Esta foto penso que servirá o propósito deste 'post'.
Há alguns anos atrás (1957) o Sr. Pe. Luís Ferreira de Lemos deixou registado no seu livro «Penaverde sua Vila e Termo» que entre nós os trabalhos do campo eram de sol a sol, quer dizer do nascer ao pôr do sol, quer de inverno, quer de verão; e os salários variavam conforme a pessoa, a estação e as condições de alimentação.
Segundo ele, nas ceifas e malhas o trabalho incluía o comer e o salário era o dobro do de inverno. Quando a seco, duplicava sempre o salário.
No inverno o patrão dava três refeições: almoço, jantar e ceia, respectivamente às 8h00, 13h00 e 19h00 mais ou menos. Na primavera e verão ainda dava a merenda e piqueta. Esta consistia numa pequena refeição, geralmente uma fatia de pão com um naco de chouriça e um copo de vinho, aí por volta das 10h00. O direito à merenda começava em 25 de Março - "quem em Março não merenda aos defuntos se encomenda" e acabava em 8 de Setembro, data da festa da Natividade de Nossa Senhora.
Mas como o leitor pode ver, o que fica dito está desactualizado, embora a agricultura seja ainda aqui a principal fonte de riqueza e os produtos agrícolas a base da alimentação e em alguns trabalhos persistem ainda os instrumentos já usados pelos nossos avós há séculos, como a sachola, a enxada ou ancinho. Mas devo lembrar que o arado de pau e de ferro (charrua) foi substituído - há vários anos - pela charrua mecanizada. Já se lavra a tractor e no que diz respeito às regas usa-se o motor de rega, mangueiras e regadores de aspersão, em vez do cabaço, do picanço e da nora. Também já se ceifa e uga o centeio e o feno à máquina.
Devo também lembrar a produção da resina. Aqui abundam pinheirais e todos ou quase todos os proprietários exploravam dantes aquela fonte de receita. O preço de cada bica variava de ano para ano.
A ferida no pinheiro, era feita em Março; e no verão era a colha da resina que incubada em barris era transportada para fábricas nos arredores de Viseu. Hoje parte dos proprietários desfazem-se dos pinheiros, vendendo-os para madeira, mas a produção da resina era uma actividade que trazia proveito para todos. Ganhava o proprietário, ganhava o contratante da exploração e o pessoal contratado para a colha e, deste modo, todo o produto da exploração ficava na aldeia. Era assim até 90.
Todo este arrazoado, perguntará o leitor, para quê?
Simplesmente para mostrar o que era a ruralidade, o que era a vida nas aldeias da nossa Beira.
Foto, piqueta, cortesia do serip413.
Sim, sim, era assim a agricultura na nossa Beira ate aos anos 60 do seculo XX. Vida dura, mas que povoou as nossas terras, em tempos em que nos contentavamos com tao pouco!
ResponderEliminarContinuem, que necessitamos todos, destes vossos escritos.
Um abraco de amizade.
Diz bem: povoou as nossas terras. Mas esses homens e mulheres eram pagos miseravelmente e o desejo legítimo de melhorar a vida levou muita gente para fora. Então entrou-se num círculo vicioso: o baixo nível de vida provocou a falta de mão de obra e tal fez muita falta à lavoura.
EliminarO Sr. Pe. Luís escreve que em Penaverde a geira (dia de um lavrador a trabalhar com bois) custa em 1957 150$00. Não sei se era assim em Forninhos. A nossa monografia é de carácter tão restrito que sobre o assunto nada diz. Também por isso ousei publicar este texto que relata o que era a vida dos nossos antepassados e vamos continuar, pois!
Um abraço amigo e bem-haja por comentar.
Belo retrato do que era naquele tempo.Mudou tanto, penso lá também! beijos,lindo fim de semana,chica
ResponderEliminarAs coisas mudaram muito, chica, principalmente quando a mão de obra encareceu originada pela partida de muita mão de obra para a emigração e para a migração, a agricultura deixou de ser rentável nos moldes em que era feita desde épocas muito antigas.
