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segunda-feira, 2 de maio de 2011

As Sementeiras

Porque estamos na altura das sementeiras, embora já haja feijões nascidos e batatas bem crescidas semeadas em terrenos mais secos (conhecidas por batatas do cedo temporãs) e como defendo que é importante manter o registo das práticas de trabalhar a terra com bois e com as alfaias agrícolas antigas e suas funcionalidades, deixo-vos estas fotos enviadas pelo Colaborador “serip413” tiradas no século passado nos campos da nossa terra:

Logo ao romper da manhã, porque no mês de Maio o calor se fazia sentir, os homens engatavam os bois e carregavam o carro/ou/carroça com a charrua, a grade, enxadas e com diversos produtos agrícolas.


Às mulheres pertencia a tarefa de preparar as cestas da piqueta 


e não se podia esquecer o garrafão para acautelar a sede.


Num sítio, mais ou menos, direito, seco e abrigado, onde não houvesse formigas, estendia-se no chão a toalha que tapava a cesta, cada um se sentava como podia: uns no cabo da enxada, outros numa pedra tirada de um muro, outros em cima de uma saca ou em cima de um casaco velho…todos se acomodavam numa circunstância que lhes era habitual.


E como sempre gostei de ouvir histórias contadas ou vividas, vou deixar aqui uma sobre os dias grandes de Maio:

Entre namorados
Numa bela manhã encontraram-se dois namorados, ele com uma grade aos ombros e ela com uma bilha de água à cabeça e assim passaram todo o dia conversando, sem dar pelo tempo passar e sem nenhum dele se lembrar de arrear estes pesados objectos, tal era o enlevo em que se achavam.
Ao despedirem-se ele disse:
-Dias de Maio, dias de amargura
E ela respondeu: 
Mal amanhece é logo noite escura.
Moral da história: por mais longo que o dia fosse achariam-no sempre curto.

16 comentários:

  1. Paula,

    Essas imagens são preciosas. Apesar do trabalho duro, é lindo recordar uma história dessas.
    Minha avó contava as histórias da roça, e eram muito parecidas com essa que você acabou de contar.
    Fico feliz que as pessoas estão contribuindo para enriquecer e relembrar a história de sua terra.
    Tenha um lindo dia. Beijos

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  2. Adoro receber, ver, publicar e comentar estas relíquias que agora estão aqui e são património nosso.
    Nestes tempos antigos, nem tanto assim, basta recuar uns 30 e poucos anos, se não se produzia, trabalhava a terra, não se comia, pois nesse tempo não havia subsídios.
    Nem todos os que vemos aqui existem hoje fisicamente (tio Zé Cardoso, tio António Pego, tia Rosa, tio António “Grilo”), mas como as imagens provam, são parte da história de Forninhos.

    Nota: “tio”, “tia”, na nossa terra aplica-se a qualquer pessoa, mesmo não sendo parente.

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  3. Boa tarde a todos.
    Belas foto, que, aos mais novos mostram um pouco do que era a vida dos seus progenitores, isto para as pessoas das aldeias rurais, claro, e para nós, eu por exemplo, recuo no tempo.
    Como se vê numa das fotos, não se usavam copos, bebia-se pelo garrafão assim como nas tabernas, a rodada era um copo de quartilho por onde bebiam todos os da “roda”.
    Deixa-me fazer aqui um reparosinho, aluap; embora se chame também ás batatas “do cedo”, o verdadeiro nome é, as batatas temporãs, assim se chama a tudo que vem mais cedo.
    O POVO DIZ:
    - Aonde vais tu serôdio?
    - Vou atrás do temporão
    - Tu nunca o apanhas, nem na palha nem no grão.

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  4. Saudações!
    Muito obrigada pela sua correcção, ed santos. Pouco percebo de horto-flor-agricultura, por isso, se alguém tiver outra informação, esclarecimento e adendas a efectuar ao texto que a partilhe connosco.
    Chamo a atenção para a ilustração da última imagem que designei “piqueta”, que se não estou enganada, é uma refeição que se faz a meio da manhã (por volta das 10h/10h30), uma palavra ainda muito usada no linguajar da gente da nossa terra.

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  5. Boa tarde a todos.
    Já visualizei este mágnifico post, parabéns.
    Foi com muito orgulho que disponibilizei estas fotos, todas já com alguns aninhos, marcam tempos que eu e outros passámos, era preciso e necessário amanhar todos os pedaçinhos de terra, pois se assim não fôsse... é como diz o ditado " Quém não semeia não colhe".
    Eram tempos dificies, para algumas destas perssonagens, mas com algum sacrficio, seguiram em frente " Quém mos cá dera ainda".
    Ficou esquecido o pequeno e fiel amigo do homem? sempre companheiro do seu dono.
    Noutros tempos que bem me sabia a comida "confecçinada" no próprio lucal onde se estava a trabalhar, na arranca das batatas, temporâs ou não, e com uma boa pinga!!!

