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sábado, 22 de agosto de 2015

A bicharada da nossa infância

Dia 24 é dia de São Bartolomeu e era quando apareciam mais moscas em Forninhos, então ouvia-se que foram os bois lá de Trancoso que as enxotaram para cá. Adoro ouvir estas 'coisas', pois acho que têm um fundo de verdade. Mas não eram só as moscas que nos torra(va)m a paciência, outros bichos voadores também: mosquitos, moscardos e até moscas varejeirasLeiam este texto até ao fim (se fôr medroso é melhor não ler!).

Moscas
Antigamente eram também as pulgas, piolhos, carraças e os percevejos que apoquentavam adultos e crianças. 
A pior praga de que me lembro eram os piolhos. Era fácil ver ao soalheiro mulheres a catarem crianças. Cabeça apoiada no regaço ou a passarem no cabelo o pente de derrubar (de dentes mais bastos) para sobre o regaço, onde depois iam caçar os parasitas do telhado humano. Quase desapareceram, mas só de escrever já estou com comichões na cabeça!
Ainda há as melgas a chatear, as aranhas e os aranhiços e as teias deles a colarem-se à nossa cara quando se atravessa um terreno por baixo de uma arvorezita e há as abelhas que mordem e provocam inchaços horríveis. 
Pior que as ferroadas das abelhas talvez só as babas das lagartas dos pinheiros!
Há ainda as formigas normais e as de asas - as agúdes - para pôr nos custilos e apanhar agora os tralhões.
Menos agressivos e nada perigosos: os gafanhotos, o cavalinho-rei (cavalinho rei põe as mãos que eu não te matarei) e as joaninhas (joaninha voa, voa que o teu pai está em Lisboa...).
Agúde
Dos rastejantes, agora o que mais há são lagartixas, mas quando era garota abundavam os lagartos - os senhores da casaca verde - que intimidavam, mas não eram nojentos; nojentos eram as cobras, as osgas e salamandras.

Salamandra
Ainda não está enojado? É que ainda falta falar dos lacraus (que são da família dos escorpiões). Mordiam à brava os alacraus

Lacrau
Note-se que o Nacional Geographic afirma que o lacrau "é o único escorpião em Portugal".
E os bichos da água?
O que me metia mais medo era a cobra ribeirinha, depois os tira-olhos. Os alfaiates nem por isso, mas apoquentavam as lavadeiras. Eram uma praga ao de cima da poça da Eira e nos tanques.
E das moiras, lembram-se? Miúdos em algazarra, com e sem idade escolar, apanhavam girinos nas pias da fonte, para nós a da Lameira era um autêntico viveiro: íamos para lá apanhar esses seres inocentes para trazê-los para casa.

Girinos/'moiras'

Medos, nojos e brincadeiras à parte, muitas espécies quase desapareceram, algumas devido a uma melhor higiene, outras, devido a alterações dos solos e produtos químicos utilizados.

(as imagens são do google)

22 comentários:

  1. Desses todos ,só me agradam os girino9s e as joaninhas,rs Lindo fds! bjs, chica

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    1. Calculei que agradasse à joaninha chica, as joaninhas ;-)
      As joaninhas e girinos não incomodavam nada. A criançada é que era má com os girinos que os levava em copos/canecos para casa!
      Beijos e resto de 1 bom domingo!

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  2. Bom, na minha infância também conheci alguns desses. Desde logo o barracão onde vivíamos ficava junto ao rio. De verão as melgas eram mais que muitas. E havia cobras. A mãe queimava trapos velhos, pois se dizia que o cheiro dos tecidos queimados afastava as cobras, mas ainda assim tenho uma lembrança de sentir uma coisa macia e fria sobre um pé, olhar e ver uma cobra. dei um salto e desatei a fugir e a gritar. O meu pai matou-a com uma enxada. Também me lembro de ratos. Todos os dias o pai armava várias ratoeiras. E quase todos os dias apanhava algum mais desprevenido ou guloso.Percevejos nunca houve por lá, mas piolhos, quando fui para a escola, trouxe para a família toda. Tinha umas tranças grandes. A mãe cortou-nos o cabelo, encheu-nos a cabeça de DDT e amarrou um lenço. Graças a Deus só os piolhos morreram, pois soube mais tarde que podíamos ter morrido todos intoxicados.
    Mas à noite era uma sinfonia entre o cantar dos grilos e o coaxar das rãs.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. A pior enchente acho que era de bicharada pequena e voadora: moscas, mosquitos, melgas, mas verdade seja dita que ratos também havia cabonde, todas as casas tinham ratos.Talvez por isso não me lembro de ouvir histórias de pessoas a subirem para cadeiras ou mesas com pânico de ratos, assim como nos filmes, quando se arrancam umas gargalhadas à plateia!
      À noite em Forninhos ainda se ouve o cantar dos grilos.
      Um abraço meu.

