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sábado, 5 de março de 2016

Raízes...

Anos 60 do Século XX, anos complicados! O início da Guerra do Ultramar condicionou a vida da nossa gente, nos anos da Guerra Ultramarina a freguesia de Forninhos chorou pelos seus rapazes, choro de morte, de aflição...Mas o pulsar das populações não parou. Durante este período mantinham-se as tradições e as crianças iam à escola e à catequese; os casamentos e nascimentos aconteciam e até houve Missa Nova na Terra.
«Sim, Forninhos vive num ambiente festivo de nobreza e engrandecimento.», como escreveu Ilídio Guerra Marques no convite feito a todos os Forninhenses disseminados pelas mais distantes partes do mundo.
«Há um murmúrio alegre que desce pelas quebradas dos montes! Há um balbuciar de preces nos lábios puros e inocentes das crianças! Há lágrimas que sulcam rostos encarquilhados de velhinhas! Há um ressoar de cânticos que se eleva sublime no Céu! Algo, enfim, de supremo e grandioso enche todos os corações e os une numa amizade santa e verdadeira.».
Desta época aqui ficam umas fotos e a seguir um poema recordação dedicado à nossa Terra para ajudar-vos a recordar com mais saudade e maior devoção essa Aldeia que trazeis no coração e que foi e continua a ser Berço de todos nós.
Leia que vale a pena.


A foto acima mostra a saída da procissão da sua casa, na Lameira, para a nossa igreja, onde iria ser celebrada a primeira missa.
Reconhece-se gente boa e estimada da nossa terra: meu avô J.Cavaca, ti Daniel, ti Alfredo Saraiva (pai do XicoAlmeida) e ti António pêgo. Dos mais novinhos, um, Ezequiel "Rito", o outro parece ser o Adelino Moreira.

Convivas, 13 de Agosto de 1967

M/avô Cavaca, Zé ferreiro, ti Joaquim branco, Adriano Moreira, m/pai: Samuel e o primo Álvaro.

o formato do bolo é um missal

Clique para ampliar/ler

Recordações de Gente nossa, alegrias e tragédias...

26 comentários:

  1. Recordações maravilhosas que marca a gente dessa terra...enaltecendo a alma de um povo!
    Simplesmente encantadora essa poesia bem popular e genuína!
    Bom domingo

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    1. Por acaso hesitei no título..."Marcos da Nossa Terra"..."Marcos da Nossa Gente"...mas pareceu-me melhor...simplesmente "Raízes".
      Bom domingo tb.

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  2. Recordações de memorias que nunca se apagam nem de quem lá combateu como quem lá vivia e não regressou a Portugal durante o terrorismo. Passei o terrorismo todo em Luanda. Andava no 2-0 ano do ciclo. Sei bem o que é viver com medo...apenas regressei em 75. Dei aulas no musseque debaixo de fogo cruzado entre a Unita e o MPLA.
    Ficam sempre a boas e más recordações.

    Beijinhos.

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    1. Felizes daqueles que hoje podem recordar, não é Lisa?
      O meu pai combateu na Guiné e também diz o mesmo: Tem boas e más recordações.
      Na 2.ª foto é o jovem de mangas arregaçadas e foi mobilizado depois de 1967, mas andou por lá quase 26 meses!
      Beijinho!

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  3. Quantas marcas, lembranças, recordações daqueles tempos aqui registradas! Lindo isso! Não podem morrer! bjs, chica

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    1. Toda a razão..."Não podem morrer!".
      É preciso que fique registado que no período da Guerra que começou no ano de 1961 em Angola e só terminou com a Revolução de 25 de Abril de 1974 os que permaneceram por cá, apesar do sofrimento, faziam cumprir toda uma vivência familiar e rumavam ao futuro.
      Mas infeliz e lamentavalmente em Forninhos acham que só os retornados é que sofreram e só eles podiam ter um futuro brilhante! A pensarem assim, então, os que por cá ficaram eram de "segunda" e apenas deviam alegrar-se com os presentes que lhes traziam: tapetes, almofadas, animais esculpidos, robes com cores africanas, fotografias...
      Beijinhos Chica.

