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sábado, 22 de janeiro de 2011

Moínhos e Moleiros da Nossa Região

Hoje trago até vós, um pouco do que sei sobre os moínhos da nossa região. Não fui moleiro, mas sei como funcionavam, não porque mo dissessem, mas porque despejei alguns grãos (milho e centeio) na moega e apanhei a farinha para a taleiga. Nestes engenhos movidos a água, havia dois tipos de moínhos, os que tinham um proprietário (o moleiro) e a sua vida era percorrer as aldeias vizinhas com o burro, recolhia as taleigas, tirava a maquia, moía e levava a farinha ao seu cliente. No regresso trazia mais grão (coitado do burro, não tinha descanso). Havia os outros, de partilhas, como era, creio eu, o da Carvalheira, que tal como as águas era repartido o tempo pelos herdeiros para moerem o seu grão.
moínho da Carvalheira, para além dos restos de um rodízio, pouco mais resta do que as paredes

As sucessivas partilhas pelos herdeiros dos titulares deste espaço de tempo para moagem, ía diminuindo com o tempo em cada partilha. Hoje ainda há pessoas que dizem ser donas de uma parte deste moínho, mas o certo é que, e talvez por isso, a sua recuperação para memória futura, se torne mais difícil.
rodízio do moínho ainda com as suas penas

Este engenho, tinha como rolamento, um seixo (quartzo) reboludo no fundo e a lubrificação era a própria água.
rodízio em movimento, movido pela força da água ejectada pela caleira

mó de cima, mó de baixo, moeja, calha e trambelo
O movimento da de cima fazia vibrar o trambelo, esta a calha, e o grão caía conforme o regulamento que se lhe dava, e como se vê pela disposição das mós, a farinha vinha cair na frente.
Nota: algumas imagens são de um moínho da freguesia de Dornelas.

11 comentários:

  1. Boa Noite Ed(aqui no Brasil são 20:19),

    O que gostei muito de saber e que você testou para entender como funcionava,isso demonstra o quanto queria saber o que nos contaria.Se entendi bem as pessoas tinham os grãos e o Moleiro,tinha o aparelho que moia os grãos transformando em trigo?,depois eles iam devolver o trigo aos clientes...e qual era o pagamento?,dai pegava mais grãos e fazia o mesmo...tipo uma exploração o moedor de grãos?....que incrivel...as vezes não da para entender bem por causa das palavras que não sabemos o que significa como:Moega,Taleiga.rs.
    Deusa
    vasinhos coloridos

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  2. Com muito gosto vou tentar explicar a deusa este processo.

    Os grãos de trigo, milho ou centeio eram transformados em farinha pelo processo demonstrado nas fotos, e da farinha se fazia o pão que era cozido nos fornos comunitários. Em forninhos ainda há dois que funcionam.

    Dava-se o nome a moega, ao recipiente que suportava o grão antes de cair através da calha para a mó.

    Taleiga, chamava-se ao saco onde era transportada a farinha.

    A maquia é uma porção de cereal que o moleiro tirava para pagamento do seu trabalho.
    Hoje ainda se usa no azeite.
    No post “lagares de azeite” é mencionado este tipo de pagamento, para pagar este trabalho que pode ser em moeda ou em azeite que fica no lagar, normalmente, é de 20% do produto final (azeite) quando é pago com maquia.
    Não sei se expliquei bem.
    Cumprimentos.

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  3. os moleiros emtregavam o grao moido (farinha) aos seus clientes, e estes, com a farinha, faziam e coziam o pao para consumo próprio.
    hoje este processo está industrialisado, o grao é moido em moagens electricas e o pao é cozido em padarias e distribuido pelas povoações, e em alguns casos de porta a porta.

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  4. Olha o Sr. Adelino!

