moínho do Salto |
Eram raras as aldeias da nossa Beira, que não tinham moinhos de rodízio, mas porque nunca se olhou para este património popular com olhos de ver, temos perdido esses testemunhos deixados pelo povo simples e anónimo, eregidos à medida das suas necessidades, em sítios isolados, mas mui pitorescos. Um desses exemplos é o moinho da Carvalheira, que já aqui foi referido mais que uma vez, mas existem outros moinhos na aldeia de Forninhos, ao redor dos cursos de água, em Cabreira e junto ao lagar de azeite do Sr. Luísinho e no Salto, abaixo da ponte da Carriça, que foram também importantes para o povo de antigamente. Apresento, assim, aos que não conhecem, esses moínhos construídos junto ao rio e ribeira, aproveitando as águas das levadas ou açudes, só que até a água foi-se também perdendo, sem ninguém com isso se importar ou indagar as causas!!!
moínho de Cabreira |
moínho da Carvalheira |
O único que ainda lembro funcionar é o moinho da Carvalheira e se calhar porque foi o último a ser desactivado ainda lhe resta o rodízio. Para além destes moinhos, sei que houve também uns moinhos nas Caldeirinhas e outros junto ao lagar de azeite da Eira, ao tempo pertença do Sr. José Baptista, que se desmoronaram pela força da corrente. Mesmo que deles não existam ruínas, acho justo lembrá-los, assim como acho necessário fazer-se um levantamento e registo deste nosso património popular de reconhecido valor no tempo em que a cultura e colheita do nosso pão era feita pelas mãos dos homens e mulheres e o pão cozido nos nossos fornos, que podem ver aqui e aqui.
Junto ao moinho, as Dornas e a sua gruta de água cristalina, aonde se sentia o mundo na sua perfeição absoluta! Chegava com o meu pai, as vacas arrastando o carro, chiando sobre o peso do grão e o difícil trilho.Teria seis anos de idade, mas a expectativa de passar o dia e a noite neste local mágico, acelerava o coração. Carro descarregado e vacas a pastar na orla da ribeira com o coaxar das rãs e o bailado das libelinhas, era hora de ir roubar umas ameixas ao Sr. Daniel, cá mais abaixo, encher os bolsos e a boina.
A seguir, uma vara de amieiro, um fio de nylon mais um anzol ferrugento com gafanhoto a servir de isco, sempre se apanhavam umas bogas tontas que se viam a olho nu; numa água que era brilhante. As maiorzitas serviam para grelhar e ajudar a bucha da noite, na fogueira acesa no canto esquerdo interior da moinho, enquanto a mó carrasca, esmagava o grão, chiava, esmagava, acompanhada pelo piar do mocho ali ao perto.
Enquanto o meu pai vigiava toda a noite a tarefa, eu aconchegava-me junto a fogueira, enrolado numa manta trazida de casa, e adormecia a sonhar com as mouras encantas ali tão perto.
Manhã cedo o meu pai acorda-me, carro já carregado com as taleigas da farinha, vacas junguidas, prontos para abalar, apenas faltava o caldeiro de lata que pendurou num fogueiro. O chiar do carro sobre as pedras na subida, faziam levantar as perdizes matinais, acordar os melros na ribeira e alvoroçar os tajasnos. Já em cima, um coelhito atarantado, apenas se desviou das vacas, pois eu ia sentado na frente do carro e o meu pai nas traseiras. Se tivesse uns custilos e tempo, aqueles tajasnos e mais que fora, não escapavam.
Mais a frente cruzamo-nos com outro carro de bois, que vinha para a moagem, era o dia que lhe pertencia em sortes (não me recordo quem era).
XICOALMEIDA
Ainda bem que há quem nos dê tão belos contributos. Obrigada Xico.
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O Moinho da Carvalheira, faz parte real da minha meninice, qual território sagrado dos Incas, onde a natureza se agitava naquele local recôndito, impregnado de lobos, corujas, raposas e aves de rapina, procurando o alimento para as crias, tal qual íamos esmagar o grão para o pão-nosso de cada dia. Adiante, os Cuvos, que mal produzia um raquítico milho, mas saborosos chicharros. Subindo a encosta para o lado direito, lá estava o imponente Castelo e do outro lado o Castro.No meio da encostava havia uma nascente que não secava, de dia para o homem de noite para os bichos.Junto ao moinho, as Dornas e a sua gruta de água cristalina, aonde se sentia o mundo na sua perfeição absoluta! Chegava com o meu pai, as vacas arrastando o carro, chiando sobre o peso do grão e o difícil trilho.Teria seis anos de idade, mas a expectativa de passar o dia e a noite neste local mágico, acelerava o coração. Carro descarregado e vacas a pastar na orla da ribeira com o coaxar das rãs e o bailado das libelinhas, era hora de ir roubar umas ameixas ao Sr. Daniel, cá mais abaixo, encher os bolsos e a boina.
