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domingo, 16 de setembro de 2012

Forninhos: Terra de Pedreiros

Sendo Forninhos uma terra de granito, era normal que se utilizasse este tipo de pedra em todas as casas da nossa aldeia, desde as casas pequenas feitas de rebos, sem janelas, com uma pequena porta, às de cantaria, algumas delas com balcão e sacada, vide aqui. Mais tarde foram algumas rebocadas a cal. Por isso, tinha de haver um número de “artistas” suficientes para as necessidades da freguesia e da região. Existiam os Pedreiros-Canteiros, Carpinteiros e Caiadores.
De entre os primeiros convém destacar como artistas e mestres-de-obras, que pela sua habilidade e inteligência, honraram a profissão e a terra: o tio Ismael Lopes (responsável pelo corte de pedra, alvenaria e cantaria, do cemitério de Forninhos), o tio Luís Coelho (pai do tio Zé Coelho, que morreu numa pedreira), o tio Joaquim Beleza (trabalhava geralmente com o cinzel), o tio Manel Guinário (trabalhava muito com picos) e tio Zé Rebelo (feitoria em porpianho). Estes homens dedicavam-se a explorar a pedra nas serras e montes, a aperfeiçoá-la e por fim a usá-la na construção das habitações e afins. O trabalho de transportá-la para as povoações era feito pelos lavradores em carros de bois ou tronco bifurcado (zorras), onde se colocavam as pedras maiores e era arrastado pela força dos bois.
Era uma profissão dura e difícil, por isso hoje dedico estas poucas linhas a todos os nossos antepassados, pedreiros da nossa região. Muitos destes profissionais não sabiam ler nem escrever um simples número, no entanto, mesmo de forma rudimentar, deixaram-nos gravadas nas pedras exteriores a ERA, que hoje alguns de nós tanto admiramos! Não encontrei nenhuma na povoação que retratasse tão bem esta particularidade, mas podem ver esta casa centenária que fotografei na Quinta de Cabreira, próxima ao ribeiro.



A ERA gravada, parece ser de 1783, mas o último número pode não ser um 3, porque há uma falha na pedra. Também pode haver ali um 3 invertido e seja mil setecentos e trinta e tal...



Junto desta Quinta encontra-se uma lage e parece que havia um antigo caminho medieval, que as gentes de Forninhos atribuem aos romanos, que seguia até ao limite (Cruzeiro) com a freguesia de Dornelas.

PS1
Os Pedreiros utilizavam pólvora, guilhos, pistôlo, marreta para cortar as pedras grandes; pico, régua e esquadro, para aparelhar a pedra; agulhas, ferro grande para ajudar a virar as pedras e ferro pequeno para assentar (ferro de assento), prumo (composto por um peso preso a um fio). A ferramenta mais utilizada pelos Canteiros era o metro, o esquadro, o cinzel e a maceta, que os martelões era para quem tinha mãos mais pesadas.
PS2
Já ouviram a expressão Pedreiros-Livres?
Pois soube agora que na minha terra eram chamados assim alguns pedreiros. Desconhecia por completo. Sei que há quem aprecie por isso partilho. No dicionário online de português pedreiro-livre é o nome vulgar de maçomCom certeza trata-se de uma expressão cujo sentido foi corrompido. Em muitos casos as pessoas deram a certas palavras significados  diferentes e mesmo contrários ao seu verdadeiro sentido. 

15 comentários:

  1. Linda homenagem à eles que prestaram tantos serviços...beijos,chica

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  2. Boa noite, aqui está um mote em que louva os edificadores de Forninhos, pelo menos contribuíram para isso, nesse tempo as máquinas ainda eram uma miragem para muitos e uma realidade para muito poucos, por isso esta actividade era dura e constituía algum perigo, mas lidar com pedras com alguma dimensão tinha de ser feito com regras para que as mesmas chegassem ao seu lugar para o qual foi talhada, onde depois de ficarem no seu sitio, davam lugar a belas casas, casas essas que com o tempo foram rebocadas e pintadas escondendo assim o trabalho feito por esses artista da pedra, hoje estamos a assistir ao inverso, tirar toda essa argamassa voltando a pedra a ser a estrela da beleza, e outras que se encontravam abandonadas e em ruina a serem recuperadas, combinadas com uma arquitectura moderna o que as deixa bonitas e de novo habitáveis.