ResponderEliminarMesmo o modo de agir das pessoas que ficaram é diferente. Antes, lutavam pela sobrevivência, hoje lutam pelo bem-estar. Bjos e bom fds.
Bom dia.
ResponderEliminarEsta é mais uma das mensagens que demonstram o que era a vida na nossa terra.
Trabalhar a terra para o sustento das famílias, algumas bem se pode dizer numerosas, mas era da terra que se podia tirar o pão Nosso de cada dia.
Esta foto, como bem ela demonstra, calhou numa linda e fresca manhã de Agosto, altura da arranca das batatas.
Mas como não podia ser de outra maneira, aqui estão as pessoas na sua já merecida piqueta; Bom apetite.
Esta e outras tarefas que em Forninhos todos bem conhecemos, sempre me deram prazer, e ainda hoje gosto.
Bom fs
Era mesmo, era da terra que saía o pão de cada dia, para o rico ou para o pobre!
EliminarObrigada serip pela foto. Lembro-me muito bem do teu pai e de ter participado com ele em algumas piquetas da arranca das batatas do meu, isto no tempo em que a produção de batatas em Forninhos e arredores até chegou a ser importante na economia local. Onde houvesse água para regar, semeava-se leiras e leiras de batatas para vender e juntar-se assim alguns escudos. Hoje semeia-se batata para comer todo o ano em casa e o que sobra vai para os animais, pois segundo diz o nosso sábio povo, aquilo que pagam ao agricultor por um kilo de batatas nem sequer dá “para o pitrólio”.
Nunca tinha ouvido a palavra "piqueta"!..:-)
ResponderEliminarEmbora o sector agrícola ainda seja imprescindível, e a base da alimentação das pessoas que dela vivem, tanta coisa mudou, e como em quase todas as mudanças, com aspectos positivos e negativos. No entanto antigamente os trabalhadores agrícolas eram autênticos "servos da gleba"; trabalha-se do nascer ao pôr do sol praticamente apenas para comer, e as pessoas tiveram de procurar melhor vida.
Gostei de ler sobre o que mudou nessa zona.
xx
A piqueta é, como fica escrito, uma pequena refeição feita no campo a meio da manhã.
EliminarProcurava-se um sítio, mais ou menos, direito, seco e abrigado, onde não houvesse formigas e estendia-se no chão a toalha que tapava a cesta. Cada um se sentava como podia: uns no cabo da enxada, outros numa pedra tirada de um muro, outros em cima de uma saca ou em cima de um casaco velho…todos se acomodavam numa circunstância que lhes era habitual.
Ainda hoje pelas vindimas, que é quando ainda se junta familiares e amigos se serve a piqueta.
Estas refeições que se perderam, agora até estão na moda, só que chamam-lhes "picnics".
"Capitais e Trabalho".
ResponderEliminarA Paula dá-nos o privilégio de trazer a todos nós, raízes profundas de vivências mais antigas que nos obrigam a curvar em respeito perante esses entes queridos. Quando assim é, fica a dificuldade em comentar face à destrinça da emoção e a realidade dura e crua.
Capital sob duas vertentes. O ganho do trabalhador de quem andava "ao dia" para o sustento familiar em proveito próprio e do "dono" que os procurava na confiança da sabedoria e esforço, A gosto, face à abundância da procura.
A outra, com a emigração, a escassez de trabalhadores rurais, consequentemente mais caros embora sábios, mas menos produtivos face ao avançar da idade a que por vezes a enxada ia recusando obediência, mesmo que em remedeio a manga da camisola interior, fosse limpando o suor e o cotovelo mais se encostasse ao cabo da enxada, descanso para um cigarro "Definitivos" e um copo de vinho.
Daqueles que tinham juntas de vacas (um privilégio com direito a estatuto de família farta) para trabalho próprio e tendo as suas próprias sementeiras feitas, um ou outro lá ia dando uns dias à jeira, por exemplo ao sr. Luisinho ganhando à época referida cerca de 50 escudos em Forninhos.
