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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Vamos contar uma História

Como é por todos sabido, as aldeias como a de Forninhos, estão cheias de histórias pitorescas, alguma ouvidas dos antepassados, outras vividas pelos mais antigos e mesmo pelos mais jovens.
E como estas histórias também fazem parte da vida, convido os forninhenses residentes e todos aqueles que vivem fora, a nos acompanhar e ir ao fundo do baú das memórias e nos traga aqui aquela que tem estado lá guardada.
Eu começo com uma que, não é antiga nem moderna, mas foi tal e qual como a conto:

“Certo dia, perto do início de época, encontrei-me com um amigo que me perguntou para onde ia na abertura da caça, disse-lhe que não tinha nada programado mas logo se via. Perguntou-me se não queria abrir a caça com ele em Forninhos, disse-lhe que sim. Mas como? Se nunca o vi caçar e, que eu saiba, nem sequer tinha arma? Disse-me que começava neste ano e eu acreditei.
Então lá combinamos, e no 1.º domingo de Outubro, pelas sete horas, lá estava eu sentado nas escadas da casa do meu amigo, todo equipado à espera que o “novo” caçador se levantasse. Como o tempo passava e ele não aparecia, resolvi bater à porta, respondeu-me que esperasse mais um pouco que já vinha, esperei.
Passado algum tempo apareceu na porta de entrada com uma broa numa mão e o presunto na outra e nada de arma, nem roupa de caça, ao perguntar-lhe que era aquilo, respondeu:
- Ó homem tenha juízo, deixe lá os coelhos em paz e vamos mas é para a adega matar o bicho.
Foi quando percebi que este amigo, (já falecido) não tinha nem nunca teve a “maluqueira” da caça e assim, a nossa caça de abertura, foi beber uns copos e jogar o chincalhão, um dos entretimentos de Forninhos nos Domingos.”

17 comentários:

  1. São muitas as histórias que as nossas gentes contam e que nem sempre são de influência mourisca, mas histórias de uma vida rural.
    Recordo quando garota ouvir histórias de Espíritos e de Feiticeiras. Quem é que nunca ouviu a história da galinha/feiticeira que levou uma pancada numa asa e ao outro dia apareceu fulana com um braço partido?

    Do baú não escolhi uma história de almas do outro mundo ou de feiticeiras, mas uma história real contada pela minha mãe (Ema):

    "Havia em Forninhos um senhor, de nome Porfírio, que por ter estado na América tinha por hábito dizer orait e assim ficou com a alcunha “Orait”.
    Tinha a minha mãe cerca de 17/18 anos e com mais duas amigas (a Conceição, filha do meu tio Abel e a Celeste, filha do meu tio Álvaro) foram as 3 regar a Santa Maria umas couves, pertença dos pais da Celeste. Quando passaram junto à casita do tio “Orait” (hoje pertença do tio Porfírio Forra), aquele Sr., que andava por ali, disse-lhes se lhe traziam uns regadores de água para ele regar umas coisas dele, que depois lhes dava uma coisa. Assim, fizeram! No regresso, cada uma trouxe 1 regador com água. Separadamente, mandou cada uma entrar na casita para lhe dar a tal coisa. Mandou abrir a mão e fechar os olhos e recomendou que não a mostrasse às outras. Depois deste “ritual” e já cada uma com a sua coisa, despediram-se. Pelo volume, pensaram que seria uma noz. Quando desciam a ladeira resolveram abrir a mão e a coisa era uma bogalha e a risada foi geral.
    De certeza que se recordarão de um dizer muito comum na nossa aldeia, que é: “uma coisa, é uma bogalha”.

    Há de certeza muitas histórias que davam para um livro. Seria interessante a contribuição de todos para as divulgar.

