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sábado, 9 de abril de 2022

Retrato de Familia

As fotografias em família eram uma prática comum e recomendada para o álbum de recordações desde o século XIX. Começa aqui a valorização do homem (antropocentrismo), pois até então aos artistas só lhes eram permitido pintar, esculpir ou entalhar imagens sacras. E, claro, os nobres e pessoas mais endinheiradas passaram a encomendar retratos aos artistas e surgem as fotos de família, na melhor pose e com a melhor roupa para mostrar toda a sua nobreza e poder económico.
E eis o retrato dos meus antepassados (hexavô e pentavós), feito pelo pintor visiense José de Almeida Furtado, conhecido por "o Gata" que existe desde 25 de Fevereiro de 1949, no Museu Grão Vasco, em Viseu. De acordo com a documentação existente no museu, este retrato de família pertencia ao Pe. Manuel de Moura Marinho.


Executado em 1826 d.C., a pintura representa o Retrato da Família Assis de Moura Marinho num cenário interior, com amplo cortinado do lado esquerdo do quadro, de cor encarnada e junto a este encontra-se a figura mais velha, sentada de lado, com o braço e mão direita apoiada em cima de uma mesa ou secretária de madeira com tampo verde, segurando uma pena, a escrever numa folha branca. Este homem de tez branca e cabelo  grisalho, é o meu hexavô (6.º avô), Manuel de Moura Marinho. Enverga casaco e calça cinzentos, colete desapertado (vê-se 2 botões) e camisa branca com uma abertura por onde se pode ver a pele. Calça meias brancas e botas pretas. 
À direita do quadro, está de pé o seu filho, meu pentavô (5.º avô), Francisco de Assis Marinho e Moura, de cabelo preto e curto, com a perna ligeiramente flexionada, apoia a mão esquerda no espaldar de uma cadeira e a mão direita segura um papel branco. Veste casaca encarnada com botões em dupla fileira (vê-se 8 botões), calça cinzenta. Da cintura, por baixo da casaca, pende um objeto dourado. Calça meias brancas e sapatos pretos com detalhe retangular em dourado.
Ao centro do quadro está a sua esposa, minha pentavó (5.ª avó), Dona Teresa de Sá Costa (Marinho e Moura). Senhora, de tez alva e cabelos pretos apanhados e rematados por uma tiara dourada. Brincos dourados de argola com uma pérola. Traja um vestido longo acinzentado, aparentando cetim, com a manga curta e o decote quadrado debruados. A saia apresenta duas faixas rendadas de cor preta. Uma encharpe dourada cobre-lhe o ombro esquerdo e vem rematar na cintura. 

pormenor


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Fontes: 

Para a minha família paterna (parte da avó Dulce): 

Quem foi Manuel Marinho?
Foi um comerciante, mercantil de sardinha, rico proprietário que em Aveiro tinha uma mansão que mais tarde (1842) pertence aos "Rebochos" e era do dono na Costa Nova do palheiro vendido (em 1840) ao José Estêvão, um notável jornalista, político e orador parlamentar que tinha uma predilecção muito especial por esta praia para onde vinha descansar da sua tumultuosa actividade parlamentar.
Primeiramente este e outros palheiros construídos na Costa Nova serviam para salgar o peixe. "O negócio da venda e distribuição deste pertencia a gentes de Aveiro e de Águeda (interior), mercantis que "geriam" os grupos de "almocreves", verdadeiras companhias de transporte e distribuição, a quem era remetida a tarefa de fazer chegar o peixe, lá para o interior do país, para as beiras profundas".

Fontes: 

E Francisco de Assis Marinho de Moura, quem foi?
Ainda não consegui perceber se seguiu "as pisadas do pai", mas o seu nome aparece na exposição agrícola de Lisboa, em 1884. 
Expôs pelo concelho de Viseu o seu vinho tinto com a cor "cravo carregado". E podemos ver as quantidades referidas a 100 centímetros cubicos de vinho:

Ano da Colheita:
1882
Densidade do peso por litro: 
991,0
Alcool em Volume - centímetros cúbicos:
11,500
Extracto secco(Gr):
1,920
Tanino (Gr):
0,095
Assucar reductor (Gr):
0,083
Acidos (Gr):
0,476
Grandeabrimento da côr:
--
Coloração:
Cravo carregado

Ainda sobre o nomes de família

Até 1911, no batismo, apenas se registava o nome próprio. Registava-se "Maria", filha de ...e de...Só depois, no casamento, é que seriam acrescentados os apelidos familiares. Se ficasse solteira, ficaria simplesmente Maria para toda a vida. Com sorte, acrescentava-se-lhe um apelido ou alcunha que a distinguia das outras marias.
Muitas pessoas, sobretudo mulheres, por serem menos importantes, eram registadas com o nome próprio, mas depois já não lhes eram acrescentados os apelidos, na altura do casamento, e por isso a avó Dulce, que nasceu em 1855, ficou até morrer (1948) com o nome abreviado "Dulce do Carmo". 