Outros, acarretavam barris de resina ainda noite cerrada dos pinhais envolventes da aldeia, mais caro o carreto por mais difícil e arriscado para as pessoas, animais e carro de bois.
E os que andavam "ao dia"?
Esperavam que em cada ciclo das culturas, alguém os "chamasse", quase sempre os mesmos. Quase todos a "seco", isto é, sem direito a comida, por serem melhor pagos, até por os amigos, a maior parte, ia em retribuição à arranca das batatas, ceifas e vindimas. Hoje vens tu, amanhã vou eu.
Mas mesmo nos lavradores um pouco mais abastados, os que andavam "a seco", sempre comiam uma bucha e no fim do dia, levavam sempre para casa além do dinheiro contratado, um garrafão de dois litros e uma lembrança para casa.
Nas casas ricas, gente de posses e à maneira empresarial moderna, deixavam o trabalho vigiado pelo capataz e o suor; muito. Tinham de andar depressa a "mata cavalos" E uma nota de vinte escudos - a folha de alface - a verdinha que tanto dava jeito, valia um dia de trabalho. Não havia alternativa, mesmo para aqueles que de renda traziam alguma coisa de outrém, tinham obrigação, de boca contratualmente assumida de dar dias de cava, enxada em riste em prol do "senhor feudal", caso do sr. Amaral.
Era se queriam...
E assim se fizeram riquezas e se moldou o carácter genuino de uma aldeia, cavado a pulso, humilde mas muito honroso.
Nem sei o que te responder...
EliminarTalvez seja um dos mais belos comentários feitos por ti. Todos eles são bons, mas esse realmente ficou muito, muito bom.
Escrever sobre o que foi a vida dos nossos antepassados é relembrar o quanto trabalharam, o quanto suaram e até o quanto foram rebaixados.
Falas do Sr. Amaral e do garrafão de dois litros que alguns levavam para casa.
Lembrei-me que o Sr. Amaral era o único patrão que tocava uma corneta para iniciar os trabalhos e na hora do jantar (hoje é o almoço) tocava novamente a corneta para um familiar do seu trabalhador ir buscar ao "Armazém" água pé. Sabias?
Ainda hoje há uma expressão que se ouve na nossa terra, que é: “eu nunca precisei andar ao toque da corneta”, cuja origem creio vem deste tempo. Havia um certo sabor irónico por parte de quem queria “fazer pouco”, rebaixar, gozar, os que andavam ao toque da corneta do Sr. Amaral.
Coisa horrível de se dizer, mas dizia-se.
O trabalho na lavoura não é facil, podemos ver na foto até crianças junto aos adultos, aqui isso era normal era parte da educação , os pais ensinarem os filhos á trabalharem , hoje em dia é crime,tenho comigo que o trabalho não mata ninguém , vejo como a educação daquela época era melhor , não concordo com o trabalho infantil , mas ensinar a cuidar dos irmãos , lavar uma louça ,só ajuda nossas crianças a serem mais responsáveis.
ResponderEliminarhttp://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
É verdade, assim à primeira vista parece que estamos perante trabalhos pesados praticados por crianças de tão tenra idade, pura ilusão!
EliminarDiz o ditado que "de pequenino é que se torce o pepino".
Eu fui habituada de tenra idade a fazer algumas tarefas, até mesmo na escola primária as crianças (eu inclusive) apanhavam a azeitona, cuidavam da horta, regavam o jardim, varriam a sala de aula e recreios, iam à mata apanhar pinhas, caruma e a lenha de pinheiros secos para acender o fogareiro no inverno, etc... fazia-se isto tudo e era muito divertido :-)
Hoje, quase de certeza, seria instaurado um processo disciplinar aos professores!
Olá Paula,
ResponderEliminarUma boa ideia contar o quotidiano das gentes da aldeia, até há pouco mais de meio-século atrás. Isto, para que os mais novos tenham a perceção de como foram difíceis os tempos dos seus pais e avós. Pela minha idade, assisti a tudo isso e ainda hoje me interrogo de como as pessoas, mesmo assim, viviam felizes com os 5, 6, 7 e mais filhos. E mais: esses "filhos", hoje com 60/70 anos, quase todos venceram, tendo uma vida digna. Os tempos mudaram! Mas há uma coisa que nos faz pensar: Como será o futuro dos nossos jovens de hoje?...
