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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Mel da nossa aldeia

O mel da nossa aldeia
Tem sabor a rosmaninhos
Ninguém me arreda a ideia
O melhor é de Forninhos!


Na recordação ainda vem uma ou outra pessoa que tinha o dom de tratar das abelhas, gente ancestral cuja arte se perdia na memória dos seus antepassados. Tinham mel que ofereciam aos mais próximos e aos que a eles recorriam, por necessidade em situação de doença. Era remédio, pois o resto seria um luxo.
A Paula há muito que vinha insistindo que o assunto daria um bom tema, afinal e mais que nunca, havia agora apicultores em Forninhos, com óptimos resultados!
Em Agosto e tempo da colha do mel, quase me obrigou: "pega na máquina e vai tirar umas fotos às abelhinhas que até são bonitas e afinal o mel é tão doce, vais ver que fica um post bonito...". Meladices...
Ponderei e foi forte o apelo dos nossos montes e flora, o cheiro e quase por magia sentia o som dos resineiros tirando nos pinhais outro tipo de riqueza, a resina, afinal nos mesmos recantos.
Encontrei-me com alguém que sabia da "poda", o amigo Constantino que se dispôs gentilmente a aceitar que os acompanhasse no sábado seguinte pois ia ajudar o Albino na recolha do mel. Duas sumidades e, esfreguei as mãos de contente. Combinámos para manhã cedo e mal dormi, pois em sobressalto via enxames de milhares de abelhas a atacar-me. Depois percebi, não tinha nem fato nem máscara para tal... é que para visitar as abelhinhas é aconselhável equipamento de protecção.

Quando o enxame foge, há que ir atrás dele
e trazer de volta à colmeia 
Ainda me lembro destas colmeias antigas, 
no cabeço das vinhas e junto aos alecrineiros, 
prontas a recolher o enxame vadio
O tractor apitou junto à casa da minha mãe na hora combinada, mas o candidato a repórter de guerra ficou na (trincheira), cama, ir para a frente de combate, indefeso, "por amor da santa". Fui salvo da vergonha por afinal estar o tempo chuvoso e a "coisa" ter sido adiada. Adiada mas não esquecida pois para o ano prometo trazer o processo completo desde a alimentação dos insectos, seus cuidados sanitários, licenças e impostos entre outras coisas.
Agradeço ao João Luís, algumas fotos do processo de extracção do mel. Foi quase por acaso, estava no Largo da Lameira e vi-o chegar. Foi correr, agarrar na máquina e com sua licença, "zás"!


Bom sinal, o Afonso seguir as pegadas do pai


Digam que não apetece provar...


Como recomeçou este "bichinho" do mel a entrar no quotidiano de algumas pessoas e eventualmente tornar-se um modo de vida sustentável, ainda falaremos pois tudo aponta para investimento saudável e lucrativo, mas além das pragas que atacam os enxames, mais ou menos conhecidas na forma de as debelar, mantém-se na angústia das gentes da nossa aldeia o pior dos malefícios, o pior dos castigos a gente inocente que vê através das janelas, pinhais verdejantes: os Incêndios, que tudo "lambe"!  


Dizem e acredito, que os nossos montes são muito propícios à criação de abelhas, com a vantagem de terem muita água e muito daquele rosmaninho antigo em que numa colher de mel, ainda se sente no sabor o cheirinho de uma fogueira a arder na noite de S. João.


O tradicional cortiço acabou por dar lugar à colmeia móvel, mais prática, higiénica e produtiva e ainda bem que ao fim de tantos anos, voltam lembranças orgulhosamente mostradas em público. E, assim, resguardado das "picadas", o Constantino faz o papel de "abelha mestra", com atenção merecida, com os aldeões sentindo os cheiros intensos e doces sabores de uma aldeia...única!

20 comentários:

  1. Puxa. isso é um trabalho daqueles que pouco sabemos e tanto gostamos do mel! Beleza de fotos e post, bem explicado! Na casa da minha filha aqui, pertoi de um rio, um belo dia começou a pingar mel do sotão. Tiveram que chamar um apicultor, que descobriu a abela rainha. Elas
    haviam escolhido um local acima do forro da casa... Imagina! abraços,chica

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    1. Não era bem o que queria, amiga Chica.
      O tempo não deu para tal, mas fica com mais afinco para mais tarde.
      Beijinho.

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  2. Assunto muito bom, Xico.. Fotos que nos levam a acompanhar com expectativas e vibração, o passo a passo... Abelhas, mel e os costumes da aldeia! Quero conhecer quando for a Portugal algumas aldeias... Hoje vi uma num post da amiga Ailime também muito bonita...

    Abraços p você e a Paula...

