O Cepo de Natal é uma enorme fogueira que os rapazes da terra constroem normalmente no Largo da Lameira e que é acesa depois da Ceia de Natal. Diz a tradição que esta fogueira é para aquecer o Menino. Cabe, depois, a todos nós, contribuir com a presença, confraternizando, entre conhecidos, amigos e familiares.
Em Forninhos o Cepo só é cortado durante a tarde do dia 24 de Dezembro, é carregado por tractores e, por vezes, é composto no local por máquinas, mas nem sempre foi assim, dantes iam buscar a lenha aos pinhais com o carro das vacas e quando não se arranjava vacas, levava-se o carro e à força de muitos braços o carro vinha carregado na mesma, pois a lenha para o Cepo não podia faltar, já que este era o símbolo mais marcante dos jovens da época e, diga-se, o Cepo continua a ser um dos mais belos momentos da Noite de Natal nas nossas aldeias da Beira.
Histórias contadas no passado:
Aqui há vários anos, a tradição mandava que a coberto da
noite, roubássemos lenha para o Cepo. Lá íamos nós, malta unida na aventura,
sorrateiramente “vandalizar” os pátios, de preferência os que não tivessem cães
a guardar.
Vou recordar aqui uma história que aconteceu com o meu
falecido pai e na qual colaborei e ajudei a orquestrar:
Combinamos ir ao tio Alfredo (meu pai), pedir um cântaro de
vinho para animar a malta do Cepo, já que gramávamos a noite inteira, mesmo que
nevasse.
Dito e feito!
O meu pai pôs o vinho à disposição da trupe e ainda pediu à
minha mãe para fritar uma chouriça e trazê-la para a adega, pró pessoal beber
uns canecos a ver se aqueciam.
Copo atrás de copo, uns iam entrando na adega, outros
saindo, mas…outros com ele entretido na adega, carregaram uns valentes
troncos de pinheiro para o Largo da Lameira.
Não se chateou, era Natal e ele era assim!
Ai CEPO, tinha tanto para contar, participei várias vezes
nesses cortes de pinheiros e a carregar os cepos.
Era assim, no dia anterior, no café do Sr. Virgílio é que se
combinava, mas aquilo era rápido, bebendo umas cervejolas, eram sempre os
mesmos, e ao outro dia, dia 24, fim do almoço, a maltinha começava a aparecer. Lá ia
o Zé Cuco meter o tractor do Sr. Virgílio a trabalhar e lá iam eles só com uma
ideia na cabeça, carregar o reboque o mais rápido possível, porque não era só
com uma carrada que se fazia o Cepo, mas sim com três ou quatro e claro o
garrafão ía sempre connosco. Também cheguei a levar o tractor do meu pai, o Sr.
Freitas também e era assim neste ambiente de festa e união que se fazia o Cepo
de Natal.
Depois de se consoar com a família, era no Cepo que a malta
se reunia novamente, alguns lá ficavam até de manhã, dos quais eu ainda fiz
parte, mas para aguentar toda a noite tínhamos que comer e beber, então dois ou
três mangas iam dar uma voltinha aos galinheiros da freguesia e a verdade é que
nunca vinham com as mãos a abanar. Estou a lembrar-me que quando foi a minha
vez não correu lá muito bem, éramos dois, não se via nada no galinheiro, então
foi o que veio à mão, só que não era uma galinha, mas sim o que galava. A missa
do galo essa não é do meu tempo, mas este foi e estava bem bom!!!
Nesta quadra e naquela altura em que a ASAE não existia,
praticamente não era crime ou pecado “roubar” uma galinhita ao tio Luís Catrino
que Deus tenha, ou qualquer outro (salvo muito raras excepções), como acontecia
com a madeira para o Cepo.
Tenho um grande, mas grande amigo em Forninhos, o tio António
Carau, e também ficou sem a burra de serrar a madeira!
Foi direitinha para o Cepo e continuamos amigos.
O que mais gostava mesmo, era já quase madrugada, juntamente
com o meu primo Graciano, meu primo Zé Pego e outros, assarmos um coelhito, em
casa da minha tia Laura.
Coelho roubado, claro, senão não tinha piada, mas roubado
com alto nível!
