Seguidores

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Outono


"Vai tomando a terra novas cambiantes: - despidos os agros da flora dos meses quentes, vinhedos e pomares, de seus frutos, sobre eles a entornar-se um sol mortiço de outono, reveste o ar de mãe que deu luz e a quem roubaram a cria. É o verão que foge e se desfaz com o despir das árvores, a caírem uma a uma as folhas amarelentas.
Também as aves já se foram. "Pelo S. Mateus, deixa os pássaros que não são teus". Além dos pardais, fiéis amigos de todo o ano, quer chova quer neve, só se vê um ou outro taralhão esquecido e sorumbático, ou um bando de estorninhos a fazer as malas. Se ainda cá andam, é a picar a bolota ou à espera da castanha que não tarda aí com os ouriços arreganhados, alguns já derrubados, pelo garotio, à taganhada.
Por esse tempo, já os porcos - "com sua licença" - estão na ceva. As batatas miúdas que não se comem, as abóboras, os figos - passante dos Finados já ninguém os quer, "porque foram lambidos pelos defuntos" - e nas casas ricas, "arregaçadas" de centeio cozido, viandas bem enfarinhadas, tudo serve para engordar o bacorinho".

Do livro "Penaverde Sua Vila e Termo" do Padre Luís Ferreira de Lemos - escrito há vários anos. 

24 comentários:

  1. Tema tão real e gémeo do retrato de Forninhos há poucas décadas atrás, pena esse tempo se traduzir em muitos anos.
    Deixemos as penas e em sua substituição o regozijo por ter havido e ainda haver, quem deixe registos do que viveu e de quem se faz ouvir, gente que apesar da idade, contribui com memórias.
    Pintura perfeita desta estação do ano em que a natureza em simbiose perfeita se casa com a estação.
    A flora e a fauna, a preparar o descanso, depois da alegria da primavera, conceber e nascer, do árduo trabalho da colheita, do guardar, tal formiga trabalhadora, o fruto de todo esse trabalho, para mais tarde, sentindo o vento, minimizando o frio com a lareira que coze a vianda para os porcos no inverno estarem bem cevados, no estalar das castanhas no assador, roubadas aos primeiros ouriços...
    Já se sente a saudade no desaparecer dos piscos e flosas nos silvados, e tantas outras aves que vieram, partem, mas voltarão com as suas crias já adultas, repetindo o mesmo trajecto. Sinal de que os progenitores, por aqui se sentiram bem.
    Tal como o ser humano, por vezes concebe no inverno, dá à luz na primavera as suas crias e no outono as vê partir, sinal de já estarem preparadas e terem asa para voar sozinhas, alertada pelos cuidados a ter, afinal tudo tão simples e generoso. Algumas voltarão em férias e reviver, melhor no cheiro da terra renascer.
    Obrigado outono por guardares a felicidade dos meses anteriores, no teu celeiro, na certeza que os frutos desta transição, serão a semente do novo ciclo que voltará, porventura ainda mais viçoso.

    ResponderEliminar
  2. Olá,
    o outono uma das estações da fartura, aqui em nossa infância era a estação de maior alegria para nós, por que nos deleitávamos a saborear as doces laranjas e bergamotas.
    O que é a cultura de um povo, que interessante depois dos finados ninguém come as frutas que restaram? Sabendo disso não como mais, não sei de onde vem, mas tenho um medo mortal de defuntos. Não vou a funeral, e se vou passo muitas noites em claro, arrepiada de medo.
    Bjosa e tenha uma ótima semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Anajá,
      Conta-se que nos finados os defuntos vão lamber os figos e outras frutas típicas do Outono que, desde então, não se devem comer, mas certamente não passa de tradição oral. Depois, quando chegarmos aos finados já toda a gente apanhou os melhores figos e também vindimou.
      Se calhar foi a forma que os antigos encontraram para dizer que a fruta já não é saborosa.

      Eliminar
  3. LINDo tudo.Palavras, foto e desejo que a nova estação, o outono seja boa pra cada um de vocês! beijos,chica

    ResponderEliminar
  4. Eu adoro o outono tb e seu texto me encantou retratando tantas belezas de Forninhos! Bjs e linda semana pra vc,

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Forninhos era assim, pelo menos, em tempos que não vão longe. Ainda me lembro ver castanheiros gigantes comparados com os de agora e de dois ou três derrubar ouriços com paus, davam-lhe uma taganhada, como se dizia.
      São coisas do Outono que desapareceram porque não o continuamos!

      Eliminar
  5. Anónimo9/23/2013

    Precioso Texto para dar la Bienvenida a esta Estación en la que predominan los ocres, rojizos y sepias.
    Abraços e beijos.

    ResponderEliminar
  6. Adorei este delicioso texto sobre a chegada do outono. Uma visão perfeita do fim do verão dada pelo escritor citado.

    O longo comentário do Xico Almeida despertou a minha curiosidade: li-o e acho que é um belo prolongamento, aqui bem encaixado nesta bela descrição do autor do texto.
    Gosto muito de visitar este blogue e tenho pena de nem sempre comentar.
    Bjs
    Teresinha

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O comentário do Xico é muito bonito e complementa este post. O que escreve sobre memórias faz lembrar alguns dos nossos melhores escritores que deixaram nas suas obras marcas das suas vivências das terras onde nasceram.
      A obra deste forninhense não se encontra num livro publicado. Encontra-se nas centenas de leitores que gostam de ler as suas palavras e oportunas reflexões. Por isso continuaremos por aqui porque é bom estar na V/ companhia.