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  2. Certo dia, desloquei-me com um amigo á taberna do ti Zé coelho, que ainda funcionava nas instalações do sr. José Matela, onde fomos beber um copo como de costume sempre que me deslocava a forninhos, só ou com amigos.
    Quando reclamamos a qualidade do vinho, aliás, como o fazíamos sempre por brincadeira, logo um dos presentes, o ti António Casão, disse que vinho como o dele não havia em forninhos, e para o demonstrar, convidava-nos para a ir á adega dele para o provarmos, mas, claro que não podíamos ir só dois ou três, ou vamos todos ou não vai ninguém, e assim o ti Zé coelho teve de fechar a tasca e lá fomos todos, não me lembro quantos.
    Um naco de presunto e umas azeitonas nesta adega, claro que o vinho corria melhor e abria mais apetite, e vai daí, o Zé coelho diz que o melhor tinha-o na adega, por isso tínhamos de lá ir também, e fomos, logo outro diz também, que o dele a que é melhor, e assim corremos as adegas de todos para “provar” o seu vinho, e a tasca já não voltou a abrir nesse dia, porque entretanto, adivinhem o que se passou.

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  3. Veio-me à memória um episódio de um dia para a história da minha vida, de uma altura em que muitas famílias tinham carros de bois. Esta minha história serve também para recordar a vida de quem a viveu connosco nesta comunidade de Forninhos:

    Há uns bons atrás quando passava um carro de bois, as crianças aproveitarem para apanhar uma boleia. Na Lameira, quando passava o tio Casimiro, o tio Alfredo “farrió”, o tio Cardoso, o tio Luís “pissoto”, etc…, fazíamos isso muitas vezes, e lá íamos felizes e contentes até à Oliveirinha. Depois voltávamos para trás, claro, a “penantes”.
    Um dia, andava eu, os meus irmãos e a minha prima Cila lá para os lados da Estracada, quando passa o tio Alfredo “farrió” com o seu carro de bois e nós logo aproveitamos a boleia até ao povo. Trazia no carro, como era costume, molhos de comida para os animais e também alguns baldes de lata (baldes da tinta), embora não consiga precisar o tempo, penso que terá sido por altura das escanadas do milho. Antes de chegar ao ribeiro dos moncões, antes da ponte, o tio Alfredo parou para falar,já não me lembro com quem (não sei se o Sr. Joaquim “sapateiro” ou o tio Guerrilha), mas aponto para o Sr. Joaquim, pois recordo-me do carro parado ali junto ao terreno dele, lado esquerdo, sentido Estracada-Povo. O meu irmão David que tinha a mania que era baterista de um conjunto musical (lol) começou a bater nos baldes/caldeiros e todos logo o acompanhamos, certo é que as vacas dispararam a correr, a todo o gás, e nós em cima do carro! Foram momentos de pânico e de aflição, mais quando nos apercebemos que elas tomavam a direcção do ribeiro, hoje no mesmo local onde está o tanque dos moncões. A sorte foi o Quiel e o Alcides, que por ali andavam, aperceberem-se e impedirem que as vacas tomassem aquela direcção, enxotando-as, tendo conseguido que elas seguissem para o lado esquerdo. Depois um deles, não me recordo se foi o Alcides ou o Quiel foi pelo caminho da casa do tio Guerrilha e conseguiu travá-las mais ou menos aí. Também valeu a calma e coragem da minha prima Cila, que sugeriu que não gritássemos para que os animais não se assustassem ainda mais! Penso que a Cila e o meu irmão Luís eram os mais corajosos, mas éramos 4 crianças, entre os 5 e os 10/11 anos, máximo.

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  4. So lhe posso dizer que os coelhos agradeceram e voces tivestes um dia bem passado.
    Foi jogo que nunca consegui aprender o "chincalhao" ou "truque" mas que gostava de saber.

    Um abraco de amizade dalgodrense.

