Porquê e para quê os pátios nas nossas casas?
Coloco assim a questão porque os pátios são muito diferentes de terra para terra.
Os pátios da minha terra são extensões das casas, por norma murados e pertencentes a uma só casa, às vezes a duas, não são pátios de rua como são os da toponímia de Lisboa; os pátios lisboetas são "um conjunto de habitações modestas dispostas à volta de um recinto descoberto comum".
A casa do lavrador era norma ter defronte um logradouro, que em certos lugares se chama quintã, mas que usualmente dá pelo nome de pátio.
Hoje há poucos, dantes eram às dezenas!
Nos pátios que tinham uma latada, sós ou acompanhadas, debaixo da sua sombra arrepenava-se o grão, os chícharos e os feijões, ao sol secavam os figos, a seguir às vindimas nalguns faziam aguardente, no inverno era lá que se matava e limpava o porco, no pátio as galinhas e os seus pintainhos deambulavam o dia inteiro...ali as crianças aprendiam a dar os primeiros passos e a total liberdade nas brincadeiras.
No pátio ainda podia existir um coberto, onde se guardava a lenha e se resguardava o carro das vacas.
Hoje já não é assim, em poucas décadas tudo mudou, nas construções modernas já não querem pátio algum e com as reconstruções - há excepções (poucas) - também fizeram questão de acabar com os pátios e é assim que vai desaparecendo tudo o que outrora tão útil foi. Ganhou-se muito na comodidade interior, mas perdeu-se no aspecto exterior da habitação aldeã, nas ajudas mútuas, nos convívios...
Os pátios da minha terra são extensões das casas, por norma murados e pertencentes a uma só casa, às vezes a duas, não são pátios de rua como são os da toponímia de Lisboa; os pátios lisboetas são "um conjunto de habitações modestas dispostas à volta de um recinto descoberto comum".
A casa do lavrador era norma ter defronte um logradouro, que em certos lugares se chama quintã, mas que usualmente dá pelo nome de pátio.
Hoje há poucos, dantes eram às dezenas!
Nos pátios que tinham uma latada, sós ou acompanhadas, debaixo da sua sombra arrepenava-se o grão, os chícharos e os feijões, ao sol secavam os figos, a seguir às vindimas nalguns faziam aguardente, no inverno era lá que se matava e limpava o porco, no pátio as galinhas e os seus pintainhos deambulavam o dia inteiro...ali as crianças aprendiam a dar os primeiros passos e a total liberdade nas brincadeiras.
No pátio ainda podia existir um coberto, onde se guardava a lenha e se resguardava o carro das vacas.
Hoje já não é assim, em poucas décadas tudo mudou, nas construções modernas já não querem pátio algum e com as reconstruções - há excepções (poucas) - também fizeram questão de acabar com os pátios e é assim que vai desaparecendo tudo o que outrora tão útil foi. Ganhou-se muito na comodidade interior, mas perdeu-se no aspecto exterior da habitação aldeã, nas ajudas mútuas, nos convívios...
Hoje já não se constroem as casas como antigamente. Copiam-se os modelos estrangeiros e descaracterizam-se as nossas aldeias. Felizmente há exceções.
ResponderEliminarUm abraço, bom fim-de-semana e um Setembro, pleno de alegria e harmonia para todos nós
Preservadas no seu aspecto exterior até há muitas, mas com pátio, por lá só encontro mesmo uma e é de um emigrante.
EliminarA Elvira não conhece, mas eu vou dizer o nome para a nossa plateia:
- José Fernando, filho da tia Jesus, forninhense emigrado em França.
É uma casa de granito (recuperou várias numa), totalmente enquadrada com o urbanismo tradicional da aldeia.
O melhor exemplo que encontro na minha aldeia é mesmo aquela bela casa. Só não o "endeuso" porque não tenho poder para tal ;-)
Bom domingo!
Tão bom ver e viver em casas com pátios. Hoje aqui, quase sempre encarapitados em apartamentos. bjs, chica
ResponderEliminarPos é "chica", temos que ser todos nós (os que estão longe) a sensibilizar os mais jovens para as belezas das aldeias e são muitas, porque infelizmente as cidades, cada vez nos/lhes oferecem menos.
EliminarBjs, bom domingo.
Deste e neste pátio, podia escrever um livro, tivesse jeito para tal! Muito nele mudou, mais por força dos tempos que por incúria dos meus pais.
ResponderEliminarEste e durante décadas sempre foi um lugar especial da casa e de todos nós; ali e sob o olhar expectável de avós e pais, fazíamos "o pino" dos primeiros passos.