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  3. O que aparenta ser uma "nojeira" de bichos horripilantes, para mim e por mim falo, cada bicharoco mostrado ou falado traz na minha memoria estorias feitas de pequenos pormenores da nossa criancice.
    Forninhos tem a felicidade de alem do rio, ter ribeiros e ribeiras e serranias e em tempos idos, muitos animais domesticos e de carga.
    Bois, vacas , porcos, galinhas que vadiavam a seu belo prazer, e canalha irrequieta mal lavada que se divertia em bandos onde houvesse agua.
    Na fonte da Lameira, eram as moiras barrigudas que pouco antes de serem ras, eram levadas em canecos para os nossos pais verem o quanto eramos herois ate nos obrigarem a tais devolver ao tanque.
    As mesmas em que com resquicios de malvadez e nos charcos de rega, iamos apanhar e enfiar uma palha e soprar ate rebentarem. Coisa feia, mas natural nesse tempo. Uns vandalos na nossa liberdade, a mesma que com alegria encaravamos aquando no rio, pescando apenas com as maos, uma cobra ribeirinha da qual os adultos termiam, agarrada pelo rabo e em respeito, era atirada para o seu sitio e continuar alegre, ela tao pacata e bonita.
    As moscas desse tempo, apenas incomodavam se "aterrassem" no prato na hora da comida, pois a gente estava habituada, mas cuidado com as varejeiras que pousando e deixando os ovos, em pouco tempo davam para enterrar um bom presunto.
    Que vinham de Trancoso, reza a tradicao nas suas crendices e creiam que em tal em parte acredito. Era muito "vivo" ali concentrado sem condicoes, mas eram as que havia na altura e consideradas boas.
    Pelo S. Bartolomeu, ali se comprava e vendia gado e se trocavam sendo que o dia proprio era propicio a incendios e tal respeito tenho por devia ter cinco anos, arder uma casa em Forninhos.
    A salamandra, porventura a mais bela, apenas a recordo de quando ainda se tiravam os pocos a picanco ou a cabaco, mais tarde a motor de rega e no fim do despejar, se viam lascivas, como que querendo dizer que faziam parte do naipe de que quando o mundo havia sido criado, tal como os sapos que em tempos humidos se atreviam a atravessar as nossas ruas e os ouricos caxeiros que enquanto tentavamos apanhar os morcegos com uma cana sob forma de roca, nos passavam ao lado, procurando uma nova horta.
    Dos lacraus (a gente chamava alacraus), lembro de pequenito e na ceifa do centeio dos meus pais, uma mulher ser mordida por um e dizerem que a dor durava um dia inteiro. Foi na Estrecada, se bem que me "alembro" . No Entrudo, o Luis Mudo aparecia com caixas de fosforos repletas deles e a gente fugia a sete pes. Pudera!
    As agudes davam trabalho. Aquelas formigas de asa, a gente sabia como as encontrar e apanhar, mas era dificil por ficarem muito por debaixo da terra, seca e saibrosa. A gente precisava delas para isco dos custilos, tal como hoje, mas estando a terra seca e nao chovendo era ardua a tarefa e mesmo chovendo e com o sol aberto, era ver elas a voar e os tralhoes que deviam ser nossos a encher o papo, como se se tivesse virado o feitico contra o feiticeiro. Por tal, chegavamos a regar o formigueiro e na manha seguinte, metade da cacada estava feita.
    Das lagartas dos pinheiros... apenas as odeio.
    Por alergia e me obrigarem a andar nos tempos de primavera, menos tempo que gostaria pelo meio dos pinhais.
    Nojentas!
    Mas querendo esquecer, fechem os olhos e no silencio podem ouvir as relas, os grilos, as cigarras e mais acima, uma coruja nada augurenta, mas cantndo a seu modo, feliz!

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    1. A salamandra é bela?
      Para mim é um bicho nojento, todo o corpo da salamandra enoja-me!
      E a cobra ribeirinha é pacata e bonita?
      Só de recordar o dia que, sem querer (e ver), na Ribeira peguei numa e quando a solto vejo-a nadar aos SSSS (esses)...que medo!
      Das cigarras é que não me recordo bem, sei é que a cigarra só canta de dia, enquanto os grilos e relas cantam à noite, não é assim?