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  6. Pois é, não me lembrei de fazer referência ao melhor e fiel amigo e companheiro do homem, pelo que acuso o teu “toque”.
    E...neste ritmo de trabalho, que bem-vinda era a hora da piqueta, e sabia mesmo bem comer uma refeição no campo, em conjunto, omoletes, batatas albardadas, bacalhau frito, sardinha da pequenina frita…azeitonas, que alguns tiravam (dizem) uma ou duas para não parecer mal.
    Este Post retrata de forma simples um pouco dos usos e costumes das sementeiras na nossa terra, coisas que nunca pensei escrever, apenas ouvir.
    Hoje, quer as sementeiras, quer os hábitos alimentares nada têm a ver com os hábitos de outros tempos, tempos difíceis é certo, mas acreditem que dá gosto ouvir as histórias contadas com imenso orgulho por quem viveu este tempo.

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  7. Eram muito usuais as seguintes saudacoes, aos que passavam para os que estavam a trabalhar: "Nosso Senhor os ajude", ao que estes respondiam: "Venham ou venha com D*us".

    Um abraco de amizade, com a lembrancas das merendas e piquetas que ainda participei em crianca.

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  8. Voltando às sementeiras, por vezes acontecia vir, de repente, uma chuvada, corria-se então para a casa rural, se existisse, onde se esperava que passasse, para se reiniciar a sementeira, por exemplo, das batatas. Se a chuva não passasse era uma atrapalhação, guardava-se as alfaias, ferramentas de trabalho, os produtos agrícolas na casa rural e voltava-se para casa da aldeia.
    Numa destas fotos é possível ver, em bom estado, uma dessas casinhas rurais.

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  9. Fico espantada por ver as semelhanças de nossos lugares, assim tão distantes né?
    Mas os nossos colonizadores eram portugueses daí a semelhançã.
    Por aqui chamamos estas carroças de barro-de-boi, tínhamos muitos por aqui no passado, agora são apenas decoração.
    E a forma de trabalhar era assim tambem...encantador !
    Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

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  10. Antigamente, para semear o milho lavravam-se os campos com o arado puxado pelos bois, os lavradores tinham que começar o trabalho muito cedo, para no fim do dia terem o campo semeado.
    Depois do milho nascer era preciso sachá-lo, mondá-lo e regá-lo.
    Passado algum tempo começava a espiga a amadurecer.
    Quando estivesse maduro, era cortado e levado para casa com o carro de bois.
    Nessa noite eram chamadas algumas pessoas para o desfolharem, pela noite fora as pessoas cantavam.
    Passado alguns dias as espigas eram malhadas com o malho, e o milho era limpo.
    Por fim era guardado, nas tulhas ou arcas.
    Quando fosse preciso farinha levava-se o milho ao moleiro para o moer.
    Nesse tempo os moinhos trabalhavam com a força da água dos rios.

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  11. Aquilino Ribeiro chamou à terra onde nasceu e às terras irmãs que ficavam na sua vizinhança “Terras do Demo”. Chamou-as assim porque as terras eram agras, porque o chão era duro de lavrar, porque o sol queimava as frontes no tempo de verão, porque a neve e a geada mal deixavam as árvores florir.
    Aquilino entendeu como ninguém as venturas e os dramas desta gente. Mas a pequena dimensão da sua terra, das Terras do Demo, mais não era que metáfora de uma qualquer terra onde houvesse um homem sofredor. E os retratos dos homens que ele desenhou com o rigor das palavras que deles mesmo escutou, tinham a virtude de ser a imagem universal de quantos, em seu tempo, requeriam, utópicos, sonhadores, o pão bastante, a casa com o conforto necessário, a saúde, a melhor educação para os seus filhos. Homens como o tio Zé Cardoso, tio António Grilo, tia António Pego.
    As Terras do Demo de onde a gente vem, ainda são ásperas. Ainda cai por lá a neve, ainda queima o rosto a canícula de verão, mas há também por lá uma história antiga, construída pela gente de quem somos herdeiros, há sempre o pão e o vinho que Aquilino celebrou na sua obra. Pão e vinho, como símbolo de uma terra generosa. Há a serra e o vale como era dantes. Há um amigo em cada porta, há sempre numa casa a mesa posta.

