Seguidores

segunda-feira, 10 de março de 2014

Lameira, Lugar e Errata

O povo de Forninhos divide-se em dois lugares: a Lameira e o Lugar e hoje vamos apresentar a visão de alguém que nasceu e viveu no Largo da Lameira, pois é importante saber que na nossa freguesia existiu um lugar que já foi a fronteira, o centro e a ponte, mas também a sala de toda a gente. Com a devida autorização do nosso conterrâneo Ilídio Marques, publico um texto poético da sua autoria:



O Largo da Fonte 
era do povo a fronteira,
o centro e a ponte
entre o Lugar e a Lameira

No Largo da Fonte ou do Cruzeiro
ficava a nossa escola,
ali se bailava antigamente
e também se jogava à bola.

Era o nosso maior terreiro
e a sala de toda a gente.


1970, Ilídio Marques

Sem dúvida, o Largo da Fonte da Lameira foi um importante espaço de convívio e custa a aceitar que os autores da monografia de Forninhos, tenham feito "tábua rasa" a esta e todas as fontes da aldeia e sobre os lugares de convivência ainda tenham usado termos que nada têm a ver com a nossa terra.



Forninhenses: temos que deixar história, ou que será que no futuro vão contar sobre os nossos lugares de convivência? 
Que em Forninhos havia feiras?
Que os jovens, numa altura em que os namoros começavam com um simples piscar de olhos, procuravam cruzar-se com as suas pretendentes nas cerimónias religiosas? 
Fácil tal concluir, afinal de contas todos iam à igreja para particpar na Eucaristia, mas não namoravam no adro, tendo em conta a época até seria pecado!
No Natal, o madeiro abrasado reunia os homens da comunidade que também se juntava nas desfolhadas?

Errata:
Em Forninhos não havia feiras e uma boa parte dos namoros entre rapazes e raparigas da terra começavam na fonte. Os rapazes esperavam as raparigas quando estas iam à fonte para abastecerem a casa com a água necessária e acompanhavam-nas até casa. 
No Natal o Cêpo reunia os homens da comunidade que também se juntava nas escanadas.

sábado, 8 de março de 2014

Flores de Março, para si Mulher

Quando passeamos pela aldeia, de repente somos chamados à atenção pela leveza da brancura que contrasta com o verde das folhas...


logo mais abaixo,  outras em botão preparam-se para ser também flor, com tons vivos


e tal como as as campainhas em tons amarelos, vão iluminando a paisagem que nos faz esquecer o tempo de frio, chuva e nuvens baixas do princípio de Março, trazendo com elas a luminosidade.


Assim, quando já se pensa na Primavera que se aproxima no calendário, aqui ficam estas flores da nossa terra, em homenagem a todas as mulheres que nos visitam, nos seguem e nos apoiam, com os votos de um Dia Especial hoje e Sempre!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Dia 8, em Fornos: Feira Queijo Serra da Estrela

Porque se encerra mais um clico anual de feiras do queijo, permitam-me que publique também o cartaz da Feira do Queijo Serra da Estrela, em Fornos de Algodres, pois todos somos poucos na divulgação dos eventos que se realizam na nossa região, fazendo votos que alguns leitores possam ir no Sábado à Vila de Fornos provar e comprar o tradicional e mais afamado "Queijo da Serra". A sério! Visite Fornos e comprove!
Quem pela distância não puder ir a esta Feira, pode sempre acompanhar através da RTP1.


http://aquidalgodres.blogspot.pt/ a quem "roubei" o cartaz.

terça-feira, 4 de março de 2014

Registos da Festa do Pastor e do Queijo 2014

E aconteceu a Festa do Pastor e do Queijo do Mosteiro, freguesia de Penaverde, como estava previsto no passado Domingo. A Feira Nova, não resisti e fui lá pela primeira vez. Adorei!
Através deste 'post' o blog dos forninhenses presta assim a sua  homenagem e agradecimento a todos os produtores do genuíno queijo da serra e queijeiras(os). Foram tantas centenas que com frio e chuva tiveram um dia diferente. Olhem:













À moda das nossas beiras: dar e receber como sempre fomos, gente de bem!

sábado, 1 de março de 2014

Casamentos do Entrudo

Naquele Entrudo, como era de lei, a rapaziada andou a casar as donzelas pelas portas das quintãs e dos serões e encruzilhadas das ruas.
Aquilino Ribeiro,Terras do Demo.