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  3. Mesmo sem saberem ler são pessoas sábias e bem espertas, yamanha a perfeição do trabalho.
    Lindas imagens.
    Bjs.

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  4. Era de facto um trabalho duro, mas ao mesmo tempo de bastante ciencia como diz, e muitos sem saberem ler uma letra.
    Nesta sua homenagem englobo o meu sogro, que tambem foi pedreiro e ja nos deixou ha uns anos!
    Como bem refere havia os pedreiros, para o "grosso" e "propianho" e os canteiros para a "cantaria"!
    An nossas aldeias, gracas ao bom gosto dos propprietarios, estam a ficar muito mais bonitas e com as belas casas de pedra a vista!
    Gosto de ve-las assim, embora nas casas com cantaria nos cunhais, janelas e portas, creio que ficam bonitas rebocadas e pintadas de branco, porque assim realca muito mais, a cantaria, porque foi para isso, que ela foi trabalhada!
    Mas como ja dizia o grande Camoes: "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"!

    Um abraco a todos e, a minha homenagem a todos quantos trabalham a pedra!

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    1. Seria injustiça você não englobar nesta homenagem o seu sogro!
      Sabe que também gosto de ver casas como a da imagem, mas gosto também das casas em cantaria listadas a branco, aquelas à moda antiga. Já as recuperadas, depois da década de 90 do Século passado, gosto muito mais de vê-las sem as juntas pintadas.

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  5. Deixe-me que estenda essa homenagem que aqui presta aos "artistas do trabalho no granito" a todos os pedreiros e artesãos das nossas Beiras . Permita-me que diga algo mais sobre os "pedreiros -livres ".Este é de facto o nome que em bom português devemos dar aos maçons que é o termo francês adoptado, entre nós, também...De facto se reparar no símbolo da maçonaria encontra , para além do "olho de Horus ,o deus egípcio "um esquadro e um compasso .Significa este símbolo que "o GRANDE ARQUITECTO "que tudo construiu , vela por nós .Aqueles que o sentem assim e o seguem livremente ,são pois "pedreiros-livres " ou "livres pensadores " como também se lhe chamou .Claro que os tempos passam e muito se vai deturpando ,como sabemos ...
    Beijinhos

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    1. Bem-Haja Idanhense. Há palavras e expressões que nos anos 40, 50 e 60 tinham um significado que hoje nem imaginamos! O Regime e a Igreja fizerem bem o seu papel. Passaram a ideia para as pessoas que tudo o que é maçom é mau.
      Informei que em Forninhos chamavam pedreiros-livres a alguns Pedreiros, porque tenho uma incomensurável paixão pela história da minha terra – Forninhos – e cada vez gosto mais de escrever sobre o antigamente e lembrar a gente antiga que fez com a sua presença a história desta aldeia. Todos os artistas das nossas Beiras que trabalharam e ainda trabalham, mesmo com as modernas maquinarias, o granito, são merecedores das melhores homenagens.

      BJ**

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  6. Bom saber desse trabalho que o tempo e a vaidade humana às vezes acaba por esconder. você está de parabéns poela coragem de mostrar essas tradições e histórias da gente simples para o mundo.

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  7. Grata a todos pelos comentários.
    Acho que a minha terra, assim como todas as terras da nossa região deviam homenagear estes profissionais “da pedra”, pois toda a arquitectura mais tradicional, modesta, popular foi-nos deixada por eles. No caso de Forninhos podia ser através da inclusão, em Livro, de um capítulo dedicado ao nosso património arquitectónico com uma compilação dos ofícios de pedreiro, canteiro e carpinteiro; ou, então, a criação de um espaço para colocar à vista as ferramentas do nosso passado.
    Só que é mais fácil dar parabéns aos autarcas do que aqueles que desenvolveram uma vida activa em prol de Forninhos.
    Eu não tenho qualquer memória, recordação, do tio Ismael Lopes, mas lembro-me contarem que foi quem construiu o cemitério público de Forninhos. E é tão triste ver que alguém como o tio Ismael que nos deixou uma obra perfeita, hoje nem sequer é lembrado! E os homens que com as suas vacas ajudaram a carregar as pedras para o cemitério, que importância têm hoje para o nosso povo?
    O cemitério público de Forninhos foi alargado e está em fase de acabamentos, pelo que brevemente vou aqui mostrar a obra, para poderem ver que nos tempos que correm ainda há bons profissionais pedreiros e principalmente canteiros. Mas a memória dos pedreiros-canteiros da nossa terra é bem mais importante! E nem preciso de dizer mais nada.