Que saudades tenho de estar presente neste dia, contribuir
para arranjar essa lenha que o Cepo necessita, onde tudo é divertido.
Nos tempos em que vivi em Forninhos, sempre me lembro do
Cepo, na Lameira, junto ao Café do Sr. Virgílio (mesmo em frente à casa do Sr.
Paredes) ou mais ao lado, em frente à casa dos avós do Agostinho "branco".
A minha infância foi passada numa aldeia vizinha (Dornelas)
onde os usos e costumes sempre foram idênticos, nem outra coisa podia ser,
devido à proximidade. Aqui, havia rivalidade entre o povo e a lage grande, mas
qualquer dos Cepos eram bons, quer dizer, a fogueira era grande e ía desde o
dia 24 ao dia de Reis.
Eu lembro o tempo em que se acendia o Cepo na véspera de
Natal e mantinha-se até aos Reis, mesmo que tivéssemos de ir roubar os pinheiros para manter a fogueira acesa. O mais difícil era acendê-la porque era tudo
verde, colocávamos uns troncos resinados por baixo e a frança por cima para
esquentar, por vezes tínhamos de recorrer ao petróleo porque lenha seca era difícil
de arranjar.
Recordar é Viver!
Nunca tinha lido sobre isso.Linda tradição.Belos momentos de confraternização em torno do cepo... beijos,chica
ResponderEliminarUmas décadas atrás, não obstante se manter a tradição, a partir de determinada hora da noite, os putos eram corridos do Cepo, pelos mais velhos, aqueles que já tinham ido á inspeção para a tropa, para estarem à vontade e fazerem as suas tropelias.
ResponderEliminarNós fedelhos fugiamos, não deles, mas dos cintos que tinham na mão.
O Zé Clementina, por exemplo era danado!
Com os anos a gente foi compreendendo, porque este ritual do Cepo, faz lembrar um pouco a história dos Celtas.
Diz a Aluap, que a fogueira é para aquecer o Menino.
Concordo, mas rapaziada da terra, "roubem" mais dois troncos, para compensar a ausência do Burro e da Vaquinha, que Sua Santidade mandou abater.
Senão o Menino não ficará tão quentinho.
Faltará o bafo quente, mas em volta do Cepo, não faltará bafo, imagino a vinho e cerveja.
Já nem sei se o Cepo aquece o pessoal ou o contrário.
Votos sinceros de Boas Festas!
XicoAlmeida
Pois, acho que diz a tradição que o Cepo deve ser "roubado", mas hoje os tempos são outros e as tradições são ajustadas aos tempos modernos e creio que é a Junta de Freguesia quem autoriza o corte dos pinheiros e estes, claro, são marcados ou identificados na hora por um membro da Junta.
ResponderEliminarXico, os teus comentários são muito interessantes e fazem-me sorrir :)))))))
Umas santas e boas Festas.
Paula, obrigada pelo carinho e seu espaço.Adoro tudo.
ResponderEliminarBjs.
Olá Paula. Gostei muito da forma tão natural como foi colocado o tema. Um tema simplesmente belo e que só mesmo nas nossas aldeias se consegue viver. Força na continuidade do projecto. Tantos e tantos de nós que não conhecem estas "coisas" mas é isto que dá luz á vida.
ResponderEliminarVotos de Boas Festas..
Olá Carlos. Ainda bem que sai daqui agradado com o tema.
EliminarRecordar, fazer recordar, manter vivo aquilo que é tão nosso, é a razão pela qual escrevi este Post.
Obrigada pelo comentário e Festas Felizes.
Boa tarde, nunca tive o prazer de passar um Natal em Forninhos, mas a tradição de ir "ROUBAR" a lenha ou o madeiro para a fogueira, pelo que me estou a aperceber é como na minha terra, a fogueira é formada por quase todos da terra, contribuindo com a madeira que começa a arder na noite de Natal e assim fica até aos Reis, sendo encarregue disso três ou quatro pessoas.
ResponderEliminarEra na noite de Natal que o cepo (fogueira) tinha mais expressão, onde quase toda a gente reunia e com o passar da noite se iam retirando, acabando por ficar os mais novos, e então partir para a aventura de subtrair uma galinha ou galo da capoeira da vizinha, de preferência o galo.
