Entrudo ou Carnaval? Penso que uma e outra coisa é a mesma coisa, já que a origem de ambos os termos, nos levam e nos fazem depender da Páscoa, senão vejamos:
Entrudo ou Entroido, o termo tem origem no latim “introitu” e que significa “entrada” no período pascal em que se diz adeus à carne ou adeus carne, que em latim se dizia “carne, vale” que é precisamente onde tem origem o termo Carnaval.
Mas eu vou referir-me ao Entrudo porque acho que está mais associado às nossas tradições antigas, como às brincadeiras sujas com água, farinha, ovos, carvão, às caras tapadas (para não serem conhecidos), homens vestidos de mulher, roupas dos pais ou avós que se adaptavam, vestindo-nos de forma trapalhona e o mais disfarçada, cómica ou assustadora possível e... dizem os mais antigos, das famosas “Quintas-Feiras das Comadres e dos Compadres”, tradição peculiar da cultura popular forninhense que, entretanto, actualmente já não prevalece :(
O fim desta festividade termina com o enterro trágico do “Santo Entrudo”, uma tradição nacional, mas que na nossa aldeia sempre foi protagonizada pelo tio Zé Coelho. O tio Zé Coelho é um digno Rei do Entrudo Forninhense, que com a sua alegria, folia, contagiou e contagia gerações de forninhenses e que na noite de Terça-Feira de forma dramática enterra o Entrudo para então se entrar na Quarta-Feira de Cinzas e na Quaresma.
É uma pena que devido á falta de mocidade muitas tradições tenham acabado como foi os casamentos que eram feitos nas noites das quintas-feiras das comadres e dos compadres.Primeiro era a quinta-feira das comadres que era feita na quinta antes do domingo magro e depois era a dos compadres feita na quinta antes do domingo gordo.Os casamentos eram depois feitos ao sábado (sábado magro e sábado gordo) pelos rapazes. Era uma altura onde havia não só muita mocidade mas muita amizade e era tudo para a brincadeira.
ResponderEliminarÉ carnaval ninguém leva a mal.
Estes “casamentos” realizados por esta altura carnavalesca eram de facto motivo de muita brincadeira entre rapazes e raparigas forninhenses e sobretudo de grande amizade.
ResponderEliminarCom as aldeias do interior cada vez mais desertificadas perdeu-se também este bocadinho de cultura e sabedoria popular, restando aos mais velhos contar a história de um passado que parece longínquo, mas que para mim se trata ainda de um passado bem recente, pois ainda me lembro os rapazes fazerem os casamentos durante a noite, embora a história desta tradição seja muito mais antiga daquela que eu me recordo.
Antigamente, quer nas 5.ªs Feiras das Comadres, quer nas 5.ªs Feiras dos Compadres, os rapazes juntavam-se no Forno Grande e faziam uns papelinhos (tipo sorteio) com o nome de rapazes e raparigas, que depois metiam numa boina para então procederem ao sorteio e realizado o mesmo afixavam um papel (tipo edital) na desaparecida árvore da Lameira e de manhã, bem cedo, todos os que por ali passavam tinham conhecimento de quem casava com quem, embora o papel desaparecesse rapidamente ;-)
Nos Sábados (magro e gordo) os rapazes faziam então o casamento, munidos com um funil e um em cada ponta do povo, procediam ao ritual, que resumidamente, descrevo, não porque vivido por mim, mas porque o meu pai (que até ao nascimento do meu irmão Luís sempre participou), me contou:
- Ó camarada!
- Olá companheiro!
- Há aqui uma rapariga boa para se casar...
- Quem é essa rapariga?
- É F......
- Quem é que lhe havemos de dar?
- Damos-lhe F.......
- E que prenda lhe havemos de dar?
- Damos-lhe uma chouriça!
- etc...
Era, mais ou menos, isto que se passava nas noites dos casamentos, as prendas eram várias, como até toalhas para se limparem davam…De facto era uma brincadeira bem divertida. Ah! Também nessa altura havia um cavalo que pertencia aos pais da menina Aninhas (acho que muitos ainda se devem lembrar dela) que também entrava no sorteio hehehe.
Penso que o Tónio Lopes, nosso Colaborador, também ainda participou neste tipo de brincadeira e talvez nos possa contar também ele alguma história desses tempos.
Força...
È verdade Paula nesta quadra carnavalesca fiz muitas vezes os casamentos; é uma das brincadeiras que me fazem muitas saudades da minha juventude, ainda quase todos os anos vou ao meu terraço com o funil matar saudades.
ResponderEliminarMas voltando ao passado, nos fins dos Anos 70 eu o meu irmão Zé Carlos e vários colegas (mais de 10) fomos casar as raparigas. Como tu referistes e muito bem, fazia-mos o sorteio com os papelinhos. O burro tinha que calhar a alguma rapariga, assim como a burra a algum rapaz; mas tive a infeliz sorte a ser eu a fazer o casamento de uma rapariga com o burro, o pai não gostou e veio á rua com umas correias na mão para nos assapar. O pessoal toca todo a fugir, só fiquei eu e o meu irmão.
No dia seguinte tínhamos a G.N.R. á porta para irmos ao posto de Aguiar da Beira prestar declarações (isto só eu e o meu irmão). No posto os guardas disseram que não éramos nenhuns padres para andarmos a fazer casamentos e, queriam que pagássemos setecentos e coroa (700 escudos mais 50 centavos). Mas como nós nessa altura não era fácil vergar-nos, nós dissemos aos guardas que não tínhamos dinheiro que não pagávamos e fomos embora.