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  8. Paula,

    Não deveriam ser chamados de pedreiros, mas sim de engenheiros ou artistas. Um trabalho lindo demais!
    Mais um lindo fato que aprendo sobre Forninhos.
    Amei essa imagem que me faz viajar nos tempos medievais.
    Um lindo dia. Beijos

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  9. É verdade. Este caminho velho vai até onde a imaginação nos pode levar, mas sobre a parte “medieval” não sei se estou certa. O que aqui digo é que os locais dizem que havia esse caminho. Para ter a certeza era preciso provas, sei disso, mas estas pessoas não deixam de ser testemunhos importantes e há muito a tirar dos anos deles.
    E eu escrevi sobre o caminho e mostrei o Cruzeiro que referem fazer o limite com a freguesia de Dornelas, de propósito, para que haja um aprofundamento desta parte da nossa história que pertence a todos e não “aquelaluap”!
    Como é sabido (por alguns) a delimitação das freguesias foi feita após as reformas administrativas do Séc. XIX, antes disso todo o concelho de Penaverde era comum e não havia divisões geográficas entre as paróquias.
    Referente aos “engenheiros” formados na nossa terra, podiam não saber ler uma letra ou escrever um número, mas deixaram-para a História uma leitura importantíssima: casas, muros, igreja, capela, cemitério, cruzeiros e alminhas, pontes, escola, fontes e tanques, moinhos, lagares e lagaretas...

    Beijos e bem-haja Lucinha.

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  10. Estes homens trabalhavam de sol a sol, tinham famílias muito numerosas, tinham que trabalhar muito para o sustento da casa, por norma os filhos mais velhos de muito cedo ajudavam os pais no trabalho, além de ajudarem os pais aprendiam a trabalhar a profissão para mais tarde ensinarem os filhos para darem continuação à profissão e assim foi durante alguns anos.

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  11. Cara prima Maria,
    A profissão de pedreiro-canteiro hoje até é rentável, mas temos de concordar que sendo uma profissão dura não interessa às novas gerações.Dantes, como dizes, os filhos (principalmente o mais velho), aprendia a arte e o ofício com o pai, de pedreiro e não só…alguns ainda são vivos, outros já não.
    Muitos dos nossos jovens conhecem o tio Zé Coelho e Martinho Lopes (neto do tio Ismael Lopes), mas desconhecem que o pai do tio Zé Coelho morreu numa pedreira e que os filhos do tio Ismael (ou do tio Joaquim Beleza) trabalharam muito com o pai nas pedras (e no volfrâmio); ou, que o pai e avô (nosso bisavô, portanto) do teu pai, foram carpinteiros, etc…

    O Pe. Luís Lemos no seu Livro (Penaverde Sua Vila e Termo), escreveu isto:
    “O Beleza de Forninhos” Era pedreiro-canteiro. Trabalhou muito com cinzel. Olhos verdes, vinagrentos do pó das pedras e do elixir H20 roxo, para dar alento no trabalho e aguentar o sol e calores do verão. Uma vez, questionado pelo patrão que servia, atirou com a ferramenta para o lado e largou o trabalho: “Há duas pessoas que eu respeito neste mundo: a Senhora dos Verdes e o srn. Dr. Varela”.

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  12. Como já foi anteriormente dito, é de louvar esses pedreiros, maçons ou não, que existiam na nossa terra bons e artitétonicos pedreiros isso havia, vejamos as casas dos mais ricos, pedras bem aparelhadas, colocadas no seu devido lugar.
    Algumas até com bonitos brazões; foram estes pedreiros de quém falamos que quase não sabiam ler ou escrever, mas que tinham uma arte, A SABEDORIA, esta ensinada por seus pais.
    Por vezes é melhor saber da vida o que bem saber ler ou escrever; os antepassados assim o demontram.

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  13. Os brasões de Forninhos serip estão em casas modestas como esta, que como podes ver possui gravada a ERA de mil setecentos e tal…mas nem sei a que família pertence.
    Eu acho esta construção fora do comum. Podemos ver o balcão e a sua escada e embora sem janelas tem três portas. A que separa o r/c (loja) do piso de cima é normal, mas duas portas no primeiro andar já não acho normal em casas não habitacionais. Será que foi construída para habitação?

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