Batismo avó Dulce, em Sernancelhe

A sua mãe, Dona Maria Leopoldina, era da cidade de Viseu e era filha de Francisco de Assis Marinho e Moura e de Dona Teresa de Sá Costa. O pai era de Sernancelhe e chamava-se Constantino António de Sobral e era filho de António Caetano e Maria Santana. Constantino António de Sobral foi escrivão e Tabelião do Julgado de Sernancelhe, na Comarca de Moimenta da Beira, pela carta de 1849-07-04, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 33, fl. 6v-7v.

Fls. 7v-Registo Geral de Mercês, D. Maria II

Posteriormente foi escrivão na Vila de Aguiar da Beira.

Como podemos perceber, a avó Dulce não recebeu os apelidos da parte paterna, nem da materna. E quando casou com o avô José Dias de Andrade não lhe foi acrescentado os apelidos do casamento.
Se algum neto ou alguém de Forninhos quiser acrescentar algo que ouviu sobre a avó Dulce ou porque ainda a conheceu, acrescente...
É para isto que este Blog serve: descobrir...descobrir...descobrir...
Dizia a minha tia Margarida (bisneta da avó Dulce), que o seu filho homem - o tio Abel - e seus descendentes receberam o sobrenome "Sobral" ou "Dias Sobral", por influência do professor Coelho de Dornelas. Já a filha Emília (minha bisavó), que era a segunda filha do casal, já só tinha o apelido "Andrade" e a filha Maria ficou "Maria da Conceição", mas só era conhecida por Maria.
Recordemos as origens da família aqui
E pronto...estou como o Saramago:
"Entendo que cada um de nós é, acima de tudo, filho das suas obras, daquilo que vai fazendo durante o tempo que por cá anda." (Crónica do livro "Bagagem do Viajante), mas certo é que nem todas as famílias têm um retrato dos 5.ºs e 6.ºs avós e eu gosto de saber quais foram os meus antepassados, os seus nomes, imaginar as suas vidas, por onde andaram, o que fizeram para viver/sobreviver...

22 comentários:

  1. Interessante isso e como eram comuns essas fotos feitas em ou por fotógrafos! Bela história de vida aqui! beijos, chica

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    1. Até surgir a "carte de visite", sim, eram comuns estes retratos de família.
      Só não consigo compreender é como a minha trisavó, vinda duma família com algum desafogo económico, vem parar a Forninhos. Foi por amor? É que este era o tempo em que as filhas e os filhos eram usados para assegurar um bom negócio (sem aspas).
      Mas se foi por amor, foi muito bonito o final desta história!
      Beijos, bom fim de semana.

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  2. UAU!...uma excelente pesquisa!
    Bom fim-de-semana...☀️

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    1. Não há palavras que descrevam a alegria que senti!
      Bom fim-de-semana...☀️

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  3. Uma pesquisa muito interessante., Deixo o meu elogio
    .
    Um domingo feliz … Saudações cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Obrigada.
      A minha trisavó merece. Sempre ouvi que era de Sernancelhe, mas que poderia ter sido também de Aguiar da Beira, e é verdade. Nasce numa Vila, mas é criada desde os 18 meses na outra. Tem 18 anos quando casa na aldeia de Forninhos com um pedreiro. Quando faleceu (1948) tinha 93 anos. Mas nem tudo foram rosas! Ficou viúva durante 49 anos, quase 50. Tinha em 1889 44 anos.
      Do que pesquisei pouco ou nada são as nossas memórias.
      Bom domingo.

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  4. Muito interessante este trabalho que obedeceu a uma pesquisa apurada.
    Gostei.
    Um abraço e tenha um excelente Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Obrigada.
      Os nossos merecem muito mais que ser embelezados com flores!
      Bom domingo e um abraço.

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  5. Boa tarde Paula,
    Tenho andado afastada das redes, mas hoje, numa espreitadela rápida, dei com este seu fantástico trabalho de pesquisa.
    Imagino como foi fascinante e que sensação indescritível deve ter sido, ver o retrato de família do seu hexavô e pentavós pintado em 1826 d.C., perpetuado e exposto no museu Grão Vasco, e descobrir de onde eram e como eram!
    Fica ainda a dúvida de como foi a sua trisavó parar a Forninhos: por casamento "feito" , como era comum nessa época, ou por amor? Deixemos aqui um toque de romantismo e acreditemos que foi por amor.

    Grande trabalho.Parabens!
    Um abraço
    MJB

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    1. MJosé, este retrato vale por mil palavras.
      Também acredito que foi por amor! Apaixonou-se e 8 meses após o casamento nasce o Abel (1º filho) fruto desse amor.
      Mas houve pelo menos mais 1 casamento em Forninhos com um membro da família Assis Moura e com um da sua família paterna (Vaz).
      O irmão do seu trisavô Luís Vaz Esteves que se chamava Francisco Esteves, casou com Rosa Antunes em 1865.Tiveram um filho chamado Manuel Esteves Vaz que casou em 1898 com uma Maria da Piedade, de Aguiar da Beira. A Maria da Piedade era filha de João Pinto e Inês Etelvina de Assis Moura, ambos também de Agb. Foram testemunhas do casamento a minha trisavó Dulce e o seu filho Abel Dias Sobral (a avó Dulce já era viúva).
      Inês e Dulce deviam ser família. Inês nasceu em Agb, a Dulce foi criada desde os 18 meses em Agb.O pai de ambas chamava-se Constantino António de Sobral e era de Sernancelhe. As mães eram de Viseu, uma chamava-se Dona Leopoldina, outra Dona Maria dos Prazeres.
      Será que Dulce e Inês eram meias irmãs? Será esse o motivo porque a minha trisavó veio para Agb com 18 meses?
      “Mistééério” como diria a Dona Milú (Miriam Pires), da telenovela Tieta.
      Abraço e obrigada pelos parabéns!