Pois é, amanhã como será?
ResponderEliminarHoje fala-se muito na falta de emprego e na emigração, mas acho que a diferença do "ontem & hoje" é que agora cá procura-se um emprego que dê para ganhar a vida à sombra, enquanto a geração do Sr. Tomaz procurava qualquer trabalho.
Mas em relação às partidas já tudo se assemelha às antigas partidas. O regime político em que se vive leva a que muitos optem pela emigração, embora esta noutro tempo nem sequer fosse livre.
Quem me dera que esses filhos, hoje com 60/70 anos, que todos os dias entram neste blog e que partem sem nada dizer (porque se envergonham das suas origens ou então receiam os erros de português), pudessem contar-nos como era o seu quotidiano na aldeia, em vez de ficarem "na sombra".
Fala-se acima do sr. Amaral.
ResponderEliminarA "Casa do Amaral" era sem dúvida a mais empregadora e que mais terrenos arrendava na nossa terra. Não resisto em contar um episódio pessoal que ainda passados tantos anos recordo de forma hilariante.
Os miúdos, rapazes e raparigas, alguns ainda sem idade escolar, tinham o hábito anual de fazer a campanha da apanha das avelãs, em pleno verão, quase logo após as vindimas.
A "Casa" pagava à miudagem 5$00 (cinco escudos) ao dia. Aquilo ia quase tudo, formando um autêntico exército de minorcas que inundava as vinhas circundadas pelas aveleiras, de gritos e risos.
Um dia, devia andar pelos meus seis anos, alistei-me no "exército", que raios, afinal os amigos andavam lá todos e os meus pai lá me deixaram ir, até porque também lá andava a minha irmã mais velha.
Partimos todos galhofeiros, mais de duas dúzias, em direcção à vinha da Pardameda, que fica a meio caminho da Senhora dos Verdes.
Adorava avelãs e durante toda a manhã, eram mais as que iam para a barriga do que para o cesto, ao ponto de não caberem mais. Toca o apito para o almoço e ala...ir a casa almoçar e voltar. Assim foi e meia dúzia de passos fui ficando para trás, até os perder de vista. Agarrado à barriga e o que vale é que era a descer, mas ao chegar ao Porto, já não dava; encostei-me ao muro da courela da minha mãe e por lá fiquei, sabe Deus como!
Quando depois do almoço os outros regressam para a faina, lá estava eu, a rebolar-me com dores, suspensórios descaídos e sabe-se lá que mais...
Que vergonha!
Ganhei meio dia e se muitos fossem como eu, o patrão coitado, falia.
Foi-me bem feito, 2$50 (vinte e cinco tostões) por uma dor de barriga.
Nunca mais lá apareci!
Estou a rir-me deveras ao imaginar esses momentos, principalmente aquele em que estás de suspensórios descaídos hehehe
EliminarMas lembra-te que 2$50 noutro tempo dava para comprar 2 requeijões!
Quem emprestava dinheiro a juros também ajudava a economia.
ResponderEliminarAinda sobre a "Casa do Sr. Amaral" há que dizer que muita gente da terra e ranchos de "gente de fora" para esta casa trabalhou, sempre com ordenados baixinhos, como era norma nessa época. Mas era uma casa que dava trabalho e os terrenos cultivados pela "Casa" geravam boa parte da riqueza da aldeia e os terrenos que dava a cultivar, de renda, eram a base alimentar de muitas famílias.
É sabido que nessa época os ordenados eram baixos; no saibro das vinhas ganhavam os homens 8$00/9$00 ao dia, mas para mim o mais injusto era o pagamento em alqueires, que os arrendatários tinham de lhe pagar pelo arrendamento das terras de cultivo.