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    1. Amiga Anete!
      Quando vier diga e quem sabe não partilharemos coisas bonitas.
      Seria um prazer para nós os dois receber a Senhora.
      Um abraço carinhoso.

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  3. Oi Chico!
    Que doçura de post ! Lembrei de meu avô, que fazia o manejo das colmeias que meu pai mantinha no nosso quintal e do sabor de experimentar os favos de mel, oferecidos junto com o carinho do meu querido avô.
    É preciso sim ter muito cuidado e se prevenir das picadas que podem provocar alergias, e no mais é só aproveitar e degustar esse melzinho especial e delicioso, adorei !
    Beijos!

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    1. Infelizmente da parte dos meus avos, nao houve esta tradicao, era basicamente o amanho da terra, vacas e ovelhas.
      Mas uma ou outra pessoa da idade deles ainda eu criancinha, l]a me ofereciam um favo de mel para provar.
      Delicia!
      Mas uma abelha perto de mim, tento evitar apesar de as adorar.
      Sai a seguir depois da picada, um inchaco enorme e parece que as atraio...
      Beijinho, Fatima.

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  4. É verdade. Achei sempre que o mel da nossa aldeia, pela sua qualidade, merecia um post e porque esta é uma ocupação de coragem! Parabéns aos já muitos apicultores da nossa terra!
    Tu, Xico, chegas aqui a fazer comparação com a resina. Estiveste bem ;) pois dizem que recolher o mel das colmeias é uma das tarefas mais duras de todo o processo. Como bem viste, é feita em pleno Verão, com temperaturas que rondam os 30 graus ou mais! E, pelo que ouvi dizer, dentro do fato representam 40 e muitos...!
    Gostei de ver o Afonso a ajudar a tirar o mel dos quadros e de ver como é o extractor.
    Por último, tendo em conta que as fotos foram tiradas no passado dia 19 de Agosto, é mais que certo que este mel já está enfrascado. Pena que o melhor mel do mundo, não chegue ao supermercado!

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    1. Segundo a Bíblia, Canaã era a terra prometida por Deus ao seu povo,
      "...era uma terra de fartura, onde havia uvas e outras frutas, azeitonas e mel, daí ter sido vista por Abraão - como a "terra prometida", "onde corre leite e mel...".
      Fugindo à presunção, Forninhos tem de facto algumas similaridades, situada num vale da serra de S.Pedro, terras de regadio e óptimo micro-clima, semelhante às descrições biblicas, daí as condições inerentes para se poder degustar do melhor mel do mundo
      Trouxemos aqui um pouco do mais que queriamos, mas fica para a próxima, na certeza de vir mais aprofundado e estudado.
      A intenção não foi de fazer um post, género como se faz o mel. Não!
      Foi mostrar e chamar a atenção das potencialidades que um povoado chamado Forninhos tem para poder ser explorado dentro do seu habitat natural.
      Já se vende mel em Forninhos, devida e legalmente certificado, já comprei e não o troco por outro algum.
      Falei nos resineiros aparentemente pelo termo "colha", mas veio-me à ideia enquanto escrevia, os cheiros e "barulhos" dos nossos montes e vales. Quem melhor que os resineiros, na altura em que se colhiam as "bicas", que via a evolução das abelhas?
      Na urze, tojo, giestas e mimosas, alecrim e rosmaninho selvagem, elas e eles eram inseparáveis, música para os ouvidos o zumbir dessas amigas.
      E na altura da colha, o mesmo esforço braçal, a mesma manga da camisa para limpar o suor. Até numa nascente dos montes e em momentos de descanso em que se bebia a água por um caneco da resina, elas, as abelhas, por ali cirandavam, "mordiscando" a água, quiçá para aperaltar o mel.
      Com agrado notei o empenho e entrega com que se está a implementar esta riqueza e queira Deus que tal como o Afonso, outros sigam estes trilhos doces.

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  5. Um post bem doce, este! E pelos vistos por aí ainda não tinha chegado felizmente a vespa asiática que está a pôr em polvorosa tantos apicultores, e com toda a razão já que lhes destroem a produção...
    Para o ano quero ver o Xico dentro de um fato protector a morrer de calor...;-))
    Muito bonitas as fotografias. Dizem que o mel de rosmaninho é o melhor...
    Tenho sempre mel em casa, eu só o utilizo no Inverno, mas a minha filha bebe chã de limão e gengibre adoçado com mel, todo o ano. Um chá que é uma verdadeira "bomba"!
    xx