Ainda vão restando uns pilares maciços de granito que aguentavam no outrora uma enorme latada que todo ele cobria de cachos cachudos brancos e ao fundo, do lado direito da porteira aonde se encontra hà anos um forno caseiro, uma resistente videira preta madrugadora que nos levava em garotos a trepar o muro e a ir depenicar.
Quando as carradas de milho que as vacas traziam da Ribeira, este era deixado do lado de fora, na lage (agora coberta de alcatão) para
ser escanadoà noite por amigos e vizinhos; era uma festa!
Ali emalhava, secava e erguia.
Mas no pátio, sofria ao ouvir a sentença de termos de ir arrepenar os feijões pela hora da sesta, embora por debaixo da sombra da latada. Um castigo atroz, pois podia andar na ribeira ou rio a apanhar umas bogas...
Enfim, a vida tem o seus tempos, o meu pai faleceu, já ninguém cria ou compra vacas para a lavoura, o pátio já não ostenta nas paredes a canga pendurada nem o arado encostado, apenas as duas últimas rodas do carro das vacas, meio escondidas por flores...
Curiosamente, agora nos sítios aonde se secava o fruto da terra, agora são regadas as flores que minha mãe acarinha todos os dias como que em homenagem àqueles tempos.
Nos dias que em Agosto ali passámos, o meu encher de alma era à noitinha ali sentar e ouvir os sons da fauna que preparava a sua noite de caça, as estrelas brilhantes num céu ainda puro e lembrar de olhos fechados quase até adormecer o encanto que foi e abrir os olhos, sentir o cheiro maravilhoso da enorme variedade de plantas e flores que agora o enfeitam (até rosmaninhos tem) e lavar a alma.
O pátio continua lindo, tão lindo e apetitoso que até um pessegueiro nasceu por entre as suas pedras e hoje ostenta dezenas e dezenas de frutos quase amadurecidos.
Em Forninhos e que me lembre, deste estilo, apenas o da tia Guerrilha, nossa vizinha, ande me lembro ainda de matarem os porcos e fazerem a aguardente.
Sortilégio das gentes do Ribeiro...
Gostei muito do post, bem-hajas!
Xico, quando se trata de memórias, a forma como escreves faz-me sempre lembrar um dos nossos melhores escritores - Aquilino Ribeiro - que deixou nas suas obras marcas bem vincadas das suas vivências na terra onde nasceu.
EliminarAquilino era do concelho de Sernancelhe e as casas do concelho de Sernancelhe em nada diferiam das de Aguiar da Beira, nosso concelho. A casa onde nasceu também tinha um pátio onde brincou, na presença do seu povo, até nisso há semelhança!
Só te falta mesmo escreveres 1, 2,3, 4, 5...livros, mas ainda vais a tempo. Apesar de uma carreira literária firmada, Aquilino Ribeiro tinha já mais de 60 anos de idade quando escreveu a obra "Cinco Réis de Gente", onde fala sobre a sua infância, no pátio e na casa onde nasceu.
Já podias ter escrito um bom livro, tenho a certeza orgulharia todos os forninhenses, tens jeito para tal, mas tal como Aquilino também és e serás um incómodo para "o regime", por isso sabes que só podes contar contigo.
Obrigado Paula, mas poupa os elogios desmesurados...
EliminarJá lá vão uns bons anitos que aqui comento a meu modo solto, o que sinto de modo quase "rafeiro" naqueles breves minutos e depois pronto, não venho rever nem os pontos e nem as vírgulos, está lá, boa.
Depois desta tua resposta, dei comigo a rever coisas que a alma me ditou aqui (a caminho de uma década) e metade e de modo escasso no Nascendo.
Fiquei estranho e ainda estou enquanto escrevo agora. Fui eu que escrevi e porquê?
Porventura estados de alma do momento, uma picardia comigo mesmo e feitas as pazes, esquece.
Agora e a frio, acho que estão coisas boas que podem preservar a identidade dos nossos, embora por aqui espalhados em folhas avulso.
O desafio de um livro?
Quiçá, pois não basta escrever, mas publicar sem apoios...
O mestre Aquilino teve a obra Cinco Reis de Gente, como a sua 20ª obra reedita!
Eu e se calhar, nem por dez reis de mel coado!
Acho que em vez de incomodar, o melhor é atacar o "regime" e meter o furão na toca e apanhar os coelhos.
Boa noite Paula,
ResponderEliminarOs pátios tão comuns também na minha terra em tempos idos, só que eram nas traseiras das casas.
Concordo que eram uma extensão da casa e serviam também para quando se chegava da horta descarregar os produtos hortícolas. O balde da vianda do porco era também aí que era colocava junto a uma cozinha que habitualmente dava para esse pátio. Segundo me recordo tinham múltiplas funções. Os galinheiros e as pocilgas dos porcos eram mais abaixo no quintal. Cada terra com seus usos e costumes, mas no fundo eram em tudo semelhantes.