Por isso a ler esta bela introdução, me trás as memórias desses tempos, que o tempo se encarregou de transformar e em alguns lugares, pura e simplesmente acabar.
É isso, em alguns lugares hoje já pouco ou nada desta tradição existe, mas fica a recordação e, no caso de Forninhos, a necessidade de a mantermos viva, pois agora até é muito mais fácil arranjar lenha e transportá-la para o Largo.
ResponderEliminarTambém me lembro muito bem do cepo. Era queimado no largo da lameira, íamos a missa do galo, no regresso toda a gente se aquecia e contávamos as nossas historias engraçadas. Um ano os rapazes foram roubar um pinheiro, penso que foi ao Sr. Amaral tiveram pouca sorte , ainda la vieram os guardas saber quem cortou o pinheiro são autorização, mas não puderam fazer nada pois não havia testemunhas. Primo Xico continua com as tuas historias fazem-me rir a gargalhada, Tu tens razão de quereres o burrinho e vaquinha no presepio porque todos nos temos consideração pelos animais não só aqueceram o Menino mas a todos nos quando eles dormiam por baixo das nossas casas tudo ajudava aquecer.Um feliz Natal e que o Deus Menino nos aqueça com o calor do seu amor.
ResponderEliminarFaz-me lembrar esse episódio, menos positivo, a Lei que o Estado Novo, finais dos anos 40, impõe aos beirões retratado no Livro "Quando os Lobos Uivam" de Aquilino Ribeiro:
EliminarO Estado Novo resolve impôr aos beirões uma nova Lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora "expropriados" e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou. Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia. Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo.Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de sol a sol, mas que não deixam de viver em condições miseráveis. A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder.
Neste Livro está muito bem representada a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.
Tempos já lá vao, em que os cepos eram carregados em carros de bois e muitos pinheiros eram carregados ao ombro, mas não era por isso que a malta deixava de fazer um grande Cepo.
ResponderEliminarDepois apareceram os tratores, aí sim já se tornava mais fácil o transporte dos cepos e da lenha necessária para o cepo.
Era com prazer que a malta se reunia logo a seguir ao almoço e se encaminhava para a serra á procura de um bom lugar onde deitar os pinheiros ao chão.
Recordo ainda de quando alargaram as nossas estradas e arracaram os cepos com as máquinas, tambem esses foram carregados para o cepo da Aldeia.
A malta de hoje que não se esqueça de aquecer o "menino".
Gostei desta introdução do Post.
Nunca é demais recordar as tradições da nossa Terra.
Feliz Natal para todos.
Já não passo o Natal em Forninhos há muitos anos, lembro-me da rapaziada fazer o cepo no largo da lameira, como já não sou do tempo da missa do galo, era depois da ceia de Natal que as pessoas se reuniam á volta do cepo, onde conversavam umas com as outras, depois de passar algum tempo voltavam para as suas casas, os rapazes ficavam no cepo para passarem a noite.
ResponderEliminarParabéns à rapaziada de Forninhos, por ainda continuarem com esta tradição, pois é das poucas que ainda existe.
Aquilino Ribeiro descreveu a tradição da fogueira de Natal em "Quando os Lobos Uivam" (...Os moços andavam pelas lojas à lenha, enquanto a aldeia assistia à missa do Galo... e quando saíam eram surpreendidos pela grande fogueira...).
ResponderEliminarEm Forninhos já se não faz a missa do Galo, mas por enquanto, ainda se faz o Cepo (grande fogueira) e quem vai à Lameira acha-o bonito, agradável e gozam o calor que ele espalha ao seu redor e ali se convive e se festeja o Natal.
Como já me disseram que para o ano que vem o nosso Largo da Lameira vai ser requalificado, espero bem que depois isso não seja motivo de deixarem de fazer o Cepo na Lameira! Não apaguem o passado, único testemunho ainda presente que pode sobreviver.
Antes de pensarem em modificá-lo e introduzir modas importadas de outros locais, devem antes pensar em conservar, preservar, os poucos lugares que hoje ainda estão mais ou menos intactos, caso da Lameira. Já bastou o que fizeram com a zona história, a que chamam "O Lugar".
Não sabia que "O Lugar" tinha uma zona histórica.
