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sábado, 11 de outubro de 2014

OS RESPONSOS

Os responsos são orações populares que se rezam aos santos para que não aconteçam males, ou então que apareçam coisas perdidas. 


Quem tinha "sabedoria" para arresponsar era por norma mulheres idosas, era-se vista como pessoa de algum poder, pelo que não era para qualquer uma.
Aqui recordo vagamente a minha avó Maria Lameira quando volta-não-volta ali ao final do dia ou noite adentro a ela recorriam, principalmente quem tinha rebanhos e na recolha para as cortes dava falta de alguma rês. Entre por aqui e veja a foto da minha avó Lameira. No fundo dos degraus de pedra que ainda lá estão e que dão para o pátio, firme e hirta, aconchegada pelo xaile preto para se proteger da orvalhada que ia "caindo" escutava a "choradeira" da desgraça com a responsabilidade de ser a última esperança daquela gente tão sofrida pelas agruras da vida.
Como que ausente do mundo, balbuciava algo inaudível, curiosamente de modo calmo e sereno. Estava a arresponsar...
Tinha que ter toda a oração dita de forma encadeada sem se enganar. Quando a vontade de se encontrar era grande, a responsa repetia o pedido mais que uma vez. Quando toda a oração saía bem era certo que o perdido ou o desejado seria alcançado. Quando se enganava tinham de recomeçar e repetiam até três ou mais vezes. Se as rezas continuassem a não ser bem encadeadas estava o "caldo entornado".
Até se chegava ao ponto de sentenciar se estava vivo ou morto, geralmente comido por bicho ou lobo. 
Dizem que o mais eficaz e utilizado era o responso de Santo António.

Beato Santo António se lebantou,
Se bestiu e calçou
Suas santas mãos labou,
Ao Paraíso cortou.
Chigou ao meio do caminho
Com o Senhor se incontrou,
- Para onde bais, Beato Santo António?
- Com o Senhor eu bou.
- Tu comigo num irás
Que eu p´ro Céu subirei.
Tudo quanto me pedires te farei:
Cães e lobos com os dentes trabados;
Rios e regatos bão imbaçados;
Corações inimigos acobardados;
O perdido seja achado.

Também se responsavam pessoas, tal como um filho do tio António Grilo, acho que era o Júlio, desaparecido aquando da invasão da Índia e que se corria estaria preso, embora sem certeza absoluta, pois poderia até estar morto. Era responsado todos os dias e sem enganos, felizmente deu sinais de vida. 

30 comentários:

  1. Que post mais legal! Adoro coisas desse tipo e esses responsos deviam ser lindo ao vivo, na época...Gostei muito! bjs ,tudo de bom,chica

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    1. Pelo que vi e apenas por curiosidade ocasional de crianca, a coisa era seria.
      Eram problemas da vida reais e de gente que via partir parte do sustento e por tal recorriam a quem pudesse ajuadar, mas sem crendices, gentes com a mesma fe que eles tinham e comungavam.
      Ao longe, pode parecer divertido e teatral, mas muitas lagrimas ali se perdiam...salgadas!
      Beijo, Chica.

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  2. Xico, os responsos trazem-me sempre à lembrança a perda de um brinco de ouro meu. A responsa garantiu que a oração tinha saído certa e que o brinco perdido seria achado. Só que se foi achado, não foi por mim!
    Quando desaparecia um animal (perdido, por exemplo) é verdade que havia na nossa terra alguém que sabia dizer ou fazer o responso, se calhar ainda por lá há quem saiba essa reza ou oração...(?).
    Mas a história de rês desaparecidas também fez-me lembrar outra "história"...aquela em que o pastor tinha sempre as cabeças dos animais bem contadinhas. Curiosamente, esse pastor não recorreu à responsa, porque já sabia que os animais não se tinham perdido...daí muniu-se foi duma caçadeira e apontou-a à ladra.
    História/lenda sofisticada esta....
    Fizeste mais um excelente 'post'. Parabéns.

