Dia 9 de Junho (segunda-feira) realiza-se mais uma romaria à Nossa Senhora dos Verdes em Forninhos.
"O Quadro do Milagre" |
Diz a lenda que o nome, Senhora dos Verdes, vem de quando na Era de 1720 uma terrível praga de gafanhotos assolou as culturas, pondo em causa o sustento da região e por tal, recorreram os povos ao patrocínio da Nossa Senhora das Neves -querendo dizer que já existia uma capela com invocação à Senhora das Neves - e a praga teve fim e os campos reverdejaram, levando a dar-se à Senhora o título «dos Verdes». A lenda foi já publicada a 11 de Novembro 2009 aqui e o ex-voto representa essa calamidade, de uma comunidade que vê as searas todas destruídas pelos bichos e só o apelo solidário dos moradores circunvizinhos consegue travar. Desde essa época até hoje vêm em romaria à Senhora dos Verdes as populações limítrofes e de outras aldeias mais afastadas, todos os anos na sétima segunda-feira a contar da Páscoa, calhando este ano dia 9 de Junho. Em 1758 ao responder ao inquérito do Governo do Marquês de Pombal, o padre da aldeia de Forninhos já se lhe referia "São obrigados à Capela de Nossa Senhora dos Verdes várias procissões em alguns dias do ano principalmente nos dias Santos do Espírito Santo.".
Registo que a monografia de Forninhos, 2013, referencia também a procissão assim: "..., uma das maiores manifestações de fé exibidas pelas gentes de Forninhos está patente na festa que se realiza anualmente em honra de Nossa Senhora dos Verdes. Este culto Mariano surge, por volta de 1720, quando o povo confrontado com uma praga de insetos que devastou os campos e os seus cultivos dirigiu as suas preces para a Virgem Maria, que intercedeu às súplicas dos seus devotos salvando-lhes as culturas. Desde então, realiza-se uma procissão solene e Forninhos veste-se de gala para homenagear a Virgem pelo milagre. O cortejo parte do centro da aldeia em direcção à ermida que se eleva num local isolado rodeado de uma paisagem florestal conferindo-lhe uma ambiência única, propícia ao culto da virgem.". (sublinhado nosso).
De Forninhos nunca um "cortejo" partiu ou parte do centro da aldeia, mas sim da igreja matriz! Só se esta gente considera que a matriz é o centro da aldeia! Já não digo nada...
No entanto, merece destaque a interpretação que fizeram do ex-voto (pág. 129):
"Na pintura, o elemento cromático predominante é o verde representado nos montes e no campo agrícola a ser contornado pela procissão que se dirige para uma pequena capela onde aparece a figura da Virgem envolta numa nuvem. A procissão surge diferenciada pela multiplicidade de cores representadas nas vestes dos elementos que nela participam. Encontra-se a predominância do branco, porventura uma irmandade que encabeça o cortejo empunhando uma bandeira processional vermelha. A meio, e como se houvesse uma clara intenção de marcar uma divisória na procissão, surge uma cruz processional e imediatamente atrás aparecem misturados elementos do povo com o pároco que leva nas mãos um livro aberto. A terminar a procissão desponta um grupo de mulheres envoltas numa capa negra. Este grupo é uma representação bastante curiosa porque nos permite ter uma ideia como era uma procissão à época, isto porque, enquanto algumas mulheres conversam descontraidamente, outras permanecem em oração. Mas dentro do grupo representado, destaca-se uma figura feminina distinta das demais, portadora de um vestido verde e uma bengala, insinuando uma idade mais avançada, apoiando o queixo na sua mão esquerda numa clara atitude de contemplação.". (sublinhado nosso).
Fico muito feliz quando vejo descrições reais. Talvez seja o melhor texto visto na obra. Pena mesmo "aquela" do cortejo partir do centro da aldeia em direcção à ermida!
MILAGRE QVE FES N.S. DOS VERDES EM AS SEARAS DESTRUVIDAS DOS BICHOS E FAZENDO HVA MVI DEVOTA PROCIÇAM OS MORADORES CIRCVM VEZINHOS, FOI NOSSA SENHORA SERVIDA QVE SE APLACASSE ESTA PRAGA. ERA DE 1720. Assim indica a legenda.
Desde sempre me impressionou sobremaneira este quadro único e valioso, cujo artista e autor, infelizmente se desconhece.
ResponderEliminarEm dia de festa, lá se encontrava pendurado e pessoa crente e cumpridora de promessa(ela saberia qual...), o contemplava, se benzia e de seguida aliviava as costas do saco ou saqueta de cereais, que iam direitinhos para as aracas.
Era a "Paga"!
Nessa perplexidade na observação da tela, quase fantasiando, imaginava a minha terra, como quase uma privilegiada da Corte de Portugal, tal a riqueza das vestes envergadas, a pose e cerimonial da procissão, ainda apesar de tudo com séculos passados, com alguma semelhança na disposição "hierárquica" dos seus acompanhantes.