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    2. Mistééério! 😄
      Quer dizer que nós, de alguma forma, ainda somos parentes.
      Abraço fraterno🥰🍀😘

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    3. Sim, somos todos primos, mesmo que o parentesco remonte a duas ou três centenas de anos!
      🤗

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  6. Bem, estou rendido aos descobrimentos da Paula!
    A tua avó Dulce era uma mulher muito bonita. Quem o afirma é a minha mãe que tinha 18 anos de idade quando ela faleceu.
    Pelas suas mãos passaram muitas crianças nascidas ao longo de várias décadas. As crianças que acanou como parteira, quando a viam, pediam-lhe a bênção. Era como se fosse avó dessas crianças todas.
    Certamente que foi por causa do coração que veio casar a Forninhos. Morou ao pé do Forno Grande, onde hoje é a casa da tia Emilinha (sua bisneta).
    Ficamos sem palavras, sem saber o que dizer, tal o valor visual desta pintura a óleo. Não é todos os dias que vemos uma imagem dos nossos antepassados. Penso não haver recordações de em Forninhos ter havido um retrato de família com honras do museu Grão Vasco.
    Parabéns!

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    1. Obrigada.
      A avó Dulce era muito bonita e muito asseada, mas por ter vivido nessa pequena casa, é que eu acredito mesmo que casou por amor. Pena ter ficado viúva tão nova e antes ter perdido um filho com 5 anos de idade (chamava-se Maximiano). Depois veio a avó Emília e... em 1907 nasceu a avó Coelha, que foi criada com ela e ainda viu nascer alguns bisnetos. Foi avó e mãe e deve ter sido feliz em Forninhos com a família que construiu.
      As minhas 3 gerações de avós ajudaram a nascer muitas crianças, ajudaram sempre quem delas precisou. Orgulho.
      Orgulho também deste retrato de família. É como dizes: - Não é todos os dias que vemos uma imagem dos nossos antepassados.

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  7. Boa Tarde

    Parabéns Paula .
    Excelente documento .
    Orgulho certamente para a memória viva da vossa Família .
    A vida e a História de Forninhos em
    crescente interesse e recordação.

    Boa Páscoa
    Muita Saúde para todos

    Abraço

    António Miguel Gouveia

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    1. Mas este documento levanta imensas dúvidas e numerosas pistas de investigação, principalmente relacionadas com a família Sobral de Sernancelhe, provenientes da freguesia de Granjal.
      Mais um estudo em desenvolvimento...

      Um abraço
      Boa Páscoa para si também c muita saúde.

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  8. Hoje em dia as fotos estão todas no computador.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Pois estão. Os retratos a óleo, posteriormente migraram para arte da fotografia, que é atualmente digital e arquivada no computador onde pode ser editada, impressa, enviada por email, etc...etc...Dispensa, assim, o processo de revelação.

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  9. Bom dia Paula,
    Uma pesquisa muito interesasntw fruto de muito trabalho e que a levou longe nos seus ascendentes!
    Gostei de ver o lindo quadro pintado dos seus avós, o que deve ter sido para si motivo de muito orgulho.
    Parabéns por mais esta riquissima pesquisa.
    Beijinhos e santa Páscoa.
    Ailime

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    1. Sim, como descendente, só posso sentir muito orgulho.
      Olho e sinto que este quadro a óleo ficou de acordo com a imagem que o meu 6º avô queria passar aos outros.
      Hoje há os sites de relacionamento (rede social) para as pessoas mostrarem a sua família e um pouco de sua vida, a outras pessoas. A melhor roupa, os retoques do fotoshop sempre existiram, a pose forçada além do que realmente somos sempre existiu. São os sites da rede social nada mais nada menos que a evolução destes retratos a óleo.
      A aparência é tudo para a sociedade.
      Continuação de boa Páscoa, pois diz a tradição que se prolonga até à Pascoela.
      Beijinhos

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  10. P elo Amor derramado
    A paz enfim reinou
    S ó nos resta o Amado
    C om todo esplendor
    O sol nos vem calado
    A contemplar tanto Amor

    Feliz Páscoa, querida amiga Paula!
    Beijinhos carinhosos e festivos

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    1. Pelo telemóvel é difícil, por isso, vou ser breve.
      Aleluia! Aleluia! Cristo ressuscitou e está entre nós!
      Beijinhos,
      Boa Páscoa que como sempre digo se estende até Domingo de Pascoela.

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