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  3. Agora mais a sério: os responsos há umas décadas era coisa séria. Perder uma ovelha, um burro, uma galinha era um grande prejuízo e os responsos de antanho amenizavam a aflição.
    Se olharmos para trás, outras histórias ouvimos contar.
    Acredito que nem todas as pessoas faziam o "trabalhinho" bem feito, pois como referido "..não era para qualquer uma.". Nesse caso, o mais certo, era alguém mandar responsar a quem o soubesse fazer bem, que era quem de nunca se ouviu falar de qualquer reclamação!
    Se tanta gente recorria à tua avó Lameira para rezar e, assim, recuperar o perdido, é porque tinha fama de bem responsar.

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  4. Eu acredito. Estas pessoas nem eram curandeiras nem benzedeiras, porque vi o modo de entrega e regra geral , sem necessidade alguma, tal como a minha avo, de receberem o quer que fosse. Muitas vezes e tirando a algo da casa, ate "ajeitavam" os bolsos do casaco ou do avental de quem tinha vindo, com algo mais...
    Eu vi estas "Coisas" sem medos. Ficava inquieto no modo como as pessoas aflitas aquando chegavam se "encomendavam" e partiam numa calma esperanca. Nao tinha havido enganos na reza!
    Claro que no responso residia o bem fazer, um misto de energia que pretendia e pretende obter o bem. Aqui, penso e respeito que reside o tal "poder", nao de feirantes de banha da cobra, outrora de tostoes. agora de milhoes...
    Gostei dos teus comentarios, por trazerem a publico estes oportunismos, desvirtuando coisas serias.
    Agora em cada esquina, mercado ou rua, rezam a sina.
    Saude para aqui, riqueza para acola, vais casar e ter muitos filhos...
    Ao ponto de uma senhora responder que ja estava casada a alguns anos...
    Deixa que te diga, estes ritos foram indo com o tempo e o seu caminhar.
    Foi ficando para tras o quotidiano laborar da terra e suas agruras e alegrias.
    Nos medos, estes pareciam estar identificados, por isto ou aquilo, faltavam certezas, que poderiam ter respostas nestas senhoras de bem e em nada conotadas, antes pelo contrario com algo maquievelico...
    Podendo, responsava o mundo...

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    1. Acredito. Após um momento de desalento o responso transmitia calma e esperança. Penso que essas mulheres que rezavam o responso tinham de ser pessoas calmas.
      Eu não sabia, mas soube agora porque a minha mãe me contou que enquanto a avó dela foi viva (minha bisavó Casimira) também rezava o"responso" e que se batesse certo o objecto ou animal seria encontrado e se não batesse nunca mais lhe poriam a vista em cima.
      Ainda conheci a minha bisavó, mas não me lembro vê-la dizer o responso.

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  5. Só para dizer que ando com pouco vagar de prestar atenção ao que aqui contam.
    Peço desculpa e prometo aparecer mais tarde e deixar comentários de jeito!!!
    O meu irmão preenche muito do meu tempo, por ver e ouvir muito mal. Os cuidados a ter com ele são redobrados e nem me sinto inspirada para sequer comentar!
    Perdoem-me, queridos amigos! Prometo aparecer melhor daqui a dias!...
    Um abraço.

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  6. Pudera a gente ter o poder de saber e ter o melhor mimo do mundo e este iria ter com a Teresa a correr.
    Fica simplesmente e sem dramatismo um singelo abraco
    O melhor comentario foi essa "implosao" de sentimentos que guardamos e acarinhamos.
    Beijinho para os dois.

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  7. É por essas e outras que o brasileiro é criativo. Costume antigo era, quando se perdia algo, seja esse algo alguma coisa ou alguém, dizer em forma de oração: São Longuinho, São Longuinho, se eu achar, dou três pulinhos. Depois de achado, era obrigatório dar três pulos para a frente feito canguru e as crianças se divertiam. Coisas do Brasil. Um abraço, Yayá.

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    1. "Há uma crença popular no Brasil, de que São Longuinho acha objetos perdidos. É só repetir:
      São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (nome do objeto perdido) dou três pulinhos e três gritinhos (Achei, São Longuinho. Achei, São Longuinho. Achei, São Longuinho.)"

      Quem sabe se tal nao tera sido levada pelos portugueses para o Brasil...pois a maior dos que outrora emigraram eram da zona do Minho e existe uma estatua em granito no Bom Jesus de Braga
      Abraco, Yaya!