Anos depois ainda duvidava do modo como estava retratado o povo de Forninhos, quase parecendo uma transcrição de algum episódio das Revolução francesa. Erradamente, pois na época que esta obra relata, as comemorações sacras seguiam a tendência europeia, mais precisamente na zona do Mediterrâneo.
Uma forma de o artista captar fé e sentimentos, sem de modo algum, desvalorizar a genuidade do lugarejo do Voto.
E esta Lenda, acredito que será mais que isso, pela sua simplicidade e comunhão vista no agregar de várias Irmandades circunvizinhas, se tornou em mais um milagre: dizimou a praga e congregou pessoas que alegremente na segunda-feira, voltarão tal como ao longo dos séculos, a pedir, agradecer e sorrir.
E bonito volta a ser as matas envolventes coloridas de merendas, do melhor que a casa tem, com os mais chegados sentados na caruma, enquanto em cada canto, lá sai uma desgarrada ao toque da concertina.
A história verídica ou lenda é mais que isto, sim, mas pessoas precisam acreditar em alguma coisa para de certo modo se sentirem bem com elas próprias e o “quadro do milagre” tem sempre aquele encanto e valor para o conhecimento de quem visita a nossa capela. Só é pendurado em dias de festa, como dizes, mas não se pense que por Forninhos não possuir um museu que é guardado em terra alheia!
EliminarAlguns, se calhar, bem gostavam de o ver num qualquer museu de Viseu...
Na segunda-feira do Espírito Santo se Deus quiser lá estarei para registar o Voto!...
Gosto muito de ver essas festas e romarias e ainda as suas lendas! Que bom que ainda existem. Boa festa por lá! beijos,chica
ResponderEliminarÉ bom pelo menos ver que com o passar dos séculos, anos, algumas tradições ainda existem, como esta tradição do Voto, procissão de ladaínhas à N.S. DOS VERDES.
EliminarBeijos**
Esta foto representativa deste acontecimento histórico, não tem a qualidade da colocada na monografia, mas diz-no a bíblia do fotógrafo que vale mais ter uma pequena foto do que nenhuma e o que aqui interessa não é a cor verde ou vermelha…é a fé que interessa e a Senhora dos Verdes de Forninhos ainda hoje é uma referência religiosa para centenas de pessoas.
ResponderEliminarQue linda festa. Quando venho aqui parece que vejo tu falar daqui de Solidão, as histórias são tão semelhantes, parece que escuto meu pai se programando para a festas. Que saudade. Aqui estão se terminando essas festas religiosas.
ResponderEliminarBjos tenha um ótimo e feliz fim de semana.
Aqui as festas religiosas também já não são o que eram. E... "Os Milagres" só na altura de festas (dia do Espírito Santo e dia da Assunção de Maria) é que ainda povoam o imaginário das pessoas!
EliminarE do que transcrevi da monografia de Forninhos, para ser franca, nem sei se o referido respeita a esta festa anual realizada por altura do Espírito Santo ou à festa que se realiza anualmente em honra de Nossa Senhora dos Verdes, no dia da Assunção.
Ficará para sempre a dúvida...
Bjs e votos de um feliz fim de semana tb.
Gosto das lendas e do misticismo que as rodeia, Paula.
ResponderEliminarNão conhecia N: S ra dos Verdes, mas no fundo há sempre um motivo que justifique os nomes que se dá a N: Senhora.
Beijinho grande!
É verdade, pois N.Senhora só há uma, mas sabe que em Forninhos há muito gente que ainda não entendeu tal? Acham que Maria, mãe de Jesus, é uma; N. Senhora dos Verdes, é outra Senhora; depois ainda há N.S. de Fátima; N.S. da Saúde; N. S. das Neves; etc. etc...
EliminarPode ser que agora "alcancem" que N. Senhora é venerada com várias designações e o porquê de em Forninhos ser venerada com o título de Senhora dos Verdes.
Retribuo o beijo.
Paula,
ResponderEliminarAlém do maravilhoso post, é muito bom essa interação. Nos comentários e suas respostas, aprendi muito.
Um lindo final de semana! Beijos
Obrigada Lucinha.
EliminarDaquilo que valer a pena darei sempre conhecimento através dos comentários e respostas.
Beijos.
Olá
ResponderEliminarSão belas
as palavras
que nos acariciam
o coração...
Obrigado por semear o belo
em um mundo tão carente
de sentimentos bons.
Concordo... felizmente são muitos os leitores que conseguem ver o belo, apesar de como diz "em um mundo tão carente de sentimentos bons" transmitirem uma ideia errada do blog dos forninhenses...
EliminarObrigada pela visita comentada!
Paula, gosto de ver o seu interesse e suas pesquisas a respeito de tantos assuntos históricos e culturais... Mais um post que traz importantes feitos e esclarecimentos!
ResponderEliminarDesejo uma boa semana e sucesso naquilo que está empreendendo... Até breve... Muita paz e abraços!
Continuo à procura de fontes, Anete, por elas se fez e fará a história desta terra.
EliminarGosto de tê-la connosco.