A seguir, uma vara de amieiro, um fio de nylon mais um anzol ferrugento com gafanhoto a servir de isco, sempre se apanhavam umas bogas tontas que se viam a olho nu; numa água que era brilhante. As maiorzitas serviam para grelhar e ajudar a bucha da noite, na fogueira acesa no canto esquerdo interior da moinho, enquanto a mó carrasca, esmagava o grão, chiava, esmagava, acompanhada pelo piar do mocho ali ao perto.
Enquanto o meu pai vigiava toda a noite a tarefa, eu aconchegava-me junto a fogueira, enrolado numa manta trazida de casa, e adormecia a sonhar com as mouras encantas ali tão perto.
Manhã cedo o meu pai acorda-me, carro já carregado com as taleigas da farinha, vacas junguidas, prontos para abalar, apenas faltava o caldeiro de lata que pendurou num fogueiro. O chiar do carro sobre as pedras na subida, faziam levantar as perdizes matinais, acordar os melros na ribeira e alvoroçar os tajasnos. Já em cima, um coelhito atarantado, apenas se desviou das vacas, pois eu ia sentado na frente do carro e o meu pai nas traseiras. Se tivesse uns custilos e tempo, aqueles tajasnos e mais que fora, não escapavam.
Mais a frente cruzamo-nos com outro carro de bois, que vinha para a moagem, era o dia que lhe pertencia em sortes (não me recordo quem era).
XICOALMEIDA
Ainda bem que há quem nos dê tão belos contributos. Obrigada Xico.
São lindos.Pena que desativados,não? Lindas fotos!beijos,ótimo dia!chica
ResponderEliminarAcho um encanto esses moinhos, tanto pela beleza da rusticidade como pelo trabalho que faziam.
ResponderEliminarVc registra ruínas e continuam belos.
Bjs de cá, querida Paula.
Se o mar adormecer em desvario
ResponderEliminarAs ondas não mais se formarem
Se as gaivotas se perderem do ninho
As árvores mais altas tombarem
Se o dia não encontrar a manhã
As nuvens deixarem de chorar água pura
Se as pedras da ilha roubarem a cor ao verde
As tuas palavras deixarem de ser raiva dura
Boa semana
Doce beijo
Quem escreve com o coração ao pé da boca, diz o que sente e sem pensar muito. Por vezes é só um grito de revolta por tudo o que vemos na nossa sociedade/e/comunidade e que gostaríamos de não ver.
EliminarBem-haja pelo bonito poema. Abr./aluaP
Com este levantamento pretendo mostrar aspectos importantes da nossa arquitectura popular e que todos vejam que este património degrada-se sem que se registe e passe a uma nova geração como era a vida na nossa aldeia. São pois estas imagens o resultado do abandono do mundo rural e de uma terra sem gente.
ResponderEliminarMas este post é também o meu contributo possível para o “projecto em construção – Forninhos Terra dos nossos Avós”, sim porque é importante constar a arquitectura modesta popular e trilhos do nosso “território” e como vivia as “gentes” da nossa aldeia, todas as famílias utilizavam os moinhos e os fornos. E será uma injustiça se não se escrever sobre os moleiros, carpinteiros e pedreiros, que se fossem vivos sabiam muito bem como aplicar as velhas técnicas e reconstruir um moinho a partir de um monte de ruínas.
A par da Serra de S. Pedro, a área da ribeira de Cabreira e rio Dão (Poço dos Caniços) tem bons recursos naturais, condições paisagísticas e património edificado, para se criar um bom e bonito percurso pedestre.
ResponderEliminarDestes moinhos conheço bem o moinho da carvalheira, ainda me lembro de o vera moer, os outros moinhos não me lembro deles, nem sabia que existiam, os meus pais cultivaram durante alguns anos um terreno no salto, mas nunca me lembro de ver esse moinho, o de cabreira também nunca vi.
ResponderEliminarPaula quando formos de férias a Forninhos em Agosto, temos que fazer uma caminhada para me mostrares esses moinhos que eu não conheço.
Claro que sim! Aliás tal como aconteceu há exactamente 2 meses atrás (18.AGO), é meu desejo e espero que no futuro haja interesse em mostrar estas "torres de pedra" espalhadas pela nossa linda freguesia.Desde Cabreira até ao Salto o percurso é muito bonito.Mas isto ando eu já a dizer há "séculos"!
ResponderEliminarO moínho do Salto e de Cabreira. Há bastantes forninhenses que lembram vê-los funcionar e que hoje, se quiserem, podem vê-los aqui e ver como passar dos anos sem utilidade os deixou.E...se tiverem vontade podem lembrar esse tempo e outras gentes!
"Recordar é Viver".
Boa noite .Por falta de tempo deixei o blog ,mas ja andava com saudades.Estas fotografias amostram algumas antiguidades que ainda existem na nossa terra ,mas como a Maria também so conheci o moinho da carvalheira, em Agosto também vos acompanho se Deus quiser .
