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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Desmancha

Um ou dois dias depois da matação, mãos hábeis hão-de desfazer o porco em pedaços... É a "desmancha". Para este trabalho usavam facas bem afiadas e a machada para cortar os ossos da cabeça e costelas. A carne era separada, a gorda para um lado, a magra para outro, as costelas para outro. Alguma ía para o fumeiro, outra ía para a arca salgadeira, onde era bem acondicionada com sal. Nada ficava sem sal e assim se mantinha branca e saborosa durante todo o ano. Por isso, na linguagem do povo das aldeias se dizia que “a salgadeira era o governo da casa”.


A minha família teve desde sempre uma grande relação com a matação do porco, este acto doméstico sempre foi praticado em casa e na família sempre houve um matador. Tanto o meu avô materno, Antoninho Matela, como o meu avô paterno, Zé Cavaca, eram bons matadores. Nestas 2 fotografias envelhecidas, Dezembro de 1971, o trabalho de desmanchar o porco foi feito pelas mãos do meu avô Cavaca, e o aprendiz é o meu pai. O meu avô Cavava, adoeceu ainda novo e acabou por deixar a família pouco tempo depois destas fotos terem sido tiradas. Faleceu no dia 20 de Novembro de 1973. Não me lembro dele, mas tenho muitos registos fotográficos do meu avô, por isso, é como sempre o tivesse conhecido.

11 comentários:

  1. Reparem no orgulho e no ar feliz que transparece destas fotos!
    Recordo com muita saudade o Tio Ze Cavaca, que o meu pai teve o privilegio de ter como um dos
    seus grandes amigos.
    Estou a "sentir" e a "saborear", uma febra na brasa, ou uma costeleta, enquanto decorria a desmancha.
    Dava gozo ver tirar o bacoro do chambaril, aquela carne separada, os vizinhos passarem e dizerem "Que belo animal, olhem esses lombo, tem ha vontade palmo e meio, Deus lhes de saude para o comerem".
    Mas bom, bom, era a carne das chouriças em vinha d'alho, vinha-se a loja buscar uns pedaços que eu e o meu pai adoravamos, colocadas directamente em cima da brasa, Divino e a minha mae a gritar: "almas do diabo que nao deixais nada para as chouriças"...
    Mas aquilo era tao bom!
    E os torresmos?
    Fiquemos por aqui por causa do pecado da gula!

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  2. Ai a carne das chouriças de vinha d´alhos...hummm até lhe sinto o cheiro e o sabor. Mas eu gostava dela era frita na sertã. A febra assada só com sal, nas brasas. Os torresmos…e os couratos em vinha d´alho? Antes do enchimento das chouriças dos bofes, ou boches como diziam, provavam-se os couratos. Esta festa aldeã era mesmo cheia de condimentos deliciosos e que se prolongava pelo ano inteiro.
    Neste dia havia também um hábito, um gesto que consistia em levar aos lares mais chegados, vizinhos, familiares e amigos, um prato com carne, morcela, costeleta…para que todos provem.
    Xico, dada a amizade que sempre existiu entre as nossas famílias, se calhar, ainda provaste deste porquito;)

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  3. Ao ler o comentário de xico almeida, logo me cresceu água na boca.
    Aquelas febras cortadas daqueles sítios que só os cortadores conhecem, têm cá um saboooorrr!
    Só mesmo, nessa altura se podia apreciar tal petisco, não precisava qualquer tempero para alem duma pitada de sal e esconder da dona do cevado, porque estas sempre faziam questão, que a melhor carne fosse para as chouriças.

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  4. Muito interessante!
    Por aqui tambem assim se faz, mas matamos o porco e no mesmo dia é todo desmanchado, a familia se reune, pois é bastante serviço...não usamos salgadeira, mas cozinhamos as carnes que são colocadas na mesma gordura derretida do porco, já mostrei no meu blog como se faz...o toucinho é salgado e colocado nos fumeiros, fazemos linguiças, chouriços etc
    Como voces aí. Ao ler seu texto parece que se está falando do nosso lugar aqui, talvez pelo fato de nossos antepassados serem portugueses, com certeza trouxeram para cá os costumes daí.
    Muita, muita coisa é bem parecido...
    abraços
    Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

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  5. devido ao calor que faz por essas terras, o porco nao pode ficar de um dia para o outro, nós por aqui matamos o porco só no inverno, está muito frio e a carne fica , como nós chamamos, a escorrer, se fosse no verao, isso já é diferente, tem de se usar os frigorificos porque, mesmo no sal, a carne nao se conserva.

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  6. A matação do porco de ceva sempre foi feita nos dias frios do inverno e fica pendurado pelo menos um dia e uma noite, antes de ser desmanchado que é para que o sangue todo saia das carnes e o frio torne as carnes mais limpas e um pouco mais rijas.A preparação de toda a carne é feita de imediato no dia da desmancha, mesmo a carne para as chouriças fica logo em vinha d´alhos.Todos os bocados de carne teêm destino.dos bocados mais gordos fazem-se os torresmos e a banha para temperar e untar.os presuntos, pás, chispes, e alguma carne gorda era tudo metido na salgadeira.