Beijos&Abraço.
Uma lenda bonita esta dos gafanhotos, a suscitar a intervenção da Nossa Senhora (das Neves), contra uma praga que tanto prejuízo traz às culturas. Nossa Senhora que viria a adquirir o nome de Nossa Senhora do Verdes, e segundo a lenda, com toda a razão para ser tão venerada na região.
ResponderEliminarInteressante a procissão ser sempre na 7ª segunda feira a partir da Páscoa, e não ter um dia determinado. Talvez tenha mais significado o facto de ser datada em relação a outra data festiva cristã tão importante como a Páscoa, com todo o seu sentido de renascimento...
De facto, não parece ser muito usual que a romaria parta do centro da aldeia e não da igreja, mas isto sou eu que não entendo nada dos preceitos de procissões, mas gosto muito de ver.
Uma imagem com muito significado a ilustrar uma pesquisa muito bem apresentada.
Tirei hoje um bocado da tarde para visitar alguns amigos...;-)
Boa semana, Paula!
Laura, esta procissão é importantíssima, pois não fosse, hoje os devotos das aldeias circunvizinhas e de outras aldeias mais afastadas, esta festa estava acabada, por ser feita num dia que não é feriado e não só...
EliminarNão sei se disse que a 7.ª segunda-feira a partir da Páscoa é o dia do Divino Espírito Santo e os forninhenses designam a festa como "Festa do Espírito Santo". Mas seja dia do Espírito Santo, dia da Senhora dos Verdes ou outro dia... não é usual, como nunca foi, a procissão partir do centro da aldeia (fonte da Lameira). Ainda na passada segunda-feira vi as procissões partirem da Igreja rumo à Senhora dos Verdes.
Logo, se tiver tempo, publico umas imagens da festa.
Boa semana para a Laura também.
Romería de Fe siguiendo una tradición y una Leyenda adquirida a través de los tiempos...Magnífica Entrada.
ResponderEliminarAbraços.
Muito obrigada Pedro.
EliminarEsta lenda à volta da Senhora dos Verdes para todos nós (forninhenses) é "banal" porque desde que nascemos, vivemos devotamente esta tradição... mas a forma como a nossa história passa para o público não pode ser banal!
Um abraço meu.
Boa tarde.
ResponderEliminarEm dia que se segue á Festa do Espírito Santo. esta comemoração tem e sempre teve um Voto de muito valor.
Como o que se diz no texto de entrada deste exemplar Post; A praga de bixarocos que invadiram as nossas searas e das Aldias vizinhas.
Segundo a Lenda e como é narrado, foi Um Milagre de Nossa Senhora dos Verdes, que ao acabar com essa praga, tornou os campos de novo verdejantes.
Que a Festa tenha decorrido com alegria, amizade e grande animação.
Abraço
Olá serip! O meu agradecimento por comentares.
EliminarA festa na S. dos Verdes foi animada e estivemos entre amigos. Faltaste lá tu ;-)
Assim que puder publico um novo post. Se não conseguir hoje fica para amanhã. A festa já passou, mas o blog continua…:-)
Abr./Paula.
Boa noite Paula, festas e romarias que o povo tem no coração e que aqui no vosso Blogue tão bem evocam!
ResponderEliminarMuito interessante essa lenda que terá originado a alteração do nome atribuído a Nossa Senhora, Padroeira de Fornhinhos!
Que essa festa continue a honrar a Nossa Mãe do Céu!
Um beijinho,
Ailime
A verdade, Ailime, é que N. S. dos Verdes não é a Padroeira de Forninhos. A Padroeira é a Virgem Santa Marinha (celebrada a 18 de Julho), mas olho para trás e reparo que em 1720 a igreja de Santa Marinha de Forninhos podia não existir, pois tem no portal da igreja, ao centro, a data de 1731, que deve querer dizer que edificaram a igreja nesse ano (??).
EliminarAcho que a Capela da S. dos Verdes é de construção mais antiga que a Igreja Matriz de Forninhos. Será por esse motivo que os doutos escreveram que "O cortejo parte do centro da aldeia em direcção à ermida"??? Não havia igreja e partiam duma fonte edificada no centro da aldeia???
Duvido, mas acho que deviam então ter informado a fonte.
Beijinhos.
Oi Paula!
ResponderEliminarO que seria do povo sem sua fé, sem o santo protetor? Nossa Senhora, honrou a fé do seu povo e fez o milagre, salvando a lavoura e deixando o campo verdejante, sem maiores prejuízos para os seus fieis, uma bela historia, gostei demais.
Beijos!
A fé e religiosidade existem desde que o homem pensa e apesar das diferenças e divergências entre povos vizinhos (e ainda mais dentro do povo de Forninhos, mas isso é outra história...e são outros votos...), no dia da festa é o "milagre" sucedido nos campos da região, que remonta à Era de 1720, que ainda hoje leva muitos devotos em romaria à Nossa Senhora.
EliminarDaquilo que observei, é um voto feito com imensa fé pelos povos vizinhos.
Beijos.