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  5. Nao sei se isto se passou em Forninhos, ou em outra qualquer das nossas aldeias, mas podia muito bem ter sido:

    Havia um homen que gostava do seu copito e, o seu "matabicho" todos os dias era passar pela taberna e beber um enorme copo de vinho branco.
    Um certo dia o taberneiro enganou-se no garrafao e em vez de lhe dar vinho deu-lhe aguardente. O sugeito levou-o a boca provou, parou um pouco e a seguir bebeu-o sem parar.
    Assim que ele foi embora o taberneiro, deu pelo erro e realizou, que lhe tinha dado aguardente em vez de vinho.
    No proximo dia quando o nosso amigo voltou para o seu "matabicho", diz-lhe o taberneiro; entao voce ontem nao deu conta que lhe dei aguardente em vez de vinho? Respondeu o cavalheiro; eu bem me pareceu que era um "vinhito" mais forte!!!

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  6. Ha varios anos, houve uma altura em que os lobos andavam esfomeados, devido ao rigor do inverno e falta de alimentos.
    Isso levava a que chegassem ao ponto de entrar na n/aldeia, avançando sorrateiramente pela densa camada de neve, atraidos pelo cheiro da matança recente dos porcos.
    Recordo com pena, que tinha 7 anos e ofereceram-me (penso que o Samuel Cavaca) um cao que os lobos foram buscar ao patio na vespera da Pascoa e comeram.
    Foi mais ou menos nessa altura, que os caes começaram a usar aquelas coleiras pontiagudas, para evitar o ataque dos lobos, que "ferravam" o pescoço.
    Recordo da varanda de casa dos meus pais, noite cerrada, ve-los, olhos que nem farois, na mata da Estrecada; recordo o Tio Domingos, subir a ladeira da mata, com o candeeiro a petroleo, intrepido, ir ver se o rebanho estava bem; recordo o "bater das castanholas", mesmo por baixo de minha casa e, os cabelos eriçarem.
    Houve uma noite em que estavamos na lareira e as vacas na loja, por debaixo de casa, faziam muito barulho.
    Uma delas estrava prenha, quase no fim do tempo e a minha mae, sem receio levantou-se e foi ver o que se passava.
    Cautelosamente, no patio, pegou em duas cavacas, para enxotar as vacas, afim de poder abrir a porta da loja.
    Ao sair do patio, viu sob o pouco luar, dois vultos junto a palheira encostada aos tanques dos Mancoes.
    Pergunta: Quem esta ai? quem esta que fale senao atiro.
    Na falta de resposta atirou com toda a força as cavacas em direcçao aos vultos, que celeremente saltaram e fugiram.
    Foi ver as vacas, estavam bem, e quando ia para entrar em casa, sente uns arrepios que quase a impediam de andar.
    Na manha seguinte foi ver o local e la estavam as enormes pegadas dos lobos.
    Um abraço

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  7. Um dia já noite dentro estava eu, o meu irmão Luis, os meus primos Daniel e Ze e o tio Domingos no café do sr Virgilio e o tio Domingos comprou um queijo e fomos prà adega dele comê-lo, mas como não tinhamos pão, toca do zé ir à padaria de Dornelas ,isto já eram umas 4 da manha e claro depois de comer não queriamos cama.Decidimos ir à disco a Viseu, à THE DAY AFTER,mas dissemos ao tio Domingos que iamos a Espanha e ele ficou todo contente e quis ir tambem e ai vamos nós. Na ip5 ao chegarmos à mobil havia umas luzes amarelas e eu disse:
    - tio Domingo baixe a cabeça porque estamos a chegar à fronteira lol…e là chegamos nós, não a Espanha mas a Viseu e como aquilo estava a fechar, fomos logo ao bar beber um copo.Mas o tio Domingos pensava que era Espanha e com gestos indicava com os dedos que queria uma mistura e nós dissemos-lhe:
    - fale português porque o barman é português.
    Depois quando viu o fumo da disco dizia:
    - Já anda aqui o fogo.
    e quando viu uns namorados a beijar-se, ele tinha o cabelo cumprido (era a moda naquele tempo lol), disse:
    - …...da-se,duas xicas a beijarem-se?
    Como aquilo estava a fechar, saimos de là pra virmos embora.
    -Ao chegarmos ao carro diz o tio Domingos:
    - esperem
    - tenho que mijar em Espanha
    e quando chegamos a Forninhos ainda disse:
    - prà proxima vez é melhor irmos a madril (que era Madrid).
    O tio Domingos era um bom homem e que deixou saudades.