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  7. Pois é ,o dia da desmancha aliàs aquilo é uma longa tarde bem passada, o que me custava mais era tirar aquela carne agarrada às costelas,e ainda por cima, o meu irmão sempre a dizer,o pà olha que ainda podes tirar mais, isso não està bom,vai là mas é buscar a jarra e deixa isso, e là ia eu, sempre era mais facil ir ao pipo,enquanto ele,o nosso pai e o meu tio luis, là tratavam da dança, agora as febras como diz o SR Eduardo,não precisava qualquer tempero,era so o sal GROSSO,pois fica muito mais saborosa e claro a jarrinha sempre à mão,era o meu trabalho os copos não podiam estar vazios,mais tarde isto é à noite depois era uma jantarada,fazer os torresmos,coisa que o meu avô materno, DEUS o là tenha em descanço gostava muito de estar sempre a mexer.Isto era +ou- a historia da desmancha do SAMUEL CAVACA e filhos,digo filhos porque a filha nunca deu nada pra essas coisas LOL,um grande beijo pra ti PAULINHA,e um bom ano 2011 para todos.

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  8. É verdade, eu nunca tive participação directa nestas actividades. Só comia :)) e lavava e limpava a loiça. Mas tenho várias recordações da azáfama das matações dos meus pais, dos meus avós maternos, da minha tia Júlia, etc.
    Não gostava de ouvir os guinchos do porco quando o tiravam do cortelho. Como já o disse afastava-me sempre para não ver. O alguidar com o sangue também me fazia confusão. Do dia da desmancha já gostava. O meu tio Luís chegava e lá se desmanchava o porco…comia-se as febras, à noite o meu avô a mexer os torresmos na caldeira e a contar histórias…uns dias mais tarde assava-se as queixadas…já lá vão uns anitos.
    Mas no meio disto tudo a parte que eu mais gostava era quando chegava o momento de encher as chouriças da carne…esta tarefa até gostava. Pegava na enchedeira e lá enchia as tripas, já cortadas conforme o tamanho desejado. Não sabia era atá-las!
    Apesar de tudo o momento que realmente não gostava era o da morte do animal, mas acho importante cumprir-se as tradições, para que um dia esta nova geração tenham referências da nossa terra e recordações.

    Venham mais histórias!

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  9. O Sr Eduardo disse que ao ler o meu comentario, ficou com agua na boca!
    Vou acrescentar mais um pouco:
    Este fim-de-semana quando cheguei, final do dia a Forninhos, a minha mae tinha uma surpresa para o jantar, sopa da mataçao e carne tipo marra, fresca, acompanhada com arroz de miscaros.
    E um tinto novo, que quem prova, entra no paraiso, que foi aonde estive este fim-de-semana.
    Diga la Sr. Eduardo, se nao lhe abri o apetite?
    Quanto a Paula, desde miudo e menos miudo, entrava em casa das familias, independentemente do grau de parentesco, com a maior a-vontade.
    Nem convidado, nem meio convidado, simplesmente entrava.
    Devo ter provado desse porco, ja tinha dentes e sem-vergonha, que o diga o Ti Carau, sentava-me junto a fogueira, e venha la Tia julia.
    "a tua mae sabe de ti, meu grande maluco?", perguntava!
    "Deve calcular que estou em casa de alguem, gente de bem", respondia.
    E ficava a ouvir historias... junta a fogueira.
    Outras vezes em casa dqa minha tia Laura, Tia Rosa, sei la...

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  10. Entre recordações de cheiros e sabores, vou até à matação da minha tia Júlia, onde todos os anos, o meu tio Abel depois de beber uns copitos, virava-se para a minha avó Coelha e dizia a chorar “Ó Maria e a nossa mãe?". E ambos contavam histórias sem fim, dos pais e avós… As histórias e peripécias dos dias da matação e da desmancha eram mais que muitas, umas mais divertidas do que outras. São estes tempos, recordações e gentes de Forninhos que não se podem esquecer.
    Entretanto, comidas as febras, torresmos e com as chouriças, primeiro as dos bofes, depois as da carne, mais ou menos secas, dá-se volta ao fumeiro e corta-se aquela que a família à volta do lume assará na brasa para provar.
    As da carne depois de prontas eram então armazenadas em panelas de barro com azeite, onde se conservavam durante todo o ano. E... agora, só falta provar a pá, se calhar lá para a altura da Páscoa já se pode tirar da salga e provar com uma fatia de bolo de azeite…

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  11. Ó xico, estas marotices não se fazem, por acaso eu ainda por aqui estou e a tortura não é tão grande porque ainda vou vivendo estes momentos de degustação tradicional e caseira, ainda hoje a minha mulher me “presenteou” com a sopa da matação que eu aprecio muito.
    Isto de entrar pela casa dentro e se sentar á lareira, era típico da aldeia de forninhos, as portas, á boa maneira Beirã, estavam sempre abertas, e as gentes eram felizes, tanto os visitantes como os visitados, hoje já se verificam algumas mudanças, mas em forninhos ainda há gente do antigamente, e a mãe do xico, é uma delas.
    Um abraço a todos.

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