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  8. Acredito piamente que os responsos funcionam, na medida em que transmitem novo ânimo aos desesperados.
    Beijinhos, Paula.
    Bom domingo

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    1. Para ser sincera eu não acredito muito, mas acredito 100% na boa fé dessa gente de antigamente...pessoas humildes, solidárias, empenhadas e dinâmicas.
      Mas caso agora perca algo de valor e não encontre talvez reze o responso de Santo António.
      Beijinhos e resto de bom domingo.

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  9. Boa tarde Xico, os responsos eram na época um remédio que ajudava a espantar os males e o que é certo com a fé com que eram ditos eram na maior parte da vezes coroados de êxito!
    Lá na minha aldeia só me recordo do responso a Santa Bárbara, que até a minha avó, uma jovem avó na época, em dias de trovoada não deixava de o dizer, assim:
    “Santa Barbara pequenina
    Se vestiu e calçou
    Seu caminho caminhou
    Jesus encontrou
    E Ele perguntou
    Barbara, onde vais?
    Senhor, vou para o céu,
    Abrandar a trovoada
    Que sobre nós anda armada
    Manda para o monte do rosmaninho,
    Onde não haja pão e vinho
    Nem ramo, nem maneira
    Nem folhinha de Oliveira.”
    Deste responso existem ouras versões!
    Saudades desses tempos;))!
    Beijinhos e bom domingo.
    Ailime

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    1. Independentemente das regioes, sempre o mesmo sentimento em que se "arresponsava" que a trovoada, muitas vezes vista como prenuncio de desgraca, se fosse para bem longe, nao para as aldeias vizinhas, mas para onde ela podia descarregar a sua ira sem maleficios.
      A que recordo era mais ou menos assim rezada enquanto se iam pondo na lareira, boacdinhos ja secos de alecrim e loureiro do ramo de Domingo de Ramos.
      "Santa Bárbara bendita,
      que no Céu estás escrita.
      Com raminho de àgua benta,
      livrai-nos desta tormenta
      lá para a serra do Marão,
      onde não haja vinho nem pão,
      nem leira nem beira,
      nem galo que cante
      nem figueira que espante.
      Para sempre.
      Amén.".
      Beijinho, amiga Ailime.

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  10. Gostei de um seu comentário e vim espreitar.
    Valeu a pena e sem e sem responso vou voltar.
    Obrigado

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    1. Obrigada eu Manuel. Espero que o amigo Henrique não desista só porque ultimamente têm escasseado os comentários lá no blog.
      Agradeço então que volte com ou sem responso.

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  11. Sabedorias de gente simples e humilde, mas ja tinha dito Jesus, que temos que ser humildes e puros como as criancinhas!
    Adorei ver esse responso no vernaculo antigo, embora para os nossos lados se nao troque muito os Ves por Bes!

    Um abraco amigo.

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    1. Ola amigo Al Cardoso, ainda bem que gostou e digo isto com sinceridade por o senhor ser ainda dos que resgata memorias, quando essas vao escasseando. Tais tem gravadas e sentidas e como tal o que poderia transparecer, "responso" nada tem a ver com mezinhas ou bruxarias, antes um acto de fe dos intervenientes.
      O responso de Santo Antonio, tem varias variantes embora no mesmo sentido. Quando vim para Lisboa, era "gozado" pelo sotaque, diziam que falava "axim" e a moda de "Biseu".
      Que me desculpem o "atrevimento" por me ter inclinado para a pronuncia do Norte.
      Um abraco amigo.

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    2. Pois...eramos gozados, mas nos últimos anos a nossa pronúncia, a famosa pronúncia da Beira Alta, até foi uma fonte de inspiração para esta nova linguagem do internatês, linguagem digital, originada dos chats, mensagens de telemóvel. Ele era/é “x” por todo o lado: “eu xou axxim”! Ah poix é!

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  12. Oi Xico
    Que bom para quem perdeu um dos seus animais, poder ter a esperança de encontrá-lo, através da reza do responso, e como tinham fé na reza, acabava dando certo, no passado, por aqui existiam as rezadeiras, que rezavam nas crianças doentes de quebranto ou outros males, e como se tenham fé dizem que elas, as rezadeiras, tinham muito poder pra curar, coisas dos nossos velhos tempos...
    Beijos!