Na minha aldeia atualmente as casas mais antigas ainda têm pátio, embora as mais modernas já sejam moradias rodeadas com jardins e até piscinas :))
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime
(A casinha que mostro no meu blogue palavras situa-se no Jardim/Parque à esquerda do Convento de Mafra).
Hoje lá também optam pela construção da moradia mais ou menos isolada com jardim à frente, e eu acho bem, há todo um espaço menos antigo que pode, perfeitamente ser ocupado com outro tipo de construção.
EliminarHá muitas situações em que nos identificamos, até na casa que a Ailime descreve, por acaso, um pouco semelhante à dos meus avós maternos, em que o acesso ao pátio fazia-se pelas traseiras, tinha também um quintal e, à excepção do porco, na casa dos meus avós os animais não ficavam nos baixos da casa.
Mas os pátios e quintãs (extensões mais pequenas) normalmente ficavam na frente da casa e o poleiro em muitos casos podia ficar por baixo do balcão (escada de pedra), onde as pitas entravam por um buraco existente na parede.
Bjs/bom domingo.
Permitam um acrescento, uma coisinha de nada.
ResponderEliminarAgora e escrevendo, parece que cada frase deixa algo por dizer: "não foi bem assim como descreves, esqueces que naquele lugar havia..." e por aí fora.
Mais fácil o dizer que vir aqui "à tarimba"!
Não basta carregar nas teclas pois isto não é uma "bimby", tem de permanecer a busca genuína e verdadeira, o cuidado de quando falamos de gentes antigas, não ferir sentimentos.
E de facto esqueci de enunciar um pouco do muito que o pátio guarda.
Um dia assomou nesta porteira um militar que regressava da guerra do ultramar. Seu nome, Agostinho Carau.
Por debaixo daquela janela ao fundo, a da cozinha e aonde agora se encontra uma bela tangerineira, era há muitos anos o lugar aonde assentava o pote da aguardente durante pelo menos dois dias, sendo que a noite era de conversas ao borralho, ali no pátio, sustentadas pelo petisco, mais não fosse de figos secos, algo que a cachaça pedia.
Se bem me lembro, foi assim que este valente soldado no regresso a casa, ali parou e no meio dos amigos em volta do alambique, estavam além do meu pai, acho que o tio Guerrilhas e mais algum, o tio Zé Carau seu pai e o irmão António.
Naquela surpresa, acho que foi o meu pai que gritou: Olha o 51"!.
Era o seu número da tropa e ainda hoje e como tal é conhecido.
O que veio a seguir, deixo à vossa imaginação...
Agora me lembro que entre o tanque e o forno, havia uma coelheira que tinha coelhos em abundância e íamos ceifar a erva para eles.
No fôrro do coberto do pátio, durante anos havia ninhos de pombos bravos.
Agora, volta não volta, a felicidade de ouvir a raposa, o ginete, os corvos e a partir das sete, o relógio da igreja e quando tem de ser, o sino da igreja.
Antigamente e antes haver aquelas dua casas no alto da Estrecada, o meu dizia que éramos os "quintaneiros", por afastados e encostados ao ribeiro dos Moncões e os campos e serranias por aí fora.
Mas também dizia que éramos abençoados por tanto podermos viver lá dentro ou cá fora, mandava o tempo.
Ainda hoje comungo do seu sentimento e respeito o que o pátio consigo guarda.
Já conhecia a origem da alcunha do tio Agostinho e que o teu pai foi o padrinho. As boas relações entre vizinhos tinha destas coisas...
EliminarComo vês até se pode escrever a biografia de um lugar a partir apenas das suas alcunhas. Um romance inteiro só imaginando as origens delas.
O meu bisavô Coelho (que era avô do ti 51) inventou algumas, inclusivé a dos seus filhos. Já me disseram que foi ele que pôs o nome "Caraus" a uns e "Peleiras" a outros!
Morreu era o meu pai uma criança, mas as alcunhas "Caraus" e "Peleiras" ainda perduram!
Concordo que quem escreve assim pode escrever 1,2, 3, 4
EliminarLivros...
Conheci " politicos" na minha terra que não sabiam escrever, era vê-los a cortar fitas e abrir champanhe
em obras públicas lendo o que alguém escrevia...
Acho que hoje ainda é assim...
Uns brilham...outros nos seus pátios elevando as suas
gentes de certo modo não as deixando morrer...!!
Honra lhes seja feita.
Abraço
MG
Infelizmente, descaracterizar-se tudo...
ResponderEliminarA quinta dos meus avós paternos desapareceu com a ganancia dos herdeiros.
Beijinhos.