ResponderEliminarPensava que eesa ficava na "Lameira"; sem ironia!
Afinal até faz sentido, tem de se passar pelo "Lugar" para ir à missa e até a caminho do cemitério.
Quanto ao "Cepo", a tradição vai-se manter, é demasiado forte para não ser perservada, pois quanto a mim, a comunidade em volta do mesmo, é tão importante como o jantar da Consoada ou da extinta Missa do Galo.
Tudo se complementa e do seu conjunto aparece a magia da Noite de Natal.
Não alterem locais de tanta tradição, reforcem, sim, o espirito de união e entreajuda, da solidariedade, sem rancores e visualismos saloios, porque de facto o Natal devia ser vivido todos os dias|
Votos sinceros de Boas Festas, Com Paz e muito Amor.
XicoAlmeida
‘O Lugar’ pelo seu estilo tradicional era um sítio histórico, a meu ver. Lembro-me que a ‘Fonte do Lugar’ era um ponto onde se juntavam as pessoas para conversar, só que como alteraram completamente o local (deslocando a Fonte, cortando as oliveiras, etc.) descaracterizaram a zona ‘histórica’, tal é a ‘salganhada’ de estilos!
EliminarA Lameira, sim, é hoje o ‘Rossio’ de Forninhos. Linda, tradicional...mas cheia de buracos, uma vergonha, por tal os que nasceram na Lameira (eu inclusive) queremos vê-la sem alcatrão, mas isso não significa ‘apagar’ o passado e que mais tarde não se argumente que o Cepo de Natal não se acendeu no Largo da Lameira porque não pode ser feito ali.
Alguém por aí, viu a Vaquinha e o Burrinho?
ResponderEliminarNão aparecem no Presépio...
Se alguém souber do seu paradeiro ou tiver notícias, contacte por favor.
Dão-se alvíssaras!
O menino Jesus quer, sua Santidade não quer, mas afinal quem é que manda, senão o Menino. Era o que faltava!
Assim, qualquer dia tinhamos o Papa deitado no presépio....
XicoAlmeida
Sem querer quebrar o Espírito de Natal:
ResponderEliminarSabem que se o Pai Natal morrer, não estará mais "em-trenós".
XicoAlmeida
Também sou fã do burro e da vaca e o Papa ao recordar que nos Evangelhos "não se fala de animais no lugar onde Jesus nasceu"...enfim! Que é que interessa não ter havido burro, nem vaca no presépio de Belém? A neve também não aparece nos Evangelhos e não é por isso que deixam de pôr neve nos presépios!
ResponderEliminarAgora corre a versão que Bento XVI foi mal interpretado nas suas palavras, mas o certo é que por causa do Livro "A infância de Jesus" há muitos Padres (que são mais papistas que o Papa) a dar ordens para que se retire dos presépios os animais!
Daqui a uns anos o presépio é sem o Menino Jesus!
Quem me dera poder partilhar com essa bela rapaziada de Forninhos, a feitura do Cepo de Natal.
ResponderEliminarAquele cheiro a resina, lenha molhada, o fumo intenso no início, e depois aquele consolo de alma e coração, em que nos devemos sentir irmanados e abraçados por aqele calor.
Se Deus quiser, daqui a 5 dias, com certeza me deixarão aquecer em volta da fogueira.
Será um privilégio! Um matar de saudades!
Uma palavra especial, para todos os ausentes por esse mundo fora, e aos que não poderão usufruir desses momentos mágicos.
Mesmo ausentes, sentirão o calor das chamas na sua saudade.
A vida nem tudo permite, por isso a todos eles e em comunhão, transcrevo aqui parte de em fado da Mariza:
É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra
Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar
Ò gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi
E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar
Santo e Feliz Natal
XicoAlmeida
Cabe agora às novas gerações (ou novas pessoas) dar continuidade aos costumes e tradições que atravessaram gerações, por tal ainda existem e resistem.
ResponderEliminarDecerto repararam que desta vez não “colei” nomes às “estórias” que transcrevi no intróito, talvez porque seja um tributo a todas as gerações que fizeram cepos de Natal, muitos com chuva, frio (e até neve, já que Forninhos já foi terra de neve) e que para nós, pequenitos, era uma festa.
E…pronto! Boas Festas.