desceu para o seu vale fértil aonde hoje se encontra por influência de outros povos ocupantes da Peninsula Iberica, pois não terá sido por acaso que Viriato e Sertório tinham as suas defesas em terras não muito longinquas.
Que somos uma terra Velha, somos, claro pois por esta zona andou o rei D. Sancho, romanos, visigodos, serracenos, romanos, até franceses...
Agora estranho a falta de referências aos Valagotes.
Não acredito, apesar da falta de registos oficiais que não tenha sido um lugar vital para qualquer força civil e militar.
Olhando do seu alto, aqueles vales enormes que se expandem a perder de vista para os lados de Penalva do Castelo, para a direita Dornelas, por detrás o que vai levar aos lados de Penaverde, mas em frente a serra da Estrela.
Porventura os Valagotes terão nas suas casas antigas muito para descobrir, pois ninguém conheceu melhor que eles a serra de S. Pedro e por tal duvido que fosse apenas um abrigo dos pastores.
Do mesmo modo estranho a falta de referência a Colheirinhas nos numeramentos, pois apesar de pequena tem coisas seculares.
Adorei o post.
Parabéns Paula!
Só se os Valagotes eram "a quyntam do vale de pero vaqueiro"!
EliminarNão dizem que Valagotes vem de "vale"? Pode ser.
Nunca me deu para pesquisar algo sobre os Valagotes. Agora os investigadores "de alto gabarito" é que em vez de publicarem dados já recolhidos e publicados por outros investigadores locais que abordaram também a freguesia de Forninhos, é que deviam, porque podiam (€€€€), ter acrescentado dados novos. Ou só porque as nossas raízes não nos legaram pergaminhos ou pedras de armas, não merecíamos melhor?
Os topónimos não aparecem por mero acaso e então a mudança do nome Fornos para Forninhos!!! Com certeza deve ter sido submetido ao Rei, através de uma petição.
Ainda tenho esperança de que o futuro nos reservará surpresas sobre este tema.
É como o castro, o nome devia ser mudado para "S. Pedro". Não gosto de ver mencionados nas monografias e folhetos locais "Gralheira" ou até "S. Pedro dos Matos".
A Gralheira pertence a Moreira, freguesia de Penaverde.
Hoje deu-me para pesquisar algo sobre os Valagotes.
EliminarLê isto:
"Quanto à toponímia, transformada pelos anos de Valegotos em Valagotes, segundo uns, talvez provenha de Baldegutus ou Baldegudus, nome pessoal de origem germânica. Há quem afirme provir de “Valle”, com o sufixo desconhecido de godo, diminutivo, concordando a toponímia local.
Valagote é também um provincianismo algarvio que significa “vale pequeno, pouco profundo, mas situado, no geral, a grande altitude".
Fonte:
http://valagotesassociacao.blogspot.pt/p/informacao-dos-valagotes.html
Desconheço o autor, mas o palavreado não me é estranho...e só por isso já fico com um pé atrás.
Paula, Forninhos sempre muito querida e bem narrada por vcs!
ResponderEliminarAgora, já em casa e dando os primeiros passos na rotina...
Um abraço p vcs...
Mas, mais importante que a narração, é que o documento de 1617, vem dar uma nova força à teoria de que a origem do topónimo Forninhos é anterior a 1626 e que está fora de questão que o nome derive de fornilhos ou provenha de fornilhos "designaçao por que são conhecidos os pequenos fornos utilizados pelo povo" como nos quiseram impingir!
EliminarAbraço e tudo de bom.
Esse trabalho de pesquisa é realmente trabalhoso e demorado, mais a sua determinação em apurar a historia e origem reais de forninhos, é algo valioso, é um documento precioso.
ResponderEliminarBeijos.
Sabe Fátima, eu só fico pasma é como há bem pouco tempo atrás se pagou milhares de euros a pessoas com "os melhores conhecimentos académicos e arqueológicos" para escreverem dados recolhidos e publicados por outros investigadores e alguma coisa original que trouxeram vai-se a ver "não bate a bota com a perdigota".
EliminarÉ uma igreja construída em 1731.
É nos primeiros registos de casamento, datados de 1626 que começamos a encontrar a derivação Forninhos.
Se até escreveram a páginas tantas passagens de outro investigador local, como o processo movido pelo Tribunal de Santo Ofício de 1617, como é possível escreverem o que escreveram?
O enumeramento é um documento valioso, mas o processo do Santo Ofício de 1617 também é uma preciosidade.
Beijos, bom domingo!
Um belo e interessante trabalho de pesquisa. É bom conhecer a história do lugar onde se pertence.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Assim como nós gostamos de saber a nossa origem, também é normal que uma aldeia o queira saber, mas quem tinha legitimidade e possibilidade para o bem fazer era a nossa autarquia e não eu ou aqueles que connosco colaboram!
EliminarEu somente me apaixonei pela história da minha terra e como ainda não perdi a esperança de chegar ao documento que mudou Fornos para Forninhos vou continuar a pesquisar, tudo a expensas minhas.
Abraço.
Bom domingo!
Excelente trabalho e fiquei a conhecer muito melhor Forninhos bem como a suposta origem do seu nome.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
É isso Francisco, todas as conclusões que podemos tirar são, em última análise, suposições, até porque todo o escrivão se engana. Por isso temos de "cruzar" informações.
EliminarSe há um processo de 1617 movido pelo Tribunal do Santo Ofício de Coimbra contra um cura da igreja de Santa Marinha de Forninhos, é uma falácia dizerem que o topónimo Forninhos só nos aparece escrito da forma actual em 1626, ou seja, nos primeiros registos de casamento; ou que a igreja de Forninhos deve remontar a 1731!
Só gente utópica pode achar que se edificou uma igreja em 1617, outra em 1731 e depois outra em 1797, ano da construção da actual Igreja Forninhos.
Abr./cont. de boa semana.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarGostei muito deste seu artigo onde se prova mais uma vez o seu jeito para a pesquisa.
Informações muito importantes e interessantes sobre a origem do nome da vossa terra e do numeramento e o modo como era feito.
Grande trabalho!
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime
Obrigada Ailime.
EliminarEu como gosto muito de história e penso que para gostarmos de nós devemos gostar de saber de onde viemos, se consigo recuar uns séculos ou mesmo uma dezena de anos, para tentar saber a raiz da coisa, mais feliz me sinto.
Bom domingo, bjos.
Desculpe o meu alheamento na colaboração, mas como poderá reparar até nos meus blogues pouco tenho colocado!
ResponderEliminarDou-lhe novamente os meus parabéns, pelas bem documentadas entradas e coloco-lhe o repto da publicação das suas investigações numa obra.
Interessante nesse numeramento também a não existência da Quinta da Barreira, da freguesia de Queiriz, e actualmente pertencente ao Município de Fornos de Algodres.
Receba um abraço amigo.
Sabe que em Portugal publicar uma obra não é muito fácil, porém ficaria muito contente se quem teve essa possibilidade não tivesse inventado tanto!
EliminarSei que me entende.
Quanto ao numeramento interessante é outra quinta ou povoação pequena. A quyntam dos pardieiros (o Padro?) afinal não seria assim tão pequena, já que ao tempo contava com mais moradores que Forninhos!
Retribuo o abraço.
Muito interessante este seu gosto de saber o porquê das coisas. Eu também sou curiosa, e dedico algum do meu tempo a descobrir a origem do nome das povoações ou seja à Toponímia.
ResponderEliminarBom trabalho. Meus comprimentos.