A ganância é insaciável, mas ante a ganância e a urgência construtiva moderna acho que foi negligência da fiscalização permitiu a destruição irremediável de muitas casas típicas. Aconteceu com a casa dos meus avós paternos e poderá acontecer com a dos meus avos maternos. Oxalá que não. Dependerá dos futuros herdeiros, digo futuros, mas se calhar até já os há!
EliminarBeijinhos.
Na casa onde nasci depois de melhorada e aumentada em função
ResponderEliminardo crescimento da familia meu pai fez um avançado na cozinha.
Um alpendre que funcionava como páteo.
Era ali que a minha querida Mãe fazia de recepção ás vizinhas
e fazia as suas entregas de ovos .Negócio dela .Familiar.
Em Forninhos percebo a importância social dos páteos.
As casas onde dormi não os tinham.
Na grande Lisboa tenho grandes momentos em páteos recuados
no Conde Redondo e ali perto na Gomes Freire onde um dia levei
meus pais a ouvir fado. Eram tempos bons de são convivio em
Familia antes da geração do Hamburguer surgir..!!!!
Ninguém sentava á mesa com chapéu a comer. E benzia-se antes de
comer.O Pai era saudado com " sua benção" ...
Esta Sexta na Brandoa vejo um " gajo" a comer de boné,á mesa foi
motivo de reprovação meu e dos meus camaradas de luta....
Na minha terra as videiras em forma de corredor também serviam
de páteo e de cartão de visita .Fazem sombra e bom convivio.
Note - se que o Madeirense não é tão hospitaleiro como o Beirão.
O visitante fica á porta muito tempo...boa conversa e garrafão
de 5 litros. Comida demora a vir ou nunca vem....
Em Forninhos ficavam chateados se não entrasse em cada casa...
E em todas havia " broa " " bôla" e pao para acompanhar o copito....( e disso também tenho saudades....)
Nunca me esqueço que quem me trata bem.
Tal como não me esqueço quem me ia desgraçando a vida !!
Estar aqui é também uma forma de dizer obrigado aos Forninhenses
que nunca me fizeram mal é até me tentaram ajudar :
Luis Carvalho , Sto Antonio Cavaleiros , Maio de 2007.
A esta gente Boa Saúde+ Paz + Amor : Sempre !!!
Aos outros " tristes" : Que Deus os Julgue....
Abraço
Bfs
MG
De lá para cá a vida das pessoas mudou muito e pode já não haver um amigo em cada porta (porque em muitas também já fecharam as portas), mas há sempre numa casa a mesa posta, há pão e vinho, como símbolo de uma terra generosa.
EliminarTem de voltar a Forninhos.
Sou Pai pela Segunda vez...Paula .
EliminarLuto com "unhas e dentes" para que os destinos de lazer
não sejam só praia, Espanha ou até Madeira ( onde está
tudo visto e revisto ).
O incrivel abandono do Interior tem muito a ver com a
distância dos lugares, os gastos para lá chegar e o
consumismo das novas gerações que impõem cada ano que
passa uma vincada tendência de levar os "cotas" a outras
paragens esquecendo-se das origens dos avós, bisavós e
da sua própria história. Estou a criar uma corrente para
a Beira Alta não ser ignorada nos próximos programas.
Veremos.
Abraço
Boa semana.
Nota:
ResponderEliminarPáteo deixou de se escrver em 1911...
O correcto é "Pátio"....
Abraço
É, o termo páteo é um termo mais arcaico. Mas não foi por isso que escrevi pátio, é porque acho que está mais de acordo com o nosso linguajar.
EliminarUm abraço forninhense.
Estive o mês passado em Córdoba e os pátios naquela cidade são uma verdadeira beleza com tantas e flores tanto no chão como vasos pendurados pelas paredes.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Ah! mas esses já foram distinguidos pela Unesco como Património da Humanidade, os nossos pátios são os parentes pobres ;-)
EliminarTenho estado a seguir o seu andarilhar por Córdoba.
Abr/bom domingo.
Pátios são recantos com histórias e eu gosto muito de os ver!!!
ResponderEliminarBj e obrigada pela partilha
Também gosto de ver as quintãs (extensões mais pequenas que os pátios) e em Forninhos ainda há umas quantas casas antigas com quintãs, sem qualquer utilidade, claro, porque a vida agora também é outra. Passe por lá um dia. Bj.
EliminarA foto está muito bonita e o texto muito bom!
ResponderEliminarViva os pátios, gosto demais... Uma área assim traz liberdades e grande bem-estar...
Boa semana, querida Paula... Um grande abraço
Obrigada.
EliminarSão verdadeiros "tesouros escondidos" à vista de toda a gente!
Abraço.
Boa semana.