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  4. Adorei ler o teu texto. Aliás adoro tudo que relacione com usos e costumes da antanho.
    Os piolhos continuam...a minha filha , hoje com 42 anos, apanhou na escola primária um boa dose deles. Ainda hoje acudam em muita cabecinha pouco higiénica.
    Não me lembro de ver salamandras. Lacraus, sim e muitos mais insectos que abundavam em Angola.

    Beijinhos.

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    1. Pois, mesmo com mais ou menos higiene há piolhos na mesma!

      Em Angola mais, é certo, mas em matéria de bicharada endógena as aldeias portuguesas eram propícias de um filme do National Geographic.

      Beijinhos.

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  5. Bicharada que nos acompanha pela vida fora, pelo menos por aqui.

    Beijinhos

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    1. Por aqui igual. Apesar do desaparecimento de algumas espécies, não se pode dizer que em Forninhos não haja toda a espécie de bicharada que nos dava cabo da paciência e aterrorizava na nossa infância, antes pelo contrário, ainda há bastantes moscas, muitas abelhas, aranhas, formigas, lagartas, lagartixas, gafanhotos, etc...que creio hão-de continuar a acompanhar-nos pela vida fora.

      Beijinhos e 1 boa semana.

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    2. * abelhas normais e abelhas do mel e até zangões!

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  6. Muito legal o seu post, Paula... Como existem tantos bichinhos asquerosos e outros tão bonitinhos, né?! Dei uma volta na minha infância e lembrei dos que gostava de pegar e soltar em brincadeiras... Libélulas, gafanhotos, borboletas e joaninhas...

    Já retornaram então das férias!? Bom retorno às atividades...
    Bjs

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    1. Sim, já voltamos à realidade lisboeta, mas quando se sai da terra e depois volta é que uma pessoa se apercebe do passaredo e da muita bichesa que ainda existe por lá...e assim nasceu o 'post' n.º 604.

      Bjs/Boa semana.

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    2. Oi... Uma boa semana!
      Em outubro darei mais uma saidinha de férias, mas desta vez por aqui mesmo, numa linda praia... Comemorarei my niver, rsss...
      Com carinho e um abraço...

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  7. Quantas lembranças!!!
    Quanta história!!!

    Obrigada por suscitar isso tudo.
    abraço

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    1. Não tem de agradecer.
      São as lembranças boas que fazem parte da boa história da vida!
      Abraço tb.

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  8. Boa tarde, também recordo todos, fizeram parte da minha infância, infelizmente alguns nunca mais os vi ou desapareceram até ao dia que vão regressar.
    AG

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    1. Na volta ainda acontece como com os javalis, em que a espécie desapareceu há décadas (pelo menos na nossa zona), mas voltou agora em força.
      Bom domingo e um abraço.

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  9. O meu computador foi vítima de ataque informático, fiquei por um tempo sem aceder à Net. Abri um mail, bem elaborado, bem convicto e caí na armadilha. Computador formatado e mesmo assim a coisa não foi fácil. Por isso, já aqui estou.
    Bicharada na infância, só as cobras quando me apareciam de surpresa, me assustavam, mas quando reagia, azar o delas. Algum respeito pelas salamandras adultas, com as suas pintinhas amarelas, aparecendo, geralmente em tempo de chuva (Inverno), ainda hoje, tenho nojo. O que posso acrescentar a tudo, atrás transcrito, o bicho de que, ainda, tenho "medo", é o ser humano. Claro, felizmente só de alguns (os falsos amigos).

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    1. Uiii com esse bicho todo o cuidado é pouco!
      Não que os falsos amigos façam muito mal ou que sejam maus com´as cobras, o problema é que é um bicho cobarde, quando damos conta estão a mordiscar nas nossas costas.´
      Bom domingo!

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  10. Gostei muito deste post!
    Recordo-me perfeitamente dos lacraus e salamandras, estas últimas junto dos canais no Alentejo. Por acaso piolhos nunca me lembro de os ter tido, mas talvez os tivesse tido...mas catei muito piolho à minha filha e aos meus sobrinhos, devido a um surto que houve na escola primária. Uma coisa chata de solucionar! :-)
    xx

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    1. Em certa época parece houve uma tal enchente de piolhos que o pessoal andava mesmo assustado.
      Só te posso dizer que me contaram que havia tantos que na escola os piolhos da cabeça subiam para cima do lenço, das crianças que usavam lenço na cabeça, que foi por décadas um acessório que as mulheres não dispensavam.

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