Por falar em alqueires, na nossa terra pelo seu trabalho também os barbeiros recebiam, anualmente, de cada freguês de barba e cabelo um alqueire de milho e dos fregueses só de cabelo, meio alqueire. Normalmente os fregueses que necessitavam só de corte de cabelo eram as crianças e os rapazotes até atingirem a idade de terem barba.
Hoje até soa estranho que o cereal fosse moeda de troca. Mas naquele tempo até a sustentação do pároco, para garantir o serviço religioso, era paga em alqueires!
O nível de vida de muita gente só melhorou (e muito) na época do volfrâmio, tanto para aqueles que tinham minério nas suas propriedades como para os trabalhadores que eram muito bem remunerados. Tendo em conta os salários da época os trabalhadores do minério eram muito bem pagos.
Também a extracção da resina foi uma actividade importante para muitos jovens, pois ganhavam mais num dia na colha, do que dar um "dia para fora" ou a trabalhar na construção civil, mas muitos, homens e mulheres, acabaram por emigrar.
Um trabalho valoroso desses agricoltores! Hoje a tecnologia facilita,com certeza! Mas ainda é um trabalho extenuante e que merece todo nosso respeito e gratidão. bjs e ótimo final de semana,
ResponderEliminarPorque as novas tecnologias e uma recente publicação estão a ofuscar o passado da minha terra natal (passado recente, entenda-se) decidi-me por este 'post' que é também uma homenagem ao trabalho de todos os agricultores que na sua aldeia fizeram o seu mundo.
EliminarBjs e bom fds.
Boa noite Paula, adorei o seu post que me levou anos atrás a recordar a vida de meus avós! Vida dura, mas como já referimos eles eram muito felizes! Tenho saudades, muitas saudades desses tempos, os meus melhores tempos!
ResponderEliminarAinda falando da resina, a minha aldeia e arredores era rodeada (menos do lado que dá para o Tejo), por imensos pinhais, uma imensa floresta dizimada pelos tenebrosos incêndios de há alguns anos atrás! Hoje apenas restam as cinzas e alguns pinheiros e eucaliptos:(( que começam a dar sinais de vida!
Sobre o tronco da árvore e raízes utilizo ali uma metáfora, como tantas vezes!
Uma homenagem simples (a minha) a alguém que partiu para o Pai e deixando muitas raízes, muitos rebentos e se interessou profundamente pelas famílias numerosas do nosso País.! Um beijinho, Paula e muito obrigada pelas suas palavras. Bom fim de semana para si e Xico, a quem agradeço o poema;))! Ailime
Em Forninhos onde outrora cresceu o milho, o feijão, o centeio, hoje cresce mato ou então matas de eucaliptos, a meu ver, um erro histórico do presente, mas o homem sempre foi o maior inimigo da natureza...
EliminarDa desgraça dos incêndios. Infelizmente é assim todos os anos, destroem uma grande parte de pinheiros bravos. Dizem que grande parte deles são postos pelos madeireiros...mas isso são outros negócios...
Oxalá alguém se dedique a esta ocupação que complementava a agricultura de subsistência e voltem a ser sangrados pinheiros na nossa aldeia.
Beijinhos e cont. de bom fs.
Este tema merece quanto a mim, respeito e profunda reflexão, não só pela nossa aldeia, mas de outras tantas similares deste país.
ResponderEliminarPor vezes e ouvindo de quem ainda se lembra de ouvir contar e em parte viver, somos transportados quase ao tempo da escravatura. Uns mais submissos, outros mais audazes, tentando não se acomodar na "simples" sobrevivência.
A concentração da riqueza, pouco ia além dos cinco dedos de uma mão, a mesma que dava e pagava ( o que queria...) e ao mesmo tempo, emprestava dinheiro aos mais ousados, desde que tais dessem garantias.
Garantias que passavam pelo pagamento de juros estipulados segundo o perfil do contraente e que à partida garantisse o retorno do capital e respectivos juros, que oitenta anos atrás, mediavam entre 7% a 10% ao ano.