ResponderEliminarOlá Manuela, não há dúvida que senti a tua falta. Ainda bem que estás de volta :-D
EliminarBoa noite, é pena assistir ao degradar deste tipo de edificações, pois os seus actuais proprietários não estão interessados na sua preservação pois isso acarreta custos e que não vêm lucro algum de retorno, mesmo quando funcionavam foram deixados ao seu abandono até que o trabalho para o qual foram construídos deixou de ser possível ser executado, pois a evolução das coisas assim o ditou, mas é mesmo uma pena que todos se tenham perdido para sempre, de alguns nem vestígios de outros simples lembranças, junto aos Valagotes ainda se encontram alguns que com pouco investimento ainda possível a sua recuperação, mas se não se lhes deitar a mão depressa chegam a ponto de não retorno, na região Oeste do pais assisti a um recuperar dos moinhos de vento que hoje servem de residência e alguns ainda trabalham e que à sua volta gerou postos de trabalho e sustento de algumas famílias, mas isso aconteceu porque os seus proprietários assim o entenderam.
ResponderEliminarForninhos tem tantos motivos e mais alguns para que se consiga vencer no sector do turismo rural, sei que já estou a sentir alguém a dizer porque não vou para lá e tentar a minha sorte, mas não sei o que o futuro me vai dizer, tem tantos lugares cheios de encanto, que chega a ser pecado não os recuperar, quem conhece sabe do que estou a falar.
Julgo que tu João, só queres contribuir na divulgação das potencialidades desta terra e que aquilo que fomos e somos seja transmitido às novas gerações e “olha” eu em nome de Forninhos agradeço as tuas palavras, pois se não o fizesse seria “mal agradecida”.
ResponderEliminarE ainda bem que referes os moinhos junto à ribeira e “fronteira” dos Valagotes, que pertencem à freguesia de Penaverde e da Matança (concelho de Fornos), pois eles tinham proprietário (moleiro) que habitava em casa anexa ao moinho. Tinham clientes nas aldeias da redondeza, inclusive de Forninhos, isto ainda num passado recente. Já nos moinhos da freguesia de Forninhos (aqui apresentados) os moleiros não habitavam no moinho. O de Cabreira e da Carvalheira, por ex, eram de partilhas, todas as famílias de Forninhos tinham lá dias ou meios-dias. E estes, sim, tenho pena que um deles não seja recuperado, mais que não seja para ajudar por mais tempo a conservar as saudades vivas. Mas como refiro no introito, até a água foi-se perdendo, se bem que no Verão o rodízio parava por falta de água nos açudes. Com o regresso da chuva, no Outono, é que o canal que leva a água aos moinhos voltava a correr e o engenho voltava a rodar.
Para haver pão na mesa, os moinhos moíam e os fornos coziam, eram tempos difíceis como já tenho dito. Havia produtos da agricultura para a sobrevivência, mas não havia moeda. Em pleno Séc. XXI vivemos melhor??? Aproveito para recordar a impressionante sabedoria popular nesta matéria “haja saúde e coza o forno e o pão que seja nosso”.
ResponderEliminarLembro-me muito pouco dos moinhos que havia em Forninhos. Fui um dia com o meu pai ao moinho de carvalheira moer milho. a farinha de centeio com que a minha mãe fazia o pão era um senhor que vinha dos lados dos Valagotes com um cavalo buscar os cereais para moer.
Também me lembro dum moleiro, um Sr. a que chamavam, acho, “o bombo”, que trazia as encomendas/taleigas e costumava prender o seu cavalo na Lameira, ali junto à casa do tio Luís Moreira, e nós, a garotada, a admirarmos o cavalo. Este moleiro deslocava-se com alguma frequência a Forninhos, por isso julgo que há muitas pessoas que têm essa memória.
ResponderEliminarNa nossa freguesia, como sabemos e bem vemos, este património encontra-se abandonado e se calhar por isso os mais novos nunca viram um moinho de rodízio a funcionar…eu desde criança que também não via, mas por pura sorte participei numa caminhada na natureza, intitulada “Caminhada dos Moinhos” e passados tantos anos pude voltar ver, em Dornelas, um moleiro e um moinho a moer. Possivelmente esse momento e cheiro vai acompanhar-me pelo resto da minha vida. Foi, pois, um bom atractivo.
E esta terra não tem só ruínas de fornos e moínhos, ribeiros e ribeiras, grandes lagedos e paisagens excelentes, esta terra tem também uma natureza não poluída e um micro clima excelente, onde se podem encontrar animais e aves, como referido pelo Xico, por isso também transcrevi o que disse, pois embora afastado do blog, afastado fisicamente (o Xico nem sequer lê o blog ), continua dentro das suas possibilidades, através de outros meios de comunicação, disponível e com muita vontade de contribuir, à sua maneira, com o blog dos forninhenses.
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