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domingo, 26 de outubro de 2014

A pilheira

O termo "pilheira" significa em Forninhos, a parte da retaguarda da lareira onde se depositam as cinzas sobrantes do último lume, que seria menosprezada, não fora que ainda hoje nos meios rurais protege as culturas da geada.
A propósito de cinzas: já ouviu falar em "ollas"? Eu não. Mas as "ollas" eram o equivalente às urnas cinerárias, normalmente feitas de barro, mas também de chumbo e de pedra onde depositavam as cinzas mortuárias, sendo guardadas no próprio chão das sepulturas ou mesmo na própria casa. E, o termo "pilheira", no tocante aos ritos cinerários, significava o espaço onde se guardam as ollas.
É minha convicção que o termo pilheira poderá remontar a esse tempo em que as cinzas eram guardadas em casa, no lar...nesse tempo longínquo em que os nossos antepassados cremavam os corpos e quiçá guardavam, cada um, as cinzas dos seus. 
Desculpem levar a conversa para algo triste, mas tudo faz parte da nossa história, mesmo quando falamos da morte. Já as nossas avós diziam aquela lengalenga que começa assim: "à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa...".



Cozinha antiga com pilheira. Uma relíquia do passado!

26 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar nesse termo. Interessante, mais uma vez! bjs,chica

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    1. Nós forninhenses muitas vezes o ouvimos e às vezes ainda usamos este e outros termos de Forninhos, mas a palavra "pilheira"consta do Grande Dicionário da Língua Portuguesa!
      Beijos**

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  2. Paulinhamiga

    Em Forninhos acontece cada uma que, cada duas é um par. Dito que a minha Avó Maria (da parte da minha Mãe) também usava. E já agora falar de urnas de cinzas dos mortos leva-me a citar mais uma vez a digna Senhora: Pagar e morrer quanto mais longe melhor...

    Essa da pilheira nunca me passara pela cabeça; mas porque estamos todos os dias a aprender agora já passa,,,

    Qjs

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    1. Pois...como me disse no outro dia: "Um dia em que não aprenda não é dia nem é nada...".

      Beij/Paula.

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  3. As coisas que eu aprendo neste blogue!
    Não conhecia o termo "pilheira",também não conhecia a lengalenga.
    Beijinhos e boa semana.

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    1. A lengalenga que começa: "à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa..." eu associo-a à lareira também, pois segue: "Mas escapo eu/Compro uma panela/Custa-me um vintém, meto-me dentro dela/E tapo-me muito bem.
      Além de que, era à volta da lareira com a fogueirinha viva ou apagando-se conforme a hora da noite, que se jogava ao burro e às adivinhas, contava-se estórias aos filhos e netos, lendas e lengalengas que passaram de geração em geração e agora já não passam, pois os serões agora são a ver televisão ou na Internet. Também as lareiras agora são outras... com outros estilos... outro material...

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  4. Paula,

    Primeira vez que ouco essa palavra "ollas", e muito menos sabia o significado. pilheira, já imaginei logo uma pilha de lenha. Rs Como se aprende nesse blog!
    A morte é um assunto que não gostamos de falar, mas não temos pra onde correr. Como as àvos diziam, ninguém escapa.
    Obrigada pelo carinho no caso da Lalá. É complicado, mas temos fé na cura.
    Uma linda semana! Beijos

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    1. Encontrei a palavra "ollas" por acaso, num artigo sobre as sepulturas escadas nas rochas, em que que elas (sepulturas) serviriam para expôr o cadáver e honrá-lo antes da cremação - uma espécie de velório, ao tempo. Seriam, assim, camas ou campas expositórias.
      O autor desse artigo, colocava ainda a hipótese de algumas das poças que abundam pelas serras, outrora povoados, poderem ter servido de "urnas cinerárias"; para o efeito bastaria uma simples lasca a servir de tampa aos despojos fúnebres incinerados e aí colocados.
      Eu até sou daquelas que não acredito em tudo o que vejo publicado na net…mas tal chamou a minha atenção, porque em Forninhos próximo duma sepultura escavada numa rocha está um quadrado escavado noutra rocha, que mede 20x20 cm de lado e 12 cm de fundo.
      Embora a Lucinha não conheça, fica o esclarecimento.

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  5. Paula, Boa 2ª feira...
    Post superinstrutivo... Vivendo e aprendendo... Termos e costumes novos hoje vejo por aqui... Obrigada por nos trazer mais e mais de Forninhos!
    Um abraço...