    Vá lá saber-se o porquê deste meu gosto por Aquilino.

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  12. Muito boa tarde a todos.
    Eu também gosto de ler Aquilino, foi um escritor que, como ninguém, soube transmitir pela escrita, as agruras, o viver e até os sentimentos das gentes do seu tempo. Talvez, porque viu, sentiu e até viveu a ruralidade das gentes beirãs.
    Por vezes ao ler os livros deste escritor, lembro-me dos filmes de Vasco Santana, António silva, Hermínia e outros do seu tempo; comparado com os de hoje, que se vêm uma vez e esquece, enquanto os antigos, vê-se hoje e volta-se a ver daqui a algum tempo.
    A vida das pessoas mudou muito desde o tempo destas fotos, é verdade, para melhor, digo eu, os sacos já não pesam 80/100 kg que se carregavam ás costas, já pouca terra se cava com a enxada nem se acarretam molhos á cabeça nem se trabalha pela malga do caldo, mas há coisas que eu ainda não compreendi, e possivelmente nunca vou compreender porque se dão subsídios para se não cultivar as terras, quando devia ser precisamente o contrario.
    As pessoas que vemos nas fotos, mais delas já nos deixaram, não recebiam ajudas, trabalhavam muito, assim como todos os do seu tempo, para que os filhos não passassem fome, e não se queixavam, hoje recebem ajuda para não trabalhar.
    Confesso que não entendo.

    Um abraço de amizade a todos.

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  13. Eu também partilho da sua opinião ed santos, até porque foram os subsídios que vinham da então CEE, no tempo das "vacas gordas", que aniquilaram a agricultura, mas em relação à nossa aldeia acho que deixou-se de cultivar não por causa dos subsídios, mas sim porque nos despovoamos e a população forninhense é uma população envelhecida que já não pode trabalhar as terras, porque se pudesse acredito que essas pessoas não deixavam as suas terras abandonadas. O futuro cada vez é mais incerto, mas façamos uma viagem no tempo, finais século XIX e 1ª metade do século XX, altura que existiam em Forninhos alguns lagares de azeite. Estamos no século XXI e não existe um único lagar, mas ainda se produz alguns milhares de litros azeite, azeite de boa qualidade e, no entanto, reparem que nunca houve uma estratégia direccionada para criar um sector empregador na indústria do azeite, por exemplo.

    Um bom Domingo para Vós.

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  14. Boa tarde a todos

    POPULAÇAO ENVELHECIDA, MAS AINDA COM MUITA VONTADE DE CULTIVAR AS SUAS TERRAS.
    É verdade, a população agrícola de forninhos está envelhecida, assim como em todas as aldeias onde se pratica a agricultura de sobrevivência, mas hoje, com a ajuda das máquinas, os trabalhos não são tão duros como no passado. Já se não cavam os cantos ou se fazem cadabulhos e não se pode dizer que as terras estão todas abandonadas, em forninhos ainda se cultivam muitas e garanto-vos, estão bem amanhadas.
    Quando me refiro aos subsídios; sei perfeitamente que a agricultura precisa de apoio, só não entendo o critério aplicado destes apoios.
    Por exemplo: forninhos pode ainda produzir bastante batata, milho, feijão, vinho e azeite, mas o agricultor que queira produzir qualquer destes produtos, (com excepção do azeite, que se pode guardar de uns anos para outros) arrisca-se a não ter a quem vender, e isto desanima qualquer um, por mais vontade ou necessidade que tenha.

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  15. “Na década do agora inimigo das grandes obras públicas, Cavaco Silva, construímos sem parar: auto-estradas e hospitais, escolas e tudo mais. "O país está dotado de infra-estruturas!", proclamou-se, triunfantemente. E, de facto, o país precisava. O problema é que, enquanto se dotava de infra-estruturas para servir a economia, o país vendia a economia, a troco de subsídios para abate e set-aside: vendemos assim a agricultura, as pescas, as minas, a marinha mercante, os portos, as indústrias que podiam vir a ser competitivas - ficámos com os têxteis e o fado. E, quando alguém, subitamente, perguntou "de que vamos viver no futuro?", sorriram, com ar complacente. Então, não era óbvia a resposta? Iríamos viver dos serviços, do turismo, da "sociedade de informação" e... de Bruxelas."

    Texto de Miguel Sousa Tavares no Expresso de 13 de Maio de 2010.

    É sempre bom ler textos de reflexão.

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  16. E o nosso trabalho.
    E o trabalho dos nossos pais e avôs, esse não conta para evolução do País em que nos encontramos?
    Pois esse SENHOR, que pense bem, não é só de canudos que o povo vive.

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