Para outros também havia crédito desde que "arriscassem" os parcos haveres - terrenos e/ou casa - "lavrado em papel" e assinado com a tinta pintada no dedo, dado que além de ser analfabeto, a sua palavra julgada, pouco valeria.
Ficavam em vez de uma, entregues em duas mãos, a de quem emprestava e da do tempo, por vezes inclemente e recheado de geadas e pragas que num instante matava os sonhos de independência e os trazia de retorno a voltar a ser trabalhador "ao dia".
Alguns fizeram vida, mas muitos ouve que mais empobrecidos ainda ficaram .
A miséria de uns foi o rechear e engordar as carteira de outros.
Tal como ainda hoje.
Alguns anos mais tarde, a partir da década de sessenta, partiu grande parte em busca de novos patrões que falavam línguas estranhas em países quase desconhecidos, deixando os "mandões" a ver o começo do definhar dos seus impérios por falta de mão de obra.
E a vingança veio em poucos anos, fria mas orgulhosa, quando os antigos "servos", humilhados, viam a mesma mão de outrora, agora estendida, oferecendo a venda quase ao desbarato das terras que eles haviam suado e sofrido.
Sem Juros!
As consideradas famílias ricas, quando a mão de obra encareceu, originada pela partida de muita mão de obra para a emigração, deveriam ter enveredado por uma agricultura moderna e mecanizada, afinal se tinham dinheiro para emprestar a juros (7% com documento e 10% sem documento) bem podiam comprar e sustentar novos engenhos!
EliminarTinham lavoura farta, todos; mas outros tinham lagares de azeite e lagares de vinho de grande nomeada!
Caso tivesse sido esse o desejo, não estaríamos talvez a falar aqui da sua decadência. Mas a verdade é que perderam tudo e começaram então a aparecer os novos ricos que, diga-se, pouco ou nada fazem para o desenvolvimento desta terra!
Excelente recordação....
ResponderEliminarCumprimentos
Sim, uma recordação que faz os mais velhos recuar no tempo e mostra aos mais novos como a lavoura nesses tempo era difícil e muito ingrata.
EliminarSaudações forninhenses.
Oi Paula,
ResponderEliminara foto representa muito bem esse post, que conta um pouco a saga destes trabalhadores, foi uma época de muito trabalho e pouco salário, para poder dar o minimo sustento à família, por aqui era assim também, muitos deixaram suas cidades em busca de algo melhor, pois lá o que ganhavam só dava pra comer.
Beijos!!!
Também acho, Fátima. Esta foto representa não só a piqueta, ela mostra-nos um pouco do que era a vida dos nossos progenitores e o quanto trabalharam para ter a casa com o conforto necessário, principalmente para que os filhos não passassem fome e lhes dar a melhor educação.
ResponderEliminarA vida mudou para melhor, é certo, mas esta gente antiga, a maioria já nos deixou, faz cá muita falta e não estou a falar da lavoura, claro está!
Beijos**
Saí de Forninhos muito nova, ir para o campo trabalhar nunca foi o meu forte mas lá tinha que ir senão trabalhava a chibata, quando ia estava sempre desejosa que chegasse a hora da piqueta ou da merenda, além de pararmos aquele bocadinho sempre dava para descansar alguma coisa e a comida ao ar livre sabia tão bem.
ResponderEliminarA piqueta e a merenda feitas no campo eram refeições que todos gostávamos, quando chegava a hora, assim que víamos a cesta, ficávamos logo mais animados. É até bom aqui recordar que Zeca Afonso já cantava:
ResponderEliminarMondadeiras do meu milho
Mondai o meu milho bem
Não olhais para o caminho
Que a merenda já lá vem.
Este mesmo que cantou sobre a serra da Lapa, afinal tão próxima e parecida com a nossa terra e faz lembrar o nosso S. Pedro:
ResponderEliminarADEUS SERRA DA LAPA
Zeca Afonso
Adeus ó serra da Lapa
Adeus que te vou deixar
O minha terra ó minha enxada
Nao faço gosto em voltar
Companheiros de aventura
Vinde comigo viajar
A noite é negra a vida é dura
Nao faço gosto em voltar...