    Um abraço pra todos

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  8. Certo dia, aí por meados da década de 60, viajava de boleia num carro de distribuição de peixe em direcção a Dornelas, e ao passar por Forninhos por volta das 4 horas da manhã, encontramos junto á fonte do lugar, 4 ou 5 homens armados de forquilhas, hoje não sei quem eram, porque nessa altura não conhecia quase ninguém nesta terra. Estes homens estavam armados de forquilhas mas aparentemente calmos, ao perguntarmos o que se passava, informaram-nos que nos últimos dias os cães da aldeia se juntavam e a ladrar perseguiam qualquer coisa invisível, podia muito bem ser um lobisomem.
    Então, ali estavam para resolver o problema, mas nesse dia ainda não tinha aparecido, e possivelmente já não vinha devido ao adiantado da hora.
    Como depois passou bastante tempo sem voltar a forninhos, nunca cheguei a saber se o mistério chegou a ser desvendado ou não.

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  9. Conheci o tio Domingos, não só como um bom homem, mas também como um homem bom, gostava do seu copito é verdade, a vida para ele também não foi fácil, assim como para quase todos os da sua geração.
    É pena que, por vezes a juventude não compreendam que estes homens praticamente nunca saíram da sua terra a não ser para ir a Fátima em alguma excursão de ocasião, não saibam o que é uma discoteca ou uma fronteira a não ser os marcos que delimitam os seus terrenos.
    Homens como o tio Domingos, que Deus tenha em descaso, facilmente caiem nestas artimanhas dos jovens que tiveram as facilidades da vida que homens como este não tiveram, e às vezes confundem limitações obviamente justificadas com burrice.
    Um abraço de amizade para todos os que nos lêem.

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  10. Lembro que um dia na época das cerejas fui eu, a Guida e a Dorinda a santa maria ás cerejas e o tio Marcolino pitiço tinha lá uns morangos coisa muiro rara nessa altura e tambem não havia tanta fartura como agora e quando vinhamos das cerejas decidimos que iamos então aos morangos. Só que a tia Alzira, mulher dele,começou a gritar para fugirmos e nós ó pernas,nem os morangos provamos.
    Quando chegamos a casa já os nossos pais sabiam e eu e a Guia levamos uma grande tareia.A Dorinda lá se safou pois os pais dela não lhe bateram.
    Mais tarde viemos a saber que o tio Marcolino andava a guardar os morangos porque já lhos andavam a roubar.
    Só sei que pagou o justo pelo pecador.

    Estou farta de me rir com a história do David,só quem o conhece sabe que as histórias contadas por ele é só para rir.

    bom fim de semana a todos

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  11. Como "recordar, é viver", é sempre bom recordar, histórias e pessoas que fizeram parte das nossas vidas, e que foram de certa forma importantes, não só para nós, mas também para a nossa aldeia. Pessoas como o tio Domingos, o tio Alfredo e outros, farão sempre parte da história humana de Forninhos.
    Dentro de uma semana estamos na época dos Santos/Fieis, em que recordamos as nossas gentes, grandes homens e mulheres que fizeram parte do passado e que contribuíram em parte no desenvolvimento de Forninhos. Algumas, conheci-as desde criança outras como o Sr. Joaquim Beleza não tive o prazer de conhecer.

    Em tempos li um livro onde era referido o “Beleza de Forninhos”, Joaquim Beleza de seu nome. Era pedreiro-canteiro. Transcrevo resumidamente uma parte respeitante a este homem da nossa terra:

    “Olhos verdes, vinagrentos do pó das pedras…Parecia rufião, tudo e todos ameaçando por nada, mas era a brincar. Num dia de Páscoa, à tardinha andava ainda no Prado. Chegou-se aos do folar, de chapéu na mão:
    - Ó senhor Padre Joaquim, venda-me um bolo de azeite. Andei por aqui todo o dia e queria levar alguma coisa para a mulher e p´rós filhos.
    …o senhor reitor mandou-lhe que pusesse o chapéu.
    - Nada não, senhor Pe. Joaquim, que o respeitinho é muito lindo para o Nosso Senhor e mais para quem o merece…
    O Beleza não estava bêbado…apenas meio pingado.
    O Sr. Padre Joaquim, sabendo que o pó das pedras não era suficiente para fazer bolos de azeite, mandou que lho dessem.".