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    1. Nem de propósito, Anete, também se diz:
      "Aprender até morrer". Penso que um e outro querem dizer mesma coisa (Vivendo e aprendendo/Aprender até morrer).
      Um abraço meu tb.

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  6. Os teus post são uma verdadeira relíquia.

    aqui aprendo os usos e costumes, mais antigos.

    Nunca tinha ouvido os termos "pilheira e ollas".

    Obrigada pela partilha.

    Beijinhos.

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    1. Obrigada Mona Lisa.
      Quando ligo o termo pilheira às cinzas que eram guardadas em "ollas"...é porque ainda hoje no que respeita a assuntos sérios e importantes, as gentes juram "Pelas cinzas do meu pai/ Pelas cinzas do meu homem!".
      Se no tocante a funerais, só há lembrança de enterramentos, porquê dessa expressão?
      Dá que pensar...

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  7. Bem...estou "pasma" pois não imaginava tanto história com suas estórias...numa bela povoação como a vossa!!!
    Um dia destes vou conhecê-la!!!
    Bj amigo

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    1. Para valorizar este património que são - as pilheiras - era preciso este tipo de post, Graça. E, porque entendo que não é demais falar destas relíquias do passado.
      Bj amigo tb.

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  8. Tambem "pasmei" com este Post.
    Já nem lembrava a pilheira, afinal de a lareira ser o coração da casa de Forninhos, anos recuados.
    Em salpicos de recordação, ainda vislumbro coisas desses tempos, chão de pedra para a lareira quantas vezes sem chaminé, que em tacanho espaço, tanta coisa reunia. A lareira, a um canto uns tições, um amontoado de de cinza a um lado, na pilheira, as panelas de ferro com três pés, a grande para a vianda, as outras para o caldo e batatas. E a maceira (despensa). Quase esquecia a vassoura de giestas e a tenaz...
    Esta, a pilheira, guardava a cinza milagrosa que iria acalmar e fazer durar as as brasas vivas depois de por cima delas espalhada. Iria também servir, juntamente com as borras de azeite, à feitura do sabão caseiro e ao fertilizante e purgante das hortas, principalmente das favas.
    No seu calor e fumegar, ajudavam a curtir o fumeiro dos enchidos e presuntos.
    E sabe bem recordar aquelas "nossas" velhotas, meio alquebradas, carregando às costas ou à cabeça, molhos de cavacos e pinhas secas, amparadas por mãos magras e compridas, lenço negro apertado no queixo, quando não de roupas arremendadas. Amorosas, até mesmo quando zangadas, arremetiam nos nossos desvarios de quando chegavamos sujos e soltavam o pregão "alma do diabo, parece que vens da pilheira".
    Era bonito, e como tal deve ser preservado.

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    1. Excelente lembrança a tua, Xico! Com cinzas e borras de azeite faziam o sabão caseiro!
      Falha minha.
      No que respeita à lareira e serões de Inverno - agora que a hora mudou - vê o que nos diz o Sr. Pe. Luís Lemos, em "Penaverde, Sua Vila e Termo":
      "No Verão, noites pequenas, e excesso de trabalho, nem sempre se reza, ou não se reza tanto. Mas no Inverno, em todas ou quase todas as casas, observa-se o piedoso costume. Momentos de paz e de ternura esses, em que a nossa fé de criança nos faz imaginar os santos, àquela mesma hora de mãos postas em seus altares, pedindo a Deus para nós o que nós pedimos, e o rumor do vento ou das panelas a ferver nos lembra o mar em luta contra náugrafos e navegantes para quem se pediu porto, ou o cortejo dos finados nos caminhos da Eternidade.".
      Gosto do Livro deste Sr. Pe., porque escreveu o que era a ruralidade, o viver e o sentir das pessoas da sua terra e do seu tempo. Etc...

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  9. Nunca tinha ouvido falar do termo "pilheira", e nem sabia que a cinza é ainda hoje utilizada para proteger as plantas da geada. Tal como nunca tinha ouvido falar de "ollas", e achei muito interessante a relação feita entre a pilheira as ollas.
    Aquela cozinha é de facto bem antiga!
    Falar da morte e dos seus ritos é essencial para compreender a própria vida.
    Gostei do provérbio. Realmente à morte ninguém escapa, e na morte somos todos iguais.
    Gostei muito do post. Sobretudo porque aprendi alguma coisa.
    Boa semana, Paula!
    xx

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    1. O que me disseram é que a cinza utilizada na terra, tem por fim evitar que os pássaros comam as sementes, por exemplo, do cebolo, já que assim têm mais dificuldade em vê-las e serve também para aquecer a terra. Presumo que da geada!
      Quanto à cozinha, como se vê tem as paredes negras do fumo, o que quer dizer que foi bastante usada, mas hoje está em ruínas e já ninguém vive neste tipo de casinha/casa rasteira. Mas há outras iguais em Forninhos, pois a preocupação do homem antigo não era a grandeza da casa, mas a fartura das terras. Há até um ditado que diz: “casa em que caibas e terra que não saibas”.
      Boa semana, Laura!

