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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Os ensaiados

Andavam endiabrados
Por ser este aquele dia,
Tão felizes e contentes
Recuando no passado
Carregados de alegria,
Eles e as nossas gentes
Os tantos que assistia,
Voltavam a ser crianças
E podiam fazer tudo,
Felizes nestas andanças
Não fora dia de Entrudo!


Trago desta forma singela o Entrudo de Forninhos, como tributo aos que teimaram manter o espírito deste evento, à nossa maneira. 
Uns partiram tal como a tia Céu (a Rainha) e o meu tio António a tocar o bombo, quem diria, mas afinal tinha sido bombeiro toda a vida.
- Este ano, vais-te ensaiar de quê?
E moita carrasco...seja surdo e mudo se vou dizer, e por aqui se quedava a coisa, que afinal nada tinha de segredo, as calças do pai, o avental da mãe, as meias da irmã enfiadas cara abaixo, mais o chapéu velho do avô.
E falando, eles contavam eufóricos as traquinices matreiras dos seus tempos de juventude, de como pensavam enganar primeiro os vizinhos e depois o povo todo, quase sempre com a ajuda das mães mais  festivaleiras e cúmplices, como foi comigo.
Quanto aos mascarados, aí, alto e pára o baile...
Medo metia a carranca do tio Zé Carau, medonha!
Era um corropio de gente a fugir do largo da Lameira afora, aquela coisa ia connosco para a cama e durante dias não deixava dormir. Era o momento de terror que quase todos temiam, mas não queriam perder e pelo meio tantas coisas...
Diabruras do tio Abel peleira, a burra do tio Carlos melias, os alacraus do Luis mudo e o espalha brasas do Zé Coelho que com a pá limpava a Lameira com terra para quem apanhava pela frente, antes de estar calcetada.
Mas e deixem que diga, a tradição não está perdida pois o saudoso tio Zé Carau deixou muitos netos teimosos nestas coisas...

16 comentários:

  1. Recordei o Carnaval de outrora. Mal chegava Janeiro, meu pai começava a fazer as máscaras. Nunca ninguém sabia como se mascarava, e nunca ninguém o reconhecia, apesar de pensarem que era ele, pois ninguém, era capaz de tanta criatividade como ele.
    Um abraço e bom Carnaval

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    1. Pois era Elvira, as pessoas sabiam de antemão quem eram os mais reinadios, aguardavam a surpresa que porventura trariam.
      Os verdadeiros "ensaiados" como a gente por aqui dizia.
      Bom carnaval e um abraço para si.

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  2. Que coisa legal isso e tão boas tuas recordações. Certamente e que bom, o Tio Zé Carau deixou sobrinhos teimosinhos,rs... abração,chica

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    1. Sobrinhos, netos e bisnetos.
      Quem agora reina nesta folia são os seus inúmeros netos que honram a sua memória e que o povo que assiste dele continuam a ter saudade.
      Abraço, Chica.

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  3. Deixai passar, deixai passar/Deixai passar, esta brincadeira/Ó ai somos todos de Forninhos/Ó ai concelho d´Aguiar da Beira!

    Se as nossas aldeias quase não têm jovens, que sejam então os velhos os foliões!
    Falo sério, gostei de ver, principalmente a tia Céu a que chamavam a Rainha, embora ache que as pessoas da foto não eram, nem são, as pessoas mais sociáveis, extrovertidas, divertidas...de Forninhos, mas cabe agora às instituições (que aparentemente são muitas) com as gentes da sua terra ensaiar-se, fazer uma dança ou contradança, etc...
    Posso estar enganada, mas esta foto deve ser anterior a 2010, ao ano em que inventaram um dia para a Freguesia de Forninhos. É que partir daí, por causa das "politiquices baratas" só há marchas, teatros e cantorias nesse dia, quando bem podiam ensaiar qualquer coisa, por exemplo, para o dia do leilão, das arrematações, na Lameira, no Domingo Gordo! Este leilão é composto por várias ofertas e isto também é oferecer!
    "É Carnaval ninguém leva a mal", mas bem sei que vão levar a mal eu escrever isto, mas é o que eu penso. Forninhos deve estar muito acima de qualquer cor ou credo político.
    Mas com certeza vai ser um dia festivo com muito êxito ou não estivessem por lá alguns dos netos do tio Zé Carau que as gerações mais velhas o recordam como aquele que enchia a cara de mel com milho painço e vinha para a Lameira pregar partidas com farinha.
    Bom Entrudo ou Carnaval (como preferir).