Passados dois meses fomos a tribunal pagar 3500escudos cada um (cinco vezes mais que a multa) andou o nosso pai a trabalhar meio mês para nos dar o dinheiro por causa de um sr. que não se lembrou que na sua juventude também casou muitas vezes as raparigas, tal como nós.
Não foi por causa disto que a tradição acabou continuou se sempre como os casamentos pelo carnaval pelo menos até ao principio dos anos 90.
Obrigada Tónio pelo teu belíssimo e revelador comentário de uma verdadeira história “de outros Carnavais” – Alguém tem dúvidas que este é o blog que revela o verdadeiro espírito forninhense?
ResponderEliminarAcho que todos nós temos muitas memórias de um tempo que ainda hoje queremos que nos faça companhia e de facto há coisas que por mais anos que passem não desaparecem nem esquecemos, porque fazem parte do nosso passado, é a nossa história!
Apesar de ainda ter uma vaga recordação dos “casamentos” o Entrudo que mais me marcou foi sem dúvida aquele em que pela primeira vez os rapazes da tua geração Tónio, meteram os carros dos bois (tipo comboio) ao longo da Lameira. Isto foi ainda nos anos 80 e lembro-me bem dos rostos de espanto/admiração de todos aqueles que avistaram o “comboio”. Apesar de nos anos seguintes, anualmente, outras gerações o terem também feito, o efeito surpresa não foi mais o mesmo, mas também esses rapazes terão episódios engraçados e dignos de aqui serem registados. No entanto, de uma coisa tenho a certeza, a Lameira foi e será, sem qualquer dúvida, o palco de muitas histórias.
Olá a todos
ResponderEliminarEu também tenho muitas histórias vividas nesta época que nem sei por onde começar.Houve um ano que eu,o meu irmão,o Zé Cuco,o Ernesto,o Alberto Pissoto fizemos os casamentos e no fim fomos para a adega do Alberto comer e beber até de manhã.
Mas houve muitos anos que na noite de Carnaval o pessoal se juntava para tirarmos os carros de bois e uma vez até uma frese fomos buscar à Estracada ao Melo e trouxemo-la para a Lameira.
E com o Agostinho Coelho iamos a pé (à noite) à Moradia e fazíamos lá também a mesma brincadeira e ainda traziamos coisas de lá para Forninhos.Se o Coelho lê este blog deve lembrar-se bem disso. Mas quem tem muitas histórias é o Ismael. Alô Ismael: um abraço.
Quando se começou a pôr os carros de bois na Lameira ao princípio havia muitos que escondiam as coisas,havia um que tanto escondia que nós depois até começávamos a tirar as coisas dele uns dias antes (lol) e depois eram penduradas o mais alto possível para ele não as tirar.Uma vez o carro de mão dessa pessoa ficou pendurado o mais alto possível.O pessoal dessa altura deve saber de quem eu falo hehehe.Por fim as pessoas já nem se importavam porque realmente era Carnaval e ninguém levava a mal.Eram tempos de grandes amizades, onde faziamos as coisas para nos divertirmos e divertir,onde o único interesse era mesmo o convívio e diversão.
Depois havia as histórias com o Miguelão.Uma vez fomos com ele num caixão dar a volta a outras terras e claro o grande final era com o tio Zé Coelho quando enterrava o nosso querido Santo Entrudo. Se há pessoa que merece uma homenagem é o tio Zé Coelho.
São tantas as histórias que é impossível escrevê-las aqui todas.
Um abraço a todos
David
Quando chegava esta altura era sempre um prazer escolher as roupas para nos ensaiarmos de maneira a que ninguém nos conhecesse e sempre com a cara tapada.As pessoas tentavam descobrir pelos gestos,altura,peso,apalpavam, para descobrir quem eram os entrudos.
ResponderEliminarNesses tempos viviam-se verdadeiros momentos de amizade e camaradagem e era esse o único interesse que nos movia.
Existia um costume antigo que tende a desaparecer com o desenrolar dos tempos e de que ao ler os vossos comentários me recordei, que era quando uma pessoa encontra um fruto duplo,cereja, avelã, castanha, etc. divide-o com outra, para ser seu compadre ou comadre, enganchava-se os dedos mindinhos da mão direita um no outro e fazia-se um movimento com eles idêntico ao aperto de mão e dizia-se ao mesmo tempo:
ResponderEliminar— Como se há-de chamar o menino?
— Raminho de Bem-Querer!
— Somos comadres (ou compadres) até morrer.
E assim se ficam a tratar um ao outro.
Bom Carnaval para todos
Também temos o hábito de dividir um fruto “casado” ou duplo com a pessoa que estiver ao nosso lado. Não tenho é a certeza se o “ritual” é ou alguma vez foi da mesma forma que o Sr. Tavares descreve (???).
ResponderEliminarNo entanto, e ainda no que respeita ao ciclo do Carnaval e à prática que houve e que aqui relembramos, das celebrações dos dias das Quintas-Feiras das Comadres e dos Compadres, refira-se que nesses tempos era hábito os Compadres (o rapaz do papelinho) oferecer na Páscoa, as amêndoas à rapariga (a do papelinho). O que me leva a concluir que mesmo sem existir na altura o Dia de S. Valentim, já os “namorados” tinham uma data fixa para trocar presentes :))
Um Carnaval super divertido é o que desejo a todos!