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  4. Querendo preservar as nossa raizes e tais registar para o futuro, a base tem de assentar na veracidade dos factos, registos de alma do proprio, tal como esta missiva emanada "Forninhos vive num ambiente festivo de nobreza e engrandecimento", Era o convite para a Missa Nova, a sua ordenacao. Festejada a preceito pelo povo embevecido e orgulhoso por ter um padre da sua terra, como se tal fosse parte deles e o "feito" propalado pelas paroquias vizinhas.
    Quis o destino na sua orientacao espiritual, que renunciasse mais tarde ao sacerdocio de modo digno, mas que o mesmo povo na sua maioria e em surdina o tivesse condenado, sera o padre deles, devia ser para toda a vida.
    Ingratos!
    Tivemos o privilegio de passar com este Senhor e sua Esposa, um dia em sua casa. Nao o via ha mais de trinta e muitos anos e a imagem que dele retinha era estar deitado de brucos no chao da igreja vestido, acho de branco, a ser ordenado padre pelo Sr. bispo. E da festa rija, como hoje continua.
    Hoje, passados poucos meses de quando nos recebeu em sua casa, guardo um olhar molhado de alegria, de bracos abertos para nos ter por perto, ele que a gente nem sabia, nos ia lendo acerca da sua aldeia, nossa tambem e por tal, presumo, um acumular de emocoes que nos mostrou, jamais se vieram a esbater no seu amor por Forninhos.
    Foi um abrir de alma de forma simples, um Senhor que abriu o coracao, nos compartilhou a vida como tem sido e a que a mim me deve o maximo respeito e o bem haja por me distinguir como amigo e honrar o nosso trabalho.
    Escritos varios sob diversas formas, prosa, poesia, devaneios, documentos pessoais, sempre com a aldeia na ideia...
    Diz que devemos escrever um livro por tantos relatos antigos e verdadeiros, mas isso custa dinheiro, a ver vamos...
    Da sua varanda virada para o mar em frente, recitou poemas das nossas serranias, trouxemos copias e fotos, segredos nossos...
    Bem haja Dr. Ilidio, amigo da terra.
    Permita que no encanto do seu poema, um pouco me revele...
    "Tanta vez em pequenito
    Noites passei ao relento
    Pelos lugares de Sao Pedro
    Terra cheia de medo
    E o meu pai aflito
    Quando fugia uma vaca
    No agoirar de um grito
    De lobo ou homem de faca
    E a noite que nao passava
    Malvada...
    Mais valia a sementeira
    Por dever
    A gente nem andava a jeira
    Com mais ou menos suor
    Mandava o lavrador
    As horas eram mandadas
    Pelos sinos la debaixo
    Que rebentavam com dor
    Os calhaus pelas quebradas
    As maias, perdiam a cor
    As putigas ainda escondidas
    Pelo meio dos sargacos
    As casulas nos pinheiros
    Ainda longe dos lameiros
    Pastores perdidos na serra
    Com saudades de uns abracos
    Mas quem nao lembra...
    Pelas pedras ja roidas
    Correndo esbaforida
    Vinha a senhora da merenda
    Que a hora era tardia
    De tantas miserias tidas..."
    Belo Post e intenso, Paula.

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    1. Este Senhor, Ilídio Guerra Marques, foi mencionado no Livro de Penaverde, Capítulo dedicado a Forninhos, como uma das personagens marcantes de Forninhos, no entanto, na monografia da sua terra natal, não o foi!!!
      Os únicos nomes que constam das páginas da "monografia Forninhos a Terra dos nossos avós" são:
      - José Ribeiro Nogueira e Diamantino Fonseca.
      Se não me engano, um, é natural da região de Coimbra; outro, é natural do Prado (Penaverde).
      Dá que pensar...
      Como sabes, o Dr. Ilídio ainda não conseguiu obter essa obra, não sei porquê...
      Ao Pe. Matos, natural da Matela e que paroquiou Forninhos entre 1962-1968, sei que a Junta lhe ofereceu um (não o comprou, atenção!).
      Francamente não entendo tal critério, até porque em Acta da Assembleia de Freguesia de Forninhos realizada a 27 de Dezembro de 2009 lê-se:
      «Na presença do executivo desta freguesia, o Senhor Doutor Ilídio Guerra Marques cedeu a esta Junta de freguesia uma parte de terreno sita no lugar do Picão para a futura construção de um polivalente. O executivo endereçou também um pedido ao Conselho de Actividades Económicas desta Freguesia para a cedência do terreno que se encontra junto à antiga Escola Primária com vista ao mesmo fim».
      Prometeram um polivalente, mas devem ter percebido atempadamente que não temos gente, no entanto, não deixaram de procurar o Dr. Ilídio para tal cedência e depois, que é hoje, esquecem-se dele?
      Dá que pensar também...
      Gostei do teu poema, Xico.