    Pois é…eu ainda me lembro ver o moinho da Carvalheira a trabalhar. Também me lembro do moleiro, um Senhor a que chamavam bombo, que trazia as taleigas. Costumava prender o seu cavalo na Lameira e nós, a garotada, a admirarmos o cavalo. Este moleiro deslocava-se com alguma frequência a Forninhos, se calhar por isso eu e muitos de vós, ainda temos essa memória.
    A maior parte da juventude de hoje desconhece que houve vários moinhos em Forninhos. Já aqui no outro dia referi que junto ao Lagar que era do Sr. Luisinho houve também dois moinhos. Um era chamado “Moínho de Cabreira”, tinha o açude na Ribeira de Cabreira; outro, segundo apurei era do pai da Sr. Prof. Mariana e da Sra. Luzia. Houve também outro em Forninhos que se situava no Salto, abaixo da Ponte da Carriça, este Moínho era do Sr. Luisinho. Comprou-o mais tarde o Sr. Filipe da Qta. da Ponte e recuperou-o. Funcionou este moinho até há pouco tempo.
    As coisas já não são o que eram. Já ninguém precisa moer o cereal para obter a farinha e o pão. A água dos fontanários continua fresca, mas aconselham o seu não consumo. Ficam os lugares de recordação.
    Isto também é história de Forninhos e da sua gentes.

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  5. Com a farinha e um pouco de água temos o princípio do pão. O pão era cozido, por cada família, nos fornos comunitários, que ainda hoje funcionam, mas havia famílias que tinham o seu próprio forno e que o emprestava a quem nele quisesse cozer. Hoje o pão é feito nas padarias da região, uma indústria que fornece o pão à população forninhense e outras. Mas em Forninhos já houve n´outros tempos uma padaria, facto que a maior parte da juventude também desconhece. Já houve indústria, ofícios antigos e comércio que se perderam e só registando a nossa história é que os mais novos podem conhecer este e outro passado da nossa terra.
    Quanto ao moinho da Carvalheira era usado por quem lá tinha os dias para moagem. Mas como nesse tempo, havia muita entreajuda e verdadeiro espírito comunitário, as pessoas que lá tinham os dias chegavam a dá-los a quem precisasse moer. Estes dias faziam também parte dos bens de herança e cada vez mais os dias foram sendo partidos. Se calhar até ao momento que deixou de trabalhar, os herdeiros já só teriam meios-dias, quartos-de-dia, ou, até horas. Estes registos, como das águas partidas das várias nascentes, deveriam ser registados o quanto antes.
    Porque não ouvir as pessoas mais velhas para ajudar a conservar por mais tempo as saudades vivas?

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  6. Ainda temos muitos moínhos parecidos com estes por aqui, a troca de milho por fubá é ainda feita, e o fubá feito no moínho de pedra (mó) é muito melhor, para bolos, pães, sopas...este é o melhor fubá.
    Eu mesmo só uso fubá de moínho de pedra.
    Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

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  7. O Moinho da Carvalheira,faz parte real da minha meninice, qual territorio sagrado dos Incas, onde a natureza se agitava naquele local recondito, impregnado de lobos, corujas, raposas e aves de rapina, procurando o alimento para as crias, tal qual iamos esmagar o grao para o pao-nosso de cada dia.
    Adiante, O Cuvos, que mal produzia um raquitico milho, mas saborosos chicharros.
    Subindo a encosta para o lado direito, la estava o imponente Castelo e do outro lado o Castro.
    No meio da encostava havia uma nascente que nao secava, de dia para o homem de noite para os bichos.
    Junto ao Moinho, as Dornas e a sua Gruta de agua cristalina, aonde se sentia o mundo na sua perfeiçao absoluta!
    Chegava com o meu pai, as vacas arrastando o carro, chiando sobre o peso do grao e o dificil trilho.
    Teria seis anos de idade, mas a expectativa de passar o dia e a noite neste local magico, acelerava o coraçao.
    Carro descarregado e vacas a pastar na orla da ribeira com o coaxar das ras e o bailado das libelinhas, era hora de ir roubar umas ameixas ao Sr. Daniel, ca mais abaixo, encher os bolsos e a boina.
    A segui, uma vara de amieiro, um fio de nylon mais um anzol ferrugento com gafanhoto a sevir de isco, sempre se apanhavam umas bogas tontas que se viam a olho nu;Numa agua que era brilhante.
    As maiorzitas serviam para grelhar e ajudar a bucha da noite, na fogueira acessa no canto esquerdo interior da Moinho, enquanto a mo carrasca, esmagava o grao, chiava, esmagava,
    acompanhada pelo piar do mocho ali ao perto.
    Enquanto o meu pai vigiava toda a noite a tarefa, eu aconchegava-me junto a fogueira, enrolado numa manta trazida de casa, e adormecia a sonhar com as mouras encantas ai tao perto.