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    1. "Sabedorias de gente simples e humilde, mas ja tinha dito Jesus, que temos que ser humildes e puros como as criancinhas!".
      Palavras do amigo Al Cardoso.
      Afinal tudo resumido no respeito de cada um, na humildade e respeito.
      Beijinho, Fatima.

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  13. Minha Mãe usava um "responso" para curar o "quebranto"!
    respeito estes usos e costumes...mas...há sempre um mas na minha mente!!!
    Tudo de bom!

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  14. A cura do "quebranto", por estas bandas sempre foi identificado como rezas ou benzeduras. Se fosse coisas do diabo, este era esconjurado.
    O responso, o mais simples e genuino, nada tem a ver com crandices, mas no acreditar com fe.
    Quem tem o prazer de rezar, reza como tem mais gosto e do modo como mais conforta.
    Tal como a minha amiga, aquela ou aqueles que tenho em mente.

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  15. Achei muito bom o artigo sobre RESPONSOS, Xico! Orar, rezar, responsar pedindo a Deus a guarda das nossas vidas!! Sempre, Ele é Fiel!

    Um abraço e Boa Semana... Abraço também p Paula...

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  16. Amiga Anete, sao pequenos apontamentos como estes, penso eu, que devem ser preservados por alem de trazerem memorias, as mesmas sejam transmitidas para os presentes e vindouros.
    Acho e sempre achei que se nao menospreza, aqui, a fe de qualquer um, mas sabe bem o sacrificio da procura.
    Na terra dos meus avos, pais, primas e primos, era assim...
    Uma forma de Responso o que tentamos fazer, trazer pessoas que embora acarinhadas estavam longe, sabe Deus onde...
    Aquele abraco...

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  17. Vir aqui parece que ouço meus pais falando e contando as coisas de minha Solidão. Muitas vezes mandei responsar, eu sempre perdia muitas coisas. Meu pai fazia eu ir numa tia mandar responsar. Eu sempre acreditei e as coisas como mágica apareciam. Que tempo bom. Hoje em dia está raríssimo encontrar alguém que saiba responsar. Nem benzedeiras se encontra por aqui, uma pena elas não terem repassado para seu filhos e parentes. Vou ter que ir ai aprender a responsar , esse é um reza para responsar? vou anotar.
    Bjos tenham um ótimo dia.

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    1. A minha querida avo Maria, arresponsava que eu lembro bem, mas numa reza simples de devocao, de fe e companheirismo. Era solidaria, nada que tivesse a ver com "rezinhas" ou "bruxarias". Nada disso, acreditavam que com fe, as coisas se poriam a preceito.
      Tive uma familiar proxima que rezava ao "mau olhado" e coisas tais...
      Durante anos lhe pedi que me desse o "segredo", mentindo que achava andar embacado, mas a resposra era sempre a mesma. "Alma do diabo que nem ele entra em ti, tens o corpo aberto...". Gozava a brava, nem o demo me vergava e eu mais diabo ficava...
      Mas pesquisando, fui apanhando um ou outro modo de "dizer" e ve que tudo se resume a uma questao de simples acreditar.
      Se precisar de um responso, um criado a suas ordens, se der certo, o que duvido.
      Beijos e abracos.

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  18. Xico,

    Você me fez rir com esse post.
    Muito legal o responso de Santo Antonio.
    Gosto demais de vocês, desse lindo blog e das histórias desse povo maravilhoso de Forninhos.
    Um lindo final de semana! Abraços

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  19. Que linda avó, Xico!
    A minha avó também tinha uma quantidade enorme de orações para diversas situações, a que chamava de "rezas".
    Aqui aprendo sempre, não sabia que eram "responsos". E também me recordo dessa " Santa Bárbara bendita que no céu estás escrita....." que ouvia quando trovejava.
    xx

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  20. Antigamente ainda havia os responsos por cada alma, rezados no cemitério em Dia de Finados, depois dos sufrágios litúrgicos. Chamavam-se as "obradas".

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