      Eliminar
    2. Obrigado Paula por palavras tão elogiosas, apesar de não ser merecedor de tal.
      Cada qual à sua maneira tenta reviver e sedimentar a história de Forninhos, em comentários, ou simples leitura.
      A nossa terra sempre foi hospitaleira, por isso partilhava os frutos e hoje ainda partilha memórias, daí como dizes, "ser bom estar na V/companhia".
      Que seja por muito tempo!
      Abraço.

      Eliminar
  7. Belo texto sobre o Outono...Espectacular....
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  8. Texto escrito com muita ternura e poesia... O Outono é uma estação bonita e reflexiva, não é, Paula? Acho lindas as folhas amareladas ou caídas pelo chão...
    Uma Boa Semana... Muito carinho...
    Beijos

    ResponderEliminar
  9. Um lindo trecho dessa obra o Senhor Abade Luis, que eu conheci muito bem e que ainda me ensinou alguma coisa!

    Um abraco a todos.

    ResponderEliminar
  10. Neste tema sobre uma estação que tem magia, o Outono, tenho todo o gosto em transcrever um poema de um grande génio da literatura portuguesa, , Miguel Torga.

    "Tarde pintada
    Por não sei que pintor.
    Nunca vi tanta cor
    Tão colorida!
    Se é de morte ou de vida,
    Não é comigo.
    Eu, simplesmente, digo
    Que há fantasia
    Neste dia,
    Que o mundo me parece
    Vestido por ciganas adivinhas,
    E que gosto de o ver, e me apetece
    Ter folhas, como as vinhas."

    ResponderEliminar
  11. Aproveita bem o outono, que a primavera por aqui chegou com tudo.
    Abraços.Sandra

    ResponderEliminar
  12. Olá Paula, admirável texto do Sr. Padre Luís Lemos, que me impressionou tanto pela poesia inserida na sua prosa realçando as tonalidades, sons e cheiros tão características desta época do ano como pela mensagem tão atual que me parece estar contida no texto. Apreciei muito os autores que à distância estavam tão à frente. Um beijinho. Ailime

    ResponderEliminar
  13. Peço desculpa, Paula, vou rectificar a minha ultima frase: "Aprecio muito os autores que à distância estavam tão à frente no tempo!." Bjs Ailime

    ResponderEliminar
  14. É um registo muito bom este sobre o Outono.
    Muitos desta terra não devem conhecer o “curriculum” e a obra que nos legou o Sr. Padre Luís, que no seu Livro escreveu o que era a ruralidade, o viver e o sentir das gentes da sua terra compilando tanto quanto possível todos os dados acerca de como se povoou e veio à vida a sua terra. Uma obra perfeita atendendo à época em que foi escrita (o Pe. Luís terminou o seu Livro, que chamou de simples apontamentos, em 1966).
    Na obra publicada, encontramos uma vasta lista de títulos e para mim este trecho é um verdadeiro hino ao Outono.
    Comparando com o que vemos por aí...este autor estava de facto uns furos à frente...
    E escolhi esta foto, pela mistura das cores que as folhas tomam antes de cair e sendo a foto de Forninhos mais linda é de se ver…

    ResponderEliminar
  15. Gostei dos porcos "com sua licença"!
    Absolutamente fidedigno e ainda atual.
    Beijo

    ResponderEliminar
  16. Tive o prazer de ler o livro do padre Luís Lemos, que me impressionou o modo como descreve a natureza real das nossas terras, ele foi, segundo a sua biografia oriundo de família modesta, talvez por isso ele escreveu com tanto sentimento.
    O outono visto nas nossas terras, é lindo pelo colorido das folhas, difícil de descrever, hoje vemos uma cor e amanhã já vemos outra, qual delas a mais curiosa. No entanto, sente-se que tudo está a ficar mais triste, os pássaros vão e as folhas caiem, é o fim do ciclo natural, mas ficamos com o celeiro e o pipo cheio, em março tudo volta. A VIDA É BELA, NÃO A ESTRAGAMOS.

    ResponderEliminar
  17. A vida é bela e eles (Outonos) passam rápido e não trazem só bonitas cores, trazem também a realidade. Iniciou-se mais um ano escolar e a nossa escola primária, um edifício de 2 salas, que na fachada da frente tem, abertos para a rua, jardim e espaço de recreios, onde todas as crianças corriam loucas de alegria está encerrada por não haver crianças suficientes para encher as salas!

    ResponderEliminar
  18. B O M D I A
    Hoje também é um bom dia para a nossa região; acordamos de manhã com chuva a cair.
    Para nós aqui, a chuva não é mau tempo, e hoje, é muito bem-vinda; as hortas os nabais, mas sobretudo a azeitona e a castanha, estavam a pedir.
    Apesar de já estarmos em tempo de vindimas, a chuva também faz mais bem do que mal às uvas, desde que não seja por muitos dias seguidos.
    O outono está com boas entradas

    ResponderEliminar
  19. Sim, o outono está com boas entradas, trouxe chuva e vento e já caíram muitas folhas douradas.

    ResponderEliminar
  20. Boa tarde, só agora consigo de estar presente no blog dos Forninhenses, gostei de ler o que por aqui foi dito, por isso aqui vou eu também deixar o meu contributo alusivo ao OUTONO.
    Na cidade e nos campos, depois das férias as pessoas regressam ao trabalho.
    No campo, colhem-se os últimos frutos, trabalha-se na faina da vindima.
    Na cidade e no campo, abrem as aulas: começa um novo ano escolar.
    Sentem-se os primeiros frios, sopram os primeiros ventos e caem as primeiras chuvas, as folhas tombam, até o cheiro do ar é diferente, como é bom sentir o cheiro de uma chuva acabada de cair na terra, enfim eis o OUTONO que chega.

    ResponderEliminar

Não guardes só para ti a tua opinião. Partilha-a com todos.