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  8. Manha cedo o meu pai acorda-me, carro ja carregado com as taleigas da farinha, vacas junguidas, prontos para abalar, apenas faltava o caldeiro de lata que pendurou num fogueiro.
    O chiar do carro sobre as pedras na subida, faziam levantar as perdizes matinais, acordar os melros na ribeira e alvoroçar os tajasnos.
    Ja em cima, um coelhito atarantado, apenas se desviou das vacas, pois eu ia sentado na frente do carro e o meu pai nas traseiras.
    Se tivesse uns custilos e tempo, aqueles tajasnos e mais que fora, nao escapavam.
    Mais a frente cruzamo-nos com outro carro de bois, que vinha para a moagem, era o dia que lhe pertencia em sortes (nao me recordo quem era).

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  9. Chegados perto da Pardamaia, um solavanco maior, atirou com o caldeiro e as vacas espantara-se.
    Arrancam desabridas adiante, desfazendo as curvas por milagre, eu a gritar e o meu pai que entretanto saltara do carro, tambem!
    Ao cher perto do cruzamento do sitio do alambique, e surpreso pelos gritos, apareceu ou o Ti Forra ou penso que o Ti Ze Maria Indio, que sachola em riste as conseguiu parar.
    Bem Hajam, mas continuo a adorar aquele lugar.

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  10. muito bonito, chico.
    estas historias contadas por quem as viveu, sao as mais lindas, e nem as mais arranjadas e compostas pelos bos escritores, nao se lhes comparam.
    xico, continue a presentiar-nos com as suas historias contadas no presente do indicativo.
    um abraço

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  11. Alfredo Marceneiro canta Moinho Desmantelado

    "MOINHO DESMANTELADO"

    Letra de: Henrique Rêgo

    Moinho desmantelado
    Pelo tempo derruído
    Tu representas a dor
    Deste meu peito dorido

    Ao dizê-lo sinto pejo
    Porque em ti apenas vejo
    A miseranda carcaça
    Perdeste de todo a graça
    Heróica do teu passado
    Hoje ao ver-te assim mudado
    Minha alma cora e descrê
    E quem te viu, e quem te vê
    Moinho desmantelado

    Moinho pombo da serra
    Que triste fim tu tiveste
    Alvas farinhas moeste
    Para o povo da tua terra
    Hoje a dor em ti se encerra
    Foste votado ao olvido
    Foi-se o constante gemido
    Dessas mãos trabalhadoras
    Doce amante das lavouras
    Pelo tempo derruído

    Em fundas melancolias
    Ás tristes aves sombrias
    Hoje serves de dormida
    No teu seio dás guarida
    Ao horrendo malfeitor
    Tudo em ti causa pavor
    É bem triste a tua sorte
    Sombria estátua da morte
    Tu representas a dor

    Oh! meu saudoso moinho
    E do meu terno avozinho
    Quantas histórias ouvi
    Agora tudo perdi
    Sou pela dor evadido
    Vivo no mundo esquecido
    Moinho que crueldade
    És o espelho da saudade
    Deste meu peito dorido

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