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    1. Olá Laura!
      S. Pedro não ajudou muito, mas reconheço que fiquei um pouco descansado por não haver fato e chuviscar.
      Prometido, para o ano lá andarei metido no seio da frente de guerra, com máscara e tudo!
      Mas fui falando com amigos e alguns já filhos destes que penso em boa hora se estão a envolver na produção do mel.
      Pelo que ouvi, além dos custos (as abelhas também consomem mais que o simples "beijar" da flores), o acompanhamento "médico", na prevenção e tratamento face a eventuais pragas, dispende além do trabalho e atencioso acompanhamento, muito dinheiro.
      Eu não aprecio mel, "mea culpa", devoro!
      Volta não vem, uma colher de sopa, no inverno, numa caneca, um terço de mel e dois de leite quente...
      Ando a consumir do Albino, comprado aquando lá fui no Natal e digo sem referir o preço, divinal!!!
      Beijinhos Laura, experimente uma colher por cima de uma boa fatia de requeijão...

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    2. Com requeijão soa-me bem, mas no leite acho que fiaria enjoativo...:-)
      xx

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  6. Adoro mel , as abelhinhas adoram fugir então? eu não sabia deste detalhe ,
    elas deram um passeio e voltaram , que bom que temos sempre pessoas que sabem lidar com esta tarefas dificeis , aqui uma vez , apareceu um enxame que foi uma desespero , meu sogro conhecia alguém que lidava com elas e levou elas embora.
    bjs e boa tarde,
    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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  7. E a fuga de um enxame, as pessoas quase nem imaginam o prejuizo.
    Entre o fixar o enxame na colmeia e este comecar a produzir, medeia muito tempo, ainda com a agravante de poder trazer fluidos menos bons.
    Uma vez vi alguem sabedor subir ao topo de oliveira, tal como a foto e deixar o cortico. Recuperou o seu enxame.
    Apenas para quem sabe...
    Beijinho, Simone

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  8. Boa tarde, nunca tive o privilegio estar ao pé de uma colmeia e apreciar o trabalho que nela é feito pela mão humana, mas tenho o prazer de saborear o mel que gosto muito.
    AG
    http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

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    1. Tal como eu :-)
      Quer dizer, na minha meninice cheguei a estar perto dum apiário, dos tradicionais cortiços, mas nunca estive ao pé das novas colmeias, onde parece se pode observar a evolução e o estado sanitário do enxame, em cada momento, coisa que no cortiço era tarefa impossível.
      Mel de Forninhos nunca falta cá em casa e até trago esta iguaria, de quando em vez, para oferecer a amigos e familiares.
      Abr./Paula.

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  9. Reli agora alguns comentários e o da Chica fez-me lembrar que no ano passado quando os/as mordomos/as da Senhora dos Verdes faziam a limpeza no interior daCapela pingava mel do tecto!!
    Depois alguém retirou e ficou com o enxame. Mas no dia do Espírito Santo, volta e meia, tínhamos de varrer/e apanhar com a pá as abelhas que caiam no chão, mortas ou quase mortas.
    Foi incomodativo, só que como disse Einstein:
    "SE AS ABELHAS DESAPARECEREM DA FACE DA TERRA, A HUMANIDADE TERÁ APENAS MAIS QUATRO ANOS DE EXISTÊNCIA. SEM ABELHAS NÃO HÁ POLINIZAÇÃO, NÃO HÁ REPRODUÇÃO DA FLORA, SEM FLORA NÃO HÁ ANIMAIS, SEM ANIMAIS NÃO HAVERÁ RAÇA HUMANA".

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  10. Cada vez, que por aqui venho, fico encantado com seus posts; são, além de belos e irrepreensivelmente escritos, pelo menos a mim, muito instrutivos.
    Boa semana.

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    1. Estou a acompanhar a sua "obra" com interesse e todo o respeito.
      Nao se trata de um "deja ...", por isso necessito de me enquadrar e vou!
      Aqui, apenas simples relatos, desprendidos da omnipotente literatura impressionista, nada que meta medo, simplesmente a vassoura tem de se adaptar ao soalho que varre, no minimo valorizar o pouco que vai restando.
      Sei que me compreende.
      Um bem haja.

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  11. Antigamente, no bairro onde moro, havia uma apicultora e ela tinha até caixas com colmeias para vender e , sinceramente, eu não gostei de conhecer o mel em tal estágio de produção ;) Um abraço, Yayá.

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    1. A Yayá não gostou talvez porque nessa fase o mel ainda não passou pelo processo de separação e limpeza da cera, abelhas e outros elementos estranhos ao mel. Depois é que o mel é armazenado em vasilhas grandes, onde completa o processo de limpeza. Nas 2-3 semanas seguintes é que se faz o enfrascamento do mel, para os frascos de gosto do consumidor.
      Abraço,

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