    Gostava de um dia destes, fazer um post com o título "Pernalidades Marcantes", dedicado ao “Beleza de Forninhos”. A história deste homem já foi escrita/vivida há uns bons anos, mas gostava muito de num próximo "serão no teclado" lhe fazer uma homenagem para que fique ao alcance de todos conhecer este e outras personalidades marcantes da nossa terra.
    Se alguém tiver uma fotografia do Sr. Joaquim Beleza, será que ma pode fazer chegar?

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  12. Meu sogro, o tio Armando Castanheira, também era uma figura típica de forninhos, também bebia os seus copitos, mas nunca vi homem com os copos, que fosse tão pacífico como era este.
    Eu gostava muito de conversar com ele quando estava mesmo “tocado”, falava muito sério e “prendia” as pessoas com o seu vocabulário.
    Num certo dia de inverno, fiz-lhe uma visita em forninhos como era meu hábito. E quando estávamos sentados á lareira, a minha sogra não deixava de o recriminar com aquela lengalenga próprio das mulheres daquele tempo.
    Às tantas meu sogro, depois de tantoouvir, virou-se para mim com aquele ar muito sério que o caracterizava quando assim estava e disse:
    - O GENRO! COITADINHO DE QUEM AS OIVE, QUEM AS DIZ FICA ALIVIADO.
    Uma frase tão profunda, vinda de um homem que não conhecia uma letra, nem sequer um algarismo, deixou-me abismado.
    Mural da história, estes homens não sabiam ler, mas nem por isso deixavam de ter a sua cultura.

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  13. Quem conta um conto...o contador anota.Estamos surpreendidos com as visitas: 3204 no último mês!

    Este post fez-me perceber que o tempo às vezes rouba-nos da memória muitos dos momentos mais felizes da nossa vida, como a inocência, a alegria, a liberdade, a despreocupação própria da infância. Esses momentos foram por mim passados em Forninhos.

    Já me encontrava na Grande Lisboa Noroeste, talvez mais ou menos há 4 meses, quando fui passar a Páscoa a Forninhos. Vinha na Estrada, para cima da Oliveirinha, quando me encontro com a tia Maria da Urgueira, a quem cumprimentei. A tia Maria conhecia-me desde criança, pois vivia junto ao Largo da Lameira e eu passei a minha infância a brincar naquele Largo, logo me disse:

    “- ó rapariga, para onde foram as tuas cores? Tás tão branquinha e eras tão coradinha. Tu não bebes vinho?
    - Não Senhora.
    - Olha bebe uns copinhos de vinho. Ouve, à refeição não faz mal nenhum. Vais ver que com o vinhito e os ares daqui ficas logo outra vez coradinha como a cereja.”.

    A experiência é a mestra da vida, e o povo, bom observador de pessoas e coisas, ao longo dos anos foi adquirindo conhecimentos que lhe servem para diagnosticar de pessoas, curar doenças , prever o tempo, etc., resumindo isso muitas vezes em frases, provérbios e ditados.

    Durante uns minutos fiquei 20 anos mais nova.

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  14. Este reparo da tia Maria de Urugueira, uma mulher robusta, como eram todas as do seu tempo, faz-me lembrar aquelas crianças, mesmo ainda bebés, com as bochechas vermelhas como pimentões. Quando já crescidinhos, com as calças rachadas no cu mas rijos como peros.
    Quando se ia para a escola e se levava com a régua ou vara, não nos queixavam, podia ser pior.