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  10. Interessante, saber como eram os ritos funerários antigamente, apesar de morrer de medo desse assunto é importante saber como eram. Adoro vir aqui sempre saio mais rica em conhecimento. Também vejo muita semelhança em nosso passado.
    Bjos tenha uma ótima semana.

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    1. Já deu para perceber que tem receios deste tipo de assunto, mas trouxe agora esta temática porque dentro de dias é "Dia de Finados", um dia para recordar com muita saudade os que partiram e que ficaram na nossa memória.
      Ao longo dos tempos, em todas as regiões, os ritos funerários sofreram mudanças. Dantes existia a crença, por exemplo, de que as almas dos mortos desciam à terra nos locais de nascimento no dia 31 de Outubro, hoje, em muitos lugares, festeja-se o dia das bruxas ou o Halloween.
      Bjos. Cont. de boa semana.

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  11. Boa noite Paula, hoje foi tudo novidade para mim!
    Como já tenho dito a vossa aldeia é riquíssima em património que devia ser preservado!
    Na minha aldeia a cinza era colocada ao lado da lareira, mas levada para fora para junto dos excrementos dos animais para produzir um bom adubo para as sementeiras , se é que não estou em erro!
    Muito bom vir aqui e aprender sempre mais!
    Beijinhos e boa semana.
    Ailime

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    1. Bem vistas as coisas, Ailime, a cinza guardada na pilheira tinha e tem bastante utilidade. No fundo, servia como estrume, fertilizante caseiro e é facto que hoje a cinza da lareira ainda enriquece a terra. Claro que falamos da cinza proveniente do material usado de lenha de pinho, oliveira e até das vides da videira, etc...
      As cinzas dos mortos ou cinzas mortuárias depositavam-se em "ollas", feitas de barro, de chumbo e de pedra sendo guardadas no próprio chão das sepulturas ou mesmo na própria casa. Isto antes do Cristianismo proibir a incineração, pois segunda a História a Igreja logo nos primeiros tempos do Cristianismo condenou e proibiu, entre os seus fiéis, a prática da cremação dos cadáveres.
      Fiz este 'post' convicta que existem ainda alguns resquícios que nos vêm desse tempo longínquo. O termo pilheira, por exemplo.
      Só que fica sempre a incerteza, claro está, dada a falta documentação e falta de investigação do passado longínquo de Forninhos.
      Beijinhos.

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  12. Oi Paula!
    Confesso que não conhecia essas palavras: Olla e pilheira e gostei de aprender, mas lengalenga já conhecia e ouvia minha vó dizer, à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa e minha mãe vez ou outra ainda fala isso.
    Paula, adorei o post, dei uma olhadinha também nas postagens anteriores e gostei muito também.
    Beijos!

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    1. Obrigada Fátima e eu, apesar da já quase nenhuma vontade de postar, cá vou continuando a pesquisar e a colocar assuntos que interessem, afinal o saber não ocupa lugar!
      Beijos.

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  13. Sempre interessantes os temas que aqui trazem!
    Provavelmente esse termo "pilheira" ate sera algum regionalismo!

    O tema da morte ate vem a proposito, pois e ja daqui a dias, o dia dos "Fieis Defuntos!

    E olhem que e dia 2 de Novembro, nao dia 1, esse e o "Dia de Todos os Santos, um feriado que este governo extinguiu!

    Um abraco de amizade.

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    1. Mas não foi só este governo, foi também a Igreja, porque o feriado do "Dia de Todos os Santos" era um feriado religioso!
      É para ser festejado no Domingo seguinte, que este ano até calha no dia dos Finados ou dos Fiéis Defuntos, dia 2 de Novembro.
      Quanto à "pilheira" pode até ser um regionalismo, não sei. O que sei é que é um termo antigo que faz também parte da história das casas de um tempo e tal como outros deviam ter sido registados (para bom entendedor...).
      Retribuo o abraço.

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