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    2. Por vezes temos de nos aventurar aqui em aguas mais truculentas, deixar relatos que nao sendo desmentidos, se vestem de verdade.
      Em duas, uma no diz que diz pelo falatorio normalmente certo de quem sente o "cheiro" destas coisas, nos modos " que era assim",, com medos de falar, mais valia estar calados, tal como hoje ainda impera na minha terra pelo dever de venerar quem traz um acrescento, nao do seu bolso, mas no espelho de vaidades pessoais.
      Afinal os "brasileiros", o que trouxeram a Forninhos, nao sendo "negocio" deles?
      Das nossas gentes, geridas por pessoas de fora, nada ficou registado, quem os viu?
      E falam e falam por falar os filhos e netos, no modo da tropa fandanga, aquela mesma que vinda do ultramar, pensava continuar por aqui a utilizar os "negros" em seu proveito. Houve quem disso se aproveitou com os famosos "bagos de arroz", por tal...
      Recuo um pouco ate falar dos padres.
      O padre Matos, muito chegado a minha familia, foi quem me encaminhou para o seminario. Bem haja por tal, ou nao, mas pelo menos uma ligacao fraterna e bonita de que me orgulho.
      O agora Dr. Ilidio.
      Sonegaram a sua figura, ou seja, depois de nao preciso, pouco valia saber o valor acrescido que poderia trazer para a historia de Forninhos. Foi cruxificado no meu ponto de vista.
      Aquando acabaram os anos dourados e corridos, a "comandita" tomou conta da aldeia, tal como na generalidade de portugal. Recebiam de todo o lado, queixas e rezas e um partido de maos postas que tudo perdoava. Pobres coitados...
      Sejamos verdadeiros, a maior parte andava por la a custas do sangue daqueles jovens que deixavam a rabica do arado ou dos mudar dos cancelos das ovelhas, para enriquecerem com seguranca...
      E os outros deste lado do Continente...
      Ainda nao compreendo que aos dezoito anos com notas maximas, ser preterido em testes a favor de retornados.
      Estava ca e que eram mais de mim?
      Isto fica em desabafo, por real. Pena, isso sim, que os descendentes dessas mentalidades retrogradas, nao olhem
      para tras e dignifiquem os seus...

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    3. E o Dr. ilídio poderia trazer muito para a história de Forninhos, mas ninguém se acercou dele. Pena, pois!
      A "comandita" tomou conta da aldeia, é verdade, e foi logo a seguir ao 25 de Abril, para tanto, basta ver que os Presidentes de Junta de Forninhos que mais tempo tiveram no poder eram retornados.
      Mas o mal não foi dos retornados, pois têm iguais direitos.

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  5. Os anos sessenta, a guerra no Ultramar, a PIDE a fome as prisões.
    Foram anos muito maus e causa admiração como o povo encontrava forças ainda para as cantorias.
    Um abraço e bom Domingo.

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    1. Tenho para mim que tal se deveu ao pároco que paroquiou Forninhos entre 1962-1968, assim nos contam os homens e mulheres de hoje, rapazes e raparigas de então.
      Cabia ao pároco manter tradições, como:
      - A Páscoa com a campainha do sacristão a tilintar pelas ruas;
      - Em Maio, o terço era rezado com devoção pedindo protecção de Nossa Senhora à freguesia, para que os seus soldados regressassem vivos. Quatro soldados morreram. O primeiro faleceu no dia 22.08.1961.
      - A festa do Espírito Santo, assim como a festa de N.S. dos Verdes no 15 de Agosto em que recitavam o terço pela paz "Faz com que a guerra se acabe na terra..." "Pelos soldados que à guerra vão, Senhora escuta a nossa oração".
      -Etc.
      E em 1967 ordenou-se um novo padre e houve Missa Nova e a população lá foi.
      Era a fé e a Esperança a prevalecer em situação de angústia e de dor, Elvira!
      Abr./bom domingo.