    “Quando frequentei a escola primária em Dornelas, tinha um colega que mesmo em pleno verão não tirava o casaco grosso que usava, e como era um dos que apanhava mais com a vara de carvalho que o professor usava, ficava triste, mas quando saía ainda se ria de nós porque a ele não doía.
    Foi então que eu tive a tentação de pedir a minha mãe para mearranjar um casaco que fosse grosso ou então meter qualquer coisa por baixo da camisa, porque assim doía menos.
    Certo dia, quando meu pai estava a aparelhar umas pedras onde hoje é o lagar de azeite em Dornelas, eu andava por lá a brincar e apareceu o professor, foi então que o meu pai o abordou.
    -Sr. Professor, o meu filho foi pedir á mãe para lhe meter uma almofada por baixo da camisa para as varadas não doerem tanto, se isso acontecer, dê-lhe com mais força”

    Como os tempos mudaram!

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  15. hehehe
    Ó Sr. Eduardo, vai lá vai...o seu pai!

    A escola de Forninhos funcionou num edifício, de 2 salas. A Escola de Cima e a Escola de Baixo. Para a Escola/Sala de Cima iam para lá os da 1.ª e 2.ª Classes; Para a Escola/Sala de Baixo iam para lá os da 3.ª e 4.ª Classes. Esta escola que trago aqui foi onde aprendi as minhas primeiras letras, a tabuada, os rios, linhas de comboio, etc e tal. Guardo desta escola as recordações mais antigas, professores, colegas, brincadeiras e jogos de recreio, as mesas/carteiras com tampo inclinado, banco e mesa num só móvel, tudo em madeira. A escola também tinha casas de banho. Na altura que andei na Escola de Cima, não sei porquê, as meninas da Escola de Baixo deixaram de falar com uma colega e decidiram interpelar as da Escola de Cima, para que também deixassem de lhe falar. Diziam:
    - Promete! “Eu morra aqui…”
    Apanharam-me junto às Casas de Banho da Escola de Baixo, fazendo-me prometer ali que se falasse com fulana, morria ali.
    Um dia no fim da escola (não dizíamos fim aulas, mas sim escola) decidi quebrar a minha “promessa” e passei a ter medo de passar no lugar onde prometi “Eu morra aqui…”, pois achava que se ali passava podia morrer.

    A Escola Primária encerrou e a escola/sala de cima foi convertida num espaço de convívio de fim de semana, pela ARCF, mas a escola/sala de baixo continua fechada. Porque não fazer desta Sala um espaço cultural da história de Forninhos e das suas gentes? Seria, pois, dar seguimento à função para que este espaço foi criado: ensinar e transmitir cultura.

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  16. o contiudo está muito bom.

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  17. HISTORIA DO HENRIQUE FREITAS


    O Henrique Freitas, aquando da sua mocidade, era um dos mais ramboieiros da circunvizinhança. Não havia festa em que faltasse a sua presença, ou Domingo, que ele com a sua bicicleta, não fizesse uma digressão por diversas povoações, mesmo as mais distantes. Não se preocupava em regressar às tantas da noite, de madrugada ou mesmo ao outro dia.
    Assim, uma bela noite, quando o Henrique regressava de bicicleta duma das sua digressões, já a altas horas da noite, via Forninhos, ao passar em frente do cemitério de Forninhos , ouviu gritos vindo de dentro do cemitério, que ele pensou serem almas do outro mundo. O amigo Henrique, apanhou um susto tão valente, que a bicicleta deixou de correr +ara voar e só aterrou, à porta da casa de seus pais na Quinta da Ponte, sem folgo e sem falar por momentos. E só voltou a passar em frente do cemitério muito mais tarde, depois de vir a saber que os grito que ele tinha julgado virem das almas do outro mundo, tinham sido dados pelo Zé Carau de Forninhos. O Zé Carau, debaixo dos vapores da sua amiga e intermitente bebedeira, foi-se deitar no coval, que o coveiro tinha feito para no dia seguinte enterrar um defunto recentemente falecido. E assim, com a sua grande bebedeira, sem querer ia sobucando o Henrique com o susto que lhe provocou.

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