funil

Há uns quatro anos, falei aqui por alto dos casamentos satíricos alinhavados nas "Quintas-Feiras das Comadres e dos Compadres", tradição peculiar da nossa cultura que, entretanto, não sobreviveu no tempo e no espaço devido à falta de mocidade.
A geração a que pertenço sabe do que falo, mas os mais jovens já nem sabem que isto alguma vez foi assim, mas é bom que o saibam...
Primeiro, era o dia das comadres que era a quinta-feira antes do Domingo Magro e havia o hábito em Forninhos de oferecer fritas, também conhecidas por rabanadas, especialmente às comadres. Depois, vinha o dia dos compadres, que era a Quinta-Feira antes do Domingo Gordo e os compadres comiam uma choiriça.
Os casamentos satíricos do Entrudo, esses, realizavam-se ao Sábado (Sábado Magro e Sábado Gordo) por rapazes que assumiam o papel de sacerdotes e de acólitos e serviam mais como pretexto para se poder dar livre curso à crítica, do que como uma forma de aproximar os "proclamados noivos". 
Mas sabem como em Forninhos eram feitos os casamentos das comadres e comprades?
Os rapazes juntavam-se no Forno Grande, aproveitando com certeza o quentinho que ali se sentia nas noites de Inverno, para fazer os papelinhos (tipo sorteio) com o nome dos rapazes disponíveis e, noutro, papelinhos com os nomes das raparigas nas mesmas condições, que colocavam em boinas; tiravam à vez esses 'bilhetes', um da boina dos rapazes e outro da das raparigas e assim acasalados resultavam os casamentos e as comadres e compadres! Realizado o sorteio afixavam um papel (tipo edital) na desaparecida árvore da Fonte Lameira, pois ali se dirigiam todos os habitantes que sabiam ler e procuravam "os avisos". De manhã, bem cedo, todos os que por ali passavam tinham conhecimento de quem casava com quem, embora o edital desaparecesse rapidamente.
Os casamentos do Entrudo esses eram feitos por rapazes no Sábado (magro e gordo) à noite. Munidos com um funil, para distorcer a voz, e um em cada ponto mais elevado da aldeia para serem claramente ouvidos e, ao mesmo tempo, encobertos pela escuridão da noite para não serem identificados, procediam ao ritual que, resumidamente, descrevo:

- Ó camarada!
- Olá companheiro!
- Há aqui uma rapariga boa para se casar...
- Quem é que lhe havemos de dar?
- Damos-lhe fulano...
- E que prenda lhe havemos dar?
- Damos-lhe uma toalha de estopa!

Ah! Havia sempre no sorteio um burro para uma rapariga, assim como uma burra para um rapaz!
A esse propósito, um desses rapazes, o Tónio Lopes, contou há 4 anos a história que hoje lhe trago. Um episódio que ocorreu nos fins dos anos 70:

«É verdade Paula nesta quadra carnavalesca fiz muitas vezes os casamentos; é uma das brincadeiras de que me fazem muitas saudades da minha juventude, ainda quase todos os anos vou ao meu terraço com o funil matar saudades.
Mas voltando ao passado, nos fins dos anos 70, eu e o meu irmão Zé Carlos e vários colegas (mais de 10) fomos casar as raparigas. Como tu referiste e muito bem, fazíamos o sorteio com os papelinhos. O burro tinha de calhar a uma rapariga, assim como a burra a algum rapaz, mas tive a infeliz sorte de ser eu a fazer o casamento duma rapariga com o burro; o pai dela não gostou e veio à rua com umas correias na mão para nos assapar. O pessoal toca todo a fugir e só fiquei eu e o meu irmão.
No dia seguinte tínhamos a G.N.R. à porta para irmos ao Posto de Aguiar da Beira prestar declarações (isto só eu e o meu irmão). No Posto, os Guardas disseram que não éramos nenhuns padres para andarmos a fazer casamentos e queriam que pagássemos setecentos e coroa (700 Escudos + 50 Centavos). Mas como nessa altura não era fácil vergar-nos, dissemos aos Guardas que não tínhamos dinheiro, que não pagávamos e viemos embora.
Passados dois meses fomos a Tribunal pagar, cada um, 3.500 Escudos (cinco vezes mais que a multa). Andou o nosso pai a trabalhar meio mês para nos dar o dinheiro, por causa de um Sr. que não se lembrou que na sua juventude também casou muitas vezes as raparigas, tal como nós.
Não foi por causa disto que a tradição acabou, continuou-se sempre com os casamentos pelo Carnaval, pelo menos, até ao princípio dos anos 90.».
Esta é uma história dos finais dos anos 70. Haverá muitas outras e até mais engraçadas.