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    1. Confesso que num tempo de "reinação" fui brando e até no meu pretenso versejar teci elogios às nossas gentes aqui representadas.
      "Miserabium homini est"...
      Pura verdade.
      Mais atento, descobri para mim a realidade do enterro do Santo Entrudo, tendo por pano funerário de fundo, a nossa escola. As cantorias de quem para ali perto se transferiu, um Centro de cultura que a substituiu o que não aprenderam na escola, mas pagam quotas para comer. Carnaval e ninguém leva a mal.
      Este meu desabafo na minha resposta, vai no sentido Único da maneira como em poucos anos foram pulverizadas as nossas tradições por muitos que de tais pareciam e parecem ter vergonha.
      Bastou para tal uma maestrina de batuta numa mão e terço na outra, padres de ofício cumprindo os seus horários "profissionais" e claro, os "dono"s da freguesia, presidentes. Grande lavagem, Deus meu, que ainda perdura.
      Daqui saiu um bolo bem preparado mas azedo, ácido, talvez pelo fermento, mas os pagens fiéis estavam conquistados pela barriga.
      Na foto vejo alguns "vendidos" por côdeas de pão...
      ESTRAGARAM TUDO O QUE ERAM MEMÓRIAS!
      Sorte a dos forninhenses que alguns vão resistindo por honra aos seus familiares e amigos. E à terra!
      O resto, Deus que os leve e o diabo que os carregue!
      Amén.

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    2. Não é que tenha algo contra, acho até que são um óptimo grupo, apenas lamento que as pessoas envolvidas e que ainda estão vivas só o façam agora no "dia da freguesia" e, na minha opinião, por esse motivo, não ficam lá muito bem na fotografia, porque o verdadeiro defensor das tradições da nossa terra, não exclui outros dias. Há outras festas, há Entrudo, há Páscoa…
      Se estão prontos e disponíveis para desfilar e exibir as tradições, até com um certo brio, porque então agora só em Julho?

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  4. Carnaval bem diferente do actual.
    Confesso que não gosto do espírito da festa.
    Beijo

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    1. Olha Nina, nestes tempos de antanho, as coisas eram diferentes nas aldeias do interior.
      Básicamente lúdicas e um extravasar de coisas do dia-a-dia guardadas durante um ano inteiro.
      Beijo.

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  5. Um texto com boas folias... Lembranças bonitas que deixaram alegres heranças!
    Obrigada pelo comentário por lá, Xico...
    O meu abraço

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    1. Claro, Anete, afinal é carnaval e tempo de folia em que se aproveita para mandar algumas "farpas" e ninguém leva a mal.
      Espero...
      Abraço.

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  6. Por aqui perdeu-se a tradição para desgosto de muitos!
    Uma relíquia a preservar ... mesmo que haja saudades de outros carnavais!
    BOM DOMINGO

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    1. Pena que as coisas tradicionais não perdurem como deviam, mas o tempo pouco se compadece da voracidade das coisas modernas e economicamente viáveis.
      Passamos o ano mascarados, fingindo que tudo está bem e depois na sua altura, parece que nos acanhamos.
      Enfim...

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  7. Boas recordações de Carnavais passados, hoje os tempos são outros e os interesses das novas gerações são diferentes.
    Um abraço e bom Domingo.
    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Amigo Francisco, por incrível que pareça, hoje fiquei surpreso por na minha aldeia, ontem, as coisas "andarilharam".
      Vamos ver. pois seria bom recuperar tradições.
      Obrigada e um abraço.

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  8. Boa noite Xico,
    Tão simples mas feitos com o coração os entrudos de então. Tenho saudades desses tempos em que o simples tinha graça e a garotada corria atrás dos mascarados numa alegre algazarra.
    Ainda bem que Forninhos mantém viva a tradição.
    Beijinhos,
    Ailime

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