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  6. Apesar do "choro de morte" que a Guerra Colonial fez nascer em Forninhos, tal como por todo este país, as pessoas não se entregaram à tristeza e desalento absolutos, irmanados na esperança, porque a vida de todos os dias tinha de continuar, assente nas tradições, na fé , e no são convívio que as fotos da época tão bem demonstram. E como se pode ler no longo e belo poema do sr. Ilídio Guerra Marques : "Ó feliz recordação, Que o meu coração encerra!" (...)
    Recordações de muita saudade para quem as viveu. Sobre "Raízes" que nunca se deseja que sequem.
    Um belo post, Paula.
    Boa semana.
    xx

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    1. É de facto belo o poema recordação dedicado à nossa terra e para todos que sofreram as saudades, enfrentaram o medo, conheceram outras culturas, revoltaram-se, mas que imaginando-se na sua terra natal podiam sentir a alegria de estarem seguros.
      Se os soldados escreviam aerogramas às famílias para mitigar as saudades, o Ilídio Marques, escreveu um poema para ajudar a recordar com mais saudades, diz: "essa Aldeia que trazeis no coração e que foi e continua a ser o Berço de todos nós".
      O poema arrepia! 48 anos passaram e continua actual e de certeza que ainda vai perdurar, enquanto houver forninhenses ausentes.
      Cont. de boa semana, Laura.

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  7. Paula querida, um grande abraço.
    Raízes, lembranças históricas que precisam ser preservadas com amor.
    Realidades fortes e saudades... Tudo precisa ser contabilizado e respeitado.

    Uma Boa Semana!

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    1. Forninhos precisa, há muito, de ter consideração pelo passado, Anete!
      Acabar com as palhaçadas junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar já era um bom começo!
      Feliz Dia da Mulher.
      Beijos&Abraço.

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  8. Oi Paula!
    Vim ler as suas riquezas!
    Estas são as raizes vitóriosas da vida de cada um, a serem lembradas com muito carinho, pelo povo guerreiro e alegre!
    Lindo!
    Um grande abraço Paula, e uma boa semana!
    Mariangela

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    1. Obrigada Mariangela e boa semana também!
      Que todos os forninhenses que se ligam, de qualquer ponto da terra, pelas tecnologias, se imaginem na sua terra e não esqueçam as suas raízes e memórias é a mensagem deste poema e o lema d' O Forninhenses.

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  9. Forninhos, raízes, será que eu sou uma delas? E tu Paula e Xico? Claro que ambos somos. Raízes se se estenderam até à área de Lisboa mas que ainda se alimentam da terra onde nascemos. Gostei bastante do poema do Dr. Ilídio, parabéns para ele e para vocês pela vossa entrega a este blog.

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    1. Henrique, são as nossas raízes que nos fazem seguir o caminho a que nos propusemos...
      Tu, eu, o Xico e o Ilídio sabemos de que terra somos.
      Abr./Paula.

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  10. Boa noite Paula,
    Anos dificeis esses em que tristezas e alegrias se partilhavam de forma solidária.
    Eu era ainda muito criança e ainda recordo momentos traumatizantes relacionados com a guerra colonial.
    O vosso conterrâneo escreve e ilustra de forma muito bela os sentimentos enraízados na alma das gentes de Forninhos.
    Excelente registo para que as memórias de Forninhos perdurem no tempo.
    Beijinhos e continuação de boa semana.
    Ailime

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    1. De Forninhos, 4 rapazes soldados morreram na Guerra, o que foi muito para uma aldeia pequena como a nossa; eu das mortes do "Ultramar" não me lembro, mas posso imaginar "o choro de morte", pois lembro-me de mortes trágicas que aconteceram em França, na estrada, em que a família inteira chorava e chorava também quem à família não pertencia.
      Com o decorrer dos anos crescemos, amadurecemos, mas sobranceira ao Picão, olhando debaixo da serra, fica a minha terra, a terra do meu coração. Isto, Ailime, não mudou!
      Beijinhos e tudo de bom.

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  11. E quem teve família na guerra desse tempo , as marcas ficaram e ficarão escritas como
    Estigmas de sacrifício sem que isso
    Engrandecesse o pais . Sofrimento, ansiedade , dor , aperto continuo no coração ... Que restou ? Mais dor e ressentimento de ambas as partes.
    Bjis. Aluap e Xico

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    1. Esta guerra alterou a vida de muitos jovens, que ainda hoje sofrem dos traumas da guerra e fazem sofrer os seus familiares mais próximos, sem que isso engrandecesse o país, é facto!
      Beijinhos.

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  12. Bom dia, ainda bem que os anos 60 já lá vão longe, anos de tristeza e pobreza, anos de sofrimento para defender uns quantos, como a riqueza do Fascistas Espírito Santo, Francisco Machado,Fernando de Quintanilha e outros mais que mancharam as mão de sangue em defesa da, CUF, Tap e outras empresas.
    Manter as tradições com as novas gerações é maravilhoso, pena não conseguir ler o poema raízes e memorias.
    AG

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    1. Tem toda a razão!
      Se lhe interessar aumente o zoom para ler o poema. Obrigada.
      Um abraço.

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